Obrigado aos dois novos leitores (Melkener e jonasold). Já que os leitores antigos se foram, novos leitores são tudo que essa história tem agora.
Então, segue agora o Livro IV. Particularmente, esse é o meu preferido. É uma pena que o II e o III não foram tão bons e muita gente não vai chegar a ler o IV.
Capítulo 1 – Uma Vitória Incompleta
Em Venore, na antiga sede da AVIN (Agência Venoreana de Inteligência):
O local estava bastante movimentado naquele dia. Desde que os aliados do Revolucionário assumiram o controle da cidade, a antiga sede da agência de inteligência local passou a ser a sede do governo de Venore.
Na principal mesa, o líder Thales estava discutindo com seus assessores as próximas ações, até que o seu amigo, talvez o único em que ele confiava, abriu a porta a entrou no salão. Todos estavam ansiosos para ouvir as palavras do Cavaleiro, mas ele apenas retirou o seu elmo e não disse nada até enfim ser questionado.
– E então? A vitória é nossa? – perguntou Thales. Apesar de eles terem uma língua secreta, o Paladino achou que não precisava utilizá-la naquele momento, pois todos os presentes naquela sala eram do seu grupo, sem conta que ele mesmo ainda tinha sérias dificuldades em pronunciá-la.
– Sim, Victious! – respondeu se referindo ao seu líder pelo nome de guilda dele. – Demorou, mas a vitória é nossa! Não há mais resistência aberta em Venore!
– Muito bem, Luke! Eu já estava pensando em descer novamente para dar um fim nisso. – Thales estava desviando o olhar novamente para a mesa, quando se lembrou de algo. – Onde estão os corpos? – antes que recebesse uma resposta ele completou: – Estou pensando em expô-los para dar exemplo.
– Bem... – Luke hesitou. – Eles estavam cercados em uma casa e os feiticeiros invocaram o fogo do núcleo da terra... Foi tudo incinerado... – ele foi enrolando até concluir: – Não temos os corpos...
Thales pareceu não gostar daquela insegurança:
– Luke... Você tem certeza que eles estão todos mortos?
– Eles não podem ter sobrevivido àquele ataque... Mas eu não posso garantir que nenhum deles tenha fugido antes... Os moradores dizem que não viram nada... Mas eu sinto que estão escondendo algo...
Thales se levantou.
– Mate todos que estiverem escondendo algo! Eu não quero mais problemas nessa cidade! O Revolucionário a confiou a mim!
– Tudo bem, Victious! Eu farei isso! Mas eu lhe asseguro que depois de hoje, os tradicionalistas não serão mais problema! – concluiu tentando demonstrar a confiança que lhe faltou antes.
– Assim eu espero! Agora vá! – ordenou Victious antes de sentar-se novamente.
– Sim, senhor... – Luke colocou novamente seu elmo de guerreiro e saiu, fechando a porta atrás de si.
Apesar de seguir andando confiante, o Cavaleiro estava incomodado com aquela situação, não lhe agradava a ideia de matar alguns moradores, principalmente porque ele conhecia bem alguns deles.
Venore foi construída em cima de um pântano e suas ruas nada mais são do que longas pontes de pedra. Assim, após uma breve caminhada pela cidade, Luke estava de volta ao local da batalha.
A casa “no chão” e em brasas não deixava dúvidas de que ninguém poderia estar vivo ali, mas era difícil para o Cavaleiro acreditar que após todos aqueles dias de batalha aberta, os rebeldes seriam aniquilados assim tão rapidamente.
As duas casas ao lado daquela destruída seriam o início mais obvio para a investigação. Luke escolheu aleatoriamente à da direita, se aproximou e bateu na porta, mas não houve resposta.
– Abra a porta, agora! É o governo de Venore que ordena! – gritou Luke, mas mais uma vez, não houve resposta.
O Cavaleiro bateu na porta mais algumas vezes e demonstrou um pouco mais de paciência do que qualquer um poderia esperar de um membro da guilda que se chama “Os Escolhidos”, mas no fim das contas ele deu passo atrás e em um forte golpe com o pé direito colocou a porta abaixo.
– Luke... O que você está fazendo? – perguntou uma voz doce e feminina, um pouco atrás dele.
Era Valliris que se aproximava.
A bela jovem, ex-namorada do atual governador da cidade, parecia assustada com a atitude do Cavaleiro.
– Você derrubou a porta... Você sabia que existem pessoas vivendo aí? – A pergunta era quase uma lamentação.
– Eu sei, Valliris... – Apesar de concordar com ela, o Cavaleiro não queria ouvir aquelas palavras. – Mas isso é assunto do governo, então vá embora!
