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Tópico: Ferumbras

  1. #51
    Avatar de Emanoel
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    Kamus nunca mais deu sinal de vida através do MSN ou e-mail, apesar de ter entrado no fórum hoje mesmo. Eu não esqueci disso aqui, mas ficarei no aguardo de mais informações...

    Por enquanto, leiam, comentem, etc.

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    Última edição por Emanoel; 26-12-2009 às 20:39.

  2. #52
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    Capítulo 8 - O pedido de Arieswar.


    A vida que Pepelu imaginou numa longínqua noite logo após o fatídico dia de Fechar de Estações nunca existiu. Muitos meses se passaram desde que a cidade de Thais fora atacada por um misterioso monstro na noite da festa e desde então o modo do mundo fluir havia mudado drasticamente; e para pior. Muito pior.

    O rei Tibiano III pôs em prática uma ditadura severa contra os não-thaienses, alegando parasitismo por parte daqueles que, ao estabelecerem-se na metrópole, ocupavam os empregos, a riqueza e o lugar social que por direito pertenceriam aos thaienses, verdadeiros donos de Thais. As medidas foram evoluindo gradativamente, desde uma maior taxação em cobrança de impostos até a expulsão da cidade e de todas as colônias por ela dominadas. Na prática, porém, a maior parte dos bárbaros foi enviada como mão-de-obra semi-escrava para províncias em ascensão, como as da Baía da Liberdade ou nas ilhas geladas, onde estava o novo projeto da corte: Svargrond.

    Esse último destino era mais temido pelos não-thaienses do que a morte, já que seria inevitavelmente um caminho árduo e tortuoso para ela. O “inferno gelado”, como ficou conhecido, tornou-se sentença para os mais rebeldes bárbaros. Pepelu por uma ou duas vezes chegou a se perguntar por que trabalhar na construção da cidade de Svargrond seria tão pavoroso, mas certamente nunca mais faria isso ao ouvir os relatos de conhecidos que estiveram por lá.

    Para começar, o governo bancava apenas uma refeição, uma sopa de verduras, por dia e um mísero abrigo comunitário para passarem as noites. Por mais humilhante que fosse o tratamento nesses abrigos, reunir-se em grupos no frio congelante acabava por ser algo razoavelmente bom, mas a escassez de comida era enlouquecedor. O corpo consumia toda a energia possível para manter-se aquecido e não contar com alimento para reabastecê-lo era o caminho da morte. Lógico que sempre havia o caminho da pesca e das caçadas, mas o risco de ser devorado por alguma criatura selvagem ou dar de cara com um nativo hostil (geralmente comungado com os carlinianos) eram imensas. Fora isso as más-condições de trabalho e a falta de perspectiva de futuro seguida da uma forte depressão que parecia se espalhar pela ilha como uma doença contagiosa faziam jus ao tal apelido “inferno gelado”.

    Os bons tempos de Thais ficaram então no passado, ou na imaginação de otimistas como Pepelu. Lógico que seria muito fácil acusar o rei Tibiano por tudo que estava acontecendo, mas ele tinha o total respaldo do Senado e de uma parte da população constituída majoritariamente de thaienses nobres ou que haviam perdido pessoas queridas no ataque da festa de Fechar das Estações. Isso desfavorecia ainda mais o povo que sofria com as atitudes xenofóbicas de Tibiano. A atitude mais sensata para esse tipo de gente seria sair da cidade por espontânea vontade, apesar de isso, logicamente, não ser possível para todos.

    Pepelu e Kala eram um desses casos. A vida deles era Thais e apenas Thais. E o mundo além dos muros da capital havia se tornado um lugar hostil para thaienses, ainda mais para os que haviam acabado de chegar a ele.

    Há poucos meses nascera a filha de Pepelu e Kala. Seu nome era Eurídice, como planejado. A opinião dos pais, é claro, era suspeita, mas havia um consenso entre todos os amigos do casal de que aquela era uma adorável garotinha que tinha tudo para se tornar uma linda mulher.

    Uma grande festa foi formada no dia do nascimento da menina, e, ao ver todos seus amigos reunidos novamente, Pepelu enxergou-se numa ilha de alegria em meio a um mar de problemas. Aquela, por sinal, foi a última vez que vira Diogo. Pepelu chegou até a pensar em pedir ao capitão para zarpar com ele a bordo do Esperança, levando sua família para longe do mundo cruel que a rodeava. Como seria bom se a vida fosse simples assim.

    Enquanto não tinham como fugir da realidade maçante na qual viviam, Pepelu e Kala buscavam ao menos fantasiar um pouco a situação para a pequena Eurídice. Sempre que podiam, saíam de cavalo procurando por um ambiente natural e, principalmente, com paz a tranqüilidade. Isso fez Pepelu conhecer diversos “paraísos” perdidos espalhados pelo grande mundo criado por Uman.

    Naquele exato momento, o casal e sua filha estavam em um dos seus paraísos preferidos: uma pequena praia na ilha de Fíbula, habitada quase que totalmente por thaienses.

    A pequena Eurídice adorava engatinhar na areia, brincar com pedaços de conchas que achasse pelo caminho e eventualmente correr de siris que a ameaçavam com suas pequenas pinças, sempre com Kala em seu encalço protegendo-a da luz dos sóis e de todo o resto que achasse perigoso.

    Para Pepelu, aqueles eram momentos de ouro, onde ele podia curtir sua família e um banho de mar sem quaisquer empecilhos. Ou quase. Naquele dia, durante a volta para casa, o arqueiro reparou em três sujeitos de aparência duvidosa cercando um casal a cavalo. Sua surpresa maior, porém, foi ver que o casal questão era ninguém menos que Octavian, um amigo quase tão antigo quanto Diogo, e Sara Lionheart, prima de Kala. Mudando seu rumo até onde o grupo estava ele assustou os homens desconhecidos, que, vagarosamente, se retiraram.

    - Obrigado, Pepelu. – falou Octavian – Acho que aqueles caras queriam mesmo nos roubar.

    - Pelo amor de Uman, nem nos arredores de Thais temos mais segurança. – bradou Sara – Não me surpreendo se Tibiano mandar todos os guardas para constuir sua cidadezinha de gelo!

    Agora os dois casais tinham descido dos cavalos para conversarem melhor.

    - Sinceramente, estou com um pouco de medo até de sair da cidade. Só vim mesmo porque Sara me pediu companhia para voltar para casa, em Fíbula. Mal sabe ela que o máximo que teria ao meu lado seria um cavalo a mais pra correr. Eu sou um mero escritor, afinal.

    - Ah, é mesmo. – lembrou Kala – Como anda o clima lá no Diário Oficial?

    - Tenso. Muita gente é contra o atual governo, mas não posso expor isso no jornal da coroa, sabe? E o pior é que há pessoas que, de verdade, concordam com Tibiano. E muito mais do que você imagina.

    Todos ficaram em silêncio, exceto por Sara que agora pegava Eurídice no colo e a divertia com caretas. Aquilo bastou para Octavian mudar de assunto.

    - E a menina, como vai?

    - Ótima! – vangloriou-se Kala – Estamos começando a levá-la pra praia e ela está adorando.

    - Fico muito feliz. Meus três já começaram a brincar de subir em árvores. Do meu quintal, lógico, pois não deixo mais eles na rua. – e ele voltou-se para Pepelu – E Diogo, manda notícias?

    - Não ultimamente. – Pepelu já estava cansado de responder àquela pergunta. Sempre viam buscar dele informações sobre seu “irmão mais velho” – Mas, rapaz, você nem imagina o que ele deixou comigo. Tá certo que foi sob mil recomendações, mas...

    - Não acredito! – exclamou Octavian contemplando uma chave partida no meio que era ostentada com orgulho pelo arqueiro – A chave-mestra?! Talvez eu vá querer ela para prender Sara em algum canto caso ela comece a me botar nessas roubadas de novo.

    Pepelu deu um leve sorriso enquanto via Sara tentar dar uns tapas em Octavian. Gostava demais dos amigos e não conseguiu esconder a tristeza que foi vê-los, ao fim da conversa, montar seus cavalos e seguir o caminho contrário. Enquanto Octavian e Sara seguiram para Fíbula, ele e Kala voltaram para Thais e sofreram a inspeção que já havia se tornado rotina antes de terem o acesso liberado.

    O cenário da cidade era um desalento total. Por terem precisado vender suas casas devido às novas dívidas e taxações, havia muita gente morando nas ruas. Praças e parques não mais tinham jovens casais de namorados ou crianças brincando. Tropas de guardas encarregavam-se de retirar faixas, cartazes e qualquer tipo de protesto à coroa, punindo severamente os responsáveis. Nem o lixo das casas estava sendo recolhido como outrora, acumulando-se nos cantos e virando um banquete para ratos e outros animais imundos.

    Quando o casal chegou em casa, na número 38 da Travessa do Pântano, os sóis já estavam baixos e Kala e Pepelu intimamente agradeciam por poderem colocar uma exausta Eurídice para dormir em seu berço confortável. Feito isso, eles desceram para o primeiro andar e foram namorar um pouco. Trocaram beijos ardentes e apaixonados enquanto tentavam enxergar um futuro melhor do que o presente caótico.

    - Eu acho – falava Kala entre um beijo e outro– que Tibiano vai durar até acontecer algo que pare Svargrond. Quando essa insanidade acabar, aí sim, Cris, tudo voltará ao normal.

    - E o que vamos fazer quando isso acontecer?

    - Vamos nos mudar pra Costa Verde, como você quer. E sabe qual a primeira coisa que vou comprar para nossa casa nova?

