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Tópico: Vertigo

  1. #1
    Avatar de O Bardo Sortudo
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    Vertigo


    É preciso ver a cidade de cima. Esta é a única maneira de se ter uma noção do que de fato acontece, perceber cada prédio constituindo o horizonte de concreto. As ruas não parecem tão sinuosas e sujas quando vistas de baixo, os outdoors de néon são apenas vaga-lumes piscando incessantemente. Bares, hotéis, casas, mercados, todos parecem a mesma coisa quando vistos de cima, não passam de cópias.
    E no meio disso tudo – os humanos passeavam pelas avenidas em busca da “diversão”, se achavam o máximo, donos de si. Mas daquela minha posição do vigésimo primeiro andar eu os via com olhos diferentes: pareciam nada mais que ratos de laboratório, percorrendo apenas uma pequena parte do labirinto, mas ainda achando que são superiores a todos, bando de ratos. Não conseguiam enxergar as ruas laterais das avenidas, apenas uma grande visão reta, uma visão de bebidas, drogas, prédios e ainda mais outdoors. A avenida era peculiar, no começo haviam apenas lojas de brinquedos e alguns playgrounds, um lugar até agradável. Mas depois tudo desandava, era no meio que estava a sujeira nauseante: bares, lojas de roupa, perfumarias, igrejas, escolas, faculdades, traficantes, boates, “12x sem juros” mostrava um anúncio. Eu tinha nojo daquele lugar e de lá de cima eu sabia bem o porquê dessa posição agressiva: eu não conseguia distinguir uns dos outros. Se vestiam igual, cheiravam igual e o pior de tudo, pensavam igual. Não tinham personalidade fixa, tudo era orquestrado pelas opiniões das celebridades, malditas sejam. Em alguns momentos eu poderia jurar por tudo que me é mais importante que eu podia ver em seus ombros cordas, cordas estas que se estendiam até o topo do mais alto arranha-céu, e era lá que o show de marionetes era controlado. Um homem invisível para a platéia, porém este era o verdadeiro show. Os sussurros e conselhos do bonequeiro eram irresistíveis, quase que impossível de não se seguir à risca as sugestões dadas por ele. E a culpa é de quem você pode se perguntar. E eu te digo: dos próprios jovens que estão lá embaixo. Se recusam a olhar para o alto das construções, para os becos escuros que são transversais à avenida e até mesmo para trás, não ligam para o passado, só para a próxima sugestão do Mestre dos Bonecos.
    De uma das boates, o som da chamada “música moderna” se elevava até aonde eu estava, sufocava as suaves notas do jazz que cantava pela minha vitrola. Era impressionante que até eu que estava tão longe de tudo aquilo ainda conseguia ser alcançado pela influência da avenida. E eu já estava puto com isso. Tentei ser mais um rosto na multidão do nível do solo. Fui gentilmente convidado a me retirar “você não é legal o suficiente para andar conosco, vá embora” disseram eles. E foi justamente isso que me fez pensar à respeito da necessidade de ser aceito por eles, e eu não precisava. Tudo o que eu queria era ficar sossegado, brindar à noite e sentir o vento batendo no meu rosto. Aquela ocasião me fez lembrar de uma frase: “Por favor aceite a minha desistência, não quero fazer parte de um grupo que aceite eu como membro.”
    Essas pessoas me davam pena, sua visão era reta como a avenida, pré-decidida do jeito que o bonequeiro queriam. E depois de tudo isto vem a terceira parte da estrada de concreto. O lugar onde os malditos ficam, eles são os verdadeiros culpados por tudo. Educam suas crianças à maneira como foram criados, não tem expressão, temem qualquer mudança de hábito ou pensamento. Foram criado do mesmo modo que seus pais, e não vai ser agora que vão mudar isto. A maioria tenta mostrar seus modos conservadores e comemoram com aparente alegria o natal, dia das mães, dia dos pais. Mas no fundo sentem remorso, porque sentem que desperdiçaram cada segundo de suas vidas como estão desperdiçando os seus filhos. E eles se sentem mal por isso.
    Minhas elucubrações chegaram a um ponto crítico. Me equilibrei de pé no parapeito da varanda, quando olhei para baixo uma sensação de vertigem me tomou de assalto. Lembrei do meu passado e minhas realizações. Não eram mais que ganchos frágeis que se serviriam para eu me equilibrar na vida, até que ele se quebrasse e eu caísse sem ter o poder de decisão. Se ia acontecer isto comigo, era melhor que eu decidisse quando e como fazer. O jazz começava a tocar suas notas finais, o saxofonista perdia seu fôlego.
    Pulei.

    Aceitem a criação deste tópico como minha desistência do concurso de roleplaying.
    Desisto por motivos de desorganização do concurso.

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  2. #2
    Avatar de Pernalonga
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    E todo mundo desiste do concurso. Acho que é unânime que o concurso já acabou a muito tempo... Porém concordo com a contagem feita pelo Emanoel e voto em esquecermos o Lucas. Mas isso não é assunto para esse tópico.




