Capítulo 3 - Uma nova força à jornada.
Assim que Kruggel viu aquela linda garota, ficou sem reação alguma. Não sabia se entregava a bolsa para ela, se a cumprimentava ou se perguntava se ela estava bem.
Depois de uma breve observação por parte do garoto, concluiu que entregar a bolsa para a menina era a melhor opção. Estendeu as duas mãos na direção da garota e entregou a bolsa.
— Obrigada ! — A garota agradeceu timidamente.
— Não foi nada. Quero dizer, foi, mas não foi nada demais, digo, hum..., sem problemas. — Kruggel gaguejou e se condenou por sua estupidez.
A garota retribuiu com uma risadinha discreta.
— Posso saber o nome do rapaz que salvou minha bolsa ? — Indagou a moça abrindo um lindo sorriso em seu rosto e fazendo aparecer atiladas covinhas em suas bochechas rosadas.
— Claro que pode ! — Dito isso, Kruggel ficou estagnado.
— Então diga !
— Eer, claro, dizer, sim, meu nome é Kruggel. — Kruggel titubeou essas palavras e continuou condenando-se mentalmente.
— Que lindo nome ! Prazer senhor Kruggel, meu nome é Kamilla.
— Kamilla ? Lindo nome, também.
— Muito obrigado por salvar minha bolsa daquele malfeitor. Posso retribuí-lo de alguma forma ? — Kamilla agradeceu Kruggel.
— Bem, na verdade, por enquanto estou bem. — Obviamente, Kruggel não estava bem. Não sabia como ia conseguir dinheiro nem comida no dia seguinte, mas ficou com vergonha de pedir algo para a garota que havia acabado de conhecer.
— Verdade ? Pelo que vejo, você só está com duas maçãs na mão, sem nenhuma mochila..., tem certeza que não precisa de nada ? — Kamilla arrematou com a tentativa de Kruggel esconder sua necessidade.
— Bem, na verdade, acabei de chegar na ilha, e não tenho nada mesmo. Mas não se preocupe, eu me viro. —Kruggel tentou se livrar de favores, mas em algum lugar em seu subconsciente, ele queria que Kamilla porfiasse.
— Ah, não seja bobinho. Você salvou todas minhas economias, claro que eu tenho que me preocupar com você. Venha, me siga, vamos para um pequeno barzinho que avistei quando estava vindo para o centro.
— Bem, já que persiste. — Dito isso, Kruggel se deu por vencido e seguiu Kamilla.
— Hum, se não se importa, você já havia visto aquele sujeito que te roubou a bolsa ? — Kruggel questionou incerto.
— Na verdade, acho que já tinha visto ele uma vez andando por ai, mas não tenho certeza. — Kamilla hesitou antes de responder, o que fez Kruggel ficar intrigado. Mas, por fim, resolveu deixar isso pra lá.
Os dois andaram por mais alguns metros até que finalmente, Kruggel avistou uma placa de madeira com uma grande caneca de cerveja talhada em si.
— Chegamos ! — Kamilla se virou para Kruggel, que nesse momento estava observando atentamente o que havia ao redor da taverna. Grandes pinheiro dificultavam a averiguação de Kruggel, que consegiu ver apenas a grande torre do prédio principal aonde, de acordo com Zerbrus, ficava a sede da Academia.
Quando ouviu a voz suave e convidativa da garota, Kruggel se virou em sua direção num impulso de adrenalina e sorriu timidamente.
— Bonito o lugar. — O garoto disse confuso.
— Mas ainda nem entramos — Kamilla deu uma risadinha delicada, que fez Kruggel ficar envergonhado por seu descuido.
— Bem, eu quis dizer a..., hum..., quis dizer sobre aqui fora. Aqui fora é muito bonito, cheio de pinheiros e flores.
— Huum, pinheiros e flores ? — A garota franziu o cenho.
— Sim ! Isso mesmo, pinheiros e flores. Você não acha eles bonitos ? — Ingenuamente, Kruggel continuou olhando a sua volta, como se quisesse apresentar os pinheiros e as flores à Kamilla.
— Eer, claro que acho. Mas é melhor irmos entrando, você não acha ? — Kamilla se virou na direção da porta que levava para o interior do botequim.