    - Não faço idéia. – dizia ele, beijando-a no pescoço e eventualmente dando-lhe leves mordidas na orelha – O que?

    - Uma casa de bonecas. – falou ela, com um brilho nos olhos – Não dessas pequenas, sabe? Uma bem grande, de preferência maior que Eurídice! Aí eu vou mandar fazer várias bonecas de pano e dar a ela.

    - Sinto que você está realizando também um pouquinho de um sonho seu. Ou estou enganado?

    Ela riu.

    - Pois é. Eu sempre quis ter uma casa de bonecas quando criança. Eu queria fazer meu mundo com elas, entende? Queria dar nome a cada boneca e que elas fossem crescendo junto comigo. Mas infelizmente meu pai nunca pôde comprar uma pra mim. Tentamos fazer juntos uma vez, mas não deu muito certo. Isso foi um pouco antes dele morrer.

    Pepelu sentiu algo estranho crescer dentro de si. Conhecia sua mulher a tanto tempo, julgando-se capaz de entendê-la profundamente por uma mera troca de olhares, mas mesmo assim parecia que ainda faltava descobrir tanta coisa sobre ela; tantas pequenas coisas! Ele amava Kala verdadeiramente e queria apreciar cada mínimo detalhe de sua vida, cada casa de boneca que ela nunca teve ou cada sonho que planejava para Eurídice.

    - Essa é a vantagem dos filhos, não é, Cris? Podemos realizar nossos sonhos através deles.

    Ele respondeu com um sorriso, não precisando falar mais nada. Logo os dois estariam fazendo amor no sofá como dois adolescentes, até Kala não mais agüentar e cair adormecida nos braços do marido. Pepelu então a levou até seu quarto e a pôs na cama. Pensou em também deitar e dormir, mas ele sabia que não conseguiria tão facilmente. Desde o fatídico dia de Fechar de Estações ele haveria de ficar com insônia por todas as noites da sua vida.

    Já se acostumando com aquilo, ele botou uma roupa e desceu as escadas. Acendeu um lampião e sentou-se à mesa para ler alguma coisa. Ignorou completamente o Diário Oficial, com seus textos manipulados, e pegou um livro qualquer, que identificou como sendo as crônicas de um viajante que rodava o mundo em seu navio. Logo ele lembrou-se de Diogo em como ele falava mal de escritores que ousavam sonhar com a aventura sem nunca terem posto o pé para longe da sua terra. Resolveu então pegar um romance que havia tomado emprestado de Octavian.

    A história era muito bonita. Falava sobre a vida de quatro amigos inseparáveis e de como a vida deles mudou após um deles descobrir sua descendência na reealeza. Pepelu embrenhou-se na leitura até a parte em que o príncipe perdido estava sendo caçado por um sujeito misterioso que posteriormente se revelaria um antigo amigo do seu falecido pai, indignado pela coroação do garoto.

    Após isso, já cansado, Pepelu resolveu voltar algumas páginas e ler novamente a parte em que o protagonista ficava sabendo de sua descendência através de uma carta. Mal sabia aquele garoto, coitado, que aquela carta mudaria sua vida para sempre; seria um príncipe, verdade, mas suas verdadeiras amizades se perderiam em um mar de inveja e traição.

    No entanto, naquele exato momento, era a vez de Pepelu ser um coitado que mal sabia das coisas. Isso pois ele nunca esperaria que sua vida inteira fosse mudar numa visita. Aquela visita.

    Batidas na porta. O arqueiro toma um susto. Quase dormindo por cima do livro, ele levanta-se do sofá num pulo e corre para pegar sua balestra e algumas flechas. Feito isso, mansamente ele vai avançando à porta como um leopardo silencioso de olho em uma presa. Ainda mais delicadamente, ele destrava a porta e prepara-se para abrí-la com um chute. Mantém firme uma perna de apoio e usa da outra com força para chutar, quando então vê...

    - Você?

    Do lado de fora da sua casa estava ninguém menos que Arieswar. Pepelu ficou tão surpreso que mesmo que quisesse não teria reflexo para apertar o gatilho da balestra.

    - Por favor, abaixe essa arma. Eu vim para conversar.

    Pepelu não sabia o que fazer. Por um momento ele viu todos os fantasmas de um passado não tão distante voltarem para si e o medo fluiu junto com seu sangue por cada veia do seu corpo. E para piorar, dessa vez não haveria Diogo para ajudá-lo.

    - O que quer comigo? – foi o que saiu da sua boca – O que quer com minha família?

    - Eu não estaria aqui se não tivesse um bom motivo. – falava Arieswar com a voz mansa – Peço, por favor, que abaixe a arma.

    Pepelu ficou indeciso. Pensou em Kala e Eurídice dormindo lá em cima e decidiu que o expulsaria, porém agora ele não podia mentir para si mesmo dizendo que não estava curioso para saber o que o cavaleiro tinha de tão importante para falar. Pensando nisso, e no fato de continuar com a balestra na mão independente de qualquer coisa, ele demonstrou receptividade.

    - Obrigado, Pepelu. Agora será que eu poderia entrar?

    Não, aquilo só podia ser brincadeira. Arieswar?! Na sua casa?! DENTRO dela?! Afinal, teria sido mesmo com aquele homem que ele havia lutado no Fórum?

    - Seria uma honra. – falou Pepelu ironicamente, sabendo que iria se arrepender daquilo mais tarde.

    Somente ao fechar a porta que ele se deu conta de que realmente estava com o inimigo dentro de casa. E um inimigo bem cordial pelo visto, já que procurou uma cabideira para colocar seu casaco e depois se sentou confortavelmente no sofá no qual há pouco o anfitrião e sua esposa haviam feito amor. Apesar de tudo, Pepelu, sempre muito observador, notou que ele parecia intimamente transtornado.

    - Eu vou direto ao assunto, Pepelu. Eu sei que nós não temos uma relação lá muito boa e... – ele deu uma risadinha – bem, na verdade já tentamos nos matar uma vez. Eu assumo isso e peço que você reconheça o quanto eu estou falhando com minha própria honra e dignidade para vir até aqui.

    Pepelu não sabia até onde aquilo iria, por isso continuou apenas ouvindo.

    - Estou precisando de um grande favor seu, Pepelu. Vou entender completamente se você recusar e até mesmo se rir do meu desespero, mas talvez haja um coração piedoso em seu peito e eu não me perdoaria se não arriscasse.

    “Você é um pai de família e tem uma esposa, que ao comentário de todos, é uma mulher invejável, por isso eu creio que você saiba o que é o amor. E é o amor que me fez vir até aqui, humilhar-me diante de você inclusive, se preciso, de joelhos. Você tem algo que pode me ajudar e eu preciso disso mais que tudo.”

    - O que? – perguntou Pepelu, incrédulo.

    - Há algum tempo encontramos dois guardas aprisionados perto da sala que chamamos de “O vácuo”. Aquele é um velho aposento secreto, inspirado numa sala mágica muito longe daqui. Esses guardas falaram que haviam sido nocauteados por você e pelo capitão Natharde, que certamente os abandonaram ali. Acontece que para chegar onde chegaram, vocês precisariam ter passado por uma porta com uma trava reforçada e, como chequei há algum tempo, não havia sinais de arrombamento no local. Isso me fez acreditar que você teria um objeto um tanto quanto especial, capaz de abrir portas, não?

    As coisas começavam a fazer o mínimo sentido.

    - Sim...quero dizer, não. Na verdade a chave-mestra é de Diogo, não minha, mas ela realmente existe. – depois ele ficou se perguntando se não havia falado demais e resolveu mentir um pouco – Mas ela está muito longe daqui. Diogo a levou. E o que você quer com ela? E que papo é esse de amor?

    Ele tomou fôlego para responder, mas um grito ecoou pela sala cortando sua atenção. Descendo as escadas, vinha Kala, que ao vê-lo, apavorou-se. Pepelu correu para tranqüilizá-la, mas ela já estava assustada o suficiente para quase não conseguir ficar de pé. Arieswar então começava a pensar que talvez tivesse sido um erro ter ido ali, incomodar a vida de pessoas que ele nem conhecia e tampouco gostava.

    - Me desculpem. – disse ele, levantando-se – Eu não deveria ter vindo aqui, muito menos a essa hora. É que era...minha última esperança. Estou indo embora.

    Ele então se encaminhou para a porta, pensando o quanto tinha sido idiota em acreditar que sua inimizade com Pepelu seria superada por um pedido desalentado. Já estava com a mão na maçaneta quando ouviu uma voz feminina falar:

    - Espere! – falou Kala – Há algo que errado nessa história. O que você realmente quer, senhor Arieswar? Você certa vez quase mata o meu marido, e só não o fez por que não conseguiu, e agora vem na nossa casa, em plena madrugada, nos pedir um favor. O que deu em você? Ficou maluco ou o quê?

    Ele abaixou a cabeça e pensou. Parecia querer dar uma resposta elaborada para aquela pergunta, mas não conseguia juntar as palavras.

    - É verdade, senhora. Perdoe-me por eu quase tê-la feito viúva e por te acordar a essa hora. Não sei o que dizer, senão pedir desculpas.

    - Então tente dizer o que está sentindo.

    Aquilo parecia mais fácil; bem mais.

