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Tópico: Sherlock Holmes

  1. #1
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    Padrão Sherlock Holmes

    Vamo ve no que vai da isso aqui! Acompanhem =)



    Sherlock Holmes: Rios de Sangue


    Prólogo.

    Londres, 24 de outubro de 1902. O ponteiro menor do relógio já tinha se deslocado sessenta graus dês das doze badaladas noturnas. Num bar no subúrbio de uma das maiores cidades do mundo, estavam reunidos em volta de uma mesa, coberta por um pano verde muito curto com naipes vermelhos, oito homens. Todos do pub espiavam o jogo de pôquer e palpitavam sobre os rumos da partida, que se encaminhava, entre um copo de whisky e outro, para um desfecho. Dos oito homens, cinco, com quantias irrelevantes de fichas, estavam praticamente fora da partida.
    Desce o flop (viradas as primeiras três cartas da mesa). Holmes aposta 10 libras fazendo correrem três dos competidores, inclusive Watson. Após coberta a aposta, o dealer vira o turn (quarta carta).
    - Vinte. – volta a apostar o detetive, espantando outros dois competidores.
    Nesta altura Sherlock encara os dois oponentes restantes. O primeiro oponente, Dr. Peter, é um renomado médico que trabalha na prisão londrina. É Alto, loiro, tem olhos claros e cansados. Seu colete marrom de couro, que combinava com a boina marrom, deixava aparecendo pouco da calça preta contrastada pela camisa branca embaixo do colete. Expressão amarga, rosto sempre fechado. O doutor tinha as costas caídas, batucava os pés e não olhava para suas cartas. Á sua frente, um copo de whisky extremamente cheio. Se uma pessoa qualquer fosse analisar, as costas indicariam cansaço, os pés batucando seriam costume e o detalhe dos olhos passaria despercebido, assim como o copo. Para Holmes, a observação foi extremamente conclusiva. O bar fica tenso, ao se esticarem pescoços e se lançarem cochichos por toda a parte.
    - O triplo ou nada, diz Lestrade.
    - Cubro! – Disse o doutor. A tensão no bar aumenta, enquanto Sherlock analisa Lestrade. Camisa azul de botão fechada até o topo, pressionando a papada. Vestia calça marrom e sapatos pretos. Da pouca expressão que se podia tirar daquele rosto amedrontador, com os pequenos olhos parecendo duas bolas pretas, o inspetor parecia confuso. Ele era baixinho e carrancudo, mas tinha postura inflada, típica de um detetive. Tinha um copo de água a sua frente, o pé direito apontava para a saída e o pé esquerdo apontava para o jogo. Os olhos oscilavam entre as cartas e a mesa, e o inspetor deu um rápido levantar de sobrancelhas quando anunciado que a aposta seria coberta. Sherlock conclui sua idéia.
    - Cubro.
    River. (abre-se a quinta carta da mesa)
    - All-win. – exclama Holmes, levantando barulhentas conversas após cinco segundos de silêncio total. Ele era um dos cinco que já não tinham pretensão alguma no jogo, mas o movimento podia mudar o rumo de tudo.
    - Fora – Diz o Doutor. O detetive encara Sherlock por trinta segundos antes de jogar as cartas na mesa, com cara de quem foi longe demais.
    Rindo, Holmes, vitorioso, pega as fichas enquanto mostra seu par de setes. Explosão. Gritos e aplausos por todo o bar, enquanto é servido mais um whisky para ele. Lestrade faz uma cara de extrema decepção e o Dr. Peter dá risada da situação. Sherlock vira o copo, recolhe as fichas e levanta da mesa, acompanhado por Watson. Enquanto troca seus lucros e se dirige para a saída do bar, é aclamado pelos homens ao redor.
    - Inacreditável a sua sorte, diz Watson. – Não sei quanto ao doutor, mas Lestrade tinha pelo menos uma trinca.
    - Sabe que não se trata disso. Análise, Watson. – retruca o detetive.
    - Certo! Diga-me que observou as pegadas dos homens agora, Holmes! Isso é pôquer, e não investigação. Não passa de sorte o fato de você blefar mais do que eles. Talvez até te atribua uns pontos de habilidade, mas não compro essa história agora.
    - Quantas vezes já te disse que você vê, e não observa? Por exemplo, o que indica constante verificação das cartas?
    - Memória curta – responde Watson, ironicamente.
    - É difícil de acreditar, mas o simples ato de olhar para as cartas em sua mão pode significar muitas coisas. Quando combinado com olhadas freqüentes para as cartas da mesa, indica indecisão. Se você está blefando, você sabe que não tem nada, e por isso não fica verificando suas cartas. Se você tem um carteado valioso, confere algumas vezes por segurança e para, confiante. Mas se você está indeciso, você corre os olhos entre as cartas e a mesa para realizar mais alguns cálculos e se certificar de que as cartas são suficientes.