    Como sempre, deixo que minha visão sobre o texto seja ofuscada pelas minhas "filosofias".

    Ao ler o seu texto, estava achando-o excelente... Sério, o que me encanta mais no ser humano, é o como ele pode ser tão fraco no que ele é mais forte: nas idéias. Isso me deixa inquieto. Toda vez que quero escrever algo, quero que explore esse universo, quero me mostre ao máximo para todos como podemos ser extremamente frágeis, banais, podemos ser influenciados e convencidos sem a menor dificuldade; da mesma forma que podemos ser fortes, podemos acabar com alguém com um simples sorriso, podemos derrubar paradigmas com apenas uma frase, podemos evitar destruições com apertos de mãos. Isso pode parecer esquisito, mas os pontos fortes que eu falei tornam-se fracos e os fracos tornam-se fortes... Enfim, era sobre exatamente isso que o seu texto estava falando: um ser forte refletindo sobre os mais fracos ao mesmo tempo que ele próprio era o fraco refletindo sobre o poder que o mais forte tem sobre ele.
    Enfim, acho que explorar o humano e todas as suas falhas pode produzir o melhor texto de todos, e era isso que você tava fazendo.

    PORÉM, eis que o final fez estragar toda essa idéia, ao meu ver. Mas, espera! Levar o cara ao suicidio por um motivo, vamos dizer, banal como esse, não só demonstra o que eu acabei de dizer? Sim, demonstra. Mas, para MIM, é uma fuga incompleta, uma fuga não explorada.
    Sinceramente, acho que por eu ser totalmente contra o suicidio e essa idéia nem passar por perto da minha cabeca faz com que eu repudie tanto isso. Até mesmo num texto, onde se encaixou de uma forma legal, eu não ache uma boa alternativa. Não que eu odeie suicidios em todos os textos, há certas oras que o suicidio se torna algo perfeito.
    Só que, em "Vertigo", eu sabia que o suicidio viria no final. Estava na cara, evidente demais. Se o sujeito decidisse sair dali e tentar enfrentar novamente tudo aquilo que odeia, enfrentar o 'bonequeiro' mesmo sabendo que não conseguiria e que, mais cedo ou mais tarde, voltaria para aquele mesmo prédio, seria a melhor atitude tomada no texto. Isso sim elevaria MUITO o que eu falei no inicio, do ser humano ser forte e fraco ao mesmo tempo, do ser humano SER humano.


    Bom, essa é a minha idéia. Você fez um texto excelente, Bardo Sortudo, excelente mesmo. Mas a minha opinião e as minhas idéias acham que ele poderia ter sido perfeito. E não foi.

    Um grande abraço e espero que não se sinta ofendido com o comentário.

  3. #3
    Avatar de O Bardo Sortudo
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    Não me sinto ofendido de maneira alguma! Aliás, gostei do seu comentário. Pelo menos você e o Drasty acharam o final batido, e eu também.
    Gostei bastante da análise, como foi sua crítica foi mais "idéologia" por assim dizer, só posso dizer que tentarei melhorar em contos/concursos futuros para não deixar evidente o final (coisa que eu já deveria saber), mas obrigado pela crítica.

  4. #4
    Avatar de Ldm
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    Bom texto. De fato, trouxe à tona uma crítica válida, porém um pouco batida. Não vou me aprofundar em questões filosóficas, até porque isso vai da interpretação de cada um.

    Vou focar mesmo no enredo e vocabulário. O vocabulário coincidiu bastante com o tema abordado, de modo que o texto ficou acessível à todos os públicos. O enredo foi bem trabalhado, com ótimas comparações e analogias, porém, o desfecho deixou a desejar. Você encerrou abruptamente o texto, me passando a impressão de que você não tinha planejado um desfecho. A morte parece excelente e impactante, mas analizando do ponto de vista crítico, ela só serviu para você tentar escapar do fato de que você não conseguiu bolar nada melhor.

    Se você quiser me dizer que foi sua opção matar o personagem, tudo bem. Mas então condeno-o mais ainda... Criar uma história estupenda para terminar assim é deprimente.

    Perdão pelo post agressivo. Mas não vi outra maneira de expressar meu descontentamento. Meus parabéns, ótima história.

  5. #5
    Avatar de O Bardo Sortudo
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    Citação Postado originalmente por Ldm Ver Post
    Bom texto. De fato, trouxe à tona uma crítica válida, porém um pouco batida. Não vou me aprofundar em questões filosóficas, até porque isso vai da interpretação de cada um.

    Vou focar mesmo no enredo e vocabulário. O vocabulário coincidiu bastante com o tema abordado, de modo que o texto ficou acessível à todos os públicos. O enredo foi bem trabalhado, com ótimas comparações e analogias, porém, o desfecho deixou a desejar. Você encerrou abruptamente o texto, me passando a impressão de que você não tinha planejado um desfecho. A morte parece excelente e impactante, mas analizando do ponto de vista crítico, ela só serviu para você tentar escapar do fato de que você não conseguiu bolar nada melhor.

