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Tópico: Contos do Concurso Melhor Conto 2008

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    Mão de Deus



    Ezequiel mais uma vez acendeu um cigarro. Sentiu o gosto amargo descer por sua garganta. Soltou uma baforada de fumaça. Sabia que aquilo poderia comprometer sua missão. Não estava nem um pouco preocupado. Tinha feito um rascunho, em sua casa, de prioridades:
    1-Cigarros
    2-Pistas
    3-Objeto
    4-Silêncio
    5-Chicletes
    6-Inimigos
    Como o item 1 poderia comprometer o item 2, ele tinha que ter cuidado dobrado. O item 6 era o mais difícil, e por isso ele tinha o deixado como último - a preguiça sempre reinava.
    Uma placa de ''PROIBIDO FUMAR'' se destacava logo à frente do museu. O seu relógio paddle, ainda que digital, era bonito. Azul e prata, apesar de a prata ser apenas pintada. Marcava 7:30 da noite; o guarda balofo na entrada do museu, que cobrava os tíquetes, já estava cansado. Fácil. Tirou o cigarro da boca e gentilmente deixou-o cair, ainda aceso, na lixeira. Aproximou-se do gordo, estampando o melhor sorriso que sua cara permitisse; os olhos verdes - de Ezequiel - por detrás dos óculos meia-lua brilharam ao vislumbrar a lanchonete ao lado da cabine de comprar a entrada.
    - Para você comprar alguma coisa para comer - Ezequiel falou, colocando delicadamente uma nota de cinqüenta no bolso do guarda, enquanto dava uma piscadela. Ele liberou a entrada, fazendo uma careta.
    Teria sido muito mais fácil comprar o tíquete barato? Sim. Mas isso asseguraria que o guarda não colocaria a língua para fora nas interrogações (já que ninguém era burro o suficiente para entrar em um museu faltando trinta minutos para fechar). Alisou o cabelo oleoso, castanho-claro, antes de colocar a touca vermelha. Passou pela entrada e deu uma olhadela geral, tirando uma foto mental.
    Primeiro andar: Esculturas. Sem proteção, porém com uma faixa de segurança delimitando o espaço em que ninguém podia se aproximar. Deveriam ter vários alarmes ali. No centro havia um diamante, mas um vidro de segurança o cobria.
    Segundo andar: Pouco dava para ver dele, ali embaixo. Mas sabia que era o setor só de quadros, e isso levava ao...
    Terceiro andar: Poucos sabiam da existência de um terceiro andar.
    As câmeras de segurança estavam fixadas por todos os cantos. Sorriu apaticamente, desta vez com certeza que tudo daria certo; fechou o zíper da jaqueta volumosa e, portanto, quente.
    Ele ficou parado alguns minutos: O relógio marcava 7:40 agora. Os alto-falantes transmitiram: '' Favor, clientes, se prepararem pare se retirar em quinze minutos. Agradecemos a visita, voltem sempre''.
    Um domingo de verão frio. A combinação perfeita de coisas ruins. Só poderia ser pior se fosse segunda. Mas não havia nada que pudesse abalar o ânimo de Ezequiel naquele dia.
    Andou pelo corredor, os visitantes agora todos se arrumando para ir embora. Subiu a escada, o mais rápido que suas pernas de gazela permitiram; estava no segundo andar em poucos segundos. A entrada estritamente proibida para pessoal não-autorizado estava logo no fim dos quadros dos anos setenta; ela levava para o terceiro andar.
    Ficou frente a frente com a porta, deixando que o olho mágico ficasse logo à sua frente. A porta se abriu com um clique.
    - Entra, entra. - falou animado o rapaz de cabelos louros e uniforme azul (esta roupa colocada de modo desajeitado por cima de outra vagabunda) do lado de dentro da sala. - Não tem câmeras aqui.
    Ezequiel balançou a cabeça afirmativamente, obedecendo-o. Era uma escadaria. Abriu a jaqueta e passou-a para seu primo, que por sua vez livrou-se do traje de funcionário. Ambos trocaram as vestimentas, mas ambos continuaram com suas jeans.
    - Não se esquece, Marcelo. Coloca o capuz e a touca. Não podem desconfiar que você não seja eu.
    - Sussa - passou o molho de chaves para o homem do relógio paddle, que adentrou na sala; Marcelo saiu correndo.
    Ezequiel agradeceu silenciosamente que tudo estava correndo conforme o combinado. Subiu um lance de escadas e adentrou a porta. Pegou a caixinha de chicletes da calça. Comia uma de sabor menta; dava-lhe uma vontade de fumar cigarros, apesar de ter começado a comer chicletes para parar de fumar. Acendeu outro e tragou ali mesmo, no depósito.
    Havia caixas e mais caixas de tralhas, quadros, esculturas quebradas, estantes abarrotadas de mais tralhas e caixas, e, no centro da sala, quatro computadores lado a lado. Caminhou até um deles: Vigília. Uma tela gigantesca tinha imagens de todas as câmeras. Não se importou muito com as outras, mas visualizou que uma era dos alarmes, outra ainda com as câmeras e a última estava muito longe para que ele pudesse ver somente sob as luzes fracas do monitor.
    Pegou mais um chiclete. Cuspiu o outro na lixeira, junto com o cigarro. Não tossiu porque o vício viera à tona não fazia muito. Sem touca, seu cabelo caía despretensioso por cima dos óculos.
    Repassou mentalmente o que faria quando saísse dali: O guarda cairia fora assim que ele estivesse do outro lado do museu, porque era o dia que Marcelo deveria fechar. Ezequiel sairia com algo de valor: Entraria no Civic, trocaria de roupa com Marcelo - já que os vidros faziam com que fosse impossível de se enxergar por fora o que acontecia lá dentro -, e o mesmo iria fechar a loja. Nesse meio tempo, Ezequiel entraria no fusca dirigido por seu irmão, deixando o que fosse que ele teria roubado no Civic.
    Começou a abrir os caixotes, fuçar as tralhas e gavetas. Não havia muito mais do que papéis, formulários, peças inutilizadas ao redor. Lá por volta das 8:20 tinha achado um anel de brilhantes que deveria não ser vendido a mais de 20 reais por uma loja de bijuterias. Guardou-o no bolso, e após isso desistiu de procurar naqueles arredores. Estava avançando para a outra estante quando viu, acidentalmente, um par de tênis Nike novíssimos que deveriam ter sido esquecidos por ali. Trocou seus sapatos pela nova descoberta e por via das dúvidas, foi no banheiro da despensa - anunciado por um letreiro de ''banheiro'' - e deu descarga em seus velhos companheiros de caminhada (não tendo certeza qual era seu objetivo ao fazer isso), deixando-os ali.
    O que ainda o preocupava não era achar um objeto realmente valioso, e sim conseguir sair tão tarde com as câmeras ligadas e não ser identificado quando estivessem assistindo à tarde. Ezequiel prometeu a si mesmo que nada aconteceria. Ele conseguiria finalmente ter uma vida próspera e de riqueza e conseguiria pagar o tratamento para o câncer do pai.