    - Interessante. Mas não explica nada, ainda. Falta de verificação das cartas pode ser tanto um blefe quanto uma mão excelente.
    - Como se os olhos fossem tudo – disse Sherlock. - Quantos Watsons são precisos para realizar uma dedução?
    O fiel amigo do detetive, com expressão de desprezo, não responde. Holmes prossegue:
    - O doutor é uma negação no jogo. Não olhou as cartas, estava com postura desconfiante e agitava os pés. A agitação é sinal de tédio ou de ansiedade, esta última que aparece quando você tenta mentir. Todos nos sentimos desconfortáveis ao mentir, e tentamos nos controlar através de movimentos repetitivos, entre outros sinais, que resultam mudanças no estado relaxado de um homem. Podemos dividir um homem em emoções, corpo e mente. Nesse caso, sua mente tentava blefar mas o corpo entrava em contradição com o ato, desacreditando-o. Ele ainda tinha um copo de whisky quase transbordando á sua frente, sinal de que não bebeu nada, fazendo o gelo derreter e encher o copo. Indica também que ele quis passar uma imagem mais desinibida, mas não funcionou comigo. Típico caso de blefe, é óbvio que recusaria o meu all-win. Provavelmente contava com minha desistência e pretendia blefar contra o inspetor.
    - Impressionante. E quanto ao detetive?
    - Ficou claro que Lestrade estava indeciso. Além dos olhos saltitantes, seus pés apontavam um para a saída e outro para o jogo, o que indica confusão. O corpo reflete a mente e a mente oscilava entre jogar ou fugir, então como conseqüência os pés refletiram isso. Como ele estava bebendo água, percebi que seu julgamento não seria afetado: o que eu via era verdadeiro. Apesar de eu ignorar sua postura, pois ele sempre mantém a mesma por ser um oficial, sua sobrancelha oscilou quando o doutor cobriu a aposta. Sinal de surpresa. Lestrade tentou, pela extrapolação de valores, nos derrubar. Ele sabia que ambos tínhamos poucas fichas e não nos arriscaríamos muito. Depois de cobrirmos ele provavelmente pensou que tivéssemos cartas, e como as dele não eram gigantes, recusou meu all-win. Em outros termos, análise corporal.
    - Entendo. Mas e se fossem apenas sinais feitos sem querer, ou falsificados?
    - Nada é por acaso, tudo tem uma explicação. Mas existem as pistas gritantes e as escondidas. Um homem não dorme após o almoço porque é algo ao acaso, ele dorme pois existe uma razão biológica que você, como médico, pode explicar melhor que eu. Pode me falar um pouco sobre isso?
    - Se resume em concentração de sangue no estômago para a digestão, reduzindo o volume desse mesmo no cérebro, provocando então sonolência. Continue.
    - É algo que muitos não sabem, mas fazem. Isso seria uma pista escondida, que precisa de estudo para ser revelada. Ao ’’acaso’’, ou aos olhos de um leigo, ele simplesmente estaria indo dormir pois estava com sono. Mas como você tem estudo no assunto, sabe que não é bem assim. Existem muitas coisas por trás de um ato, Watson. Você, como médico, ao consultar um homem, deve perceber apenas por um exame de rotina coisas que eu nunca perceberia. Eu, como detetive, percebo esses detalhes que para você podem parecer idéias mirabolantes. Essas dicas que as pessoas me dão são primitivas e inconscientes, por isso é quase impossível falsificá-las. Raras às vezes, quando possível a falsificação, é perceptível que o ato é forçado. Por exemplo, ria, agora.
    Watson dá um sorriso forçado, daqueles não convincentes. Sherlock da uma gargalhada.
    - Acho que você tem um bom argumento, finalmente. Mas é difícil dar crédito a ele sem uma explicação prévia. Sabe como é, o ser humano é cético de nascença e qualq...
    A fala de Watson foi interrompida por um policial que chegou no bar correndo, aflito, atrás de Lestrade. Pouco depois, ao sair, o detetive comenta com Sherlock Holmes que um homem foi morto sem nenhum trauma corporal a não ser por cortes que formavam escrituras. Não foram encontradas pistas, tirando uma escrita na parede, e o corpo foi mantido no lugar de óbito.
    - Estou indo para o local agora, disse Lestrade, fitando Sherlock com os pequenos olhos pretos. Claramente mordido pela prévia rodada de pôquer, ele exibia sua mania de independência enquanto dava os passos curtos em direção á carruagem. Watson pergunta a Holmes porque o detetive tinha entrado em tantos detalhes com ele.

