Capítulo 3 - Os Oito
Edward Storm brincava com uma moeda, enquanto, em devaneio, pensava na sua confortável cama, num relaxante banho de espuma, e na sua esposa vestindo aquele atraente vestido azul.
Sacudiu a cabeça e virando-se para a janela começou a apreciar a vista panorâmica do escritório. O sol acabara de nascer, lançando sobre a cidade seus raios de luz alaranjados, enquanto as pessoas acordavam para um novo dia de trabalho. A Ponte de Vidro, ponto turístico da cidade, representava visualmente a calma e a serenidade da arquitetura bela de Cina. Do seu lado, um contraste, o gigantesco prédio chamado de A Pérola.
Enquanto que, para Storm, A Ponte de Vidro representava a calma e a beleza. A Pérola representava a sujeira e a feiúra que havia em Cina. Ali ficava a sede de governo da cidade. Onde todos os nobres se reuniam para conspirar sobre a vida política e admnistrativa.
Cina era comandada por um conselho de dez nobres. E todas as decisões que diziam respeito ao funcionamento da cidade deveriam passar por eles e deveriam ter a sua aprovação ou rejeição.
Acima dos nobres ficava somente “O Observador”. Ele tinha poder para contestar. Seu papel era observar as ações dos nobres e relatar tudo ao imperador que poderia intervir, se fosse o seu interesse, através do Observador.
Era assim que o imperador tinha controle sobre todas as suas cidades.
Storm deu alguns passos e começou a admirar o quadro de avisos que tinha no escritório. Afixado neles haviam oito fotos, e vários pedaços de papéis com rascunhos. Rostos que não seriam esquecidos por um longo período. Oito homens brilhantes e habilidosos no que sabiam fazer de bom.
Storm pigarreou e desafixou a primeira foto da esquerda para direita. A que estava mais coberta de informações.
“Richard. Richard. Quando você for pego, poderá provar do amargo doce da derrota. Pelo menos uma vez...” pensou Storm.
Richard era conhecido pela sua habilidade como líder. Sabia como ninguém coordenar as ações de todos os seus companheiros. Tinha uma inteligência indiscutível e um carisma sem igual. Storm fazia dele o principal suspeito do assassinato de Loonta. Tudo parecia apontar para ele, tão certamente, que Storm ainda estranhava isso.
Ele e os outros sete haviam sido vistos no apartamento de Loonta por testemunhas e câmeras. Loonta ia os reunir para dissolver o grupo, foi o que Ezachs, outro dos oito, havia afirmado.
Pareceu que Richard não havia gostado da idéia e fora pessoalmente tirar satisfações com Loonta, sendo filmado pela câmera do andar do quarto do duque. Foi o único que foi filmado entrando e saindo do quarto dez minutos depois, ensanguentado e com uma arma em punho.
Storm se arrepiou. Parecia tão simples que havia sido ele o assassino, que imediatamente após a descoberta do cadáver, foi expedida uma ordem de prisão à Richard, que já se encontrava foragido junto de Ezachs e Narrant, outros membros do octeto.
A medida que se envolvia mais com o caso, Storm percebia que não era uma coisa fácil. Não havia motivo para suspeitar da maioria dos outros. Porém ele sabia que naquele grupo existiam tensões entre os membros. Principalmente entre Ezachs e Richard.
Alguém batia à porta. Storm sacudiu a cabeça e, numa voz rouca, pediu para que a pessoa entra-se.
Um homem de quarenta e poucos anos e aspecto cansado, cumprimentou o colega Storm. Seu nome era Alex Rain.
- Algum progresso? – perguntou ele.
- Na mesma... Como foi sua folga? – perguntou Storm.
- Na mesma – sorriu Rain – o que faz com a foto de Richard? Olhar para o rosto dele não vai lhe ajudar a encontra-lo.
- Me poupe de suas piadas. Não estou com humor para elas hoje.
- Sinceramente, Edward... Você continua achando que o Richard é o assassino? – perguntou Rain se sentando numa cadeira de madeira à frente da escrivaninha.
- Só o fato de ele continuar foragido não é suficiente? E todas as provas...
- Bah... Estamos falando de oito gênios. Qualquer um deles poderia ter a capacidade de arquitetar um plano no qual poderia incriminar outra pessoa, ou eu poderia estar errado? Pelo que sabemos, Ezachs possuía um desafeto grande por Richard, e ele estava foragido também, não estava?
Storm sorriu sarcasticamente – Ele mesmo se entregou.
- Mas isso não tira o fato de que ele já ficou foragido, e foi imediatamente após a chegada da polícia no prédio de Loonta.
- É, já pensei nisso. Mas também tem aquele cara. O Narrant.
- Nome esquisito para alguém esquisito. Falam que ele tem “poderes”... Sinceramente, você acredita que Narrant tenha algo a ver com essa história?
- Veja bem – Storm puxou sua cadeira e se sentou – Você lembra daquela história do diamante não é?
- De que Loonta possuía um diamante guardado em algum lugar secreto do seu apartamento? Sei, sei. E de acordo com as suas anotações, somente Narrant sabia a sua localização.