    - Ó, Deus, me dê uma mãozinha. - sussurrou, rezando baixinho como sempre fazia quando precisava. Em horas de que não precisava de nada, era ateu.
    Enquanto procurava por mais algo que valesse a dor de cabeça, pensava no que a lista realmente significava para ele. Fora um momento de inspiração, e depois lhe soou como algo escrito por um completo desconhecido. Acontecera a exata mesma coisa no momento em que planejou o assalto. Pôde relembrar claramente do momento:
    Marcelo chegou em casa, com aquele sorriso de maníaco que ele usava quando acontecia algo importante - algo muito importante. Ezequiel e seu irmão ficaram chocados ao saberem que o primo havia sido promovido (imagina, um inútil daqueles, agora com um cargo importante!):
    - Mano, tu nem sabe das novas. Agora eu não sou mais carregador. Trabalho organizando o estoque e colocando fora as coisas inutilizáveis. E o melhor: Tô ganhando quase dois paus por isso!
    Naquele momento, Ezequiel teve um sobressalto e dispôs-se a levantar o traseiro magro do sofá e pegar um bloquinho de anotações: Escreveu tudo de forma que só ele entendesse e pudesse explicar para os dois comparsas depois.
    Aquilo explicava muito bem o estado em que o depósito tinha ficado.
    O item dois - pistas - era o que ele poderia deixar de identificável. Pensou nos cigarros e nos chicletes - meu Deus!, se fizessem um teste e descobrissem que fora ele o criminoso, pela saliva, estaria arruinado. Para aliviar a tensão, acendeu outro cigarro.
    O três obviamente significava o que ele iria roubar. O item quatro deveria significar silenciar o guarda, coisa que Ezequiel já tinha feito. O seis muito provavelmente queria dizer sobre as câmeras.
    Levou um tempo até perceber que estava se engasgando com um chiclete. Cuspiu a massa verde em suas mãos, a saliva escorrendo por seu queixo quadrado. Limpou apressadamente e colocou o chiclete mascado no bolso. Aos poucos, uma brilhante idéia pipocou em sua mente. Saltitou por entre os espaços vazios até os computadores enfileirados e deu uma olhada no único que não tinha visto. Abriu um largo sorriso.
    Havia uma tela exigindo uma senha. Aquele deveria ser a central que Marcelo tinha falado - poderia controlar todo o museu a partir dali. Só o dono sabia a senha, mas não custava tentar.
    Ao mexer o mouse, um espaço em branco exigia a senha. Começou digitando chefe e variações, partindo até a segunda mais famosa seqüência de números: 654321. Teve vontade de rir ao ver que havia dado certo. Após mexer nos programas por um tempo - passavam facilmente das 8:35 naquele momento - descobriu a função de desativar as câmeras. O suor começou a brotar das axilas de Ezequiel. Não podia ser assim tão fácil.
    Tinha que haver alguma armadilha.
    Havia uma armadilha, ele podia apostar sua vida nisso. Passou agressivamente a fralda da camisa por cima do mouse e do teclado (novamente não tendo certeza se isso iria mudar alguma coisa, mas o fazendo de qualquer jeito). Havia desativado as câmeras e os alarmes.
    Resolveu deixar isso de lado, mas permaneceu apreensivo; Saiu do depósito, tropeçando volta e meia na escuridão. Ao achar a saída, a luz forte quase o cegou por um instante, suficiente para ele soltar um grito rouco.
    Recuperou a postura e se lembrou do diamante do primeiro andar. Absorto em seus pensamentos, apenas percebeu que estava ao lado do objeto ao dar um encontrão na parede. A preciosidade ficava logo abaixo de um pedaço quadriculado no segundo andar, dando uma visão do teto de lá. Massageou levemente as costelas. Inspirava devagar e expirava rápido demais. Acendeu outro cigarro. Passaram-se mais de cinco minutos até Ezequiel apagá-lo e colocá-lo no bolso. Vislumbrou o diamante branco, brilhante, bonito, com uma forma de quase-triângulo.
    Cumprindo a ordem de prioridades, deu uma última respirada, quase tranqüila, serena; tirou o avental de Marcelo que estava usando e o enrolou na própria mão, soqueando o vidro que cobria o diamante logo em seguida. A mão, um pouco ensangüentada, continuou coberta pelo traje de funcionário. Que se fodesse aquilo. Precisava obedecer à ordem, tinha certo padrão que ele deveria cumprir - sentia que deveria ser assim.
    Com a esquerda, sã e salva, envolveu a mão coberta de suor na superfície gelada do diamante. Juntou mais um item para sua pequena coleção no bolso da jeans: Anel, chiclete, cigarro, diamante.
    O item quatro pronto, sentiu-se obrigado a cumprir o quinto. Pegou a caixinha onde o último chiclete se encontrava, mas estava nervoso demais e a deixou cair. Agachou-se para pegá-la, e viu que o Nike estava desamarrado. Levou quase dois minutos fazendo um nó perfeito (que não ficou tão perfeito assim). Pegou o Trident e estava retirando uma unidade lentamente, com um bocejo na ponta da língua, quando escutou um barulho alto no teto. Instintivamente, olhou para cima, no momento em que calhas e tijolos se desprendiam e caíam em uma espiral estranha, sobrenatural.
    De início, Ezequiel ficou estupefato. Mas não teve tempo de ficar ainda mais quando o buraco alargou-se em questão de segundos, um imenso punho surgindo da poeira e cacos do teto. Um pedaço de tijolo desprendido bateu no ombro do assaltante, que começou a gritar; uma fileira de sangue vertia do machucado. Voltou a olhar para o estranho local onde estava seu atacante. Percebeu que ele recuperava forças para dar mais um ataque: Deveria ter acontecido o mesmo no terceiro andar. Que mão estranha poderia estar vindo do céu?!
    A segunda investida que Ezequiel presenciou foi ainda mais brutal: O punho se abriu e foi descendo rápido, fechando em cheio no homem (a mão cobria quase todo ele, fora a cabeça que ficara solta). Todo seu corpo doía. Em meio ao caos e ao terror, Ezequiel foi puxado para cima, mais objetos batendo em seu corpo, fazendo-o desmaiar, a poeira cobrindo-lhe o rosto, o museu desabando; a pele do jovem estava tão negra de sujeira quanto a mão gigante. Os óculos quebraram.
    E a mão foi puxando, puxando, chegando à mais alta das nuvens, onde desapareceu por completo. Depois de alguns instantes, Ezequiel foi largado dos céus, acabando de acordar do desmaio; a descida vertiginosa resultou que o homem foi espatifado no chão.
    E seu último pensamento foi que se tivesse comido menos chicletes, poderia ter uma vida muito melhor, morrendo sufocado com o pulmão em brasas daqui a alguns anos.

