Impressionante como boas obras passam despercebidas e são perdidas.
E não, não estou falando de Sangue de Crunor, longe disso. Estou com outro projeto aqui no fórum, o qual eu dediquei muito tempo para escrever algo considerado "mágico".
Pois bem, escrito. Postado o prólogo e o capítulo I (dividido em 4 partes).
Resultado? Eu devo ter mais posts lá do que a soma dos posts do leitores.
Então eu resolvi trancar Sangue de Crunor novamente, mas não mandarei nenhum moderador fechar. Estes são os últimos capítulos que eu escrevi e serão os últimos que postarei até que SAGA - O Outro Lado possa mostrar que merece mais que Sangue de Crunor. E eu vou mostrar isto, nem que precise postar até o capítulo X sem nenhum comentário. Eu acredito naquele projeto, pois com com a parceria de um dos melhores escritores deste fórum. Espero que me entendam, largo este projeto (novamente) por um tempo indeterminado. E digo à vocês que isso não é fácil para mim.
Então, vejo vocês em SAGA.
Capítulo 14 – O paladino e a fortaleza.
Argos agachou-se perto do rio. Ele havia forçado a passagem para chegar à margem, onde ele tirou as botas e as calças estreitas. Era melhor andar de pernas a descoberto, reconheceu ele, para que as botas não ficassem presas na lama do rio. Estaria frio, um frio de congelar, mas ele não se lembrava de uma época em que tivesse se sentido mis feliz. Gostava daquela vida, e suas recordações de Filars Porl, Turcthan a morte de sua mãe e de seu tio quase tinham desaparecido.
- Tirem as botas – disse ele aos vinte arqueiros que iriam acompanhá-lo – e pendurem os sacos de flechas no pescoço.
- Por quê? – interpelou-o alguém no escuro.
- Para que eles os enforquem – resmungou Argos.
- É para que as flechas não se molhem – explicou outro homem, prestimoso.
Argos amarrou o dele no pescoço. Paladinos, que eram arqueiros intitulados pelo Oráculo de Rookgaard, e arqueiros normais, que não tinham título, não levavam as aljavas que os caçadores usavam, porque as aljavas eram abertas na parte de cima e as flechas podiam cair quando o homem corresse, tropeçasse ou atravessasse com dificuldade uma cerca viva. As flechas de uma aljava ficavam molhadas quando chovia, e as penas molhadas desorientavam o vôo das flechas, de modo que os verdadeiros paladinos usavam sacos de linho impermeabilizados com cera e fechados com cordões. Os sacos eram forrados com armações de vime que mantinham o linho esticado para que as penas não fossem esmagadas.
Vince Farz desceu pela margem onde uns 12 homens empilhavam barreiras. Ele tremia no vento frio que vinha da água. O Céu, a leste, ainda estava escuro pois antecediam o nascer de Suon e Fafnar, mas um pouco de luz vinha das fogueiras que queimavam no interior de La Roche-Ogre.
- Eles estão bem e quietos lá dentro – disse Farz, fazendo um movimento com a cabeça em direção à cidade.
- Reze para que estejam dormindo – disse Argos.
- Na cama, também. Eu já me esqueci de como são as camas – disse Farz, e depois afastou-se para o lado, para deixar outro homem passar em direção à margem do rio. Argos ficou surpreso ao ver que era Sir Simon Skeat, que desdenhara tanto dele na tenda do mago.
- Sir Simon – disse Vince Farz, mal se preocupando em esconder o desprezo – quer dar uma palavrinha com você, Argos.
Sir Simon franziu o nariz ao sentir o fedor da lama do rio. Grande parte dela, pelo que ele supunha, era o esgoto da cidade e ele ficou satisfeito por não estar vadeando de pés e pernas desnudos pela lama.
- Você está confiante de que vai passar pelas estacas? – perguntou ele a Argos.
- Eu não iria, se pensasse de outra maneira – disse Argos, sem se preocupar em mostrar respeito.
O tom de voz de Argos fez Sir Simon empertigar-se, mas ele controlou o gênio.
- O mago – disse ele friamente – deu-me a honra de chefiar o ataque aos muros.
Ele parou de repente e Argos aguardou, esperando mais, mas Sir Simon simplesmente olhou para ele com a irritação estampada no rosto.
- Então Argos toma os muros – disse Farz, por fim – para fazer com que haja segurança para as suas escadas?
- O que eu não quero – Sir Simon ignorou Farz e dirigiu-se a Argos – é que você leve seus homens à frente dos meus para dentro da cidade propriamente dita. Se nós virmos homens armados, é provável que os matemos, entendeu?
Argos quase cuspiu de escárnio. Seus homens estariam armados de arcos e nenhum inimigo levava um arco longo como os arqueiros de Thais, e assim praticamente não havia perigo de serem confundidos com os defensores da cidade, mas ele ficou calado. Limitou-se a um gesto afirmativo com a cabeça.
- Você e seus arqueiros podem juntar-se ao nosso ataque – prosseguiu Sir Simon –, mas você estará sob o meu comando.
