SAGA
O Outro Lado
Tolos são aqueles centrados apenas em suas vidinhas medíocres dos dias atuais. Se preocupando com algo muito menor do que imaginam, de um lápis, casa, cidade, a Terra... Tanto faz. Não interessa. Ninguém conhece a imensidão do universo e o que existe do seu outro lado. Até este momento, na plataforma Omega I.
Prólogo
Estação Espacial Omega I – Órbita de Plutão, 18:32 no horário Terrestre. Dia 22 do mês 3 do ano de 2601
Quando as portas pneumáticas se abriram, um soldado caminhou lentamente através daquela lanchonete e se acomodou em uma das mesas. Apesar de ser uma grande oportunidade, tudo aquilo acabaria por ser cansativo. Ele teria que passar seis meses naquela estação espacial, a pelo menos duas semanas de qualquer colônia habitacional, junto com outros 400 pilotos que tinham como objetivo proteger a estação, fazer patrulhas periódicas no espaço ao redor e, no mais, testar os módulos da estação, desde a lanchonete até o hangar, o complexo de diversão, os quartos, em fim, tudo o possível. Após repassar mentalmente o que deveria fazer durante sua estadia, o soldado selecionou a refeição padrão no monitor eletrônico da mesa e esperou ser atendido pelo sistema automático. Bem, é isso o que ele deveria fazer, testar as funções da base. Seu nome era “Haos”.
A voz do comandante ecoava pela cabeça daquele outro soldado como centenas de informações e obrigações, apenas. Nada muito importante, afinal, ele sabia voar e isso sim já bastava. Para ele, é claro. Com o pensamento dentre os asteróides, junto aos seus passos outras dezenas de pilotos tinham apenas um objetivo momentâneo: a lanchonete. A viagem cansara o corpo do rapaz, e o sabor amargo da comida embrulhava seu estômago. Duas péssimas semanas de viagem, pensava, enquanto as últimas palavras sem importância do bom comandante esvaiam de sua cabeça dura, necessária apenas de sustento para seu cabelo. Proteger a estação não deveria ser tão difícil assim, sendo ainda por meia dúzia de meses. Mas seria cansativo, isso fora avisado quando deixava sua estação. Resolveu pensar nisso depois, e sua plaqueta de metal presa ao pescoço chacoalhava conforme o rapaz, com botas novas, se dirigia até a lanchonete. No momento, aquele rapaz conhecido como “Break” só queria matar a criatura que gritava de fome em algum lugar no seu estomago.
Haos encarou a comida que o sistema automático lhe dera: duas fatias de pão integral desidratado, quente, feito com trigo transgênico. Um pequeno pote com uma pasta branca de proteínas sabor carne, padrão, e uma garrafa com um energético sabor limão. A refeição padrão conseguia ser quase igual à refeição da viagem, e Haos encarou-a com desgosto. Com um metro e oitenta e três de altura, ele possuía um cabelo preto grande que ia até o meio das costas, cuja franja lhe tapava constantemente um dos olhos, mesmo contra a vontade. Sim, cabelo grande era contra o regulamento, mas ele havia conseguido passar impune com um pouco de uma sorte que envolveu um capacete e um examinador desatento. Seu corpo possuía o porte atlético exigido pela academia de pilotos e ele usava o uniforme padrão branco, cinza e com botas pretas. Após passar a pasta branca no pão e dar uma mordida, ele teve que se conter para não vomitar de decepção: ele esperava ao pelo menos agradável, e aquilo era horrível. Mas bem, ele só podia pedir uma refeição por noite, então teria que ser aquilo. E, sem a mínima vontade, ele começou a comer.
Break ainda não acreditava ainda que, assim como outros exatos 399 soldados, ele estava recebendo os malditos pães integrais desidratados que recebera toda a viagem. Seus lábios crepitavam e sua vontade de tacar tudo ao chão fazia com que suas mãos tremessem. Que não fosse por isso, ele separou um pedaço do pão integral e a garrafa de energético de limão e se alimentou apenas disso enquanto, em intervalos de minutos, ele ameaçava lançar o resto do pão no piloto que estivesse sentado mais próximo, e se isso não melhorasse ele seria obrigado a deixar Omega I. Ele estava certo em ser piloto quando escolheu esse caminho, porém não sabia da péssima comida e isso já era um enorme problema para o jovem Break. Enorme. Enorme... resolveu não brigar. O cansaço ajudava as suas pálpebras pesadas a se fecharem enquanto ele enfiava um pedaço do pão goela abaixo, empurrado por um gole do energético. Pouco depois, ele se levantou com a garrafa quase vazia e seguiu para os alojamentos. Precisava de comida, de uma cama, e de um espelho para avaliar a situação dos seus cabelos arrepiados.
Haos, após terminar de comer o intragável pão, se dirigiu até o quarto indicado na plaqueta de metal presa a seu pescoço. Bem, pelo menos eram quartos privativos, uma vantagem mínima para, sem sucesso, tentar compensar a comida ruim. Após algum tempo andando e procurando ele achou o quarto, e após deixar que sua retina fosse lida pelo scanner e que seu rosto fosse captado pela câmera do mesmo, a porta se abriu. O quarto, bem, pelo menos era melhor que um alojamento padrão. Com aproximados cinco metros quadrados o quarto possuía uma cama, um criado mudo com duas gavetas, um armário embutido na parede e uma saída para o banheiro. Era iluminado por lâmpadas brancas e era completamente pintado de cinza. Haos, exausto, foi até o banheiro: O espaço era pouco maior que o do armário, mas mesmo assim era privativo, o que era bom. Placas de metal brancas revestiam todo o recinto, que possuía uma pia com um espelho-armário e um Box com chuveiro. Com um suspiro, então, Haos se despiu e entrou no banho, morto de vontade de cair na cama e dormir.