    - Eu estou confuso. Pela primeira vez conheci uma mulher na qual vale a pena investir e arrancam-na de mim. Tentei recuperá-la das mais diversas formas, mas não consegui e resolvi apelar para o grande trunfo que seu marido, ou o amigo de vocês como fiquei sabendo, possui. Além disso, estou sofrendo demais pelos meus irmãos não-thaienses, já que eu também não sou desse império, e ela me fazia esquecer os problemas da vida. Desde que o rei Yorik morreu as coisas têm sido difíceis.

    O casal se entreolhou. Havia muita sinceridade naquelas palavras.

    - Quem é essa mulher? – perguntou Pepelu, já prevendo a resposta.

    - Uma pessoa que ainda deve fazer parte dos seus sonhos mais íntimos. A sacerdotisa que você viu ser atacada enquanto se escondia embaixo daquele altar, na Igreja da Criação.

    - Então você realmente a seqüestrou, como ouvi falar?

    - Não, eu apenas a transferi da enfermaria para o meu quarto. Acho que isso não caracteriza um seqüestro. Acontece que nos apegamos muito desde então, e inevitavelmente eu fui me apaixonando por ela e ela por mim. – e ele abriu um sorriso tímido - Quem não sabe dessa his´toria deve me achar o guerreiro mais religioso de toda Thais, pois depois dela ter voltado para a igreja, fui visitá-la todos os dias.

    “No entanto, ela tem alguns problemas jurídicos sérios; herança de família se quer saber. E sentia que cada vez mais o governo a pressionava. Por sorte ela é de uma família tradicional thaiense, e Tibiano não teve coragem de pôr as mãos nela deliberadamente, mas uma série de acontecimentos recentes fez a cúpula do Senado mudar de idéia e ela teve que ser levada por medida de segurança.”

    - Levada? – perguntou Pepelu, surpreso – Levada pra onde?

    - Pra um lugar terrível, uma espécie de prisão. Nem eu posso tirá-la de lá por meios legais, e não poderia matar dúzias de antigos colegas meus para tomá-la de volta; talvez nem conseguisse fazer isso.

    - E quais seriam os...hã, problemas jurídicos dela? –perguntou Kala.

    - Já disse, uma herança de família. Algo que ela não deveria ter a infelicidade de carregar.

    E Pepelu imediatamente lembrou-se do velho no Monte Sternum. Aquela igreja guardava um grande segredo: poderia reviver os mortos, mas é claro, tudo tem seu preço e para aquela dádiva havia a maldição de se carregar um segredo assim e talvez Lynda estivesse mesmo sofrendo dela agora.

    - Eu creio que não seja bem isso, Arieswar. – falou Pepelu, surpreendendo a sua esposa e ao cavaleiro – Seja sincero conosco.

    - Como assim? – perguntou ele num sorriso de canto de boca – Eu não estou te entendendo.

    - Tudo bem, Arieswar, sei que ela certamente pediu para manter o segredo. Eu te emprestarei a chave, mas não por você, que fique bem claro, mas por ela.

    O rosto dele se impregnou de alívio, apesar de parecer confuso com o que Pepelu falava.

    - Muito obrigado, Pepelu. Quando eu posso pegá-la?

    O arqueiro pensou um pouco antes de responder.

    - Amanhã...pela noite, acho melhor.

    - Certo, é até melhor pois tenho que resolver algumas coisas antes.

    Pepelu assentiu com a cabeça. Ainda não acreditava no que estava fazendo, mas desde o incidente da noite de Fechar de Estações ele sabia que uma estreita ligação entre ele, a sacerdotisa e o misterioso homem havia se criado. Sentia isso todas as noites, quando ficava se revirando na cama se conseguir dormir.

    Kala, sentindo a aflição do marido, passou-lhe as mãos pelas costas e ficou a observar o cavaleiro, que agora já ia embora definitivamente. Arieswar rodou a maçaneta, abriu a porta e, antes de sair, deu suas últimas palavras:

    - Pepelu, nunca te fale isso, mas você foi uma das minhas melhores lutas. Até amanhã.


    ****


    “Amanhã” chegou mais rápido do que o arqueiro imaginava, pois, estranhamente, ele conseguira dormir o resto da noite inteira. Seria uma parte de sua dívida com a moça da igreja sendo paga?

    Ao acordar, porém, Pepelu ficou todo o tempo a pensar no que acontecera na sala de sua casa há poucas horas. Os pensamentos dele foram longe, até mais ou menos aquela casinha do Monte Sternum e voltaram. Então havia mesmo um segredo; havia alguma coisa a se esconder naquela igreja. Será que fora por isso que o homem misterioso a invadira durante a festa? Certamente. Será que Arieswar, naquele dia, o conduzira até ali de propósito? Não, o cavaleiro nem conhecia Lynda e o segredo. Mas será que as autoridades o conheciam? Com certeza, caso contrário não teriam por que perseguir a sacerdotisa.

    Além dessas perguntas sem resposta certa, durante toda sua rotina diária no Armazém ele só conseguia pensar em mais uma coisa: na chave-mestra e no pedido de Diogo para que ele zelasse por ela. A princípio Pepelu achou aquele pedido até mesmo cretino, pois ele tinha tanto apego à chave quanto seu dono, mas agora tudo mudara. O que pensaria Diogo se soubesse que ele a havia prometido para Arieswar, o homem que quase os matara no Fórum? Foi então que ele tomou uma decisão tão importante quanto a carta que chegara ao jovem garoto do livro que lia à noite.

    - Olá, meu amigo! Já temos aquela remessa que eu encomendei?

    O primeiro cliente do dia o trouxe de volta ao presente, mas nada o impedia desde então em ficar a pensar como seria aquela noite toda vez que a loja estava vazia.


    ··Hail the prince of Saiyans··

  3. #53
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    Eu já estava sentindo falta do ··Hail the prince of Saiyans··...



    Capítulo 7

    Depois da passagem de Hesperides, Arieswar ficou informado de que o conselheiro Tales Nantes far-lhe-ia uma visita.
    Far-lhe-ia. Bem, eu não gosto disso. :wscared:

    E foi assim, num eterno fechar e abrir de pálpebras que Arieswar ficou a esperar.
    Faltou uma vírgula depois de "pálpebras".

    Não posso deixar que você seja jogada aqueles crápulas do Fórum.
    Não entendi essa frase. Ou é "àqueles" ou é "por" antes de aqueles. Só sei que tá faltando alguma coisa aí.

    A sorte de Pepelu é que ele nunca tentou ganhar a vida como profeta.
    Cara, eu me arrepiei quando li essa frase, sério. Foda.



    Capítulo 8



    mas a escassez de comida era enlouquecedor
    Enlouquecedora.

    Quem não sabe dessa his´toria deve me achar o guerreiro mais religioso de toda Thais, pois depois dela ter voltado para a igreja, fui visitá-la todos os dias.
    Erro de digitação bobo.

    - Pepelu, nunca te fale isso, mas você foi uma das minhas melhores lutas.
    Falei?




    Óia djou, eu senti os diálogos do cap. 8 pouco trabalhados, principalmente na parte que Arieswar vai visitar Pepelu. Aquela é uma parte crucial do capítulo, e acho que deveria ter sido melhor trabalhada. O capítulo começou muito bem, mas foi caindo.

    Já o 7 foi em uma progressão crescente fodástica, que terminou com uma frase genial. E aprofundou bem a personalidade das personagens.

    Mas a história está em um nível excelente, isso é inegável.

    Falous!

  4. #54
    Avatar de Emanoel
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    Capítulo 9 - O campo Santo


    Arieswar novamente saiu de sua casa trajando a capa vermelho-vinho que há muito recebera das mãos do rei Yorik I em pessoa. Aquele, aliás, era um dos momentos que jamais sairiam da sua memória; o momento de maior glória do pobre menino nascido no Porto Norte, que com muita garra e determinação estava sendo admitido para fazer parte da elite da elite dos soldados: os guerreiros da corte, guarda-costas particulares de Sua Majestade.

    “Leve esta capa vermelha consigo em todas as ocasiões” – falou Yorik na cerimônia de admissão – “Ela servirá, em última instância, para que jamais um lutador comum veja o sangue de um guerreiro da corte”.

    Agora, porém, Arieswar não tinha mais o mesmo orgulho de ostentá-la. O rei a quem devia proteger estava tiranizando o seu próprio povo, já que os bárbaros haviam sido demasiado responsáveis para a soberania de Thais.

    Nos últimos meses a vida de todos, mas principalmente a dos quatro guerreiros da corte, havia mudado radicalmente. Agora sempre havia missões extraordinárias a se realizar, protegendo o rei ou altos membros do Senado, como o conselheiro Nantes, nas visitas a locais taxados de “inóspitos à presença real”. Em tais visitas Arieswar, Acanthurus, Dragonslayer e Hesperides viam a real situação que os governantes tentavam esconder através de documentos efêmeros.

    As condições de vida nos lugares menos fiéis a Thais, principalmente vilas na área de influência de Carlin, eram subumanas. As visões de miséria e desalento deixavam Arieswar enojado e o estopim de sua angústia acontecia sempre que era enviado a Svargrond, onde, ao fim de cada dia, a neve sempre estava tingida de sangue e o ar parecia mais pesado, carregado de doenças e morte.

    Como diria seu velho pai, caso cobradores de impostos thaienses não o tivessem matado, “o sangue é algo muito forte, meu filho”, e agora era o sangue do antigo menino marginalizado, que ele nem sabia que ainda existia, que pulsava tão forte em suas veias que fazia sua cabeça latejar.

