Capítulo 2 – A dançante chama sobre a imensidão verde banhada a sangue.
Narrado por Natália Azimov.
Um grande estrondo metálico ecoava adentrando em todos os dormitórios, lembrando aos seis que era hora de despertar para mais um dia. Prontamente saio do meu quarto, e encontro os outros cinco companheiros no centro da arena; sem demorar muito vem até nós nossa refeição matinal, entretanto ao reparar bandeja na qual estava o meu alimento, um papel dobrado está de intruso.
“Saia dos demais e vá até o portão, está na hora de colocar o treinamento em prática Fúria.”
Essas palavras foram o bastante, para que eu sacudisse o pouco de areia que se manteve em meu traje, e seguisse em direção a portão que logo me foi liberada a passagem. Leon me passou o destino que estava descrito em um mapa; era o pequeno vilarejo de Greenshore, aonde um grupo de desocupados insistia em libertar os trabalhadores.
Antes de partir me certifiquei de estar equipada: Meu manto zaoano, a carinhosamente chamada calça azul, um sapato também de zao, e claro meu cajado do inferno. Totalmente pronta fiz o caminho de saída, mesmo que ainda observada por alguns guardas Thaianos que me observavam, não sei se por minha beleza ou por ser uma das mais perigosas arcanas que essa cidade não conhece. Porém fiz pouco disso apenas os ignorando, assim como fiz com os símbolos moldurados do reino replicados pela parede; que sempre me lembrava a quem servia e a quem deveria dar a vida. Por mais que sonhos estranhos venham a me confundir, continuarei seguindo minha convicção e aos meus senhores.
Agora já fora das instalações, percorri em alta velocidade a rota para minha missão, mas não fui rápida o suficiente para evitar a vista da feliz cidade, na qual eu ajudo a construir a paz: Pessoas desprovidas de medo na rua trocando mercadorias, algumas crianças sendo levadas para excursões, sem contar alguns casais apaixonados na praça ao lado do salão do rei. Pura distração que a mim não cabia me imaginar nelas, por mais tentador que fosse eu tinha um dever, esse sim eu tinha desejo em concluir o mais breve possível.
Finalmente cheguei ao Grof (guarda do portão norte), a ele amostrei minhas credenciais e meu certificado contendo minha missão; instantes depois eu estava livre para chegar ao vilarejo. Alguns pequenos montes eram os únicos obstáculos em potencial, já que as matilhas que ali habitavam e usavam os montes de “mirante”, poderiam ser facilmente dizimados por qualquer centelha do meu arsenal; entretanto, bem eles não faziam parte da missão então decidi em poupá-los.
Já estava a alcançar a escada que dava acesso a Greenshore; respirei fundo, e observei alguns rebeldes e trabalhadores guiando os recém-libertos. Esperei um número grande correr em direção de um riacho, que na outra margem já dava acesso as proximidades do Monte Externo*, claro que depois de uma caminha considerável. Só que esse não era o dia de sorte deles...
Já tinha um plano em mente, e por isso abandonei as escadarias o mais rápido que pude; assim corri beirando a margem do riacho que envolve Greenshore. Quando finalmente achei a localidade perfeita para atacar, observei todos correndo com ampla felicidade e alívio: crianças, alguns idosos, e principalmente adultos que desde o nascimento nunca souberam o que seria liberdade. Porém eu tinha um trabalho a fazer, e assim que grande parte adentrou no riacho eu pronunciei aquilo que mudaria minha vida: Exevo gran mas vis.
O céu pareceu cair até onde estávamos, e então raios atingiram com severidade a água, os mais frágeis caíram de imediato, entretanto os mais fortes ainda sustentaram um pouco, inutilmente de antemão vos digo. Mesmo sendo poucos os que sustentaram a vida por mais pouco tempo, foi o suficiente para grudar em minha mente seus gritos de agonia, que além da dor insuportável observavam boiando aos seus lados corpos; corpos esses de amigos ou companheiros até mesmo familiares.
No meio disso tudo uma garota com equipamentos rudimentares, e apenas uma espada de presa de wyvern de valor, me alvejou pelas costas com severidade e proferiu no meu ouvido: Eu sabia que a coroa mandaria alguém, mas não sabia que seria uma de suas meretrizes! — E enquanto quieta eu digeria aquele golpe, que mesmo sendo grave não ia nem de longe me derrubar; ela continuou o seu discurso. — Está vendo aquele ali que está na borda, ele foi quem me criou, e me fez acreditar na liberdade dos trabalhadores. Ele acreditava em um mundo melhor, tanto que nem a destruição do hospital de Liberty Bay destruiu sua convicção.
A ultima sentença me deu uma pontada muito maior que qualquer lamina, eu me lembrava do hospital ele sempre estava presente em meus sonhos, sonhos esses que eu sempre tentava apagar da minha memória. Porém não foi a mim que aquelas frases atingiram, atingiram também àquela garota que me atacou, ela retirou a espada e caiu no chão ao ter memórias nostálgicas provenientes de seu discurso. E aquela cena partiu aquilo que eu pensei não ter mais, mesmo consternada me curei e ameacei trucidar aquela menina se ela não guiasse os demais para longe dali. Foi então que o pior aconteceu, diversos guerreiros Thaianos vieram-me “reforçar”, e me cabia a missão de parar o avanço.
De prontidão invoquei dois elementais de fogo que atrapalharam a visão dos atiradores, minha intenção momentânea era impedir que os fugitivos fossem mortos, mas não tive muito sucesso já que minha invocações foram dissipadas. Não vi outra saída, senão eliminar os Thaianos, naquela hora eu mesma não me conhecia mais, me sentia como uma daqueles trabalhadores que mais do que nunca queria ver aquelas pessoas livres.
Então me coloquei de frente, e respirei fundo; logo pronunciei aquilo que selaria o episódio: Exevo Gran Mas Tera, Exevo Gran Mas Flam, Exevo Flam Hur, Exevo Gran Mas Vis. Vinhas gigantes nasceram das gramíneas inocentes do solo, e logo envolveram o grupo defensor da coroa; quando menos esperaram veio o imenso vortex de fogo que os engoliu por inteiro, nesse momento o grito de desespero uníssono soava como uma sinfonia, que as duas partes de mim se agradavam... Ora por serem os opressores, ora pelo puro gosto pela morte e destruição.
Alguns pensaram ser aquele o fim, mal esperavam quando uma crescente bola de fogo os abraçou novamente, e uma revoada de nuvens repletas de raios cortou os seus corpos fazendo jorrar sangue para todos os lados, inclusive nas distantes gramas que ainda torravam nas pequenas chamas remanescentes de meu ataque.
Depois de analisar o ambiente que era puramente morte, acariciei o meu rosto banhado em sangue o qual mantinha alguns fios de cabelo presos no meu rosto, me vi fraca demais e incrédula de ter causado tamanha destruição, então caí sem cerimônias no chão torcendo para que aquilo fosse apenas um pesadelo.
Horas depois não sabia eu como cheguei naquela sala, era a sala aonde recebia o tal “tratamento” a base de choques. Na hora me desesperei e me balancei para todos os lados, foi quando vi uma cabeça no centro da sala, os cabelos longos e negros, um dos olhos meio que abertos me mostravam um preto, e sua feição bem me diziam que era a garota que tentei proteger. No instante seguinte um homem dentro de seu capuz pega uma maça no chão, e apenas diz: “Recuperamos todos os que você tentou acobertar, e assim vai ser toda a vez que você fraquejar frente a alguém. E então sua maça destruiu a cabeça, fazendo voar os pedaços para todos os lados possíveis e impossíveis.”