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Tópico: O Arauto do Expurgo

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    O Arauto do Expurgo

    Capítulo V
    Escuridão

    Os demônios se reuniam em um covil úmido, triste e escuro. A criatura vil, comumente chamada de “O Arauto” pelos seres humanos, encontrava-se ansiosa e inquieta. As outras bestas, quase todas em estado de apatia, esperavam pacientemente o comando de seu líder.

    – Você, tu também... – falava O Arauto, com sua típica imitação do linguajar humano, enquanto apontava aleatoriamente para alguns de seus subordinados. – Você aqui, e você do lado dele. Venham os quatro comigo.

    Os escolhidos deram alguns passos a frente e se juntaram ao seu mestre. Todos eles cobriam seus corpos nus com enormes asas negras e podres. Eram fisicamente parecidos com O Arauto, entretanto não pareciam possuir vontade própria.

    – O resto vai atrás do Tomas. Aquele vigarista maldito acha que pode fugir de mim... – continuou o demônio, com sua voz rouca e arrastada. – Ele ainda tem oito dias, mas até lá, eu quero saber a localização exata daquele rato de esgoto.

    Todos saíram rapidamente da caverna, que se encontrava em uma planície árida e despovoada. A noite já tinha caído e as estrelas brilhavam no céu.

    O exercito de criaturas pestilentas, andando muito juntas, parecia apenas uma mancha negra e uniforme, se observados de cima. Quem estivesse a cem passos de distância, e não tivesse conhecimento sobre aqueles demônios, provavelmente acharia que eram enormes urubus. De qualquer jeito, eles eram considerados símbolos de mau presságio.

    Abriram suas enormes asas, com grande barulho e de maneira sincronizada. Sem demora, alçaram vôo. O Arauto e seus quatro seguidores foram para o sul, o resto partiu para o leste.

    ***

    – Eu gosto muito da noite – falou Jean, interrompendo o longo silêncio. Ele estava estirado na areia, observando o céu. – Ver as estrelas me enaltece, aquieta meu espírito.

    Vincent demorou a responder, pois estava comendo com ferocidade, quase sem sentir o sabor do alimento. Jean tinha lhe oferecido bolo, biscoitos e água, que ele aceitou de bom grado.

    – Eu percebi que você melhorou o seu humor, assim que anoiteceu...

    – Eu estava realmente nervoso e apressado. Mas, vendo você em uma situação mais complicada que a nossa, parei para pensar como tudo poderia estar pior. Acabei descontando a minha frustração na pobre garota, que de nada tem culpa...

    – Quem é ela? – perguntou Vincent, olhando de soslaio para a menina que dormia, sem conseguir disfarçar sua curiosidade.

    – É a filha de um fidalgo. O pai de Myra é o chanceler do Palácio de Ouro, em Agkar. Já ouviu falar?

    – Eu já fui até lá. Passei por essa cidade-estado em uma de minhas viagens. É um lugar glorioso... – ele pareceu se perder em lembranças, mas logo voltou à realidade. – O que a filha de alguém tão importante faz aqui?

    – Myra foi raptada por alguns soldados traidores. Os bandidos tinham conhecimento sobre a amizade que o chanceler tem com o rei. Aproveitaram-se disso para pedir um resgate dispendioso.

    Jean parou de falar, quando a garota se mexeu ligeiramente. Vincent prendeu a respiração, começando a se interessar pela história e esquecendo os seus próprios problemas.

    – Eu fui salva-lá. Consegui encontrar o esconderijo deles... – continuou Jean, com um tom de voz mais baixo e misterioso, quando Myra voltou a ressonar levemente. – Isso já faz alguns dias. Desde então, temos feito o caminho de volta para Agkar.

    – A garota deve ter passado por maus bocados – falou Vincent, em um tom sombrio. Ele já estava acostumado a ouvir histórias tristes, e também vivenciá-las. A Grande Guerra estava repleta delas.

    Myra estava completamente enrolada em um cobertor azul. Seu rosto lívido transparecia desconforto e preocupação, talvez estivesse tendo pesadelos. Vincent achou que ela aparentava ter dez ou onze anos, não mais que isso.

    – Quanto é a recompensa? – perguntou Vincent, ainda olhando para a garota adormecida.

    – Como assim? – indagou Jean, sem entender o que seu interrogador queria dizer.

    – Quanto você vai receber? – perguntou novamente, dessa vez voltado para Jean e balançando a cabeça levemente na direção de Myra. – Por ter salvado ela! – completou.