    O impiedoso Arieswar, temido por seus adversários e acostumado com a morte, não resistia mais ao ver serem massacrados velhos amigos, conhecidos ou até estranhos. Ficava inconformado só de pensar que a maioria das pessoas que agora sofriam havia trabalhado firme para sustentar famílias que já não existiam, sonhos agora intangíveis ou apenas a liberdade, e, indubitavelmente, durante esse processo, contribuíram para a riqueza dos cofres thaienses.

    A válvula de escape para o guerreiro, que ao longo de sua vida sempre fora passar ao fio da espada os inimigos carlinianos que cruzassem seu caminho, se chamava Lynda, e, até pouco tempo podia ser encontrada num pequeno aposento sob a Igreja da Criação, cravada, e aparentemente esquecida, entre dois monumentos em homenagem a grandes reis passados na praça principal da cidade de Thais.

    Todas as vezes que havia tempo vago para ambos, Arieswar selava seu cavalo e rumava a igreja. Ele já sabia todos os horários de Lynda e sempre aparecia antes ou ao término dos cultos por ela realizados, quando era recebido com carícias e abraços. O sentimento entre os dois, meio às escondidas, era tão jovial que fazia florescer no peito de Arieswar um adolescente livre e desempedido. Não que ele não tivesse se divertido com as relações de apenas uma noite com as raparigas que sempre se ofereciam a ele, mas nunca seu peito parecera arder em chamas como quando estava com Lynda. Já para a moça, as visitas de Arieswar representavam um motivo para continuar ali, naquela velha igreja, onde seu passado aterrorizante nunca desapareceria.

    Esse assunto, aliás, já havia sido banido das conversas entre os dois. Lynda convencera o cavaleiro de que não era ainda o momento de abrir-se e revelar alguns dos suas confidências mais íntimas e ele respeitava sua opção. O que ele não podia era deixar de preocupar-se com a aparente vigilância que a sacerdotisa parecia receber.

    - Eu temo o que possa acontecer quando não estou por perto, Lynda.

    - Não se preocupe, Arieswar. – dizia ela – Nós dois somos sobreviventes. Estamos nesse mundo contra tudo e todos e apenas por nossa teimosia em continuarmos vivos e felizes. Aconteça o que acontecer iremos, no fim, ficar bem; e juntos!

    Aquela certeza de Lynda era algo inquietante. Ela aliviava o cavaleiro, mas o dava a impressão de que talvez ele não estivesse pronto para viver a vida caso as melhores profecias não se concretizassem.

    Agora, andando por aquelas ruas com sua capa vermelha a zunir detrás de si, ele viu que a verdade era mesmo aquela. O pior havia acontecido com a prisão de Lynda e ele não mais conseguia imaginar sua vida sem a moça. Os dois se completavam tão perfeitamente que parecia estranho a Arieswar como há apenas alguns meses ele se gabava por ser sozinho, poder experimentar um pouco de todas as mulheres e não ser responsável por nenhuma enquanto que, naquele momento, a única mulher que lhe dava prazer estava sob custódia do rei.

    Então era com o rei que ele deveria falar antes de tomar a medida final.

    Arieswar marcou um encontro com Tibiano na Sala de Reuniões II, onde Tibiano encerraria um tópico qualquer com alguns membros do Senado e depois ficaria à disposição do seu cavaleiro particular. Este, por sua vez, chegou no castelo bem cedo afim de não haverem imprevistos e notou que, como sempre, as pessoas abriam espaço para que ele passase pelos corredores mais estreitos; secretamente ele se perguntou se aquilo duraria muito mais tempo.

    Parando a frente da sala combinada, ele encostou-se no parapeito de uma janela e pôs-se a esperar. Se aguçasse os ouvidos conseguiria pegar detalhes da reunião de Tibiano, mas preferiu usar seu tempo para pensar nas palavras certas a serem ditas. Precisava ser firme e direto.

    Terminada a reunião, a ansiedade do cavaleiro aumentou ao ver saírem vagarosamente cada um daqueles convidados. Contudo, sabendo como as coisas se procediam quando se tratava do rei de Thais, continuou a esperar para ter a certeza de que a sala estava realmente vazia. Sempre havia, afinal, alguém que ficava mesmo depois de todos os outros irem embora, fosse para fazer algum pedido particular ao rei ou simplesmente bajulando-o um pouco mais. Quando finalmente os retardatários abandonaram a sala, Arieswar entrou, respirando fundo.

    - Feche a porta, por favor, Arieswar. – pediu o rei sem nem levantar a cabeça.

    Tibiano estava sentado à cabeceira, como de costume, e brincava com uma pena longa enfiada num tinteiro. Sua expressão era de quem havia envelhecido bastante em pouco tempo. As rugas estavam muito mais aparentes e os cabelos brancos se aglomeravam em generosos tufos tanto na cabeça quanto na barba. Seu olhar opaco poderia enganar qualquer um que não o visse brilhando de glória toda vez que o assunto Svargrond era tratado.

    Arieswar prestou-lhe uma reverência e contemplou seu semblante. Parecia desinteressado com o que quer que o cavaleiro tivesse para falar.

    - Só peço que se for para falar daquela mulher, poupe seu tempo. Nosso tempo, aliás.

    Arieswar hesitou. Foi uma ducha de água fria.

    - Me desculpe, Majestade, mas ela não é “aquela mulher” para mim e para isso peço a sua compreensão.

    O rei nada falou, apenas ficou em silêncio indicando que ele podia prosseguir.

    - Vim pedir-lhe pela última vez que a liberte. Não imagino quais sejam as histórias que se escondam sob o teto daquela igreja, mas creio que elas possam ser reversíveis. Como guerreiro da corte e prestador leal de serviços a Thais durante tantos anos, queria fazer-lhe esse pedido.

    - Eu reconheço sua importância para a nossa cidade, Arieswar, mesmo você não tendo sempre feito parte dela. – falou ele essa frase em tom paternal, porém duvidoso – Acontece que infelizmente não poderei realizar seu pedido, meu caro. Há muita coisa envolvida. Você nem faz idéia.

    - Então por que ninguém me faz ter idéia? Por Banor, sinto-me sendo tratado como um garoto.

    - Para não envolvê-lo ainda mais. Precisamos integralmente de seus serviços, e é melhor que não se exponha além do necessário. Afinal, você é...como Yorik falava mesmo? Ah, sim! Nossa “jóia” da coroa.

    Arieswar sentiu a falsidade de cada uma daquelas palavras. Estralou os dedos para conter a tensão.

    - Desculpe, Majestade, mas eu já estou envolvido. – falou ele, repetindo exatamente o que tinha dito para Lynda certa vez - Eu não posso apenas sair por aquela porta e fingir que nada disso aconteceu.

    O rei parecia cansado. Levantou-se da sua cadeira acolchoada e passou a mão pelo ombro de Arieswar.

    - Ouça bem, meu caro. – falava ele enquanto andava a esmo pela sala abraçado com o cavaleiro – Você deve realmente estar sentido com a falta dessa moça, mas não se esqueça de que não lhe conheci ontem, Arieswar. Você sempre foi um pássaro livre para voar! Devo reconhecer que você é bonito, jovem, cheio de prestígio e com todas as mulheres à sua disposição; não me venha com essa paixão sem causa.

    Ele não podia acreditar que estava ouvindo aquilo. Paixão sem causa? Era mesmo uma batalha perdida.

    - Então – falou ele, saindo do seu abraço -, se tenho mesmo tantas qualidades, talvez vossa Majestade pudesse gastar alguns preciosos minutos ouvindo o que tenho para falar. Estamos perdendo o controle de Thais! Pela primeira vez na história, ou pelo menos na minha história, estou vendo essa cidade não comandar as rédeas da situação. A prisão de Lynda me parece uma atitude tola de quem está desesperado a mostrar aos outros que está fazendo alguma coisa. Vossa Majestade quer passar a todos e a si mesmo a impressão de que está tudo bem, e não está!

    “Sei que vossa Majestade não é rei desse império por acaso e já deve ter percebido o que falei, mas vejo que peca ao deixar levar-se por essa onda de soberba thaiense. Svargrond é um erro! Há, como acabei de ouvir, ‘algo muito maior’ por detrás daquele ataque no dia da festa, e é algo que nem eu nem vosa Majestade conhecemos.”

    Tibiano ouviu tudo calado, como se engolisse um sapo a cada frase. Arieswar sabia que tinha ido longe demais, mas não se importava, pois sabia que mesmo que aquela conversa não fosse o suficiente para mudar a cabeça do rei, jamais teria o peso na consciência de que não fizera nada.

    Agora o mais poderoso dos homens thaienses o encarava, fuzilando-o com o olhar.

    - Você continua o menino desobediente do Porto Norte. É mesmo muita sorte que Banor ainda lhe dê essa habilidade fora do comum para as guerras, pois não fosse isso e seu lugarzinho aqui na minha cidade teria se perdido. Está dispensado!

    Ele prestou mais uma reverência e saiu da sala sem emitir mais um único som. Agora não haviam mais opções a não ser lutar. Seu sangue fervilhou de excitação.



    ****



    Certamente Nornur, o deus do destino, e Crunor, o deus da natureza, haviam compactuado para agirem juntos naquela noite. Chovia e relampejava constantemente, como numa advertência divina para que todos permanecessem na segurança de suas casas e não se arriscassem na escuridão, onde as entidades malignas se manifestavam com muito mais poder. Alheio a tudo aquilo, porém, estava Arieswar. O cavaleiro, sentado em sua poltrona, diante da lareira, fumava um charuto e tomava uma generosa taça de cognac em tom de despedida da casa que por tantos anos fora o seu lar e que, talvez, nunca mais fosse rever.