    Se você quiser me dizer que foi sua opção matar o personagem, tudo bem. Mas então condeno-o mais ainda... Criar uma história estupenda para terminar assim é deprimente.

    Perdão pelo post agressivo. Mas não vi outra maneira de expressar meu descontentamento. Meus parabéns, ótima história.
    Sim LDM, você acertou quando disse que eu não sabia o desfecho da história de antemão. Eu sou daqueles desorganizados que simplesmente sai escrevendo como se não houvesse amanhã, me vi no prazo para entregar o texto e sequer o revisei, se olharem mais cuidadosamente verão vários erros de grámatica principalmente.

    Obrigado pela crítica.




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  6. #6
    Avatar de Emanoel
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    O que mais me atraiu atenção foi o discurso incisivo, dinâmico e muito bem orquestrado. O final é clichê, mas serviu bem para um protagonista de opiniões contundentes que nasceu e cresceu em um beco sem saída.

    O curioso é que, após tantas reflexões sobre a vida lá em baixo, o jazzista pulou e... caiu. Talvez a grande conclusão seja o fato de que ninguém escapa das ruas.

  7. #7
    Avatar de O Bardo Sortudo
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    Citação Postado originalmente por Emanoel Ver Post
    O que mais me atraiu atenção foi o discurso incisivo, dinâmico e muito bem orquestrado. O final é clichê, mas serviu bem para um protagonista de opiniões contundentes que nasceu e cresceu em um beco sem saída.

    O curioso é que, após tantas reflexões sobre a vida lá em baixo, o jazzista pulou e... caiu. Talvez a grande conclusão seja o fato de que ninguém escapa das ruas.
    Só um adendo: posso ter entendido errado, ou você pensou que o personagem principal era aquele "saxofonista" ao qual eu me referi, se foi o caso, ele não é.
    A expressão "o saxofonista perdia seu folêgo" foi apenas uma metáfora.

    E obrigado!

  8. #8
    Avatar de Emanoel
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    Citação Postado originalmente por O Bardo Sortudo Ver Post
    Só um adendo: posso ter entendido errado, ou você pensou que o personagem principal era aquele "saxofonista" ao qual eu me referi, se foi o caso, ele não é.
    A expressão "o saxofonista perdia seu folêgo" foi apenas uma metáfora.

    E obrigado!
    Não, não. Utilizei a palavra "jazzista" como "apreciador de jazz", assim como o termo "roqueiro" refere-se ao "ouvinte de rock".

  9. #9
    Avatar de Wu Cheng
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    Cópia da resenha no tópico do concurso, com alguns comentários extras:

    Também acertei o autor

    Gostei de algumas comparações, como os pequenos humanos vistos de cima, ratos de laboratório procurando a saída de seu labirinto, e também a idéia de marionetes sendo controladas do alto dos grandes prédios corporativos.

    Pensando assim, quanto mais importantes os executivos, mais altos seus escritórios e menos os homens lá embaixo são homens, para se tornarem ratos.

    Ficou legal também a contradição entre uma vitrola tocando um vinil de jazz e a música eletrônica potente que vem da rua, possivelmente em mp3.

    Como falaram antes, o suicídio é a saída fácil para criar um final impactante. Muitas vezes no conto pode ser até a saída necessária, inevitável.

    Aí o autor vai ter que arcar com o ônus do leitor pensando: "mais um clichê". No caso, achei o salto no vazio um desfecho adequado.

    O suicídio lembrou os heróis românticos, que achavam bonito morrer de amor, por uma causa, ou por incompatibilidade com seu tempo.

    Muitos autores seguiram seus personagens, como Castro Alves, que morreu aos 24 anos, Noel Rosa (26), ou Torquato Neto (28). Outros se destruiram até a morte, como Paulo Leminski (44), Edgar Allan Poe (40), Billie Holiday (44) etc.

    É mesmo fascinante a ideia de morrer jovem, incompreendido, "deixar um cadáver bonito de se ver"... Lembrei agora do James Dean (23).

    Mas a humanidade se constrói com os que ficaram, não os que deixaram lembranças. Há uma dose de imaturidade neste pensamento romântico.

  10. #10
    Avatar de O Bardo Frustrado
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    Padrão Fantástico.

    Parabéns, Sortudo.
    Achei um ótimo conto, expresso de uma maneira um tanto dinâmica e simples, sem controversas ou muitos detalhes. Exatamente como os leitores querem ler.

    Me lembrei de um conto sobre um 'torturador' alemão que escrevi uma vez onde usei os mesmo termos como o final de sua estória, 'pulei'. A última palavra do conto fora: 'atirou'.

    Realmente um exímio texto de um bom escritor.
    Congratulações.

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