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    Última edição por Emanoel; 31-07-2009 às 21:32.

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    Meia-noite



    - Kenius.
    - Sim?
    - É aquele homem – Afirmou o velho barbudo e careca que estava ao meu lado.
    - Entendido, velho. Encontraremos-nos na taverna em uma hora, agora me deixe sozinho aqui para observar o alvo.

    Desceu. O tempo era meu. Um cavaleiro cinqüentão descansava junto aos outros convidados daquela decadente festa. Aliás, tudo ali era decadente; não só os convidados como o local também. Eu mesmo estava receoso de estar pendurado naquelas paredes podres. Pior, estar sendo segurado por uma merda de corda arranjada pelo velho e esta, amarrada nas velhas armações protegidas pelas telhas igualmente antiquadas. Mas de que me interessava o lugar, afinal? O que realmente me trouxe para aquele casarão discreto era o peculiar evento que lá dentro ocorria, e um convidado em particular.

    - Mas já vai?

    Assim que percebi o movimento do faceiro cavaleiro antes apontado, pus-me a subir pela corda até alcançar o telhado. Saída. Pela trajetória que o vi fazendo, concluí que se dirigia para a porta dos fundos. Tomando cuidado para não quebrar as frágeis telhas por onde andava, consegui chegar do outro lado do teto. A noite conseguiu me surpreender novamente. De onde eu estava, era possível enxergar a porta dos fundos, logo abaixo dos meus pés. Frente a ela, a surpresa: dois soldados que vestiam as roupas da guarda thailense. O que faziam os seventes de Gregor ali, esperando a porta ser aberta?

    Melhor era aguardar para ver o que os subordinados do general de Thais fariam. Não tardou e a porta foi aberta. Discretamente o faceiro apareceu, fez um cumprimento militar, e, discretamente, lhe foi entregue uma caixa. Logo após, o tal fechou a porta voltando para o interior do casarão, e os soldados viraram-se para ir embora. Era a hora de agir.

    - Jim, ouviu algo?
    - Não... Por quê?
    - Juro que ouvi um barulho de folhas em movimento...
    - Se está dizendo, vamos voltar e conferir.

    A certeza do sucesso veio quando os dois guardas ingênuos voltaram-se novamente para o casarão. Na busca de algo em torno do carvalho, ao lado da construção. Aproveitei a brecha para sair de meu esconderijo no alto. Um dos guardas foi o amortecedor de minha queda. Antes que o outro pudesse gritar, passei-lhe o sabre pelo pescoço, fazendo sim um ruído, um gemido, nada que me comprometesse.

    - Bingo.

    Após vestir as roupas do primeiro, pois as vestes do segundo estavam inteiras banhadas e sangue de pescoço, escondi os dois corpos atrás de um arbusto. Só para ter certeza, enfiei um punhal no peito do guarda desacordado, desencargo de consciência. Bati novamente na porta, os segundos que viriam a seguir determinariam a missão.
    Sim, o faceiro novamente abriu a porta:

    - Algum problema, soldado?
    - Você.

    Missão concluída. Aquele loiro vaidoso, com aparência divina, apensar da idade, cuspia sangue enquanto minha arma letal penetrava seu abdômen. Nem uma simples palavra soltou. Pelo cabelo, o levei para junto dos cúmplices, não podia, afinal, manchar-me com sangue de assassinato. Embora tivesse concluído o que me fora mandado, iria além. Pegaria a maldita caixa estranha, me cheirava a problema, sendo que vinha pelas mãos thailenses. Mas creio que isso não seja mais do seu interesse, Senhor Ville.

    - Kenius, não creio que esteja em condições de omitir coisas.
    - Senhor Ville, eu detesto dizer isso mas, tudo que saberá é o que eu falei, afinal de contas o tempo que perdeu me ouvindo garantiu a minha vida.
    - Do que está falando, Beson?

    Jogou seu peso para a esquerda, caindo junto à cadeira onde estava amarrado, quebrando o frágil móvel. Todo o tempo em que contava o que todos já sabiam sobre o que havia acontecido algumas horas atrás Kenius Beson aproveitou para notar as peculiaridades da sala, não só detalhes como a cadeira, mas também o lustre que enfeitava o teto acima de onde estava e a belíssima Katana que, dentro de usa bainha, adornava a parede da saleta. Assim, ao chão com a cadeira despedaçada, persistia amarrado, quando percebeu que o carrasco que o assistia segundos atrás o golpearia com a espada, rolou com o intuito de deixar as cordas à mostra, que foram cortadas, vista a impossibilidade do homem de conter a arma, uma vez impulsionada.

    Livre, mas ainda deitado, girou o corpo dando uma rasteira no interrogador, que caiu deixando a espada ao chão também. Beson levantou-se então, foi até a linda Lâmina oriental da parede, tirou-a de sua bainha harmoniosamente adornada com pedras preciosas, e jogou-a rumo à corda que segurava o lustre ao teto. O magnífico ornamento caiu parcialmente destruído sobre o homem.

    - Foi um prazer conhecê-lo, e, sobretudo enganá-lo, senhor Ville.

    Assim que saiu da bela sala, voltou ao ambiente velho e antiquado do resto do casarão, estava no segundo andar. Correu para a direita, encontrando a escada que levava ao térreo, mais ninguém estava ali. Desceu-as e rumou para a porta dos fundos, alguns metros à frente passando por outro cômodo. Respirou fundo para acalmar o corpo e saiu do local num semblante calmo, discreto. Foi andando até o destino traçado, não demorou a chegar.

    - Demorou, Kenius Beson...
    - Desculpe... Tive um pequeno problema, velho. Agora vamos ao pagamento.
    Última edição por Emanoel; 31-07-2009 às 07:51.

  3. #3
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    Memória Pilchada



    Rua cheia, céu nublado, vento frio – do tipo de brisa leve que, úmida, anuncia a proximidade da chuva...

