III - Final
Escuridão.
- Finalmente retornou rapaz. Desta vez é para ficar, pelo visto.
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Um pastor procurava por sua ovelha perdida nos bosques que circundavam o perímetro de Northport. O animal havia desaparecido naquela manhã, e até agora, próximo do meio dia, ainda não havia sido encontrada.
A mata era densa, muitos arbustos altos e espinhos dominavam o espaço entre as árvores, a princípio o pastor não seguiria sua busca por aquele caminho, uma frágil ovelha não insistiria em seguir aquela rota, mas os pingos de sangue que escorriam pelos espinhos e pelo chão pareciam ser o único rastro que o animal deixava.
Lobos habitavam aquela região, o velho homem deveria tomar cuidado ao menor sinal de perigo, já que não era nenhum soldado, e a idade já atrapalhava seus reflexos.
Os borros de sangue pareciam mais recentes, não eram tão secos quanto os anteriores.
Com o auxilio da machete que trazia consigo, ia abrindo o caminho a frente, e sinalizando o que ficava para trás. Seguiu num ritmo lento por mais quinze minutos. Eis que encontrou, não sua ovelha, um outro animal, um garoto.
Atirado sobre um arbusto e com sangue escorrendo pelos braços e pernas estava o corpo do garoto, ainda vivo, pois fazia um som estranho quando respirava.
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- Quem é você? – finalmente Jethro conseguiu falar em meio a escuridão, esperando uma resposta da voz.
- Eu sou meu eu, meu eu somo nós, sou a sua consciência, Jethro. Todo e qualquer pensamento que você já teve, tudo o que pensou, desejou, ou profanou, tudo eu.
-Eu estou morto?? O que é isso aqui?
- Ainda não garoto, mas vai estar, isso é uma prévia do que está por vir, eu sempre estive aqui, você sabe, antes de você ganhar consciência, você também estava aqui. Perdido em pensamento, ou o pensamento está perdido, pontos de vista.
- Isso é muito complexo, não pode ser real, é apenas um sonho, ou analgésicos para dor.
- O primeiro estado é o medo, eu entendo a sua negação, mas não há o que ser feito, os deuses já deram as cartas. Antigamente haviam visitas, o conhecimento do mundo interior era maior, conheciam esse estado de consciência como o “mundo dos sonhos”, você conhece as lendas, os cavaleiros do pesadelo e a irmandade dos ossos. Mas é uma arte perdida.
- Somos só eu e você então?
- Somente você.
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O velho trouxe o garoto para sua casa, durante o caminho o garoto sofreu diversos espasmos, e pronunciava palavras aleatórias: morte, caminho dos sonhos, real.
O pastor procurou ajuda com os outros moradores da cidade, em busca de salvarem o garoto desconhecido.
Os ferimentos eram muito profundos, e os espasmos cada vez mais frequentes. As feridas não conseguiam ser estancadas devido aos movimentos do jovem que se debatia enquanto delirava na sua inconsciência. Ervas, poções, chás, nada parecia ajudar.
Os espasmos pararam.
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- O processo está completo agora, Jethro. Eu e você iremos nos unir em um só, novamente.
O garoto queria lutar contra aquilo, mas não tinha corpo nem meios para isso.
Para sempre ali, trancado em um monólogo silencioso.
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A respiração e os batimentos pararam. Os esforços da comunidade haviam sido em vão, uma tristeza incompreensível veio à todos os que se empenharam na tentativa de salvar o rapaz. Uma vida tão jovem perdida, ali, à frente de todos. E aquelas palavras, silêncio, solidão, morte, mãe...
O pastor foi à Carlin numa carroça, carregando o corpo envolto em trapos brancos, o cemitério mais próximo se localizava na cidade, e talvez alguém soubesse a identidade do garoto.
Os dirigentes do cemitério reconheceram o rapaz, e o quanto ele sofrera no velório da mãe, poucas semanas antes, falaram sobre a proximidade do jovem e a família, e tentaram juntos arrumar algum sentido às palavras do garoto, e o motivo de pronunciá-las em meio àquela ocasião.
O corpo foi entregue aos responsáveis do cemitério, e o pastor voltou a sua cidade.
Jethro não tinha nenhum parente ou família, era uma pessoa sozinha no mundo, na busca por responsáveis para os encargos do funeral, apenas Tim, o melhor amigo do rapaz, se manifestou. Eu sabia que isso, hora ou outra, iria acontecer, dizia o garoto incessantemente, com o olhar baixo, se culpando por não impedir o amigo.
No velório poucas pessoas compareceram, apenas Tim e os frequentadores mais assíduos da taverna, ao total foram quinze pessoas na cúpula do cemitério, velando o corpo.
O único momento da história de Jethro não embalado por música e festividades.
Seu corpo foi sepultado o lado do da mãe.
No seu epitáfio se encontravam as seguintes inscrições, retiradas de um manuscrito tortuoso que estava no bolso do rapaz, uma provável composição não terminada.
É maior do que palavras
A dor que se sente
As historias contadas
E as vidas marcadas
Decidi por dar um fim precoce à história, a falta de tempo e a insatisfação com o que estava sendo escrito me levaram a tal decisão.
Achei mais justo terminá-la, mesmo que cedo, do que seguir adiante, com o risco de abandoná-la.
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