Vamo ve no que vai da isso aqui! Acompanhem =)
Sherlock Holmes: Rios de Sangue
Prólogo.
Londres, 24 de outubro de 1902. O ponteiro menor do relógio já tinha se deslocado sessenta graus dês das doze badaladas noturnas. Num bar no subúrbio de uma das maiores cidades do mundo, estavam reunidos em volta de uma mesa, coberta por um pano verde muito curto com naipes vermelhos, oito homens. Todos do pub espiavam o jogo de pôquer e palpitavam sobre os rumos da partida, que se encaminhava, entre um copo de whisky e outro, para um desfecho. Dos oito homens, cinco, com quantias irrelevantes de fichas, estavam praticamente fora da partida.
Desce o flop (viradas as primeiras três cartas da mesa). Holmes aposta 10 libras fazendo correrem três dos competidores, inclusive Watson. Após coberta a aposta, o dealer vira o turn (quarta carta).
- Vinte. – volta a apostar o detetive, espantando outros dois competidores.
Nesta altura Sherlock encara os dois oponentes restantes. O primeiro oponente, Dr. Peter, é um renomado médico que trabalha na prisão londrina. É Alto, loiro, tem olhos claros e cansados. Seu colete marrom de couro, que combinava com a boina marrom, deixava aparecendo pouco da calça preta contrastada pela camisa branca embaixo do colete. Expressão amarga, rosto sempre fechado. O doutor tinha as costas caídas, batucava os pés e não olhava para suas cartas. Á sua frente, um copo de whisky extremamente cheio. Se uma pessoa qualquer fosse analisar, as costas indicariam cansaço, os pés batucando seriam costume e o detalhe dos olhos passaria despercebido, assim como o copo. Para Holmes, a observação foi extremamente conclusiva. O bar fica tenso, ao se esticarem pescoços e se lançarem cochichos por toda a parte.
- O triplo ou nada, diz Lestrade.
- Cubro! – Disse o doutor. A tensão no bar aumenta, enquanto Sherlock analisa Lestrade. Camisa azul de botão fechada até o topo, pressionando a papada. Vestia calça marrom e sapatos pretos. Da pouca expressão que se podia tirar daquele rosto amedrontador, com os pequenos olhos parecendo duas bolas pretas, o inspetor parecia confuso. Ele era baixinho e carrancudo, mas tinha postura inflada, típica de um detetive. Tinha um copo de água a sua frente, o pé direito apontava para a saída e o pé esquerdo apontava para o jogo. Os olhos oscilavam entre as cartas e a mesa, e o inspetor deu um rápido levantar de sobrancelhas quando anunciado que a aposta seria coberta. Sherlock conclui sua idéia.
- Cubro.
River. (abre-se a quinta carta da mesa)
- All-win. – exclama Holmes, levantando barulhentas conversas após cinco segundos de silêncio total. Ele era um dos cinco que já não tinham pretensão alguma no jogo, mas o movimento podia mudar o rumo de tudo.
- Fora – Diz o Doutor. O detetive encara Sherlock por trinta segundos antes de jogar as cartas na mesa, com cara de quem foi longe demais.
Rindo, Holmes, vitorioso, pega as fichas enquanto mostra seu par de setes. Explosão. Gritos e aplausos por todo o bar, enquanto é servido mais um whisky para ele. Lestrade faz uma cara de extrema decepção e o Dr. Peter dá risada da situação. Sherlock vira o copo, recolhe as fichas e levanta da mesa, acompanhado por Watson. Enquanto troca seus lucros e se dirige para a saída do bar, é aclamado pelos homens ao redor.
- Inacreditável a sua sorte, diz Watson. – Não sei quanto ao doutor, mas Lestrade tinha pelo menos uma trinca.
- Sabe que não se trata disso. Análise, Watson. – retruca o detetive.
- Certo! Diga-me que observou as pegadas dos homens agora, Holmes! Isso é pôquer, e não investigação. Não passa de sorte o fato de você blefar mais do que eles. Talvez até te atribua uns pontos de habilidade, mas não compro essa história agora.
- Quantas vezes já te disse que você vê, e não observa? Por exemplo, o que indica constante verificação das cartas?
- Memória curta – responde Watson, ironicamente.
- É difícil de acreditar, mas o simples ato de olhar para as cartas em sua mão pode significar muitas coisas. Quando combinado com olhadas freqüentes para as cartas da mesa, indica indecisão. Se você está blefando, você sabe que não tem nada, e por isso não fica verificando suas cartas. Se você tem um carteado valioso, confere algumas vezes por segurança e para, confiante. Mas se você está indeciso, você corre os olhos entre as cartas e a mesa para realizar mais alguns cálculos e se certificar de que as cartas são suficientes.
