Esse é o início de uma história que eu começei a imaginar durante uma quebra de realidade parecida com a que gerou os últimos textos que eu mostrei aqui no fórum, enquanto caminhava em uma rua do centro de Porto Alegre.
Mas esse capítulo não tem continuidade, só fiz o primeiro mesmo. (Quem sabe no futuro....)
É um texto simples, seria necessário fazer a quarta revisão nele, pra colocar mais descrição e dar mais vida pros personagens... Mas acho que da pra ter uma idéia do que seria o produto final.
Críticas, comentários e impressões são extremamente bem vindos.
Capítulo 1 - (História ainda sem título).
Dois homens caminham pela cidade estéril lado a lado... Um carrega nas costas uma corrente enrolada em uma barra de ferro, enquanto o outro empurra uma coisa parecida com um carrinho de mão, cheia de ferramentas estranhas, fazendo muito barulho.
Os prédios ainda estão erguidos nas ruas, mas sem propósito, como testemunhas que esperam que um ouvinte lhe pergunte como as coisas eram... Uma praça ao centro do quarteirão, que agora parece um pequeno bosque, é o único lugar onde a luz matutina não alcança o chão. Ela exibe no seu interior um monumento e uma placa irreconhecível, tomados pelas vinhas que cobriram toda a sua superfície – a estátua ainda lembrava uma forma humana.
Algumas edificações ainda se encontram incompletas, com andaimes presos às fachadas e grandes tijolos de concreto à mostra, escurecidos pela ação da chuva.
Laerte pergunta:
- Ei, ta vendo esses edifícios em construção?
O outro acena que sim com a cabeça, sem dar muita atenção.
Mesmo sem conseguir começar uma conversa com o outro, continua, sorrindo levemente e observando curioso o ambiente à sua volta enquanto fala:
-Que ironia, né? Nem avisaram eles que não dava tempo de construir mais nada...
Ao ouvir o que o garoto acabara de falar, Nero olha para o seu colega por cima do ombro sujo da sua camisa em silêncio, com um olhar de desaprovação amenizado por um sorriso desconfortável.
Aquele, que era o mais jovem e acabara de soltar o comentário, se espreguiça e sorri com sarcasmo.
-Que foi? Só estou tentando puxar assunto. É a primeira vez que tu fica tão quieto enquanto a gente faz nosso trabalho.
O mais velho suspira, coça a barba mal feita lentamente e, parando por um breve momento para limpar uma remela do olho, fala sem encarar seu interlocutor:
-Esse lugar é cheio de lembrança. Aquela parede de mármore riscada ou até mesmo os paralelepípedos que formam o mosaico de mármore desse chão onde a gente ta pisando, tudo isso fez parte da vida de muitas pessoas que estiveram aqui. Pode parecer apenas uma cidade vazia, mas se os antigos moradores pudessem ver essa cena, com certeza ia ter choradeira...
-É isso, então? Um ataque de sentimentalismo? Ah... Vamos logo pegar as coisas e dar o fora daqui. Com sorte a gente consegue voltar pra Origem antes de anoitecer, aí vamos botar um pouco de álcool no sangue.
Fazendo uma breve pausa pra dar uma risada debochada, dá um leve tapa nas costas do outro, que continua sério, e fala:
-Onde fica a tal casa?
-Na próxima rua à esquerda.
Os dois entreolham-se amigavelmente e retomam o passo. Sentiram-se como irmãos.
Dificilmente dava pra acreditar que naquele lugar antes era impossível andar sem trombar com alguém, ao passo que desviar de um significaria chocar-se com outro.
As árvores do lugar balançavam com a brisa, derrubando folhas secas no chão já coberto de pequenas plantas. As ervas daninhas tentavam buscar nos vãos entre as pedras da calçada um lugar para pegar um pouco de sol.
As cores dos diversos anúncios pendurados nas fachadas de lojas e galerias começavam a sumir. Como todo o resto, os painéis haviam desbotado e a poeira formava uma fina camada cinzenta sobre tudo o que estava ao alcance dos olhos...