    – Nada, homem! Absolutamente nada! As moedas que me paguem um pão, já me bastam. Eu não preciso de fortunas, eu sou um viajante – começou ele, repentinamente bem humorado e falando como quem explica algo simples para uma criança. – Veja bem, eu estava de passagem por Agkar, visitando o Palácio. Logo que fiquei sabendo do ocorrido, fui imediatamente atrás dos raptores. Eles sabiam que seriam pegos se continuassem na cidade, por isso resolveram se refugiar em uma província relativamente distante. Deixaram uma carta anônima pedindo o resgate e foram embora. É muito provável que matassem Myra logo depois de receberem o dinheiro, em algum lugar previamente combinado.

    – Acha mesmo que eles iriam matar uma garota indefesa?

    – Tudo indica que sim – disse Jean, com os olhos tristes.

    – Então, você está me dizendo que largou sua jornada para ajudar uma pessoa em terras desconhecidas? – Vincent se mantinha incrédulo. – Caçou esses bandidos, percorrendo planícies e montanhas, para salvar uma garota desafortunada? Você mal sabe quem ela é, e mesmo assim não pede nada em troca?

    – Ela faz parte da minha jornada. Se eu não a ajudasse, não conseguiria suportar minha própria consciência – falou Jean, com uma expressão mortificada e ao mesmo tempo veemente. – Você não faria o mesmo?

    – Acho que sim – respondeu Vincent, com a cabeça baixa, duvidando das próprias palavras.

    ***

    Uma mulher gritava de dor, quebrando o silêncio de uma noite cálida. Vestia uma enorme armadura dourada e carregava uma espada na cintura. O Arauto a segurava pelos cabelos ruivos, arrastando a moça pela avenida deserta.

    – Quer dizer que você não tem ninguém pra mim? – perguntou o demônio, com sua voz perversa e doentia.

    – Vai para o inferno, seu miserável – respondia ela rispidamente, enquanto tentava suprimir os gritos de dor.

    – Eleonora, você já jogou comigo antes. Conhece as regras.

    As outras criaturas das trevas apenas observavam de uma curta distância. Nenhum deles se importava com o sofrimento da mulher, tampouco com a perversidade de seu mestre. Eram monstros sem alma, que apenas obedeciam e esperavam as próximas ordens.

    O Arauto levantou Eleonora até a altura dos seus olhos. A mulher ficou pendendo no ar, pois o demônio possuía quase três metros de altura. A dor foi lancinante e perturbadora, fazendo-a gritar desesperadamente.

    – Você cansou de jogar, não foi? Já que você não tem nenhuma alma fresca para mim... – falou ele lentamente, enquanto observava o rosto desesperado da guerreira. – Eu terei de ficar com a sua. É uma pena.

    O que se seguiu foi muito rápido. O Arauto segurou a cabeça da mulher com muita força e olhou fixamente em seus olhos castanhos e inquietos. Ela se agitou freneticamente por alguns segundos, gritando e chorando, como quem sente uma dor repentina e insuportável. Não demorou muito para seu corpo ficar totalmente imóvel, duro e frio.

    – Hoje em dia, eles não duram muito tempo. Será que falta fibra nesses povos bélicos? As minhas ligações com o mundo terreno estão acabando, isso é certo. Na verdade, eu estou começando a achar que a era dos tolos está acabando. Os grandes heróis se tornaram verdadeiros acomodados, desistindo de encarar o perigo e o sofrimento de uma vida eterna – discursava o demônio de maneira eloqüente, ainda segurando a mulher morta e rindo-se do seu feito.

    O corpo de Eleonora finalmente foi jogado ao chão, caindo com um baque surdo. O seu rosto sem vida não era nem uma sombra do que já fora. Os dias de glória ainda podiam ser revividos em seu olhar vazio e aterrador.

    – Acho que já está na hora de seguir os passos de Vincent. Se não me engano, ele só tinha sete dias. Vamos para Doria, rápido!

    Os subordinados sorriram inexpressivamente e, seguindo O Arauto, mais uma vez alçaram vôo em direção à noite.

    Quando o corpo de Eleonora foi encontrado, imóvel e sem nenhum ferimento mortal, os cinco demônios já eram pontos negros, invisíveis no céu escuro.

    ***

    – Você não vai dormir? – perguntou Jean, mais uma vez quebrando o silêncio que já durava alguns minutos.

    – Vou – respondeu Vincent, enquanto terminava de engolir sua refeição e bebia seu último gole de água quente, porém extremamente prazerosa.