    - Pois ele sabe que vai precisar de mim, é óbvio. Não tem competência para um caso assim.
    - E você? - Pergunta novamente o amigo.
    - Eu? Eu estarei em casa. – responde Holmes, calmamente. - Vamos.


    ====

    Valeu.

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    Última edição por Buddy; 31-12-2011 às 09:48.

  2. #2
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    Wow
    Você é parente do Conan? haha
    Gostei muito, muito mesmo. Eu acabei de ler a coleção do Sherlock dois meses atrás, e o curto espaço de tempo me permite julgar sua história comparando-a com as que eu li no livro. Sua narração só ficaria melhor se você assumisse a perspectiva do Watson ao narrar. O momento em que ele explica a dedução que fez durante o jogo foi excepcional, realmente digno de um conto original. Eu não entendi o título do conto, geralmente as histórias do sherlock têm título subjetivo mas que remetem a alguma peculiaridade do ambiente ou de alguma personagem da história em questão, por isso, não associei "rios de sangue" a uma dessas. Talvez por ter lido muito rapidamente eu tenha deixado escapar algum detalhe, quando eu tiver mais tempo lerei novamente.
    Mais uma vez, parabéns gostei muito.

  3. #3
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    Citação Postado originalmente por Rafael Machiner Ver Post
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    Você é parente do Conan? haha
    Gostei muito, muito mesmo. Eu acabei de ler a coleção do Sherlock dois meses atrás, e o curto espaço de tempo me permite julgar sua história comparando-a com as que eu li no livro. Sua narração só ficaria melhor se você assumisse a perspectiva do Watson ao narrar. O momento em que ele explica a dedução que fez durante o jogo foi excepcional, realmente digno de um conto original. Eu não entendi o título do conto, geralmente as histórias do sherlock têm título subjetivo mas que remetem a alguma peculiaridade do ambiente ou de alguma personagem da história em questão, por isso, não associei "rios de sangue" a uma dessas. Talvez por ter lido muito rapidamente eu tenha deixado escapar algum detalhe, quando eu tiver mais tempo lerei novamente.
    Mais uma vez, parabéns gostei muito.
    Obrigado! voce nao entendeu o titulo porque isso é só um prologo, mas eu vou continuar a história e voce vai entender. As férias tao me dando muito tédio, entao vo tocar o projeto de continuar isso aqui... eu nao pretendo assumir a perspectiva do watson porque quero que fique diferente do original. Acompanhe, valeu =)

  4. #4

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    Excelente cara. Já li toda a coleção dele e, sem dúvida, tu fez um ótimo trabalho.