Argos tornou a fazer um gesto afirmativo com a cabeça e Sir Simon, irritado com a insolência implícita, girou sobre os calcanhares e afastou-se.
- Bastardo de bosta – disse Argos.
- Ele só quer meter o nariz na vala antes do resto do nosso grupo – disse Farz.
- Você está deixando o bastardo usar as nossas escadas? – perguntou Argos.
- Se ele quer ser o primeiro a chegar lá em cima, que seja. As escadas são feitas de madeira verde, Argos, e se elas quebrarem, eu prefiro que seja ele caindo do que eu. Além disso, acho que nós estaremos em melhor situação seguindo você pelo rio, mas não vou dizer isso a Sir Simon.
Farz sorriu, e depois soltou um palavrão ao ouvir um estrondo vindo da escuridão ao sul do rio.
- Esses ratos brancos dos diabos – disse ele, e desapareceu nas sombras.
Os ratos brancos eram de Batalha, dentre eles uns sessenta besteiros tinham sido acrescentados aos soldados de Farz, com a finalidade de ribombar os muros com suas setas enquanto as escadas eram apoiadas nas defesas. Foram aqueles homens que assustaram a noite com seu barulho, e agora o barulho aumentava ainda mais. Algum idiota tropeçara no escuro e se chocara com um besteiro com um pavês, o grande escudo atrás do qual as bestas eram diligentemente recarregadas, e o besteiro reagira, e de repente os ratos brancos estavam envolvidos numa briga barulhenta, no escuro. Os defensores, é claro, ouviram o barulho e começaram a lançar fardos de palha em chamas por sobre as defesas e um sino de igreja começou a tocar, depois outro, e tudo isso muito antes que Argos começasse a atravessar a lama.
Sir Simon Skeat, assustado com os sinos e a palha em chamas, gritou que o ataque tinha de ser desfechado naquele momento.
- Avancem com as escadas! – berrou ele.
Defensores corriam para os muros de La Roche-Ogre e as primeiras setas disparadas pelas bestas eram cuspidas das defesas iluminadas pelos fardos incendiados.
- Segurem essas malditas escadas! – gritou Vince Farz para seus homens, e olhou para Argos. – O que é que você acha?
- Eu acho que os bastardos estão distraídos – disse Argos.
- Quer dizer que você vai?
- Eu não tenho nada melhor a fazer, Vince.
- Malditos ratos brancos!
Argos liderou seus homens na entrada da lama. As sebes foram de alguma valia, mas não tanto quanto ele esperara, de modo que eles ainda escorregavam e tiveram dificuldades em avançar para as grandes estacas, e Argos concluiu que o barulho que faziam era suficiente para acordar até um goblin surdo. Mas os defensores estavam fazendo um barulho ainda maior. Todos os sinos de igreja tocavam, uma trombeta berrava, homens gritavam, cachorros latiam, galos cantavam, e as bestas estalavam e batiam enquanto suas cordas eram puxadas e soltas.
Os muros erguiam-se à direita de Argos. Ficou imaginando se Blackarch estaria lá em cima. Ele já a vira duas vezes e fora cativado pela ferocidade de sua expressão e pelos cabelos pretos agitados. Muitos outros arqueiros a tinham visto também, e todos eles homens, que podiam atravessar com uma flecha um bracelete a cem metros de distância, e no entanto a mulher ainda vivia. Impressionante, refletiu Argos, o que um rosto bonito podia fazer.
Ele deixou a última sebe e, então, chegou às estacas de madeira, cada uma um tronco de árvore inteiro enfiado na lama. Seus homens juntaram-se a ele e pressionaram a madeira até que, apodrecida, rachou como palha. As estacas faziam um barulho tremendo ao cair, mas era abafado pelo alarido na cidade. Daniel, o assassino vesgo saído da prisão de Thais, colocou-se ao lado de Argos. À direita deles, agora, havia um molhe de madeira com uma escada tosca em uma das extremidades. A alvorada estava chegando, e uma luz fraca, tênue e cinzenta infiltrava-se pelo leste e Argos temia que a guarnição daquela torre pudesse vê-los, mas ninguém gritou um alerta e nenhuma seta de besta atravessou o rio.
Argos e Daniel foram os primeiros a subir na escada do molhe, depois veio Sam, o mais moço dos arqueiros de Farz. A parte relativa à atracação servia a um depósito de madeira e um cão começou a latir agitadamente por entre os troncos empilhados, mas Sam esgueirou-se pela escuridão com sua adaga e o latido parou de repente.
- Cachorrinho bom – disse Sam ao voltar.
- Coloquem as cordas nos arcos – disse Argos. Ele havia encaixado a corda em seu arco preto e agora desatou os cadarços do seu saco de flechas.
- Eu odeio cachorros – disse Sam. – Um deles mordeu minha mãe quando ela estava grávida de mim.
- É por isso que você é maluco – disse Daniel.
- Calem a boca – ordenou Argos.