- Como não conseguimos acha-lo ainda, então não temos certeza se ele foi levado ou não. Mas e se fosse? Narrant se tornaria um forte suspeito. Mesmo porque segundo as mesmas anotações, Narrant não descobriu esse segredo de bom grado de Loonta, mas através dos seus “poderes”
- E você acredita nisso? – perguntou Rain.
- Não. Loonta provavelmente foi descuidado e deixou a informação escapar. De qualquer jeito Narrant não sairia por aí dando com a língua nos dentes. Não com um tesouro dessa magnitude...
Rain suspirou e encaminhou-se novamente para o quadro de avisos. Desafixou outras duas fotos.
- O que está fazendo? – perguntou Storm.
- O que acha desse Bravack? E desse Joel?
- Acho inviável. Não consegui levantar nenhuma pista contra os dois.
- Aqui diz que Bravack estudou com Richard durante o ginásio. Isso os faz amigos não é?
- Sim, tenho informações de que eram grandes amigos. Bravack era carismático e conseguia fazer amizades fáceis. Nem todas agradáveis, é verdade. Mas não o vejo como assassino, mesmo não podendo excluir seu nome da lista de suspeitos.
- E Joel? Falam que ele é meio pertubado...
- Ele teve grandes problemas na infância. Teve o pai morto diante dos seus olhos, e só foi poupado porque o assassino sentiu compaixão.
- Como assim compaixão? Ele era um assassino!
- Joel nunca explicou isso claramente. Tinha oito anos na época e ficou traumatizado depois disso.
Rain se encostou à parede – E qual era o papel dele no octeto?
- Durante toda a sua vida, Joel começou a caçar o assassino do pai, obtendo contatos com o mundo criminoso de Cina. Loonta viu nele a oportunidade de se livrar de problemas menores.
O silêncio pairou novamente na sala. Storm começou a fazer algumas anotações, enquanto Rain admirava o quadro de avisos. Haviam sobrado outras três fotos. A primeira mostrava o rosto doentio de um homem. Sua boca formava um sorriso de sarcasmo, e sua aparência não era das melhores. Na segunda foto, um garoto de dezoito anos sorria serenamente para o fotógrafo. A terceira foto mostrava um homem forte e com grandes bochechas.
- O que acha dos outros três? – perguntou Rain.
Storm suspirou e bateu levemente na escrivaninha – O que foi agora, Rain? Porque não me ajuda a localizar Richard e não para de se debruçar sobre informações inúteis?
- Mas que tipo de detetive você é? Estou apenas pedindo que me dê informações. Não me transferiram para este caso para que eu trabalhasse as cegas.
- Você devia ter lido a ficha deles, enquanto esteve de folga. Mas está bem... Thomas – Storm apontou para o primeiro – age feito louco. Ele gosta de desordem e não mediria esforços em causar o caos.
- Ótimo motivo para fazer dele um suspeito. Mas porque ele age assim?
- Ninguém sabe. O passado dele é um mistério. Já pedi para que providenciassem todo o tipo de informações sobre ele, mas só conseguem levantar coisas de depois de quando ele entrou para o Octeto. É como se ele fosse uma sombra até então.
- Poderia ele estar fugindo de um crime do passado?
- Isso já não é minha jurisdição. O que importa é que não vi motivos ou provas que possam acusá-lo de algo. Ele não é uma pessoa agradável a qual você gostaria de ter por perto. Ele é sarcástico e cruel.
- E o que ele fazia no Octeto?
- Lutar. E lutava bem com espadas. Foi a única coisa que consegui descobrir sobre ele.
- E os outros dois? – perguntou Rain.
- Leonard aparenta ser um bom rapaz – disse Storm apontando para a segunda foto – Foi um excelente aluno e se formou cedo. Sabe como ninguém mexer em computadores e máquinas. De todos os oito, ele é o que aparenta ser o mais inocente.
Rain pigarreou – Mesmo assim ainda é um suspeito. E suspeito são suspeitos até que se prove o contrário.
- E finalmente, Clowd. Especialista em armas. Não preciso dizer qual é a utilidade dele para o Octeto, não é?
Rain sinalizou com a cabeça para que Storm prosseguisse.
- Ele já foi afiliado ao exército do Imperador. Após alguns anos ele se afastou por livre e espontânea vontade, virando um mercenário como os outros.
- E o que mais?
- Ora, procure os arquivos e leia, não espere que...
- Senhor Edward - gritou alguém do lado de fora.
- Entre, a porta está aberta – respondeu Storm claramente irritado.
Rain quase pulou para trás ao visualizar a pessoa que acabava de entrar. Cabelos negros e um rosto doce. Era a mesma pessoa que ostentava aquele sorriso sereno da foto.
- Bom dia, senhor Edward. Bom dia, senhor...
- Rain. Alex Rain – respondeu ele incrédulo.
- Alex Rain. Certo. Prazer em conhecê-lo. Meu nome é...
- Leonard. – disse Rain.
- Prazer – respondeu Leonard encabulado.
Storm se levantou e conduziu Leonard até a cafeteira – O que o traz tão cedo até o escritório?
- O senhor não assistiu ao jornal da manhã?
- Não tenho tempo a perder com isso. Só temos notícias de corrupção e...
- Senhor, houve uma explosão na Estação 5.
- Mas essa não é minha jurisdição – comentou Storm.
- Bravack e Richard estavam lá.
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