— Pai? — gritou uma garota loira, seus olhos verdes cheios de preocupação. Movia-se rapidamente pelos corredores, olhando sala após sala, mais nervosa a cada porta que era deixada para trás.
— Senhorita Lina. — um senhor idoso saiu de uma das portas — Procurando algo?
— Ah, vovô... — o senhor idoso sorriu de leve, trajava algumas roupas velhas e se apoiava em uma bengala que ia até a sua cintura — Papai disse que retornaria há dois dias atrás. Eu estou preocupada, ele nunca se atrasou antes. — o senhor limitou-se apenas a rir.
— Você sabe como é a vida do seu pai, provavelmente ocorreu algo que o impediu de voltar.
— O problema é que todos esses "algos" que eu consigo pensar, não são nada bons.
— Acho que seu pai sabe se cuidar — olhou para o braço de Lina — mas aparentemente você não. — ela olhou para o próprio braço, notando o corte que sangrava.
— Droga, não percebi isso. Deve ter acontecido enquanto saía daquela sala de treinamento...
— Que é pra onde você deve voltar. — falou em um tom rígido
Lina suspirou e concordou, e caminharam pelo corredor juntos.
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— Está falando comigo? — Neil perguntou ao homem que se aproximava.
— E por acaso tem mais alguém aqui? Não gosto de dizer duas vezes a mesma coisa, mas abrirei uma exceção por você. — disse rindo, claramente achando-se engraçado — Essa área é minha.
— Na verdade, essa é uma área pública da Cidade Alta e...
Antes que percebesse, Neil estava de cara no chão. Olhando para cima, vê o riso do homem que acabou de empurra-lo, estava provavelmente junto com o outro. Estando agora mais perto do primeiro, conseguia ver melhor a roupa usada por ele. Uma camisa justa, branca com listras azuis, cujas mangas estavam rasgadas, usava um lenço amarrado na cabeça e um tapa olho do lado esquerdo. Seu rosto era cheio de cicatrizes, somando-se aos seus olhos cheios de ódio, formava um rosto assustador.
— Não sabia que já era época das festas à fantasia. — disse Neil, rindo — Onde posso comprar uma roupa de pirata igual a sua?
— Você se acha muito engraçado, não é garoto? — o homem se aproximou pra falar, Neil sentia o seu bafo horrível e agradecia por não estar perto o suficiente para cair saliva em seu rosto — Pois vou te dizer uma coisa... ninguém invade a minha área e me insulta! Mas talvez eu possa esquecer isso, se me der todo o seu dinheiro.
— Desculpe. Já dei o meu dinheiro para os bárbaros que vieram antes de você.
O punho do homem percorreu o ar, em direção ao rosto de Neil, que com reflexos rápidos foi para trás antes do impacto. Olhou rapidamente para os lados, somente para perceber mais dois homens vindo em sua direção. Sua única rota de fuga era correr para trás e...
— Me solta! — disse enquanto se debatia nos braços do bandido que desceu do telhado.
— Achou mesmo que fugiria daqui garoto? — novamente o homem se aproximava, e mesmo naquela situação, Neil não conseguia deixar de achar graça em suas roupas.
Antes que o homem se aproximasse mais, Neil usou o calcanhar para acertar com força entre as pernas de seu captor. Por reflexo, o homem soltou-lhe, e ele correu.
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Uma grande porta se abriu, revelando uma densa floresta na qual Lina entrou rapidamente, seu avô decidiu não entrar. Ela não podia deixar de achar isso engraçado, afinal, seu avô era Vaelt Maetsurugi, décimo na linhagem dos Maetsurugi, pai de Raero. De qualquer forma, ele já estava velho e cansado, não era realmente a melhor das idéias que entrasse naquela floresta. A cada passo, Lina se admirava cada vez mais com o local, principalmente por que ela sabia que, na verdade, aquilo era somente um grande salão. Lembrou-se da primeira vez que Raero lhe mostrou aquela sala.
— Essa é a sala de treinamento. — disse Raero, acompanhado de uma pequena Lina que tinha em torno de cinco anos. — É aqui que ensino a todos os alunos da ELM.
— Mas é tão pequena. Como consegue fazer isso?
— Vou te mostrar.
Ele foi até o centro da sala e resmungou algumas palavras. No mesmo instante, a sala se transformou em um enorme deserto que se prolongava até perder de vista. Até mesmo a temperatura e a sensação de ar seco tinha aparecido. Lina olhava tudo em volta assustada, como se pronta para chorar.
— Não é necessário ter medo, ainda estamos na sala. — notou que suas palavras não faziam diferença pra pequena, então a pegou no colo, e resmungou outras palavras que fizeram a sala voltar ao normal — Quando Daikan construiu a ELM, ele pediu aos seus aliados da Guerra de Fundação para encantar essa sala com um tipo de magia antiga. Hoje em dia esses usuários de magia não existem mais, mas ela permanece ativa nessa sala.
Ao chegar no fim da floresta, Lina ainda estava imersa em suas lembranças, mas voltou a si ao perceber onde estava. Era o ponto final, o objetivo daquele treinamento, ela deveria estar ali para fazer a sala voltar ao normal quando alguém completasse o desafio, mas não estava. Grande parte dos alunos estavam parados, se perguntando se tinha algo mais a ser feito.
— Que bom que papai não estava aqui pra me ver cometer esse erro. — pensou rindo, mas logo ficou séria novamente, ela realmente queria o pai ali.
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Neil ainda corria pelas ruas da Cidade Alta quando um dos capangas apareceu na sua frente. "Eles conhecem esse lugar melhor do que eu..." pensou, "...claro que vão conseguir me alcançar por atalhos". Quando o grandalhão partiu para cima, Neil rapidamente desferiu um soco direto no nariz, fazendo com que ficasse atordoado, então, desferiu outro soco, dessa vez na parte de trás da cabeça.
— Menos um. — e voltou a correr.
Mas não correu muito e já se viu novamente cercado pelos três homens restantes.
— Você tem garra garoto. — disse o líder deles — Isso eu tenho que admitir. Por isso te farei um favor, te matarei rápido para que não sinta dor.
— Pode tentar me matar, mas não vai conseguir! — Neil tentava não demonstrar o medo que sentia — Afinal, eu sou um aluno da Escola de Luta Maetsurugi!
— Se você é da ELM, onde está a sua espada? — disse o líder, sendo seguido por gargalhadas dos outros dois bandidos.
— Eu... eu... — gaguejou — esqueci no quarto?
Com um movimento de cabeça, o líder ordenou para que os outros dois atacassem Neil. Vendo o que se aproximava pela direita, jogou-se para o lado esquerdo, e chutou a canela dele, fazendo com que caísse. Agachou-se para dar uma rasteira no segundo homem, que já o havia alcançado. Enquanto corria furiosamente em direção ao líder, foi segurado por trás novamente. O primeiro bandido já havia se levantado, e o imobilizou. O líder estava em sua frente, com um punhal em mãos.
— Você foi um bom entretenimento, garoto. Mas acabou aqui. — ouviu-se então o barulho de lâmina cortando o ar.