Mais arqueiros estavam subindo para o molhe, que balançava assustadoramente, mas dava para ele ver que os muros que deviam capturar já estavam cheios de defensores. Flechas thaisenses, as brancas penas brilhando à luz das chamas da fogueiras dos defensores, adejaram por cima do muro e penetravam, com golpe surdo, nos telhados de sapé da cidade.
- Talvez a gente devesse abrir a porta sul – sugeriu Argos.
- Atravessar a cidade? – perguntou Daniel, alarmado.
- É uma cidade pequena – disse Argos.
- Você está loco – disse Daniel, mas estava sorrindo e dizia aquilo a título de elogio.
- Seja como for, eu vou – disse Argos.
Estaria escuro nas ruas e os longos arcos ficariam escondidos. Ele calculou que seria bem seguro.
Uma dezena de homens seguiu Argos, enquanto os demais começaram a saquear os prédios mais próximos. Agora, um número cada vez maior de homens estava chegando através das estacas quebradas, já que Vince Farz os mandara seguir pela margem do mar, em vez de esperar que o muro fosse capturado. Os defensores tinham visto os homens na lama e estavam atirando da ponta do muro da cidade, mas os primeiros atacantes já estavam soltos nas ruas.
Argos andou pela cidade, deslocando-se de modo desajeitado. Estava escuro como breu nos becos e era difícil dizer para onde estava indo, embora ao subir o morro sobre o qual a cidade fora construída ele calculara que teria de acabar ultrapassando o topo e depois desceria para a porta sul. Homens passavam correndo por ele, mas ninguém via que ele e seus companheiros eram thaisenses. Os sinos das igrejas eram ensurdecedores. Crianças choravam, cães latiam, gaivotas gritavam, e o barulho estava deixando Argos aterrorizado. Aquilo era uma idéia maluca, pensou ele. Talvez Sir Simon já tivesse escalado os muros. Talvez ele, Argos, estivesse perdendo seu tempo. No entanto, flechas de penas brancas ainda penetravam nos telhados da cidade, sugerindo que os muros não tinham sido tomados, e por isso ele se esforçou para seguir em frente. Por duas vezes, viu-se num beco sem saída, e da segunda vez, voltando para uma rua mais larga, quase esbarrou num padre que saíra da igreja para colocar uma tocha acesa num suporte de parede.
- Vão para as defesas! – disse o padre com firmeza, e então viu os longos arcos na mão dos homens e abriu a boca para dar o alarma.
Não teve tempo de gritar, porque o arco de Argos chocou-se de ponta em sua barriga. Ele se curvou, arfando, e Daniel rapidamente corou-lhe a garganta. O padre gorgolejou enquanto caía nas pedras do pavimento e Daniel franziu o cenho quando o barulho cessou.
- Eu irei para o inferno por causa disso – disse ele.
- Você irá para o inferno de qualquer maneira – disse Sam. – Nós todos iremos.
- Nós todos iremos para o céu – disse Argos –, mas não se perdermos tempo.
De repente, ele se sentiu muito menos amedrontado, como se a morte do padre tivesse levado o seu medo. Uma flecha atingiu a torre da igreja e caiu no beco enquanto Argos liderava seus homens e passava pela igreja. Viu-se na rua principal de Northport, que descia até onde uma fogueira de vigília ardia ao lado da porta sul. Argos recuou para o beco ao lado da igreja, porque a rua estava lotada de homens, mas todos corriam para o lado ameaçado da cidade, e quando Argos voltou a olhar o morro estava vazio. Ele só viu duas sentinelas nas defesas acima do arco da porta. Falou com seus homens sobre as sentinelas.
- Eles vão morrer de medo – disse ele. – Nós matamos os bastardos e abrimos a porta.
- Pode haver outros – disse Sam. – Haverá uma casa da guarda.
- Neste caso, mate-os também – disse Argos. – Agora, mas lá!
Eles entraram na rua, correram alguns metros e armaram os arcos. As flechas voaram e os dois guardas que estavam sobre o arco caíram. Um homem saiu da casa da guarda, construída na torre da porta e olhou boquiaberto para os arqueiros, mas antes que alguns pudessem armar seus arcos, recuou para dentro e trancou a porta.
- Ela é nossa! – gritou Argos, e liderou os homens numa corrida louca até o arco.
A casa da guarda continuou fechada, e assim não havia ninguém para impedir que os arqueiros erguessem a tranca e empurrassem as duas grandes portas, abrindo-as. Os homens de Havoc Bohun, o bravo mago de Edron, viram as portas abertas, viram os arqueiros de Thais delineados contra a fogueira de vigília e soltaram um grande urro na escuridão que disse a Argos que uma torrente de soldados vingativos estava indo em direção a ele.
O que significava que a hora de Northport chorar poderia começar. Porque os homens de Thais tinham tomado a cidade.
Sem mais;
Asha Thrazi!![]()
Publicidade:
Jogue Tibia sem mensalidades!
Taleon Online - Otserv apoiado pelo TibiaBR.
https://taleon.online







Curtir: 




