Capítulo 4 - Celebração
Quando Hitreak anunciou que celebraria o casamento de sua filha, todo o reino de Zamoht entrou em festa. Aqui e ali, as pessoas faziam suas comemorações pessoais, como se a princesa, Lya, fizesse parte de suas próprias famílias.
De fato, Lya, era muito querida pelo povo. Ao contrário do pai, era gentil e cativante. Dotada de uma beleza sem igual naquelas terras, inspirava os sonhos dos jovens da cidade.
Os preparativos para a festa duraram por semanas. Os homens de Izur no norte, corriam boatos, haviam abatido três grandes Javanors, javalis do tamanho de elefantes, para presentear o rei com sua suculenta carne.
Vinho da melhor qualidade, também havia sido providenciado e os melhores confeiteiros vieram prestigiar a festa. O rei queria do bom e do melhor. E quando ele ordenava isso, não havia quem desobedecesse
Um grande espaço havia sido montado no centro da cidade, onde, naquela noite aconteceria a cerimônia. Havia camarotes elevados, de onde a realeza assistiria uma peça de teatro que daria início à festa. O palco, feito de mármore, estava enfeitado com cortinas, púrpuras, de seda. Muitos homens ainda estavam trabalhando, debaixo do sol forte, preparando os últimos retoques.
Colb Carison era um deles. Ou melhor, Norlyar Dyton.
Não fazia nem três semanas que havia escapado da prisão de Zamoht. Quando uma mulher de rosto angelical havia o tirado dali. Longos cabelos loiros, e uma face sorridente. Parecia um sonho. Uma miragem. Uma utopia em meio há tanta desolação.
Norlyar balançou a cabeça e voltou a se concentrar no seu trabalho. Estava terminando de amarrar algumas cordas que seriam usados para efeitos de apresentação mais tarde. Após alguns segundos, não pôde deixar de ouvir uma conversa, entre outros dois trabalhadores, que estava lhe chamando a atenção.
- É curioso... Nós trabalhamos, trabalhamos, e no final das contas, e quase sempre não podemos ver o fruto de nosso trabalho. Acabam nos privando de assistir os acontecimentos - disse o primeiro.
- Sim. Mas dessa vez o rei foi generoso. Ele convidou à todos que podia. Temos assentos para meia-cidade. Sortudos serão os que conseguirem chegar primeiro. Está para ter uma festa tão luxuosa, e dessa vez, amigo, poderemos conferí-la! - disse o segundo, esfregando as mãos de ansiedade - Será uma festa inesquecível!
"Com certeza..." pensou Norlyar.
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A noite caiu, rápida como a estocada de uma espada. O luar banhava toda a cidade com uma luz prateada, que era refletida em enormes espelhos localizados no palco de mármore.
O ambiente estava apinhado de pessoas. Várias vozes se misturavam ao som de alguns bardos que afinavam seus violinos. Alguns membros da realeza já haviam se acomodado nos camarotes, e tudo parecia estar pronto para as festividades.
Norlyar estava misturado à multidão na parte baixa do lugar. Olhava à todo instante em direção aos camarotes. Estava procurando algúem em especial.
Ele estava vestido com uma capa que cobria-lhe parte do rosto, deixando à mostra somente os olhos. Era uma roupa comum naquele inverno frio, onde quase todas as noites, a temperatura caía tanto que a água, acumulada na calha de algumas casas, acabava congelando.
Subitamente, o som de vários tambores ressoou pelo ar, silenciando todas as pessoas. Norlyar voltou a cabeça imediatamente para os camarotes. O rei Hitreak, vestido em um longo manto vermelho, vinha acompanhado de uma dezena de outros cavalheiros muito bem vestidos. Pareciam todos contentes, menos o proprio rei, que exibia uma fisionomia bem séria.
O momento pelo qual Norlyar havia esperado todos esses anos finalmente estava próximo de acontecer. Ele fez menção de se movimentar, mas parou de súbito. Seus olhos, ainda em direção ao camarote, agora estavam arregalados.
Atrás de Hitreak, a princesa Lya, vinha graciosamente desfilando charme e beleza. A cauda de seu longo vestido azul, adornado de cristais, estava sendo carregada por duas damas de honra que vinham atrás com um ar bem orgulhoso. Seu longo cabelo loiro, estava agora disposto sobre os ombros dando um efeito de serenidade.
Mas Norlyar não reconheceu Lya como princesa, mas sim como sua salvadora.