  5. #5
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    Capítulo 1: Traição

    Pingos de sol despontam na cara de Holmes como se fossem chuva de lava. Os detalhes em alto relevo na janela do quarto do detetive conseguiam filtrar a maioria dos feixes de luz, mas deixavam passar alguns círculos dourado-alaranjados. Ao abrir os olhos, o Sherlock instintivamente senta na cama e sente tudo girar. Quando traça os primeiros fios de pensamento do dia, percebe a imensa dor de cabeça incessante. Levanta e sente que a dor piora, enquanto caminha até a cozinha atrás de água. Sente a boca seca, mais amarga que o normal, e um ligeiro incômodo na altura do fígado. Passa por Watson, que lia o jornal, mas não o cumprimenta. Seu amigo o observa tomar o litro inteiro de água.
    - Estou chutando ressaca. – diz Watson olhando por cima do jornal, sem mudar a cabeça de lugar.
    - Curioso, só bebi whisky qualificado ontem.
    - Talvez você seja fraco quanto ao álcool, ou passou do ponto. – disse Watson, fechando o jornal e se dirigindo para a cozinha.
    - Nunca fui fraco com álcool! E você viu que eu não estava alterado, logo, não passei do ponto. Realmente intrigante.
    - Talvez você esteja se alimentando mal, ou... (gargalhadas) talvez aquele último copo, que saiu por conta da casa, não era dos mais escoceses.
    - Bem lembrado. Maldito balconista! Turco, agiota, medíocre! – fala o detetive enquanto enche o litro de água na pia.
    - Você conhece o ditado Holmes, “de cavalo dado não se olham os dentes”. Não espere tanta generosidade de um garçom... Inclusive, reparei que você não deu gorjeta alguma para ele.
    - Não se o cavalo for cavalgar dentro de sua cabeça no dia seguinte. Eu mal consigo pensar! – fala o detetive enquanto leva as mãos ao cabelo bagunçado. – Você reparou que não dei gorjeta mas não reparou no relógio francês que ele usava. O metal tinha um brilho que lembrava ouro e me pareceu caro. Não pretendo contribuir com sua próxima aquisição para ornar com o maquinário.
    Watson fita o detetive com ar de surpresa.
    - Um bom banho deve resolver. Até porque está quente demais... estou suando pelas orelhas. – diz Sherlock, se movimentando.
    - Vai ajudar. E cairia bem, pois vou receber uma paciente hoje e você não ia querer causar uma má impressão. Ela diz que já rodou muitos doutores e que o assunto é urgente. Se não se importar, farei a consulta na sala. – avisa o doutor vendo o amigo passar.
    - Faça o que diabos for preciso, dês de que converta os ganhos para inventar um remédio que cure a ressaca, ou para me presentear com aquele violino Joustine de natal. – diz Holmes caminhando até a sala, com um sorriso de canto de boca.
    - Hahaha. Mais um ano usando as táticas dedutivas no pôquer e você pode comprar o brinquedo por si só. Mil e quinhentas libras , isso é quase o que ganho num mês! E se continuar ganhando, talvez ainda me compra um relógio mais caro do que o do barman. Estou precisando.
    - Você tem que ver a acústica daquele pedaço santo de madeira brasileira. Eu raptaria por poder raciocinar sob o som daquilo. – diz o detetive, indo para o banheiro. – Au revoir.
    Meia hora depois, ouve-se a campainha ranger. Aberta a porta pela criada, ouvem-se passos pelas escadas de madeira antiga do apartamento. Ao entrar na sala de estar da morada confortável do detetive, uma moça extremamente elegante, com ar de rica, cumprimenta o doutor enquanto se apresenta e introduz seu marido para Watson. Sherlock vai buscar água e, se deparando com a cena, se sente obrigado a cumprimentar o casal que chega. Fixa o olhar no pescoço da moça por alguns instantes antes de voltar com um copo de água na mão e se apresentar.