    Um homem caminha com passos firmes e barulhentos por entre as vendas de quinquilharias e as pessoas absortas em seus próprios afazeres tediosos. Exótico e confortável em suas vestes, contrasta com a multidão de paletós, suéteres e saltos-altos: Seu poncho alegre e multicolor, uma longa manta tradicional de um algodão felpudo – herança deixada por índios peruanos ancestrais - o cobre do pescoço onde pende o lenço até as botas cobertas de lama seca.

    No meio daquele mar de desconforto, gravatas apertadas e pés espremidos em sapatos o homem parecia um bicho estranho, deslocado do seu habitat. O ritmo das suas passadas é lento, sua expressão serena.

    Tudo em volta é frenético, porém: os outros andam como se a própria calçada ou os prédios demandassem pressa, opressores.
    Ele, ao contrário, anda e observa. Nada parece escapar ao seu olhar manso, como se procurasse por algo. Mas não parece haver nada ao redor, nada de vivo para ser achado – apenas fumaça cancerosa das chaminés ambulantes, suor, concreto e ânimos de ódio.

    Enfim, algo digno captura a sua atenção: Um menino pequeno, eufórico, brinca de cavalgar em seu potro imaginário, montado em meio cabo de vassoura. O garoto passa por entre as pessoas dando ordens para seu cavalo, e parece não notar o que se passa ao seu redor – o mundo em sua cabeça é, certamente, muito mais interessante que o real.

    Essa visão o deixa admirado - ele pára de braços cruzados e apenas observa. No seu rosto marcado pelas agruras da meia-idade subitamente se nota um sorriso maroto e juvenil, daqueles que a face de um tolo não poderia exprimir – e também inconcebível para os velhos de espírito.

    Após se aproximar da criança sem tirar os olhos dela, o Xirú se agacha e diz, amigável:

    -Ei guri!

    O garotinho então vira-se para ele, puxando as “rédeas” com força para manobrar o “cavalo” bravo.

    -Mui formoso o teu cavalo, - Ele encara levemente o pequeno, esperando para ver a sua reação, mas o jovenzinho mantém-se calado. Ele era um “estranho” para o pequeno, afinal, em muitos sentidos e aspectos. Meio temerosa, a criança olha interrogativamente para um senhor muito barbudo a poucos metros de distância: Seu pai, que não percebe nada – ocupado demais a comparar os preços de uma vitrine. O olhar da criança permanece sem resposta.

    O Xirú continua a falar, insistindo na conversa:
    -Entonces, o que quieres ser quando crescer?

    O pequeno pensa por um brevíssimo momento apenas, e então olha bem nos olhos do outro como quem olha para um amigo. Resoluto e agora sem consultar ao pai, ele responde com característico entusiasmo infantil, abrindo bem a boca e os olhos – tinha a resposta na ponta da língua:

    -Quero ser um grande herói! Como os da tevê!

    O homem primeiro esboça um largo sorriso, mostrando que gostou da resposta, e em seguida ri às gargalhadas, chamando a atenção de todos ao redor - que olham desconfiados e repreensivos. Nessa cidade, nem mesmo o som da alegria é bem-vindo.

    Após um momento a risada se dissipou no ar como fumaça e, sorrindo de boca aberta de modo a mostrar bem os dentes amarelados, o homem do poncho diz:

    - Um grande herói, sim! Sabe, piá, heróis eu conheço alguns – Novamente o sorriso maroto de antes brota em sua face, tão naturalmente como a água cristalina que brota da terra nas montanhas.

    O homem do poncho, ainda sorrindo e agachado, fica pensativo por alguns segundos a olhar seu interlocutor, que agora já se prepara para puxar as rédeas e sair a galope. Por fim, dá um forte e sonoro tapa no próprio joelho, fazendo o menino pular de susto, e fala feliz:

    Ahá! Pois então, guri, que seja!

    E dizendo essas palavras, sutilmente cobre os olhos da criança com uma das mãos calejadas e ásperas.

    .......


    Por alguns instantes, tudo vira escuridão para o menino - seus olhos nada vêem. Uma emoção profunda toma conta do seu ser, e por um instante ele se torna livre e uno com o universo, enquanto é engolido por um silêncio absoluto. Logo após sente muito frio, como se a própria matéria do seu corpo perdesse quase todo o calor, e seus sentidos ameaçam falhar, indicando a proximidade da morte.

    De repente, justo quando tudo parecia chegar ao fim, ele sente seu próprio corpo novamente. Retornando à vida, respira fundo como quem emerge após um longo tempo sem respirar, desesperado.

    Algo havia mudado. De alguma forma ele percebeu que nada mais seria como era antes, e por um segundo ficou na penumbra, no limiar inalcançável do real que se situa exatamente entre o passado e o futuro. No segundo seguinte, voltou a sentir algo à sua volta, e novamente ficou preso à realidade, separando-se de todo o resto...

    Sente-se um tremor no ar, seguido do estrondoso som de um canhão fazendo fogo. Um instante após, outro som o envolve: Como se fossem o oceano, tomando conta de toda a percepção, muitas vozes masculinas em coro gritam com toda a potência de seus pulmões - era o brado furioso de muitos homens da guerra. Assustado, com o coração na boca batendo muito rápido, o garoto abre os olhos e vê novamente.

    Extasiado e sem acreditar no que seus olhos lhe mostravam, fica boquiaberto: As ruas de pedra morta e as nuvens tristonhas não estavam mais lá. Em seus lugares ficou apenas um gramado verde-acinzentado que, coberto de orvalho, dança com o vento minuano sob um céu vermelho banhado pelas primeiras luzes do sol. Olhando em volta, nota que está montado numa bela égua malhada e inquieta que, nervosa, mexe as patas e ameaça relinchar. Percebe também que é seguido de perto por canhões e homens de todas as cores de pele, entre os quais estavam centenas de outros cavaleiros empunhando lanças e armas de fogo, em formação militar.

    Ele agora já era adulto, suas feições infantis e a pele imaculada deram lugar a barba e bigode malfeitos e um rosto bem marcado, com ossos proeminentes e cicatrizes de muitas batalhas. O sabre pesado na sua cintura estava pronto para ser desembainhado, e parecia ter vida própria, desejoso de ser empunhado.

    Do outro lado do campo vinham outros gritos. Embora não se pudesse ver a sua origem, se aproximavam rápido – eram as tropas inimigas.

    Embora a situação fosse inexplicável e confusa, nada parecia estar errado. Ele tinha lembranças de uma vida inteira, campos verdes e primaveras percorridas em cima do lombo de cavalos. Aquela era a sua vida, e sempre havia sido. Nem em seu coração ou sequer em sua mente havia dúvidas.