Pelo menos a cama era confortável, pensou Break, e isso era um ponto positivo. O banho também não era ruim e o quarto, apesar de pequeno, era seu ambiente. E estava feliz, apesar de tudo. Mesmo infantil seu sentimento era de ter sua própria "casa", mesmo sendo apenas um quarto. Era livre. Por entre os dedos corria um Solar meio enferrujado, o primeiro que ganhara em toda a vida, no seu primeiro trabalho. Lembranças o deixavam feliz, e ele tornou a flutuar, olhando para sua imagem nua no espelho de frente para a cama. O frio ambiente arrepiava os pelos das suas costas enquanto ele se lembrava da imagem de seus amigos e parentes na estação de viagem para Omega I. Ele conseguia rever o rosto de cada um que gritava o seu nome, que lhe desejava sorte, que chorava ao vê-lo partir... Lembrava do rosto dela, um belo rosto angelical que ainda não acreditava no que estava acontecendo. Lembranças. A saudade já começava a corroer seus orgãos quando ele se acomodou na cama, com a imagem da despedida e da bela garota que ele amava. E então ele adormeceu, em uma cama que acabara de se tornar sua. O outro dia seria cansativo. E assim, aos poucos, as luzes foram se apagando em Omega um, até que não sobrasse nenhuma acesa senão a da cabine do vigilante noturno. Fora um azar tremendo ter sido justo ele o escalado para a vigilância noturna, mas fazer o que, desde que não dormisse em serviço estaria ótimo, e ele ainda teria a manhã seguinte de folga.
E assim foram as primeiras horas de Omega um, calmas e tranqüilas, com todos os soldados dormindo tranqüilamente, inclusive um que deveria estar vigiando. Tudo seguiu no mais profundo silêncio até o relógio de pulso do vigilante marcar exatas quatro horas da manhã no horário terrestre. O vigilante, despertado pelo apito do relógio que indicava a passagem de hora, se surpreendeu com o aviso que piscava no monitor principal. Em letras garrafais, estava escrito: Alerta de aproximação de asteróide, o alarme de nível cinco será ativado em 1 minuto e 59 segundos se a senha não for inserida, e contando. O vigilante não precisou reler a frase para entender que um asteróide imenso se aproximava, um asteróide grande o bastante para alterar muito a órbita do planeta, em caso de impacto. Após murmurar um palavrão, alarmado, o vigia digitou a senha correspondente e os comandos de emergência para aquela situação: A estação acionaria os motores de emergência para se desviar da rota do asteróide e um alarme seria soado, para que os pilotos ficassem em estado de alerta e prontos para o impacto, afinal, uma coisa daquele tamanho era capaz de fazer o Planeta inteiro e tudo que estivesse na órbita dele tremer: o diâmetro daquilo era de aproximadamente um quarto do diâmetro do planeta.
— MAS QUE DIABOS..? - gritou Break, quando o som ensurdecedor que saia de uma caixa e som ao lado da sua cama o acordou. Com o coração na boca o jovem se jogou ao chão e se agarrou ao que podia enquanto tentava esconder o corpo pelado de possíveis tarados que poderiam estar invadindo o seu quarto. Mas, quando ele se lembrou de um comentário do comandante sobre a luz azul, viu que não era algo tão simples. Alerta, de nível cinco. Suas mãos buscaram o uniforme enquanto o rapaz levantava apressado. Será que era um teste? Malditos seriam os homens que o acordaram se aquilo fosse um teste. E, xingando, se sentou a uma cadeira de emergência que saíra da parede enquanto uma voz avisava que se preparassem para um possível impacto.
Haos abriu os olhos instantaneamente quando o alarme soou. “Caramba...”, disse ele em voz alta, reclamando do susto que tinha tomado. Aquela caixa de som havia sido posta do lado de sua cama... Espere, uma luz azul piscava em seu quarto em intervalos de três segundos, era um alerta de nível cinco. Ele arregalou os olhos e imediatamente se sentou na cadeira de emergência que saíra da parede, conforme o comandante havia instruído na conferência logo após a chegada. “Preparar para impacto em um minuto”, dizia a voz, como se estivesse do seu lado. Ele se colocou em posição de impacto, só podendo se perguntar o que estava acontecendo.
Mas se passaram vários minutos, e não houve impacto. Enquanto os pilotos da estação aguardavam com apreensão, o comandante adentrou a sala do vigia, furioso:
— MAS O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? – gritou ele – QUE ALARME FOI ESSE, E PORQUE PAROU?
— Eu não sei senhor... – disse o outro, hesitante – O asteróide parou, olhe! – concluiu ele, apontando para a mancha enorme no radar, completamente estática.
O comandante observou durante algum tempo o radar, e a sua face subitamente passou de lívida de raiva para consumida pelo pavor:
— Isso... – começou ele, apavorado.
— Mas... – disse o vigia, voltando os olhos novamente para o radar. E sem poder se controlar, ele entrou em estado de choque.
ÍNDICE
Capítulo 1
Capítulo 1 (Parte II)
Capítulo 1 (Parte III)
Capítulo 1 (Parte IV)
Sem mais;
Asha Thrazi!![]()
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