    - Boa tarde senhores. Eu sou Charles, estudante do quinto período de medicina e amigo pessoal do doutor Watson. Tenho a sorte de dividir este apartamento com ele. Seria de grande valia se eu pudesse passar um tempo aqui com vocês como forma de aprendizado. Vocês se incomodariam? – Diz Sherlock mudando completamente sua forma de falar e seu jeito. Era incrível a sua habilidade para disfarces.
    Watson olha com as sobrancelhas contorcidas para Holmes, que retribui com um sorriso amigável completamente normal. Enquanto o marido da paciente se apresenta e diz que não teria problema o “estudante” passar um tempo com eles, Sherlock senta e ouve a apresentação da mulher que logo depois começa a contar seu problema.
    - Estou sentindo dores abdominais fortes, e já fazem semanas. É realmente frustrante... já fiz todos os exames possíveis, de toque, com maquinário, e tentei até mesmo técnicas alternativas. Não descobrem o que pode ser de jeito algum, e a dor só piora.
    Nesse instante o acompanhante da moça saca o fumo do bolso e começa a prepará-lo no cachimbo. Sherlock pede para ele fumar na sacada e diz que o doutor Watson adoraria fazer companhia a ele pois também era fumante. Logo depois, o disfarçado detetive explica que não gosta que as pessoas fumem dentro de sua casa, e diz que eles podem continuar a consulta depois. O homem, meio sem graça, levanta e é seguido por Watson que faz cara de desespero para Holmes, não entendendo a situação. Após saírem, ele começa a interrogar a moça.
    - Bem, minha senhora, o que posso fazer é pensar fora do comum para tentar te ajudar. Deve ser realmente muito frustrante. Posso começar pedindo, por gentileza, que a senhora retire seu anel? Suspeito de uma intoxicação por metais pesados. Se me deixar vê-lo, posso confirmar.
    A moça retira o anel e entrega nas mãos de Sherlock, que derruba a hipótese alegando que não haviam sinais de oxidação no metal. O detetive faz mais um pedido:
    - As suas veias do pescoço. Uma outra hipótese é a de inchaço cardíaco, e com uma simples análise das suas veias do pescoço posso ter certeza.
    A moça refuta em tirar o cachecol, mas Holmes fala sobre o sigilo doutor-paciente e convence a moça a mostrar o cangote. Ela pede pressa ao detetive que analisa em poucos segundos as veias e artérias da elegante mulher.
    - Certo. Não é isso, mas tenho algumas outras hipóteses em mente. Tudo o que preciso é que volte aqui a noite para lhe dar o diagnóstico, pois preciso de tempo para pensar. É importante que venha sozinha e não mencione nada dessa conversa ao seu marido. Acho que, com sorte, suas dores cessarão.
    - Qual a importância do sigilo? – pergunta a lady. – E porque devo vir sozinha?
    - Eu te explico depois, aí vem eles. Confie em mim, vou te ajudar. Não mencione nada disso nem mesmo ao doutor Watson. Uma última pergunta: você tem feito sexo com seu marido ultimamente?
    - Sssim – respondeu. Se não fosse uma palavra monossílaba, a moça tinha gaguejado.
    - Certo. Shhh. – diz Sherlock, enquanto subitamente começa a falar do museu do Louvre e do arco do triunfo. A mulher entende a intenção e interage.
    Ao chegarem na sala, Watson e o marido da mulher sentam no sofá e os quatro trocam meia hora de conversa a respeito das dores. O médico chuta mil e um problemas, todos descartados pela moça que dizia ter feito os exames e que nada foi encontrado. Ao fim do papo, o casal vai embora do apartamento enquanto simultaneamente entra um oficial da polícia de Londres no recinto. O homem diz ter um carro esperando Sherlock para visitar o local do crime que tinha acontecido na noite passada. Após pegar seu chapéu, cachimbo e bengala, Watson e Holmes se dirigem para o tal lugar.
    - Explique-se homem. Poucas vezes já estive tão confuso em minha vida. – disse Watson dentro do carro, entre uma chicoteada nos cavalos e outra. – Fingiu ser meu aluno, se intrometeu na consulta, pediu-me para fumar lá fora com aquele maldito sujeito. Sou todo ouvidos.