    Sem que ele percebesse, todo resquício de memória do seu antigo e barbudo pai, do cabo de vassoura, da cidade agonizante: tudo perdia nitidez e sumia rapidamente, de volta ao pó – quando ainda era palpável aquela realidade era vazia, mas agora nem o vazio restava. Enfim, uma última memória passou pela sua mente, suave e discreta como o vôo do beija-flor: O som de uma gargalhada alegre, um olhar amável e um poncho multicolor.

    – e assim a antiga vida perdeu-se nas sombras eternas para nunca mais ser achada, nem sequer nos pesadelos de noites solitárias e frias sob a lua.

    Não havia o que temer e ir adiante era a única alternativa, afinal, pois todos ao redor esperavam suas ordens.

    – Assim a criança se perdeu, nunca existindo.
    Em seu lugar ficou o homem, o capitão:
    Aquele que - em algum momento - morreria em batalha, e teria seu nome esquecido.
    Aquele, a quem - mais tarde - alguns chamariam “herói”.
    Última edição por Emanoel; 31-07-2009 às 07:52.

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    Paladinos



    Os Cavaleiros

    Em uma terra longínqua, onde criaturas rodam a espreita de suas pressas, surgi um grupo de seres humanos.
    Os humanos sofrendo nas mãos de criaturas tentam se defender de todas as formas, então surge um ser humano que se dedica sua vida na arte da batalha.
    Com muito sofrimento, treinando sua força, sua habilidade na luta corpo a corpo, este ser humano consegue elevar sua resistência em altos níveis, e consegue aumentar sua vida em proporções enormes, podendo lutar em condições onde seu corpo já machucado pelos danos.
    Eis ai, surge o cavaleiro que domina a arte no manejo de espadas, machados e bastões.
    Ele ensina novos adeptos, só que pela complexidade dos manejos, muitos opta por uma das classes de luta corpo a corpo, uns cavaleiros escolhem a arte da espada, outros a arte do machado, outro a arte dos bastões.

    Os Druidas

    Os seres humanos, agora com cavaleiros para defender sua tribo, podiam se defender de seus predadores, mas, houve uma época onde uma pequena tribo de humanos foi cercada por Orcs, eles estavam presos em uma caverna sem comida, passaram semanas de fome, muitos debilitados chegando ao auge da loucura.

    Nesse momento um garoto começou a imaginar comida em sua mente, a fome era tanta, ele pensava e pensava até que em uma palavra ele conseguiu retirar de sua mente a comida e materializar, foi nesse momento que descobriu que tinha habilidades mágicas.

    Os cavaleiros que defendia a caverna onde estavam presos, sofriam grandes danos, mas esse rapaz concentrava nos cavaleiros imaginando que eles estavam curado, e novamente conseguiu tirar de seus pensamentos e tornar a situação em realidade.
    Assim, estes bravos humanos, conseguiram eliminar os Orcs e sairam do seu cativeiro.

    Neste dia em diante, o menino começou a se concentrar e meditar, elevando sua espiritualidade em níveis elevados, porém, sua vida não se desenvolveu como de um cavaleiro.

    Os feiticeiros.

    Em pouco tempo, o jovem druida ficou mestre das magias, e resolveu ensinar novos adeptos para auxiliar os cavaleiros curando-os.
    Um jovem aprendiz, que aprendera os segredos das magias, estava caminhando, e avistou um Orc shaman inconsciente.

    Em um instante, ele resolveu a matá-lo, mas olhando para aquela pobre criatura que não pudera se defender, ele resolveu ajudá-lo, foram dias levando comida e escondendo ele dos outros seres humanos.
    Ao retomar a consciência, o Orc Shaman se sentiu muito grato, e ensinou as artes das trevas para esse garoto.

    O garoto aprendeu a invocar criaturas do nada, aprendeu a manipular elementos das trevas.
    Assim surgia o Primeiro feiticeiro.


    O Brilho no Olhar

    Foi em uma manhã chuvosa que um grupo de humanos tiveram a idéia de construir uma muralha para isola-se das criaturas.
    Pedra sobre pedras, foi ganhando forma.
    Os Orcs e Ciclops tentavam invadir a cidade, mas, cavaleiro se posicionavam nos portões, e com auxilio dos druidas e os ataques tenebrosos dos Feiticeiros, eles manteram a cidade segura.

    Uma garotinha via com um brilho no olhar os bravos guerreiros defendendo os portões.

    Com seus escudos, os cavaleiros bloqueavam a passagem para que as criaturas não passassem.
    Os druidas atrás dos cavaleiros, curavam as feridas, assim criando uma muralha humana impenetrável.
    Finalizando com ataques que causavam danos gigantescos, os feiticeiros atacavam sem piedade e as criaturas, uma a uma iam caindo ao solo.
    A garotinha era filha do chefe da aldeia, seu nome era Elane.

    Elane sempre curiosa e aventureira era muito ansiosa, e desde cedo queria ser guerreira.


    A tentativa


    Elane quando completava 14 anos, decidiu ser uma guerreira, e começou a ter aulas para se tornar uma. Aprendeu a elevar sua resistência, aprendia a se defender com escudo, sua vida desenvolvera em níveis elevado, mesmo assim, ela não conseguia tirar a cena dos druidas que ficavam atrás dos cavaleiros curando as feridas com o poder da mente. Enfim desistiu das aulas para ser uma guerreira e começou a ter aulas para ser uma druidisa.

    Com os druidas, aprendera a desenvolver seu poder espiritual em níveis altos, também aprendeu a obter comida com o poder da mente, e várias magias de cura.
    Sempre empolgada, lembrava dos grandes feiticeiro da aldeia atirando magias nas criaturas.
    Não teve outro destino, a garotinha desistiu de ser druida, e foi ter aulas para ser feiticeira.
    Com o tempo, Elaine aprendeu a utilizar magias negras, através de pedras especiais.

    Com o poder da mente, ela conseguia a criar runas que podiam explodir a terra, era a famosa fire ball.
    Com tanta informação, e pela metade, Elane conseguiu elevar sua vida e seu poder espiritual em níveis elevado, porém, menor vida que um cavaleiro e menor poder espiritual que os druidas e feiticeiro.
    Elane tinha habilidade de defesa com os grandes guerreiros.
    Surgia assim, uma nova Classe de Guerreiro.