– Você não pode fazer isso! – A jovem estava decidida. – Eu esperaria isso do Thales... E talvez de outros “escolhidos”, mas não de você!
– Victious e a nossa guilda têm preocupações maiores! Agora vá embora! Eu já disse que é assunto do governo! – Luke girou a cabeça para casa e após alguns instantes olhando para o local, que parecia vazio, ele voltou a encarar a jovem. – O que exatamente você está fazendo aqui? – perguntou calmo e desconfiado.
– Bem... Eu... – Ela hesitou. – Estava só passando...
– Você estava ajudando eles, Valliris? – Luke agitou a cabeça. – Mas que droga!
– Eles lutam pelo Rei... Pelo Rei legítimo... – Os olhos da bela moça ficaram marejados. – Luke... Por favor... Não conte nada ao Thales...
– Eles lutam por um Rei morto... Sinto muito, Val. – O olhar do Cavaleiro assim como a sua voz carregavam tristeza. – Victious vai saber o que fazer... E eu não posso trair o meu amigo...
Poucas horas depois, em Thais, no Castelo Real:
– Senhor! – Harsky entrou atabalhoado no castelo e pouco se preocupou com a conversa de seu líder com Quentin, o mestre do templo local. – Tenho novidades!
– O que está fazendo, Harsky? Não vê que estou ocupado? – perguntou o desconfiado Revolucionário.
– Tudo bem... – Quentin interveio. – Creio que nossa conversa já estava encerrada há muito tempo... Eu já estava de saída mesmo...
O velho monge cobriu sua cabeça com o capuz de seu manto marrom e se dirigiu à saída. O revolucionário se manteve calado até ter certeza que Quentin já estava fora de seu castelo.
– Espero que sejam boas notícias, pois você acabou de estragar um dos meus planos...
– Segundo meus informantes, Venore não tem mais resistência... Parece que todos os rebeldes foram mortos...
– Isso era apenas questão de tempo... – retrucou sem se impressionar. – Mas isso incluí Stutch?
– Creio que sim... Meu bravo ex-companheiro estava entre os rebeldes... É possível que alguns tenham escapados, mas de toda forma, os que sobreviveram estão condenados a viver como ratos e não serão mais incomodo...
– Ao menos um alento, após aquele contratempo em Carlin... – O Revolucionário forçou os lábios por alguns instantes antes de colocar um ligeiro sorriso no rosto. – Agora, aproveite que você está aqui e traga logo aquele bêbado até mim...
O guarda abaixou a cabeça e saiu, retornando poucos segundos depois trazendo, na sua frente, um homem de cabelos castanhos. O guarda praticamente o arrastava, segurando-o pela gola da sua já encardida camisa branca.
– Diga o seu nome! – Hasky ordenou enquanto sacudia o homem.
– Por favor... Não grite... Minha cabeça...
– Fale logo a droga do seu nome! – Harsky gritou ainda mais alto.
– Meu nome é... Hugo...
Harsky ficou inconformado com aquilo, girou o homem para olhá-lo nos olhos e após soltá-lo, vociferou com ele:
– É mentira! Seu nome é Todd! Fale a verdade ou eu te mato aqui mesmo!
O homem ficou tão assustado com aquilo que caiu no chão e apesar de pretender se defender, não conseguiu formular uma única frase.
Mais calmo que o normal, o Revolucionário se inclinou em direção ao bêbado.
– Fique calmo, Todd... Nós sabemos quem você é e de onde você veio... Se você nos ajudar, nada de mal vai lhe acontecer... Mas se você continuar mentindo, eu não vou conseguir controlar o meu amigo aí...
O homem calmamente então levantou, olhando o Revolucionário nos olhos.
– Você é Todd, o contrabandista, certo? Você veio de Carlin... Os homens daquela cidade lhe deram dinheiro para que você levasse mais cerveja para eles e se possível conseguisse o apoio do Rei de Thais para a causa deles... Não é verdade?
Já fazia algum tempo que aquele homem negava ser Todd, “eu cruzei com um Todd na estrada. Ele me disse que estava indo para Venore, procure por lá”, ele despistava quando alguém aparecia procurando por ele, “Carlin? Eu nunca estive lá”, mentia descaradamente para que não desconfiassem de quem ele era de fato.
Mas naquele momento, ele percebeu que não adiantava mais mentir.
– Sim... É verdade... – admitiu abaixando a cabeça.
– Muito bem. – O Revolucionário então sorriu. – Agora você vai nos contar como você entrou e saiu daquela cidade por diversas vezes sem ser pego pelas guardas...
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Próximo Capítulo: [Capítulo 2 - Problemas no Vilarejo]