    - Eu não gostaria de falar disso agora... preciso limpar minha mente para o que vou ver em breve. Só preciso que pense em uma coisa: uma doença sexualmente transmissível que cause o sintoma da moça.
    - Mas ela fez os exames, inclusive o de toque! Você mesmo a ouviu dizer isso. Uma doença desse tipo geralmente vem acompanhado de sintomas visuais. Me explique a situação, estou realmente intrigado.
    - Você disse geralmente. Pense nas exceções, ou algo do tipo. Meus conhecimentos médicos são nulos, mas você é um excelente doutor. Pense. Não deve ser grande a lista dessas doenças. E esqueça o esclarecimento por enquanto: foco.
    - Muitas vezes penso em te socar até sangrar. Diabos! Isso não faz o menor sentido!
    Em seguida Watson pega um caderno e rabisca o nome de algumas doenças, riscando a maioria logo depois. O nome resultante é gonorréia.
    - Em setenta por cento dos casos de gonorréia em mulheres, não existem sintomas. Depois de semanas, talvez meses, ocorra uma infecção da tuba uterina e do útero que pode causar dores abdominais. A doença pode se manifestar primeiro no canal urinário ou primeiro no útero, tudo depende de uma combinação de fatores. Foi genial, Holmes. Você me surpreendeu de novo. Como você conseguiu restringir tanto assim a procura pela doença?
    - Te respondo tudo á noite. Seja paciente, esqueça isso por uns tempos. Preciso de você com atenção total agora, e com a mente livre de problemas externos. Já devemos estar chegando.
    Depois de minutos os cavalos freiam o carro, e os amigos entram na casa. Era uma casa abandonada na periferia de Londres. Sherlock analisa os mínimos detalhes do local: analisa o morto, aguça o nariz á procura dos aromas exóticos típicos de veneno, olha as paredes, as janelas, as roupas do defunto, os bolsos. Nada. Checa por pegadas, objetos que possam ter caído do assassino, confere o restante da casa. Ainda nada. Watson e o doutor da prisão londrina, Peter, não acham nenhuma anomalia visual externa no corpo. A única pista era um corte no antebraço do pobre homem, que aparentava ter uns cinqüenta anos, com as letras S O C gravadas na carne em perfurações profundas. O corte era velho pois não sangrava, e antes das letras havia a tradicional representação, simplificada, de uma foice e um martelo, o símbolo socialista.
    - A informação que temos é que ele é um morador de rua. Nada mais a declarar, você viu todo o resto. Parece ser uma vítima dos revolucionários. Não existem mais pistas. De qualquer forma, obrigado por vir Sherlock. – diz Lestrade, com cara emburrada. – Vou pedir para ser feita a autópsia. Podem levar! – exclama o carrancudo homem. Enquanto coça os claros olhos, sai do recinto acompanhado por Sherlock e Watson e a maioria dos oficiais no local.
    Na volta para casa, Sherlock analisa com Watson os fatos. Era um crime perfeito, não existiam pistas a não ser a óbvia escritura no braço. Holmes supôs que foi planejado e executado com tempo de sobra.
    - Só tenho uma certeza: esse não será o último crime desse assassino. Isso foi um teste, Watson. Um teste para saber se a polícia ia conseguir alguma pista, ou se a perícia concluiria algo. Ninguém pode ter nada contra um andarilho de 50 anos de idade. Se tiver, não terá todo o intelecto e disposição para bolar algo assim. Isso foi planejado há algum tempo! Provavelmente ele foi morto, cortado, e então trazido aqui só depois, até algum oficial sentir o cheiro ruim e o encontrar. A representação socialista me parece mais uma artimanha, pois a causa é popular hoje em dia. O que os socialistas teriam contra um andarilho? Nada. Isso é uma tentativa de atrair a polícia para outro foco. Acho que os revolucionários não estão envolvidos nisso. – Sherlock faz uma pausa e dá um suspiro longo. - Ninguém conseguiu nada, nenhuma maldita informação. A única coisa que consigo concluir é que outros crimes virão, e eu temo, amigo, que as próximas vítimas não serão andarilhos. Espero por crimes semelhantes dentro das próximas semanas, atingindo pessoas bem mais influentes.
