Me deu vontade de voltar a escrever aqui, por isso tentarei postar e finalizar (pela primeira vez na minha carreira tibiabrística, por isso não tenham esperanças) uma pequena história que venho pensando faz alguns dias. É um pouco grande, por isso vou dividir em alguns fragmentos e se a resposta for positiva, eu continuo postando.
Sete horas
Quando apreciei a mansão da Rua do Porto em sua inteireza pela primeira vez, sua presença massiva e sinistra desabou sobre mim como uma aura agourenta, de um tipo que raramente presenciei durante minha longa vida. Era o tipo de sensação que tinha-se ao cruzar a soleira de uma igreja do horrível culto, ou ao pisar a terra de um cemitério sabidamente amaldiçoado por estranhos poderes, do tipo que faziam levantar e vagar coisas que já não tinham o direito de fazê-lo. Experimentar aquele tipo de sensação insalubre em algum lugar ermo e desolado, onde necromantes e outros agentes de entes nefastos viam-se livres para disseminar suas artes, era uma coisa. Experimentá-la no meio de uma rua movimentada de Thais era outra completamente diferente.
Lembro-me nitidamente de minha boca desenhando um perfeito “o” e de meu maxilar caído, reflexos externos da reação visceral que tive ao presenciar a casa tão de perto. Notei meus batimentos cardíacos rugindo, em velocidades cada vez mais alarmantes , e minhas mãos tremendo como um cão pelado sob o frio de Hrodmir. A luz do sol já começava a minguar por detrás da silhueta da macabra construção, e meus membros tremiam tanto que pareciam incontroláveis, mas ainda assim lembro de erguer o braço e checar o estranho aparelho que agarrava-se ao meu pulso com braços de couro: um relógio. Eram sete horas em ponto. Por que aquela hora me pareceu de alguma forma significativa e diferente de todas as outras ali naquele lugar era algo que não pude compreender de imediato, e que até hoje não entendo, a bem da verdade. O que incutia em todos os transeuntes um estado de estranha aversão à Rua do Porto na hora do crepúsculo era um poder que prefiro que permaneça na segura zona de minha ignorância, mas o fato é que ele estava lá, e eu começava a presenciá-lo.
Observar a mansão da Rua do Porto era como revirar uma enorme pedra e encontrar por baixo dela um cadáver putrefato – um cadáver que só aparecia às sete horas. Queria eu ter entendido o nível da insanidade à que estava me submetendo ao visitar aquela casa; insanidade esta que, agora que reconto esta história, vejo que começara não naquele instante em que o objeto de minha busca fora revelado, mas muitos dias antes, quando comecei minha fatídica viagem de Carlin a Thais. Hoje percebo que estava amaldiçoado e amarrado àquele destino desde que um envelope encardido escorregara por debaixo da porta de minha casa em Carlin semanas atrás. Envelope este cujo conteúdo consistia de uma carta à qual eu me arrependeria de ter dado ouvidos, e de um curioso aparelho de metal e couro cuja existência a maioria da população atribuiria à magia negra: um relógio de pulso danificado, cujos ponteiros de segundos e minutos moviam-se normalmente, enquanto o ponteiro das horas mantinha-se eternamente congelado em uma posição: a das sete horas.
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) uma pequena história que venho pensando faz alguns dias. É um pouco grande, por isso vou dividir em alguns fragmentos e se a resposta for positiva, eu continuo postando.
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