    Não só aquela casa, na aristocrata Avenida dos Magos, mas toda a Thais havia deixado de ser um lar para Arieswar. O cidadão thaiense, que por tanto tempo ele fingira – e acreditara – ser, agora saía de cena para entrar o velho garoto bárbaro do Porto Norte, que não compactuava com as atitudes imperialistas tomadas pela realeza. Nem mesmo os esforços de seus companheiros mais próximos o impediram de tomar a decisão derradeira de abandonar todo aquele teatro infernal no qual havia feito parte.

    - Por favor, Lynda, seja forte! – sussurou ele para si mesmo.

    À medida que o tabaco transformava-se quase que inteiramente em cinzas e a taça ficava cada vez mais vazia, a ansiedade crescia no peito de Arieswar. Olhando as grossas gotas de chuva escorrerem pela sua janela, ele ficou a pensar como faria o resgate da sua amada.

    Lynda fora levada à uma prisão especial localizada no subterrâneo do cemitério thaiense, chamado de Cemitério do Campo Santo, do lado de fora dos portões da cidade, a leste; uma informação obtida com muita dificuldade pelo cavaleiro. Certamente convinha muito mais ao rei prendê-la em outro lugar, talvez um local mais discreto, contudo certamente a soberba e o sentimento de invulnerabilidade dos membros da corte fossem tamanhos que eles ignoravam qualquer coisa que os desse demasiado trabalho de ser pensado em troca do seu bel prazer.

    Arieswar imaginava que os guardas de plantão no local não seriam fortes o suficiente para impedí-lo de chegar à cela de Lynda, porém premeditava que caso tropas extras fossem chamadas, ele estaria em sérios problemas. Obviamete que ele já dava como certo o fato de que pegaria a chave-mestra na mão de Pepelu e poderia com ela abrir as portas de segurança do local.

    Não era um plano brilhante. Mas era o único que tinha e, portanto, o melhor.

    Deu então uma última tragada no seu charuto e esvaziou a taça de cognac em um só gole. Sem nem se dar ao trabalho de apagar a lareira, vestiu uma grossa capa e pôs a mão na maçaneta para ir embora; não sem antes, contudo, dar uma última olhada para o resto da casa. Enfim, abriu a porta e saiu.

    Foi então que a surpresa o atingiu em cheio. Parado bem em frente à sua casa estava Pepelu.

    O arqueiro estava encharcado, porém parecia indiferente à chuva que caía. Sua expressão facial era de uma determinação além dos limites. Arieswar não soube bem o que pensar.

    - Pepelu – disse ele -, eu estava indo na sua casa agora. O que...o que está fazendo aqui?

    - Eu vou com você. – respondeu ele na mesma hora.

    Arieswar deu uma risada de incredulidade.

    - Você o que? Ouça, rapaz, eu não estou indo dar um passeio nem caçar javalis. Eu estou – e ele titubeou – indo fazer algo muito sério.

    - Não interessa. Eu vou com você.

    - Olhe, não quero perder meu tempo aqui nessa chuva. Não se meta em confusões, você tem uma família para sustentar.

    - Eu prometi a Diogo que tomaria conta da chave, por isso preciso pelo menos acompanhar de perto o que você fará. Ela vale muito para nós e acho que ele me mataria se eu a perdesse.

    Pepelu, no entanto, sabia que isso não era de todo verdade. Qualquer outra pessoa poderia sim querer matá-lo por ter perdido um objeto de tamanha importância, mas não Diogo. O capitão certamente passaria a mão sobre sua cabeça e o perdoaria pela sua falha, o que, para o orgulho de Pepelu, doeria muito mais que qualquer surra que podesse tomar. Ele estava cansado de não corresponder às expectativas.

    Arieswar não conseguia aceitar a idéia, mas como não tinha o tempo necessário para fazer aquele homem obstinado recuar, decidiu que seguiria sua vontade. Foi andando na frente e deixou que Pepelu o seguisse.

    - Então, onde está Lynda? – perguntou o arqueiro.

    - Atrás do Campo Santo.

    - Atrás do Campo Santo?! O cemitério?!

    - Sim, lá existe uma prisão para criminosos de baixa periculosidade. Acabou virando uma espécie de castigo para as briguinhas pessoais do rei.

    - Mas ela fica do lado de fora de cidade!

    - Eu sei, por isso já tenho um plano.

    E Arieswar contou a Pepelu, mesmo a contragosto, que durante a tarde havia usado da sua amizade com um dos guardas notrunos para que o deixasse sair por um portão lateral e que já deixara um cavalo pronto para o caso de precisar bater em retirada. Ao fim dessa rápida conversa, permaneceram em silêncio.

    Andando pela cidade, Pepelu notou como ela parecia estar vazia e sem vida. Claro que eles estavam perambulando pela madrugada de uma noite chuvosa, mas ainda assim há alguns tempos atrás haveriam homens bebendo nas tavernas ou comadres incansáveis fofocando à beira de suas casas. O ataque do monstro no dia de Fechar das Estações e suas posteriores consequências transformaram Thais numa cidade triste. Contudo, enquanto a população remoía a tragédia, o que não saía da cabeça de Pepelu era a imagem daqueles olhos profundos do homem na Igreja da Criação.

    Foi então que eles finalmente chegaram ao portão combinado entre Arieswar e o seu amigo guarda. Os dois nem se cumprimentaram, apenas entreolharam-se com cumplicidade enquanto o guarda abria espaço para a passagem.

    - Tem certeza de que quer fazer isso? – perguntou o cavaleiro a Pepelu pela última vez.

    - Agora não dá mais pra voltar, não é?

    E de fato não dava. O portão detrás de si fechou-se com um baque surdo e a realidade veio à tona para Pepelu juntamente com o cheiro de terra molhada. Estava do lado de fora da cidade, sem qualquer garantia que voltaria em segurança para ela.

    Deram uma pequena volta até chegar a entrada do Campo Santo, que, bem como qualquer outro cemitério, emanava uma espécie de medo inconsciente do desconhecido. Mesmo Arieswar, acostumado com a morte, se incomodava com a presença de algo imaterial e sombrio que parecia se propagar pelo ar e congelar os pulmões. Andaram mais um pouco, até que o cavaleiro fez sinal para que se escondessem atrás de uma lápide.

    - Ouça, Pepelu – sussurou ele –, estamos bem perto! Dá para ver aquela entrada ali? Uma que parece uma tumba?

    Pepelu esticou o pescoço e viu uma estrutura de pedra bruta sendo protegida por cerca de nove soldados que arrodeavam uma pequena fogueira. Gente demais para uma vigia notruna, pensou Arieswar. Os homens, porém, pareciam desinteressados e sonolentos; certamente não os soava como grande coisa guardar aquele lugar.

    - Apesar de estarem fazendo a proteção da entrada, estes são soldados inferiores, basicamente os responsáveis por chamar reforços em caso de incidentes. Por isso é essencial que acabemos com todos rapidamente. Eu vou em dois de uma vez e você atira nos outros, certo?

    Pepelu assentiu com a cabeça. Não estava nos seus planos matar ninguém, apenas atingir locais específicos para que eles ficassem impossibilitados de pedir ajuda. Preparou então seu arco e esperou o sinal de Arieswar.

    Tudo aconteceu muito rápido. O cavaleiro correu em disparada pegando os homens de surpresa, e enquanto seus cérebros ainda digeriam a informação de que havia alguém os atacando, as flechas de Pepelu cortavam o ar e os atingiam nas coxas e nos tornozelos. Coube a ele então apenas assistir o show de Arieswar, que com uma rara habilidade deixava-os inconsicentes como quem martelava pregos inanimados. Pepelu chegou a tremer pensando que um dia cometeu a loucura de lutar com aquele guerreiro.

    Feito o trabalho pesado, os dois se encontraram na porta da prisão.

    - Muto bem. – falou Arieswar, ofegante – Agora eu tenho que descer. Por favor me dê a chave.

    Pepelu tirou do bolso a chave mágica que aparentemente estava quebrada ao meio e entregou-a ao cavaleiro. Antes de o perder de vista descendo os degraus da prisão, contudo, ele murmurrou:

    - Boa sorte, Arieswar.

    A partir daí começou a angustiante espera de Pepelu. De onde estava ele não podia nem ver nem ouvir nada que se passava nos andares inferiores e apenas torcia para que Arieswar saísse de lá com Lynda - e sua chave - o mais rápido possível. Porém a medida que o tempo fora passando e isso não acontecia ele começou a ficar impaciente. Empilhou os soldados num canto por duas vezes até lembrar que eles estavam inconscientes e não mortos. Ficou observando a chuva que parecia finalmente diminuir e até jogou o arco em um canto para ficar brincando com suas flechas, amolando-as e cravando-as no chão. Foi enquanto fazia essa idiotice que aconteceu algo inesperado.

    Um guarda retardatário apareceu meio que cambaleante pela noite, talvez do encontro secreto com alguma mulher. Seus olhos correram de Pepelu para os os seus companheiros abatidos e imediatamente ele começou a correr em direção a Thais disparando rajadas de energia para o céu.

    Pepelu ficou nervoso. Esqueceu-se onde tinha deixado o arco e ao encontrá-lo não conseguia mirar direito. Respirou fundo umas duas vezes para focar-se no que estava fazendo. Ao finalmente montar sua arma, o homem já estava tão longe que seria difícil mesmo para um arqueiro de elite acertá-lo. Só que não havia outra escolha. Pepelu atirou.

    A flecha voou silenciosamente pelo céu negro. O guarda nem sequer notou que estava sendo atacado. Pepelu ficou a torcer.