    Watson concorda com o companheiro. Realmente fazia sentido o que o amigo tinha dito. O médico volta a perguntar do incidente da mulher com gonorréia, e Sherlock o pede para esperar chegar em casa, dizendo que a mulher iria voltar ao apartamento a noite. O detetive promete que explica tudo frente aos dois para não ter que explicar duas vezes.
    O tempo se arrasta para o doutor, mas depois de seis ou sete horas, lá estava a moça em sua frente. Ainda com cachecol, mas com roupas diferentes das que usava mais cedo. Holmes começa então a explicação.
    - Você tem gonorréia. Depois o doutor explica o que é isso e como se trata, pois eu não tenho a mínima idéia. Peço desculpa por enganá-la, senhora, mas sou tão médico quanto você. Sherlock Holmes, detetive policial. Muito prazer.
    A moça, com cara de assustada, faz cara feia e pensa por alguns segundos. – Mas isso é uma doença sexualmente transmissível, não é? Não é possível que eu esteja com essa coisa. Eu fiz exames de toque, e...
    - Tem algo a ver com falta de sintomas, mas isso é para o doutor Watson te explicar. Eu restringi a busca por doenças pois percebi que você traía o seu marido.
    A mulher fica branca e começa a tremer. Inicialmente tenta negar, mas depois admite e implora por sigilo. Pergunta como o detetive descobriu, enquanto Watson só observa a cena.
    - Pedi para ver seu anel, mas na verdade queria ver o seu dedo. Não tinha a marca branca típica de quem usa algum anel por muito tempo, o que indica que você anda tirando o mesmo freqüentemente. Depois, quando tirou o cachecol, não pude deixar de notar que haviam marcas de mordidas e chupões. Juntei tudo e isso me indicou traição. Quando você me pediu para ser rápido ao analisar seu pescoço, tive certeza. Você não queria que o seu marido visse os chupões, não é? Para chegar a bronzear o seu dedo, você deve trair muito o seu marido, e por isso chutei doença sexualmente transmissível. Logo quando vi você de cachecol num dia insuportavelmente quente como esse, inventei esse disfarce para ver o que você estava escondendo. O caso já havia me interessado quando Watson disse que ninguém conseguia resolver o seu problema, e achei que pudesse te ajudar quando notei que você tinha segredos dificilmente detectáveis. O pedido de sigilo, bem como o pedido para você vir sozinha, estão justificados agora. Perguntei, por último, se você vinha fazendo sexo com seu marido pois queria saber se ele tinha se contaminado também.
    - Ee...eu não sei o que dizer. – fala a mulher. – Nem sei como agradecer. Muito obrigada, mesmo. O senhor é muito inteligente.
    Sherlock ouve Watson dizer como tratar a gonorréia, enquanto o doutor sugere que a mulher diga que um vírus causou a dor abdominal. Dessa forma, ela poderia medicar-se e medicar o marido sem maiores suspeitas. O médico sugere também água quente para ajudar a diminuir os chupões e mordidas. No meio das recomendações, Sherlock pede licença para ir dormir enquanto seu amigo fica na sala com a moça.
    A cabeça do detetive estava a mil, revirando a cena do crime que analisara na parte da tarde. Acendeu o cachimbo, pensou por alguns minutos. Andava inquieto de um lado para o outro. E foi então que ele fez nevar, como não fazia há algum tempo. Ficou agitado, alucinou, e depois caiu num sono profundo. Mas esqueceu que neve química não derrete.




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    eu gostaria muito de uma opinião antes de postar o próximo capítulo! se alguém tiver um tempo pra ler...



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