    Aventura de Elane


    Com seu espírito aventureiro, Elane deixou a proteção das muralhas que construíram, para conhecer as terras inexploradas. Caminhava em uma trilha perto de uma montanha, onde avistou Orcs e Ciclops que iam ao seu encontro, ela defendia dos ataques, e com magias, curava suas feridas, porém, como nunca teve um treino prolongado no manejo de armas e não conseguiu completar os treinos nem dos magos nem dos druidas, era o máximo que conseguia.
    Os golpes cada vez, mas fortes, a energia espiritual ia se esgotando, suas feridas já não era mais curada, seria o seu fim?
    Quase se rendendo acreditando que sua aventura acabaria nesse momento, viu um dos Orcs caindo por terra.
    Já tonta de tanta dor, começou a ver Ciclops e Orcs um a um caindo por terra, não estava entendendo como as Criaturas estavam morrendo sem que ela fizesse nada, foi quando avistou um grupo de Elfs Scout e novamente um brilho se propagaram nos olhos da menina.

    Os elfs cuidaram de suas feridas, ensinaram a utilizar Arco e Flechas, e também como ela poderia fabricar Flechas com o poder da mente.
    Elane era muito talentosa, aprendeu rapidamente novas magias, conseguiu até criar uma flecha especial, com a habilidade para fabricar runas de fireball que aprendera com os feiticeiros e a habilidade de fabricar flecha aprendida com os elfs, ela conseguiu juntar as duas, e desenvolveu a magia para criar uma flecha que ao atingir seu alvo, explodia, ela a chamou de Burst Arrows.

    Após aprender tudo que podia com os elfs, ela partiu da cidade dos elfs, hoje conhecida com Ab’dendriel, em busca de novas aventuras.
    Ao caminhar para o sul, avistou uma criança, cercada por Orcs.
    Ela puxou seu arco e com uma velocidade quase inacreditável, extinguiu com todos os Orcs.
    Foi acudir a criança, e descobriu que não se tratava de uma criança, mas sim um anão.
    O anão contente por ela ter salvado sua vida, ele levo-a para sua cidade entre as montanhas, conhecida hoje como Kazordoon.

    Nesta cidade, os anões apresentaram a Elane uma arma mais poderosa que seu Arco e flechas, era uma Besta que atirava dardos.

    Elane não teve problema em se acostumar com a nova arma, e pode aprender a magia onde de sua mente, poderia materializar dardos instantaneamente.
    Elane, já sentindo falta de sua famila, retornou ao lar, se deparou com uma cidade já construída, hoje é conhecida com Thais, a capital tibiana.
    Elane sempre lutava em nome da justiça, defendendo aqueles que necessitava, e com essa nova vocação, ela se denominou Paladina.

    Os rebeldes

    Elaine ensinava novos adeptos a vocação, porém, começou a surgir um confronto onde mulheres não queriam que os homens aprendesse a arte de Elaine, alguns homens com mente em destruição foram banidos e se refugiaram nos mais diversos lugares, alguns se denominam de caçadores (hunter), outros utiliza a arte da distância e magias de invisibilidade com muita eficiência, são conhecido como Assassinos.

    Algumas mulheres por não aceitarem homens decidiam partir da cidade e fundaram a tribo Cobra-Crânio nos pântanos, são conhecidas como amazonas e valkirias.

    Magias Sagradas

    Elaine escreveu em seu diários como aprender magias sagradas e outras que aprendeu com os feiticeiros e druidas, esses diários estão espalhado por todo o continente, recentemente achara um diário onde Elaine revela o segredo das magias caldeira divina, divene magic missel entre outros, onde os diários estão no poder dos alquimistas de edron.
    Algumas magias caíram no esquecimento, os diários foram perdidos, tais como utilizar scroll, fabricação de runas magic missel, runas de fire boll. Outras estão para ser revelada.

    Elaine se tornou um simbolo, hoje o mais alto cargo de um paladino é o título de Elaine, e só pode ser atribuido a uma mulher.
    Última edição por Emanoel; 31-07-2009 às 07:55.

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    Par ou Ímpar



    E logo depois, no salão, o único som remanescente era o das pessoas, gritando, perplexas pelo ocorrido. Gritos, gritos, gritos...

    ...


    Quase toda história tem um herói. Pois bem; meu conto também terá. Um aspirante a herói.

    Seu nome? Não é necessário dizer. Não mudará os fatos aqui narrados.

    Sua idade? Não precisa ser mencionada. Basta saber que é um pouco velho.

    Heróis não surgem por acaso; precisam de acontecimentos perigosos, terríveis, para aparecerem, nascerem, como uma fênix.

    E, aqui temos o cenário perfeito.

    Onze horas da manhã. Ou meio-dia. Talvez até já fosse uma da tarde, não sei. Local: Um banco. Qual? Onde? Um qualquer em algum lugar. Senhores, isso não é importante!
    O que nos interessa - me interessa - é o nosso herói.

    Ah, claro, tem que ter o vilão!

    Quem é? Alguém que decidiu assaltar um banco. Um tolo desprovido de qualidades interessantes. Um bandido medíocre, ignorante, estúpido. Pela aparência, diria que é até bem fraco, e excessivamente magro. Enfim, alguém que, com essas características, nunca seria um ser perigoso.

    Porém, ele tem uma arma.

    Então, é o vilão.

    Nosso herói está indefeso. Ajoelhado no chão, com as mãos cobrindo sua cabeça carente de cabelos, tendo a coxa de sua perna esquerda o remoendo de dor. Treme, diz palavras desconexas, intraduzíveis. E tem uma arma apontada em sua direção.

    Um gato cercado por um rato.

    Claro, nessas condições nunca imaginaríamos que ele seria o salvador, o protagonista; parece ser uma reles vítima, que morrerá sem causar aflição ao leitor, ou gritará, sem ser notada.

    Aliás, que pensamentos rodeiam alguém quando se encontra em desesperadora situação?

    Se eu disser aqui de todos os reféns – que a propósito, são nove – demoraremos a chegar à conclusão disso tudo. Vamos focar nele.

    Ele, não pensava em si mesmo, em sua proteção. Altruísmo; qualidade básica para ser um salvador!

    Imaginava a mulher, imaginava o filho. Não poderia morrer covardemente e deixá-los sozinhos, sem ter como se sustentar.

    Dia infeliz para se pegar um empréstimo! O terceiro no ano, vale ressaltar...

    O que significa que nosso protagonista passava por dificuldades. Outra característica marcante, fundamental, para ser... Vocês sabem.

    Dívidas. Relacionamento com a esposa esfriando. Para se aliviar um pouco, para, por um momento, esquecer de tudo, jogava. Mas jogava apostando dinheiro. E isso gerava dívidas. E o relacionamento com a esposa esfriava mais. E para se esquecer de tudo, jogava...