    O resultado, porém, fora mais desastroso do que o imaginado. A distância e a força dos ventos, desviaram a seta da trajetória planejada e, ao invés de atingir uma das articulações do guarda, o que jogaria-o no chão, ela o atingiu direto na cabeça.

    Agora todo o corpo de Pepelu tremia. Matara um guarda da sua própria cidade. E talvez sem sentido algum, pois o homem havia feito um barulho dos infernos.

    As gotas de chuva batiam como pedras na cabeça do arqueiro, que procurava agir da maneira mais racional possível. Haveria dado tempo dos temidos reforços serem alertados? Talvez não, afinal ele estava ainda bem distante dos muros thaienses; mas talvez as rajadas para cima fossem um sinal previamente combinado. O mais certo seria fugir dali imediatamente, mas não podia fazê-lo sem avisar a Arieswar, ou mesmo sem pegar a chave. “Eu tenho que recuperar essa maldita chave”, pensou ele, afinal ela era o motivo da sua presença ali, e não podia deixar que tudo isso fosse absolutamente em vão. Então ele tomou coragem e pôs-se a descer os degraus que o levariam ao andar subterrâneo.

    Soldados caídos no chão e placas com números apagados foi tudo que Pepelu viu por entre os primeiros corredores mal-iluminados que passou. Chegou a pensar se não teria pego algum caminho errado até que identificou as primeiras celas. Correu por todas elas procurando por sinais de alguma que tivesse sido aberta, tombando no caminho em mais e mais soldados carcereiros e causando o maior rebuliço nos presos.

    - Alguém viu o homem que passou por aqui? – perguntava ele, aos berros – Alguém viu?

    Entre o tumulto generalizado ele ouviu respostas mandando-o descer ainda mais e com isso ele rumou novamente às escadas e chegou no que parecia ser, enfim, o último andar. Um corredor tão estreito quanto os outros o levava a uma grande porta branca, vizinha a uma cela que estava – para a excitação de Pepelu – escancarada.

    - Arieswar, até que enfim te achei, vamos sa...

    Mas ele nunca chegou a terminar a frase. Desta vez ele ficou tão apavorado que seu corpo não tinha forças nem mesmo para se tremer. O ar pareceu congelar e não havia como respirar, enquanto que as pernas ameaçavam desabar a qualquer instante. De fato até mesmo sua alma parecera esvair-se ao ver que naquela cela encontrava-se, além de Arieswar e Lynda, o homem da igreja.
    ...

  5. #55
    Avatar de ConanBrutus
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    Eu não tenho muito conhecimento do assunto para julgar a história, mas eu li todos os capitulos e achei realmente interessante, então tive que postar aqui pra deixar os meus parabéns ao escritor

    Esperando anciosamente o próximo capítulo^^




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  6. #56
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    Uma história visivelmente bem escrita, ainda mais pra quem já que era fã do outro Ferumbras.

    Também só vim dar os parabéns, tá favoritado, esperando próximos capítulos. Espero ver bastante ação!



    There's a place where the sun shines brighter
    There's a mountain that climbs to the stars...


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  7. #57
    Avatar de Kamus re
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    Galera, sumi por uns tempos por que estou novamente revendo a história, mas enquanto isso vou postar a que já estava escrita.
    Capítulo 10 - Ferumbras



    Não podia ser. Alguma coisa tinha de estar errada. Como estariam, naquela cela da prisão thaiense do Campo Santo, reunidos Lynda, Arieswar e o homem misterioso que a atacara na igreja na noite de Fechar de Estações? Não podia ser verdade!

    Mas era.

    O olhar desde aquela noite causara insônia a Pepelu estava novamente cravado em si. Olhos profundos, penetrantes, capazes de furar até uma rocha, faziam o mundo do arqueiro girar, enquanto que algo gritava em sua cabeça. Por um momento ele achou que fosse desmaiar, mas Arieswar segurou-o firmemente pelo pulso e evitou que Pepelu caísse para trás.

    - Se acalme, Pepelu. – falou ele sendo a própria voz incapaz de passar segurança – Está tudo certo.

    Está tudo certo? Como ele podia falar isso? Se havia algum lugar em toda a terra de Tibia e em todos os mares de Sula em que nada estava certo era ali.
    O que é que estava acontecendo afinal? Essa era a pergunta que Pepelu mais queria fazer caso a voz conseguisse sair de sua garganta. Enquanto isso o sujeito da igreja ia tirando seus olhos penetrantes de cima de Pepelu, aclamando um pouco o arqueiro, mas deixando claro que o havia reconhecido. Agora seus olhos repousaram em Arieswar, e ao cavaleiro perguntou, na mesma voz rouca que o arqueiro já ouvira:

    - O que este garoto está fazendo aqui?

    - Está comigo. Veio me acompanhar.

    Pepelu agradeceu a todos os deuses que o homem não voltou a encará-lo. Desde que ele se virou para Arieswar parecia que o ar havia voltado a ser respirável.

    - Há alguma coisa que eu possa fazer por você, Pepelu? – perguntou o cavaleiro.

    - Ignore-o, Arieswar. – falou o homem dos olhos profundos. Pepelu gelou – Dou um estalar de dedos para que esse infeliz suma daqui imediatamente ou sua alma vagará pelo Grande Vazio ainda hoje.

    Pepelu sentiu os cabelos da nuca arrepiarem-se. Precisava da chave. Por Banor, só isso que ele precisava.

    - Vi que ele prefere morrer. – sibilou o homem.

    Sem opção, Pepelu decidiu não contrariá-lo e subiu as escadas o mais rápido que pôde, tropeçando em metade dos degraus. Lamentava-se demais pela chave, por Diogo e até mesmo por Arieswar, embora, no seu íntimo, o arqueiro não reclamaria se o cavaleiro fosse pro inferno naquela noite. Apenas agradecia por ter saído vivo.

    Arieswar, o homem e Lynda ficaram observando aquela cena até o barulho dos passos de Pepelu e dos novos gritos dos prisioneiros cessarem por completo.

    - Então, onde estávamos? – perguntou Arieswar.

    O homem cruzou os braços e se endireitou para retomar com o guerreiro da corte a conversa interrompida pela chegada de Pepelu. Muito além dum olhar atormentante, ele evocava um poder inexplicável, que parecia emanar de todo o seu esguio corpo; começando das cicatrizes no seu rosto até as botas de couro brilhante.

    - Eu estava respondendo a você quem sou e o que estou fazendo aqui. Como já disse, meu nome é Ferumbras, mas antes de terminar devo parabenizá-lo pela sua atuação com aquele garoto. Você chegou mesmo a dar a impressão de que não estava com medo.

    Arieswar engoliu a provocação quieto, mesmo com Lynda apertando sua mão com mais força. Não havia muito o que fazer, afinal.

    - Mas, voltando ao assunto, o que acontece é que eu e sua namoradinha temos um certo...hã, assunto pendente. Tentei resolver isso no dia da festa de vocês, thaienses, porém admito que não aproveitei a oportunidade. Só não esperava que seu sábio rei, meses depois, fosse trazê-la a um local tão solitário e desolante, onde teríamos todo o tempo do mundo para conversar sem sermos interrompidos.

    - Você invadiu a cidade?! Você é o homem da igreja?

    - Foi uma exibição de gala, não foi? Me desculpe a falta de modéstia, mas, sim, fui eu.

    - Por quê?

    - Ora, Arieswar, todos nós temos nossos probleminhas com Thais. Você é um bárbaro também, deve entender isso.

    Mas Arieswar estava aflito demais para se concentrar nisso. Apenas olhava para Ferumbras enquanto se perguntava se seria esse homem realmente tudo o que parecia ser.

    - E Lynda? O que você tem a ver com ela?

    - Ah – falou ele com uma cara de desapontamento -, então ela não te contou? Bom, pode ser que tenha sido uma surpresa para ela também, mas já devia ter aberto o jogo. Ora, Lynda, é assim que você quer começar um relacionamento?

    A única reação da moça foi apertar a mão do companheiro com tanta força que as extremidades dos dedos de Arieswar quase estouraram de tanto sangue acumulado. Um grande pesadelo do seu passado estava vindo a tona, e ela não desejava que Arieswar –seu querido Arieswar – sofresse por isso.

    Eis que de repente um barulho corta a atenção dos três. Os gritos dos prisioneiros nos andares superiores recomeçaram e algo marchava apressadamente pelos corredores.

    - Os reforços chegaram. – informou Arieswar.

    Ferumbras tomou a notícia como se informado de que iria chover no dia seguinte. Descruzou os braços e foi se encaminhando vagarosamente para fora da cela.

    - Como sou um sujeito muito generoso vou deixar que o casalzinho tenha a oportunidade de discutir a relação. Estão vendo aquela porta ali? – e apontou para a única do corredor, grande e branca – Ela é uma saída de emergência. Vocês podem ir embora e refletir sobre a vida. A menos, é claro – e ele fez uma pausa para que ouvissem o marchar dos soldados -, que queiram assistir ao espetáculo.

    Aos gritos desesperados de Lynda, Ferumbras ergueu a mão direita para a grande porta branca e essa imediatamente ruiu como uma grande bolacha que se esfarela nas mãos de uma criança desastrada. Os poucos prisioneiros daquele andar corriam feito loucos por sua celas, batendo-se contra as paredes e rogando pelos deuses.

    - Parem onde estão! – falou o primeiro dos muitos guardas que enfim chegavam ao corredor.

