Céu na Terra
Os primeiros raios do Sol escaldante do Rio de Janeiro entravam pelas frestas da janela, e já anunciavam que aquele seria mais um longo dia do verão carioca. Acordei aos poucos, meio molenga, tateando o relógio da cômoda pra ver que horas eram.
Sete da manhã. Mas que sono pontual.
Levantei - ainda cambaleante - desliguei o ventilador que já havia trabalhado a madrugada inteira e fui direto tomar uma ducha gelada enquanto escovava os dentes. A bermuda, a cueca, as latinhas e a garrafa d’água da noite anterior ainda estavam espalhadas pelo banheiro, mas eu bebi água da bica mesmo, só pra não perder o costume.
Ainda pelado, fui até a cozinha comer umas torradas com frutas e Nescau. Depois, fui até o armário e peguei uma cueca e uma bermuda quaisquer, botei quinze reais e chaves no bolso, enfiei o dedão no chinelo e saí de casa daquele jeito mesmo, sem camisa.
Santa Teresa era sempre um bairro calmo, pelo menos naquele trecho. Rua deserta, Sol brando, o canto dos pássaros acordando e aquele cheiro que só a manhã possui. Caminhada boa, subir a minha rua, especialmente logo depois de acordar. Soava-me como uma atividade saudável, embora francamente eu estivesse pouco me lixando pra isso. De qualquer forma, sempre apreciei o lado poético da coisa.
E quanto mais eu subia, mas eu sentia algo diferente no meu peito. Uma vibração estranha, que acabava com toda aquela harmonia, mas que não era ruim, na verdade era até revigorante. Não sei explicar direito, só sentindo mesmo pra entender. E ia aumentando na medida em que meu corpo avançava, na medida em que meus passos despreocupados faziam-me subir aquela ladeira.
E quando eu vi um rapaz gargalhando pela rua, usando uma cartola e segurando uma latinha de cerveja, do lado de uma morena gostosa, não tive dúvida.
É carnaval.