— Sim, sem problemas, vamos andando.
Entrando no bar, Kruggel constatou que estava mais para um restaurante. Não havia nenhum bebum no balcão com uma caneca de cerveja na mão e muito menos era um lugar sem classe. Do contrário, a baiuca estava muito bem limpa e decorada. Vários candelabros davam um ar aconchegante. Lá era um tanto escuro, mesmo com velas iluminando, logo era um lugar perfeito para relaxar e ter um conversa tranquila, sem barulhos e gritos de eventuais bêbados que perdem o controle de si mesmos.
Kamilla foi se sentando e Kruggel, logo atrás dela, sentou-se na cadeira do outro lado da mesa redonda.
— Mas então senhor Kruggel, o que veio fazer em Rookgaard ? — Kamilla esticou o pescoço, curiosa para saber a resposta.
— Bem, como posso te explicar, eer, eu não sei. — Kruggel disse sem jeito.
— Ah, pare de bobagens, claro que sabe explicar, é só me falar.
— Não, não. Não é isso que eu não sei. O que eu quis dizer é que eu não sei o que vim fazer em Rookgaard. — Kruggel falou inseguro de qual seria a reação de Kamilla.
— Desculpe, mas não estou entendendo. — Kamilla estava com os olhos semicerrados olhando para os olhos castanho-escuro de Kruggel.
— Bem, vou te explicar o que aconteceu comigo. Hoje, pela manhã, acordei na base de uma montanha, a sudoeste daqui. Não me lembrava, ou melhor, não me lembro de nada que aconteceu antes. Não me recordo qual minha idade, como vim parar em Rookgaard, quem são meus pais, meus amigos, minha família..., enfim, não lembro de nada. — Kruggel explicou gesticulando com as mãos. Pensou por um segundo, e resolveu não falar para ela sobre a única coisa que se lembrava, que era o estranho acontecimento no esgoto.
— Nossa ! Não estou acreditando ! Nunca ouvi nada parecido. Esquecer completamente de tudo..., não sei nem o que te dizer. — Kamilla falou olhando maternalmente para Kruggel.
— Não se preocupe com isso, eu me viro. — Kruggel tentou levantar a auto-estima dos dois, que começara a ficar tristemente deprimida. — Mas, e você Kamilla ? De onde veio, por que está aqui ? Conte-me mais sobre si.
— Bem, eu sou de Carlin. Meu pai é um açougueiro e minha mãe trabalha cuidando dos meus outros dois irmãos. — Kamilla deu uma pausa em sua fala. Kruggel não entendeu o porquê, até que por fim, olhou para o lado e viu uma mulher com uma longa saia e uma blusinha de algodão.
— Desejam alguma coisa ? — A mulher indagou para Kruggel e Kamilla, que já abriam a boca para falar o que desejavam.
— Vou querer uma canja de galinha e um pão de arroz. Ah, me traga também um copo de limonada! — Kamilla, lambendo os beiços, fez seu pedido para a moça que estava parada anotando tudo em um livreto.
— E o senhor ? — A garçonete se dirigiu a Kruggel.
— Hum, não sei ao certo se devo...
— Pare já com isso. Claro que deve pedir, eu pago tudo. — Kamilla cortou Kruggel e fez bico.
— Ah, se é assim, vou pedir o mesmo que ela, só que ao invés de pão de arroz, quero pão de trigo.
— Certo, já trarei o pedido de vocês. — Dito isso, a garçonete se virou e foi à cozinha.
— Huum, como eu dizera, meu pai era um caçador de veados que abastecia boa parte dos estoques de carne de Carlin, mas resolveu parar e se tornar um açougueiro. Estava passando pouquíssimo tempo com a família. — Kamilla parou e focou seu olhar na janela do bar que estava fechada. Kruggel também se virou para olhar. Os dois ouviram um grito vindo da parte de fora do bar.
— Nossa, devem ser as ... — Kruggel não terminou a frase e foi interrompido por um forte bater de porta. Olhou para trás novamente e se surpreendeu.
— Como vai, Kamilla ? — O homem que assaltara Kamilla há algumas horas estava na porta do bar, com uma adaga empunhada, olhando fixamente para a garota.