    Sem querer saber de mais nada, Arieswar correu desenfreadamente segurando Lynda pelas duas mãos até uma grande escada em espiral que era a saída de emergência. Os primeiros degraus até cederam um pouco após serem pisados, devido à força do golpe de Ferumbras, mas isso foi completamente ignorado por eles. Todas as forças dos dois estavam voltadas inteiramente em escapar do lugar no qual agora, como podiam ouvir perfeitamente, estava sendo transformado em um grande matadouro de guardas thaienses.

    Ao fim da escada, eles deram de cara com um alçapão, aberto aos murros por Arieswar. A liberdade os recebeu com grossos pingos de chuva e muita lama. Ainda de mãos dadas, eles correram desenfreadamente até o cavalo que Arieswar havia sabiamente deixado amarrado a uma árvore durante a tarde. O animal, que tentava-se proteger por debaixo dos galhos mais grossos, assustou-se com os dois seres desesperados que agora montavam em seu lombo e o esporavam para que ele galopasse tão rápido quanto fosse possível.

    A medida que a grandiosa cidade de Thais foi se tornando uma pequena casa de bonecas muito iluminada na visão noturna, Lynda agarrou Arieswar firmemente, encostou a cabeça em seu ombro e começou a chorar.

    O cavaleiro, ainda com a cabeça cheia de dúvidas e incertezas, só pôde pensar nas noites em que seu caminho cruzava com o de Ferumbras e de como elas tinham o poder de mudar sua vida.

    ****

    Passariam-se horas e horas até que os sóis-irmãos, Fafnar e Suon, reaparecessem nos céus de Tibia, e por nem um segundo sequer o arqueiro Pepelu cogitou dormir naquela terrível noite. Como os portões da cidade de Thais permanceciam fechado até o amanhecer do dia, ele embrenhou-se em um dos bosques das redondezas e esperou, na copa de uma das árvores, que essa hora enfim chegasse.

    Sua cabeça fervilhava de pensamentos, que mesclavam a decepção por ter perdido a chave-mestra talvez para sempre, a curiosidade quanto ao que acontecera no Campo Santo após a sua saída, mas, acima de tudo, a felicidade por ainda estar vivo, mesmo sem a noite ter acabado.

    Por causa deste último fato, do alto daquela árvore Pepelu rezou, e muito, para todos os deuses e deusas que conseguiu se lembrar. Pedia sempre que o protegessem naquele momento difícil, que não fosse achado por ninguém e que tivesse a oportunidade de viver até o outro dia para que pudesse escapar de tamanho pesadelo junto com sua família.

    Por falar nela, toda vez que Pepelu lembrava-se que havia deixado Kala e Eurídice adormecerem tranquilamente, sem nem desconfiarem que podiam nunca mais vê-lo, ele chorava copiosamente. O que teria acontecido se ele tivesse morrido? Como ele pôde por em risco a vida das pessoas que mais amava em troca de uma maldita chave? Será que o inferno seria punição boa o bastante para um bastardo idiota como ele?

    O nascer do dia, contudo, deu a Pepelu a certeza de que as divindades atenderam suas preces.

    Ao descer até o chão ainda enlameado, e senti-lo sob os seus pés, ele enfim se deu conta de que pela segunda vez encontrara aquele homem misterioso e pela segunda vez escapara ileso. Será que muitas pessoas já teriam repetido esse feito? Será que Arieswar e Lynda entrariam para esse seleto grupo ou não? Concentre-se, pensou Pepelu, deixe Fafnar e Suon levarem, ao menos por agora, as lembranças daquela noite. Você ainda tem que voltar para casa.

    Ao ver um dos portões thaienses sendo abertos preguiçosamente por um guarda cansado da noite sem sono, Pepelu não pôde conter um sorriso. Estava de volta às ruas imundas, aos guardas rudes e ao filho de uma cadela do rei Tibiano. E estava feliz com isso,

    - Opa, opa! Alto lá! – repreendeu um dos guardas do portão ao vê-lo entrando – E você, quem é?

    - Eu sou Crispin Pepelu, filho de Martin, dono do Armazém.

    O homem pareceu pouco convencido. De fato Pepelu estava maltrapilho, parecendo um mendingo. Estava pronto para ser revistado e interrogado de cima a baixo.

    - Esse é o amigo do capitão Natharde, Yurzaf! – falou outro guarda, que vinha chegando por detrás – Minha nossa, meu rapaz, mas o que aconteceu com você? Anda apanhando da sua esposa, é?

    Ele sorriu, cansado. Incrível como Diogo o ajudava mesmo à milhas de distância.

    - Desculpem-me, mas tenho que ir.

    O arqueiro correu o quanto pôde até chegar na Travessa do Pântano, onde dirigiu-se até a famigerada casa de número 38. Na pressa, esqueceu-se até de onde havia guardados as chaves de casa, e enquanto perdia tempo procurando no molho aquela que abriria sua porta, Kala fez isso por ele.

    - Ai, graças aos deuses!

    Suas olheiras indicavam que ela era mais uma das pessoas que não havia dormido aquela noite. Certamente acordara em algum momento e, não sentindo a presença do marido na cama, ficou a esperar-lhe. Com Pepelu finalmente de volta, ela atirou-se em seus braços, primeiro chorando, depois dando-lhe a maior de todas as broncas que o arqueiro já recebera na vida.

    - COMO VOCÊ FAZ ISSO? COMPLETAMENTE IRRESPONSÁVEL! EU E SUA FILHA...

    O arqueiro, no entanto, estava ainda completamente transtornado. Beijou-a com toda a força, quase arrancando-lhe os lábios e depois se atirou dentro de casa, agora ignorando a mulher quase que completamente. Só de tocá-la por aqueles instantes sabia que tudo o que havia de valor ainda estava ali presente.

    - O que você está fazendo, Cris? Fale comigo!

    Mas o arqueiro não lhe dava atenção. Correu para o quarto, no segundo andar, e abriu uma mala onde começou a atirar roupas suas e da sua mulher. Depois abriu uma das gavetas onde guardava o dinheiro do casal e socou-o nos bolsos de qualquer maneira. Kala observava tudo muito assustada.

    - O que está acontecendo, Cris? Por favor, me responda!

    - Precisamos sair daqui. – falava ele, fazendo várias coisas ao mesmo tempo.

    - Por que? O que significa tudo isso?

    - Precisamos sair daqui, Kala! Onde está Eurídice?

    - Dormindo no berço. C, Cris, o que está havendo? Pelo amor de Banor, me
    responda!

    Mas ele só se preocupava em reunir tudo o que julgava importante o mais rápido que pudesse. Foi quando se encaminhava para o quarto da filha que batidas na porta cortaram seu raciocínio. Quem poderia ser àquela hora da manhã?

    Precavido, Pepelu sacou sua balestra e abriu a porta com um chute, exatamente com fizera quando recebera Arieswar em sua casa. E, exatamente como naquela noite, teve uma surpresa. Era Hesperides, o druida.

    - Abaixe essa arma, Pepelu, por favor. Eu sei de ontem a noite.

    O arqueiro obedeceu no mesmo instante. Seu rosto, suado e lívido de medo contemplava a imponente figura do grande druida. Atrás de si, Kala desatou-se a chorar.

    - O que é isso? – gritava ela – O que está acontecendo aqui?

    Aquilo foi para Pepelu como um tapa na cara, despertando-o para a realidade. Ele abraçou a esposa, tentando passar-lhe toda a segurança que podia e fez sinal para que Hesperides entrasse. Kala não merecia passar por tudo aquilo, muito menos Eurídice, e ele decidiu que a partir daquele momento suas vidas teriam de se tornar mais tranquilas.

    - A senhora me desculpe se estou sendo incoveniente. – falou o druida, apaziguando o ambiente – Pepelu, se pudéssemos conversar a sós.

    - Não. Vamos conversar aqui mesmo. É mais que direito de Kala saber de tudo.

    Hesperides assentiu com a cabeça. Os três sentaram-se.

    - Na verdade, Pepelu, eu preciso saber exatamente o que aconteceu. Assim que os portões foram abertos, recebi um menino em minha casa que havia sido pago por Arieswar para me procurar e contar-me uma história um tanto quanto fantasiosa. Agora eu quero a sua versão.

    Pepelu coçou a cabeça. Mal começara um novo dia e teria de reviver momento a momento daquela noite angustiante que vivera. Entretanto, era melhor que ele se acostumasse, pois a partir daquele dia o homem da igreja seria muito mais presente em sua vida.


    ****


    O canto dos pássaros cortava os céus daquela tímida manhã do período de Saída. Nessa estação do ano, uma das três do calendário thaiense, as terras cultiváveis iam reaparecendo, já que encontravam-se escondidas pelas águas que enchiam durante a época anterior. Agora, muito mais férteis e ricas em nutrientes levados pelos rios, logo essas terras seriam usadas na semeadura, que, embora fosse uma ação humana, tinha resposta imediata da natureza. As aves, por exemplo, sempre desciam ao solo procurando sementes recém-plantadas, na maioria das vezes com muito êxito, empanturrando-se de alimento. Os predadores dessas aves, por sua vez, atentavam-se a esse fato e aproximavam-se das áreas cultiváveis. Isso levava a um aumento considerável no número de pequenos felinos e outros mamíferos, sendo a de semeadura ideal para a caça esportiva.

    Às margens do Rio das Pedras, porém, não haviam aves. Praticamente intocada pelo homem, a região, entre Kazordoon e Ab’Dendriel, era submetida ao domínio élfico. Apenas uns poucos desses seres arrogantes a ponto de se dizerem a criação final do deus Uman podiam transitar por aquelas terras misteriosas com o total consenso dos seus habitantes legítimos. Arieswar era um deles.

