-Retorno-
O vento estava bom. Forte, melodioso. O modo como as folhas se deslocavam dava a impressão de que algo estava vindo. E realmente estava, era chuva.
Caminhava um pouco apressada, contra minha vontade. Adoraria ficar ali, mas algumas coisas não podem esperar. Muito menos esperar por mim. Paciência.
Em questão de minutos, estava chovendo. Gotas pequenas, caindo sem muita força. Tentando não pensar no meu destino, passei a observar a paisagem. Um caminho estreito de terra, agora um pouco molhada. A grama tomava conta de alguns pedaços, pouca gente anda por aqui.
Árvores de tronco e galhos finos, que agora começam a recuperar suas folhas, margeiam a trilha. Não há sinal de criatura alguma por aqui. Nenhum ruído alheio ao ambiente. Tranqüilo, pensei. Mas a cada passo, crescia dentro de mim uma ansiedade familiar.
Finalmente, a chuva que eu esperava. Pingos pesados. Ignoravam minha camisa e me atingiam como pequenas agulhas. Um frio de gelar a espinha. Nada de grave, e nem de longe o pior.
Continuei em frente, conferindo algumas vezes se a flor que trazia estava inteira. Uma flor fininha e chamativa, assim como eu, era o que dizia. Não sabia o nome, mas lembrei dela assim que vi. Pareceu-me apropriada para a ocasião.
Despertei de meus devaneios ao sentir uma lágrima escorrer por meu rosto. Uma única, disse para mim mesma. Não é momento para fraquejar.
Estava agora no que, com alguma distração, pareceria um jardim. Uma forma curiosa de disfarçar a atmosfera tétrica do local. A partir do terceiro poste, contei trinta e um passos, em direção ao meio do gramado. Passei um pouco da placa. Os passos não eram os mesmos, eu havia crescido desde a primeira e única vez.
Ajoelhei-me, li e reli as inscrições na pequena placa de mármore por alguns instantes. Removi algumas folhas que se acumularam sobre a data, cinco anos atrás.
O mesmo céu. Cinza e triste, como um prenúncio. Não pude deixar de lembrar aquela madrugada. Daquele dia, dos dias seguintes. E da pergunta que não deixei de me fazer desde então, ainda que nunca pudesse obter uma resposta. Sinto por ter demorado tanto.
Com o polegar, fiz um pequeno buraco, onde coloquei a flor. Demorei-me um pouco, olhando ao redor. Tolice minha, mas eu procurava. Aquela esperança frustrante de te ver novamente. Queria que visse quem sou hoje. Soubesse que inseri em mim as virtudes suas que pude conhecer.
Levantei e afastei-me, contendo a vontade de olhar para trás. Só o que podemos fazer é seguir em frente, bem me lembro de quando disse isso. Respirei fundo, e já voltava à trilha quando pensei ter escutado, por entre os assobios do vento e estalos da chuva, uma voz familiar dizer “Que boa filha se tornou, Ann”.
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