PRÓLOGO
A névoa envolvia totalmente o ambiente. Era difícil, acintosamente, desvendar qualquer coisa mesmo que a um palmo de distância do próprio nariz. O frio, além da névoa, era intenso. A cada passo, George conjecturava o que estaria ele fazendo num lugar daqueles. Há muito tempo não via seus amigos. Há muito tempo, não via a família. Há muito tempo, estava morto por dentro, vivendo isolado naquela ilha próxima da Antártida. Não sabia mais há quanto tempo estava lá, nem mesmo que dia do mês era aquele, tampouco da semana. As pesadas roupas, infelizmente, não cumpriam o que estava para elas designado: protegê-lo do frio.
- Inferno – praguejava, em voz alta, enquanto acompanhava seus dois
huskies, sua única companhia naquele lugar. – Eu não sei onde diabos eu estava com a cabeça.
A torre de iluminação era logo à frente. A função de George era pura e simplesmente sair toda noite de seu abrigo, a aproximadamente novecentos metros, e acionar o sistema de iluminação, na esperança de que alguém o achasse naquele local. Mesmo que ainda não fosse este o momento de partir.
- Aqueles tubos daquele maldito laboratório infernal não são tão importantes, nada vale tanto a pena!
Consultou o
walkie-talkie como fazia todos os dias. Estática. Enquanto caminhava, algo lhe chamou a atenção. Um som, quase inaudível, veio a norte de onde estava. Olhou nos arredores, os cães uivavam quase que imperceptível.
Que diabo está acontecendo, meu Jesus? Eu estou ficando louco!
A caminhada, no seu seguimento, realmente o assustou. Sentiu fortes ventos vindos em suas costas. Virou-se, para acompanhar a cena. Era um helicóptero a descer, ali, naquela ilha esquecida por Deus.
- Mas o que...
Depois de alguns segundos, uma rampa seguiu-se da porta do mesmo. Dois corpulentos homens, um moreno, outro caucasiano, de quase dois metros de altura cada um, desceram com velocidade. Ignorando o frio, usando apenas aquele terno de tweed e calças sociais simples, o mais branco agarrou George pelo colarinho, como quem sacudisse um boneco de neve qualquer.
- Doutor – apesar da grosseria, a voz parecia por George ter respeito -, sintonize o seu rádio a 200khz. Agora.
- Por qual motivo?
O outro corpulento homem, com um pouco mais de ignorância, retirou o agente de cima do homem e assumiu a operação ele mesmo.
- Você não está ouvindo, senhor George? Ele disse agora, e é
agora que você o fará. Não demore. Minha paciência não é tão duradoura, e a sua vida também não será!
- Está... está bem. Qual é a ordem?
O mais branco entregou-lhe o que lhe pareceu um bipe. Havia uma mensagem codificada.
- Entregue a mensagem. Agora.
- A 200khz? Seu destinatário não vai a receber, a freqüência é baixa demais!
- Eu disse agora.
Suando frio, e engolindo seco, George obedeceu. Em seguida, o moreno sacou uma pistola 9 mm, e encostou seu calibre de encontro à testa do ermitão. George, estrábico, encarou o cano da arma, sem opção alguma, senão rezar.
- Me perdoe, professor – o branco falava, com emoção na voz. Lembrou-se, então, que não sentia aquela sensação há muito tempo. Há tempos havia sido obrigado a ser frio. Frio como o outro agente que apontava a arma para o professor. – Seu trabalho ameaça muita gente. Provavelmente não entendeu a mensagem e nem porque a mandou. Mas não entenderá. Sinto muito, George.
- O que está acontecendo? Por que estão aqui? Qual a minha participação no problema de vocês?
- Perguntas... – o armado se pronunciava -, que jamais serão respondidas.
Então, sem dó nem piedade, meteu-lhe um soco no rosto. George, o professor, caiu duro no chão, mas ainda consciente, e virado para cima. Em seguida, visivelmente abalado, o outro agente trouxe-lhe um ferro, como o de marcar bois. Esquentado. O mais moreno guardou a pistola, enquanto o outro rasgava as roupas de George. Claramente impossibilitado de reagir, o professor apenas esperou pela morte.
Isso não para por aqui, pensou o professor, fazendo alguns movimentos nos botões de seu rádio. O agente armado, então, com um baque surdo, acertou com o ferro no meio do abdômen do professor, queimando-lhe a carne. George gritava freneticamente. Em seguida, sem nada mais a fazer, o mais moreno deu-lhe um tiro na cabeça, e em seguida carregou o corpo para o helicóptero, de onde zarparam em direção às Américas.