    Após diversas missões para o local sob a tutela dos reis thaienses, o guerreiro cativou até mesmo os frios elfos e conquistou deles o respeito e admiração. Agora, em apuros, essas criaturas mágicas o cederam uma pequena casa de pau-a-pique próxima ao Rio das Pedras onde ele “poderia pernoitar com a adorável moça que o acompanhava e descansar o cavalo no qual montavam”. O problema é que, preocupado com a harmonia entre as partes, Arieswar poupou dos elfos o detalhe insignificante de que não mais era um comandado da coroa - muito pelo contrário, estava fugindo dela.

    Contudo agora isso não importava para ele.

    Tudo que o exausto cavaleiro queria era dormir um pouco e esquecer tudo que passara aquela noite, mas isso não foi possível. Mesmo em seus sonhos as terríveis imagens de Lynda encarcerada, de Ferumbras e seu massacre e da sombria cavalgada durante a noite ainda o pertubavam. Sendo assim, o melhor que ele pôde fazer foi sair e caminhar sem rumo pelos grandes bosques cortados pelo Rio das Pedras.

    Observando os primeiros raios dos sóis cintilarem nas águas turvas do rio que se originava nas rochas da cidade de Kazordoon, ele resolveu dar um mergulho revigorante. Tirou a jaqueta, a camisa, o codpiece e ia tirando as calças, quando, para sua surpresa, ouviu o tintilar da chave do capitão Natharde.

    A primeira reação de Arieswar foi cair na gargalhada, se despir por inteiro e dar um bom mergulho no rio. A ida de Pepelu, afinal, havia sido inútil. O bastardo esteve a ponto de ser morto a troca de nada. Era realmente algo engraçado de se pensar, mas no fundo o cavaleiro sentia um pouco de pesar. Não que ele se importasse muito com a vida de Pepelu, mas ficaria triste em saber que Kala e a menina – como é mesmo o nome dela? – estariam desamparadas.

    Após sair do rio, sua companhia até os sóis ficarem altos no céu fora seu cavalo castanho chamado Aslan, um Puro Sangue Thaiense, raça escolhida a dedo para o guerreiro. Era alto, com o lombo quase do tamanho de Arieswar, forte e bom para longas viagens. O cavaleiro ficou a monologar com ele por um bom tempo, já que Lynda havia conseguido dormir, talvez por já ter passado noites piores na prisão, e Arieswar não queria incomodá-la. A moça só reapareceu muito depois, quando o cavaleiro e sua montaria repousavam sob a copa de uma grande amendoeira.

    - Bom dia. – falou ela timidamente.

    Arieswar abriu um sorriso. Depois de tanto tempo ele finalmente voltava a ver aqueles cabelos dourados brilhando à luz do dia.

    - Bom dia. Você está bem?

    Ela balançou a cabeça em sinal de positivo e sentou-se ao seu lado num dos grandes rochedos que margeavam e davam nome ao rio.

    - Me desculpe por tudo que eu estou fazendo você passar, Ari.

    Ele respondeu passando o braço por seu ombro, abraçando-a como não fazia a dias. Lynda apoiou a cabeça em seu peito e sentiu, por uns instantes, que todos os problemas do mundo haviam passado. Todos, menos um.

    - Ari...por favor...

    - Me ouça, Lynda. – interrompeu ele – Já falei que estamos juntos nessa. Podemos estar correndo o maior dos riscos, mas vamos fazê-lo juntos. Você me entendeu?

    - Você...não conhece Ferumbras.

    - Mas você conhece! Não sei o quanto, nem o porque, já que você nunca teve coragem de me contar, mas se houvesse algo realmente inevitável de se saber garanto que você já teria me falado. Ou não?

    Ela parou um pouco, fechou os olhos e respirou fundo. Seus cabelos loiros e ondulados dançavam conforme o vento ressaltando os traços do seu rosto.

    - Você nunca se perguntou o porque da Igreja onde eu moro ter pertencido sempre a minha família, desde o começo dos tempos?

    - Já, mas nunca descobri. E olhe que eu procurei nos arquivos do governo, mas eles não constavam muita coisa.

    - Eles foram apagados, segundo disse o meu pai. – respondeu Lynda prontamente – Nossa família vêm mantendo junto aos reis thaienses um segredo desde o surgimento da cidade.

    Arieswar demorou uns segundos para entender aquilo. Surgimento da cidade? Da cidade de Thais?

    - Talvez você já tenho ouvido a fábula dos dois irmãos, Ari. Uma história infantil que os pais thaienses contam aos filhos. Uma sobre uma fonte mágica...você a ouviu quando criança?

    - Fonte mágica? Bem, no Porto Norte eu conheço a da Fonte da Sorte, seria essa? Uma que dois amigos procuram a fonte que daria coragem ao medroso da dupla?

    - Sim! – exclamou ela – Mas a versão original fala de dois irmãos, sendo que um era doente, e não medroso, e a fonte lhe daria saúde. Creio que os finais sejam iguais.

    Arieswar lembrou-se de ter ouvido o conto há muitos anos e Lynda fez questão de contá-lo novamente. A busca, a princípio sem resultado, dos irmãos para encontrarem a fonte acaba gerando muitas desavenças entre eles. Quando a relação entre os dois está pior do que nunca o mais novo resolve fugir e acaba encontrando numa gruta a sonhada fonte. O problema é que dois poderosos magos a guardam, e cabe ao mais velho eliminá-los. Feito isso o irmão mais novo pode banhar-se nas águas que o curariam das enfermidades, mas algo estranho acontece e ele cai morto. O irmão mais velho, desesperado, ouve de um dos magos derrotados que esse é o preço que se paga por usar da fonte sem ser escolhido pelos deuses. Haveria, contudo, um jeito de reverter a situação; bastava o irmão vivo aceitar trocar de lugar com o mais novo.

    - Mas você não morrerá de imediato! – falou o mago, ele mesmo desfalecendo – Seu irmão era muito frágil, mas você, saudável, há de resistir para penar até a morte por ter usado da fonte sem ser merecedor.

    E a escolha do irmão mais velho foi feita. A vida do mais novo, a partir daquele dia, foi longa e venturosa, sem que ele jamais soubesse que apesar de todas as desavenças e brigas o amor fraternal havia feito o seu irmão salvar-lhe a troco da própria felicidade.

    - É uma bonita fábula. – falou Arieswar – Poucos fariam o que ele fez.

    - Pois é, Ari, mas acontece que não é apenas uma fábula. Os irmãos da história são meus ascendentes.

    O cavaleiro tentou prender a risada.

    - Acredite, Ari! Esse é o segredo que guardamos a tempos! Esse caso foi transformado propositadamente em fábula para que as pessoas a olhassem assim. As vezes os maiores segredos são os que colocam bem embaixo do nosso nariz.

    Fazia sentido.

    - Mas...qual o motivo disso estar escondido a sete chaves até hoje? E o que tem a ver com Ferumbras?

    - O grande problema é que a fábula só conta a história até aí. Acontece que o mais velho passou o sangue dele adiante, e desde então seu fardo vem se repetindo em minha família de geração em geração, ora como benção, ora como maldição.

    Arieswar arregalou os olhos.

    - Como...como assim?

    - Não sei. – disse Lynda com os olhos já lacrimejantes – Só sei que algumas pessoas da nossa linhagem nascem com estranhos poderes, entre eles o de...reviver alguém.

    Aquilo não fazia sentido. Como algo podia ser passado adiante daquela forma? Seria Lynda abençoada ou condenada à desgraça?

    - Então, Ari – continuou ela, chorando -, você imagina o quanto nossa família foi perseguida e manipulada por causa disso. Uns crápulas thaienses nos trancafiaram naquela Igreja e nós passamos a ser obejto de observação até hoje. Acho que isso por si só já é uma maldição!

    - E você, Lynda? E quanto a você?

    - Minha vida, Ari, foi salva. Outro sacríficio, mas em condições totalmente diferentes. Eu tinha uma irmã; aliás...não tinha, tenho! Nela se manifestou a magia, então meu pai...- e ela começou a chorar copiosamente – meu pai...ele a deu quando éramos muito pequenas!

    - A deu? – Arieswar sacudiu a cabeça com violência – Como assim a deu? Pra quem?

    - Adivinhe!

    As mãos do cavaleiro gelaram. Não, não, não. Não podia ser!

    - Ferumbras!

    Uma cortina de ferro havia sido arrancada entre Arieswar e Lynda. Mesmo
    nas suas mais pessimistas suposições ele não havia sido capaz de pensar em algo tão profundo e inquietante. Não à toa a sacerdotisa se jogou em seus braços, chorando e apertando-o tão forte como se quisesse unir os dois em um só corpo.


    ··Hail the prince of Saiyans··

  8. #58
    Avatar de ConanBrutus
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    Muito bom Kamus, parabéns
    E se você cair eu posso até não conseguir te segurar, mas com certeza te ajudo a levantar!

  9. #59
    Avatar de San Shuriken
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    A melhor historia do forum!!
    Continua postando aew man

  10. #60
    Avatar de Kamikashi
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    Não sei se você ainda entra por aqui Kamus,Mais queria lhe pedir O ultimo capitulo da historia antiga do Ferumbras Porque ontem li tudo de uma vez,e quando cheguei no ultimo capitulo já não abria mais,queria lhe pedir se você poderia mandar o capitulo 22 (ultimo) para mim novamente.

    Obrigado.

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