    Carro vendido. Casa hipotecada. Filho, que antes ia a uma escola particular, tendo que se contentar com o precário ensino estadual.

    Preciso esmiuçar mais a vida deste pobre ser?! Este miserável que desconhece há tempos o significado da palavra felicidade?! Não vou mais humilhá-lo, não! Ele é nosso herói!

    E, ao que parece, será consumado por uma bala vindo de uma arma de uma pessoa igualmente ou até mais incapaz e fracassada do que ele.

    Só que... Estar encurralado não significa, necessariamente, estar perdido. São nesses instantes que vemos do que somos capazes ou não. E aqui, senhores, vão presenciar o despertar do real ser desse real perdedor!

    Ele pensa, medita. Analisa. Chora, também, sua de medo e pavor. No final, é só um humano...

    Olha para o seu inimigo – o vilão! – com olhos marejados. O vilão rebate, com um olhar inquieto, avermelhado. Difícil dizer quem está mais amedrontado.

    Repara a sua volta os outros “companheiros”, que se encontravam nas mesmas condições, nas mesmas posições. Um rezando, outro chorando, outro fazendo nada; parecia até já estar morto. Inúteis, serviam só como vítimas...

    Ele pensava. Pensava nas infinitas possibilidades que lhe surgiam para conseguir desarmar seu opressor; e pensava também nos infinitos resultados. A maioria, ruins.

    Permanecer como um covarde, esperar pelo socorro da polícia que, do lado de fora, esperava também, ou fazer algo de útil pelo menos uma vez, mesmo que não ganhasse nada com isso? Dúvidas, dúvidas, dúvidas...

    Além da coxa, seus pés também começavam a doer; muito tempo ajoelhado. Desejava fazer algo para acabar com tudo, e logo. Mas seu bom senso dizia que não, “Espere a polícia”; porém a vontade de sair dali imperava “Vai pra cima dele!”; contudo a arma apontada para si sussurrava “Não se mova!”; mas seu coração desejava rever sua esposa e filho “Vamos, faça algo!”. Estava numa batalha interna, decidindo – tentando decidir – o que fazer.

    Enquanto deixamos nosso herói sozinho com seus pensamentos, vamos nos aprofundar no vilão, que ocasionou isso tudo.

    Por que ainda estava ali?

    Porque era burro.

    Entrou no banco. Ninguém reparou nele – e quem repararia em tal ser insignificante? – passou apressadamente pelo corredor dos caixas automáticos, de cerca de vinte metros de comprimento. Apenas duas pessoas na fila, esperando passar pela porta-giratória. Rende uma, agarrando-a pelo pescoço e apontando uma arma de brinquedo; deixa a outra escapar, se preocupando mais com o policial posicionado do outro lado da porta, surpreso. O bandido passa, a refém também. Conta uma, duas, três... Dez pessoas no banco. Rende todas, levando-as para o salão principal. Deixa o policial, desarmado – pegara a arma para si - observando a porta-giratória, para que impedisse a entrada de qualquer um que chegasse, dando alguma desculpa qualquer. Exige o que veio buscar, dinheiro. As mulheres do caixa demoram um minuto, dois, cinco, para abrir o cofre principal. Ele fica impaciente. Impaciência que se junta ao nervosismo que o corroia desde o início – novo no ramo - e o que faz não perceber que um jovem rapaz, uma criança, praticamente, escapara de suas mãos. Ela estava ajoelhada ao lado de nosso herói.

    Notou tal fato tarde demais. Culpou o nosso protagonista, “Por que o deixou ir, seu imbecil?”, “Por que não me avisou? Por quê?”, gritava.

    Não comandava mais o espetáculo.

    Como forma de expressão por seu desapontamento e irritação, chuta fortemente a coxa esquerda de nosso personagem principal. E ele, gritou, repeliu o ataque? Não, ficou lá, parado, aguentando tudo; tinha ajudado um rapaz a fugir, e isso era um tranquilizante para seu sofrimento!

    Nosso vilão agora está com medo, “A polícia virá logo” pensa, algo raro. O cofre fora aberto; corre até ele, aliviado, feliz como uma criança ingênua. “Não, não.”, decidira mandar os caixas pegarem o dinheiro; mais sensato. E é o que ordena. Resolvera observar mais de perto nosso herói; não quer cometer o mesmo erro duas vezes...

    E aponta a arma em direção a sua cabeça.

    Contudo, tarde demais; a polícia chegara, bloqueando tanto a entrada principal quanto a dos fundos.

    E agora vilão, o que fará?

    Pensa, pensa, pensa. Os reféns agora são sua moeda de escambo com os tiras; não pode simplesmente eliminá-los. Nem iria, se não fosse necessário. Nem queria ter reféns, se fosse possível. Tudo isso por causa de dinheiro; tudo isso por causa de...

    ... Dívidas.

    Sim, dívidas. Era um débil completo, dominado pelo vício das drogas. Em suma, um viciado que não tinha dinheiro para pagar o que devia, e, tendo uma arma – de brinquedo - e uma mente limitada, decidira roubar um banco. O primeiro que viu, sem nem antes planejar.

    Por isso e todo o resto, era burro.

    Jovem. Solteiro. Branco, negro? Que diferença faz?

    Está pálido. Transpira. Lágrimas se precipitam de seus olhos, excessivamente avermelhados, irritados.

    Olha para nosso herói, que o encarava e murmurava algo que não conseguia entender. “Maldito”, pensa. Quer matar seu carrasco, que complicou um roubo que lhe parecia ser simples e rápido. Mas seria pior para si, tirar a vida daquele homem. “Não, não, antes ser preso apenas por roubo e sequestro do que por roubo, sequestro e homicídio”, reflete.

    Admito, senhores, que ele até tem inteligência. Só que mal aproveitada.

    “Você está cercado!”, grita um representante da ordem e da justiça, do lado de fora.

    Um telefone branco, localizado numa mesa usada para receber os clientes, toca. Uma vez, e assusta o vilão. Duas vezes, e faz ele pensar se atende ou não. Três vezes, e vai em sua direção. Quatro vezes, e o pega. Era a polícia.

    Nosso herói... Havia chegado a uma decisão. Determinou, oficializou, que enfrentaria o ordinário assaltante. Não pensou em erros; não tinha em mente que seu ataque poderia falhar, e que com isso, sua vida ficaria em risco. Permanecer como um covarde não lhe soava melhor do que tentar agir ferozmente contra alguém armado.