    Enquanto Vincent se cobria com os cobertores oferecidos a ele, perguntava-se como poderia existir uma variação de clima tão grande, em tão pouco tempo. Acomodou-se perto da fogueira, sentindo o calor aconchegante em suas costas e ouvindo o crepitar do fogo. Já estava quase adormecendo, quando ouviu a voz de Jean mais uma vez:

    – Eu já te contei o que me fez parar nesse deserto. É o caminho mais rápido para chegar em Agkar e devolver essa menina ao seu lar. Mas e você, para onde está indo?

    – Não sei ao certo – respondeu Vincent, depois de pensar um pouco. – O meu plano era buscar refugio nas minas de carvão, perto de Palmar, ao sudoeste. Mas acho que não daria tempo...

    – Por que a pressa?

    – Estou fugindo – respondeu de maneira lacônica, evitando falar sobre O Arauto, sua briga com Sirius e a quebra do código de honra.

    – Eu pensava que todos os guerreiros de Doria eram grandes heróis, que serviam a sua cidade e lutavam pelo bem estar do seu povo – comentou Jean de maneira irônica, provocando a têmpera de Vincent propositalmente. – Não sabia que eles fugiam de sua cidade, para o mais distante possível, dessa maneira precipitada.

    Vincent ficou sério, encarando Jean com extrema ferocidade. Parecia prestes a iniciar um duelo mortal, quando Myra acordou, quebrando o clima pesado entre os dois homens.

    – Vocês falam muito alto... – comentou a pequena garota, enquanto se espreguiçava, com a típica altivez infantil da meninice.

    O comentário dela foi seguido por um silêncio breve, porém incomodativo.

    – Eu estava convidando o nosso novo amigo para vir conosco. Podemos partir logo que amanhecer e sair desse deserto em três ou quatro horas de caminhada. Depois é só atravessar o vale e chegaremos em Agkar – Jean falava rapidamente, sem tirar os olhos de Vincent. – Mesmo se pararmos para o almoço, estaremos lá antes que a lua possa ser vista no céu. É o suficiente para você, Herói?

    Vincent acenou com a cabeça, concordando. Não entendeu por que Jean havia lhe provocado, mas seu aborrecimento desapareceu logo que ele olhou para Myra.

    A garota transpareceu felicidade ao saber que estaria em casa no dia seguinte, substituindo seu olhar melancólico por um sorriso comovente. Os dentes brancos e pontudos da menina, resplandecendo em seu rosto inocente, acabaram por deixar Vincent desconcertado e impotente. Os olhos levemente estrábicos da garota, iluminados pela fraca luz do fogo, encontravam-se brilhando em angelical momento de profunda alegria.

    Por algum motivo desconhecido, ele se lembrou da pintura na casa de Sirius. A luta entre o guerreiro e os três demônios, representação clássica do bem contra o mal. Porém, a lembrança foi embora tão rápida quanto veio.

    Vincent não achou certo estragar essa felicidade com uma disputa sem fundamento. De repente, os seus próprios problemas pareceram pequenos. Myra não tinha culpa do seu destino trágico, ela não merecia estar naquele lugar horrível. Ao contrário dele, que cavou seus próprios erros irreversíveis, enterrando-se em eterna perdição.

    Não disse mais nada e se acomodou para dormir, mais uma vez. Antes de adentrar no mundo dos sonhos, ouviu palavras serenas saírem da boca de Jean:

    – Ainda é cedo, garota. Vamos lá, temos algumas horas de sono antes do amanhecer.


    ------------------------------


    Pessoal, eu fico realmente feliz em saber que tem gente que lia e não comentava. Mas, eu peço que, por favor, comentem a cada capítulo. Só assim eu posso saber quem está acompanhando, se estão gostando, no que devo melhorar, etc. Conto com a colaboração de vocês.

    Esse Capítulo V me deu bastante trabalho. De tanto que li, reli, escrevi e reescrevi, nem sei se ficou tão bom quanto eu queria. Não deixem esse escritor no vácuo. Critiquem, eu lhes peço!

    Citação Postado originalmente por kina br Ver Post
    Bom, comecei a ler a história e achei ela bem legal, ótima descrição, bastante ação e talz.
    Só q eu acho q vc poderia fazer um pouco mais de diálogos
    Antes tinha menos diálogos, pela falta de personagens interagindo. Agora, com a introdução de novos personagens, as coisas estão um pouco diferentes.

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    Última edição por Emanoel; 21-03-2008 às 23:07.



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