- Interessante. Mas não explica nada, ainda. Falta de verificação das cartas pode ser tanto um blefe quanto uma mão excelente.
- Como se os olhos fossem tudo – disse Sherlock. - Quantos Watsons são precisos para realizar uma dedução?
O fiel amigo do detetive, com expressão de desprezo, não responde. Holmes prossegue:
- O doutor é uma negação no jogo. Não olhou as cartas, estava com postura desconfiante e agitava os pés. A agitação é sinal de tédio ou de ansiedade, esta última que aparece quando você tenta mentir. Todos nos sentimos desconfortáveis ao mentir, e tentamos nos controlar através de movimentos repetitivos, entre outros sinais, que resultam mudanças no estado relaxado de um homem. Podemos dividir um homem em emoções, corpo e mente. Nesse caso, sua mente tentava blefar mas o corpo entrava em contradição com o ato, desacreditando-o. Ele ainda tinha um copo de whisky quase transbordando á sua frente, sinal de que não bebeu nada, fazendo o gelo derreter e encher o copo. Indica também que ele quis passar uma imagem mais desinibida, mas não funcionou comigo. Típico caso de blefe, é óbvio que recusaria o meu all-win. Provavelmente contava com minha desistência e pretendia blefar contra o inspetor.
- Impressionante. E quanto ao detetive?
- Ficou claro que Lestrade estava indeciso. Além dos olhos saltitantes, seus pés apontavam um para a saída e outro para o jogo, o que indica confusão. O corpo reflete a mente e a mente oscilava entre jogar ou fugir, então como conseqüência os pés refletiram isso. Como ele estava bebendo água, percebi que seu julgamento não seria afetado: o que eu via era verdadeiro. Apesar de eu ignorar sua postura, pois ele sempre mantém a mesma por ser um oficial, sua sobrancelha oscilou quando o doutor cobriu a aposta. Sinal de surpresa. Lestrade tentou, pela extrapolação de valores, nos derrubar. Ele sabia que ambos tínhamos poucas fichas e não nos arriscaríamos muito. Depois de cobrirmos ele provavelmente pensou que tivéssemos cartas, e como as dele não eram gigantes, recusou meu all-win. Em outros termos, análise corporal.
- Entendo. Mas e se fossem apenas sinais feitos sem querer, ou falsificados?
- Nada é por acaso, tudo tem uma explicação. Mas existem as pistas gritantes e as escondidas. Um homem não dorme após o almoço porque é algo ao acaso, ele dorme pois existe uma razão biológica que você, como médico, pode explicar melhor que eu. Pode me falar um pouco sobre isso?
- Se resume em concentração de sangue no estômago para a digestão, reduzindo o volume desse mesmo no cérebro, provocando então sonolência. Continue.
- É algo que muitos não sabem, mas fazem. Isso seria uma pista escondida, que precisa de estudo para ser revelada. Ao ’’acaso’’, ou aos olhos de um leigo, ele simplesmente estaria indo dormir pois estava com sono. Mas como você tem estudo no assunto, sabe que não é bem assim. Existem muitas coisas por trás de um ato, Watson. Você, como médico, ao consultar um homem, deve perceber apenas por um exame de rotina coisas que eu nunca perceberia. Eu, como detetive, percebo esses detalhes que para você podem parecer idéias mirabolantes. Essas dicas que as pessoas me dão são primitivas e inconscientes, por isso é quase impossível falsificá-las. Raras às vezes, quando possível a falsificação, é perceptível que o ato é forçado. Por exemplo, ria, agora.
Watson dá um sorriso forçado, daqueles não convincentes. Sherlock da uma gargalhada.
- Acho que você tem um bom argumento, finalmente. Mas é difícil dar crédito a ele sem uma explicação prévia. Sabe como é, o ser humano é cético de nascença e qualq...
A fala de Watson foi interrompida por um policial que chegou no bar correndo, aflito, atrás de Lestrade. Pouco depois, ao sair, o detetive comenta com Sherlock Holmes que um homem foi morto sem nenhum trauma corporal a não ser por cortes que formavam escrituras. Não foram encontradas pistas, tirando uma escrita na parede, e o corpo foi mantido no lugar de óbito.
- Estou indo para o local agora, disse Lestrade, fitando Sherlock com os pequenos olhos pretos. Claramente mordido pela prévia rodada de pôquer, ele exibia sua mania de independência enquanto dava os passos curtos em direção á carruagem. Watson pergunta a Holmes porque o detetive tinha entrado em tantos detalhes com ele.
- Pois ele sabe que vai precisar de mim, é óbvio. Não tem competência para um caso assim.
- E você? - Pergunta novamente o amigo.
- Eu? Eu estarei em casa. – responde Holmes, calmamente. - Vamos.
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Valeu.
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gostei muito. 

