
Postado originalmente por
GrYllO
Eu acho positiva a aprovação dessa PL, desde que não exista desvio de função.
Pacientes que realmente necessitam de tratamento e que podem se beneficiar não podem ser prejudicados por quem está apenas em busca de recreação - essa, sim, vem acompanhada de mais problemas do que benefícios.
Outro dia estava conversando com um conhecido que é perito criminal no Uruguai e deu a curiosidade de perguntar como anda a situação por lá desde que liberaram o uso recreativo. Segundo ele, os índices de criminalidade relacionada não reduziram e ainda apareceu um novo fator de problema: aumento de casos de problemas de saúde mental, causados pelo consumo recreativo. Pessoas ficando esquizofrênicas e precisando serem internadas em centros de recuperação, etc.
Sim, o que precisa ficar bem claro é que defender o uso de uma substância para fins medicinais não é a mesma coisa que defender uma substância para uso recreacional. A argumentação para o uso medicinal vai mais no sentido da isonomia e no direito à saúde e a recursos clínicos medicamentosos para cidadãos que precisam. A discussão sobre a liberação/descriminalização da droga no sentido amplo vai envolver outros debates, até mesmo de cunho ideológico e moral.
Eu gosto de jogar com as cartas na mesa: eu sou sim a favor da descriminalização da maconha como droga de uso geral. Para mim, faz sentido do ponto de vista ideológico, ético e social. Mas isso não tem relação com a parte medicinal. Tanto é que, mesmo em estados americanos majoritariamente conservadores, como Arizona, Dakota do Sul e Montana, essa utilização já foi aprovada, mesmo sem a descriminalização, pois entendeu-se tratar de discussões diferentes.
Só um adendo sobre a liberação da droga no geral: caso a discussão seja levada para o lado de mensurar as consequências, é necessário sempre analisar dados sobre descriminalização do ponto de vista técnico. Existem diversos modelos e experiências nesse momento, cada uma apresentando resultados diversos. O modelo uruguaio tem problemas que podem ser relativos não apenas à liberação da droga em si mas também ao modelo econômico e social adotado (Estado produzindo, distribuição limitada, altos preços). Por isso as análises sistemáticas dos dados dessas experiências ao redor do mundo são bons norteadores para países que pensem em políticas mais flexíveis em relação à maconha.