    Iria atacá-lo por trás, enquanto estivesse no telefone, mudo, calado. “Quem seria?”, se perguntou.

    Nosso inimigo só ouvia, não falava. A polícia o assustava.

    Decidiram ser diretos, sem rodeios, sem se curvar a uma pária da sociedade. De forma resumida – e que nos interessa, apenas - disseram algo como “Mate um refém que seja, e ficará trinta anos na cadeia. Se entregue, e apenas alguns anos o aguardam dentro de uma prisão. Você tem meia-hora. Ligaremos de novo”.

    Ou qualquer coisa assim.

    O ultimato.

    Desliga o telefone. O herói recua. Não era a hora, ainda.

    Nosso vilão sofrera o baque. Atordoado pelo que ouvira, estava em frangalhos, mentalmente.

    “Desista. Desista.”

    A arma em uma das mãos. A outra vazia, mas cerrada, contendo todo seu ódio, tristeza, amargura.

    “Não... Não...”

    O combate se iniciara dentro de si! Não queria se entregar, não desejava ser preso. Mas como sair dali com as mãos carregadas de dinheiro e, principalmente, liberdade?

    Pensou em pegar alguém e levá-lo rua afora, apontando uma arma em sua cabeça. A polícia certamente não o deteria. Mas, e depois? Para onde correria? Como, aliás, se livraria deles? Não, idéia descartada...

    Imaginou se matar, e acabar com seu sofrimento. Até para um ser como esse, é um ato vil o suicídio! Deixou de lado...

    Pensou, pensou. Vinte minutos se passaram, e sua mente não se encontrava muito diferente de vinte minutos atrás.

    Enfim, achou uma saída; poderia sim, se render. Sem ter matado ninguém, ficaria pouco tempo na prisão, e quando saísse, por vontade da justiça ou por vontade própria, faria algo – ou seja, tentaria roubar novamente - para pagar o que devia.

    Não era uma decisão boa, mas dentre todas as que tinha, era a menos pior.

    “Desisto.”

    O mesmo telefone, toca novamente.

    “É agora.”, pensam os dois, vilão e herói.

    O inimigo anda lentamente, cambaleante, em direção ao telefone. Nosso herói, só prestando atenção em cada movimento e cada gesto dele.

    “E então?”

    Era a polícia, como esperado.

    E agora, nosso herói, tem seu momento de rendição, de glória, de deixar de lado os erros tolos cometidos! Seria o salvador daquelas pessoas desconhecidas! Provavelmente, assim que tudo acabasse, imaginava, teria uma vida melhor, mais digna. Sua mulher o olharia com afeição. Seu filho o admiraria tal como deve ser para com um pai. Deixaria de jogar, já que, além de dinheiro, não teria mágoas nem motivos para isso. Teria seus 15 minutos de fama na mídia, seria reconhecido pelo que fez. Mas o mais importante, teria também seus 15 minutos – ou mais, ou menos, dependeria dele depois - de felicidade, ao lado de quem amava.

    Porém, tal como o desespero completo fecha nossos olhos, impedindo de ver as portas que poderiam ser a saída do infortúnio; o êxtase total, também, nos faz ignorar as armadilhas e cega nossa percepção das coisas. Se nosso herói tivesse prestado um pouco mais de atenção; se, não estivesse em um grande júbilo interior pensando nos resultados – positivos - de seu ato; se tivesse esperado só mais alguns segundos, teria ouvido nosso vilão dizer, no telefone...

    “Eu me rendo.”

    Mas não ouviu.

    Nosso herói correra em direção ao inimigo. O inimigo estava surdo a tudo à sua volta. Dois seres, perdidos, inferiores, acabavam de, ao mesmo tempo, tomar a maior decisão que já tomaram em suas vidas infelizes!

    O herói chegara por trás do vilão e agarrara seu pescoço. O pressionava com toda a sua – pouca – força.

    O vilão, desnorteado, confuso, derruba o telefone, procurando um modo de se soltar, tentando achar um meio de parar seu agressor. A arma, a arma! Em sua mão esquerda, ela estava. Tenta levantá-la, tenta mirar numa pessoa que nem via!

    Mas o herói se encontrava preparado. Tirando um dos braços do pescoço de seu inimigo, agarra firmemente o pulso esquerdo do mesmo. O segura, o levanta, e o bate na ponta da mesa onde antes estava o telefone.

    O vilão grita de dor, abre a mão, derruba a arma no chão. Mas, tendo menos pressão em seu pescoço, consegue, agora com as duas mãos livres, se soltar das garras do salvador.

    Olha para trás...

    “Você!”, diz, vocifera, com a voz falha.

    O vilão vira todo seu corpo, e dá um soco no nariz de nosso herói, que cai no chão.

    Gritos...

    Nariz ensangüentado. Orgulho ferido. Vontade e raiva ainda maiores.

    O vilão procura a arma, única fonte de salvação, de tão fraco que era! Não podia com aquele homem, mais velho, mas bem mais forte; não podia com nosso herói!

    Acha a arma. Se agacha para pegá-la, mas sofre um novo ataque por trás. Dessa vez, um chute na perna esquerda, o levando ao chão, gritando mais uma vez de dor.

    “Dói, não é?” diz, com sarcasmo. Ele estava por cima. Ele estava vencendo. Ele estava...

    Sofrendo outro golpe.

    Com a perna direita, o vilão derruba nosso protagonista. Rastejando, se aproxima dele, que se encontrava caído pela segunda vez.

    O vilão o levanta pela camisa, erguendo seu braço esquerdo para mandar outro soco no nariz quebrado de, agora, não mais agressor, e sim vítima.

    Ou ao menos, era o que ele pensava...

    Nosso herói levanta sua cabeça rapidamente, chocando-se com a testa do vilão.

    Outra virada.

    O vilão, deitado no chão, põe suas mãos à cabeça, tentando amenizar, engolir, a dor. Nosso herói começa, freneticamente, a chutá-lo. Um chute, dois chutes, quatro chutes, todos na barriga. O movimento de vai-e-vem aumenta a dor de sua coxa esquerda que se tinha diminuído, mas ele não se importava, nem ligava, quem sabe nem notava. Estava destilando toda a sua fúria para cima daquele pobre coitado, que urrava de dor.

    Ele, por sua vez, nada conseguia fazer a não ser sentir os chutes impingidos pelo herói. A arma, a arma! Cadê? A via, a menos de três metros de distância. Mas mal se mexia, mal conseguia se movimentar...

    O herói parara com o ataque. Por quê? Porque a dor em sua coxa era maior que seu desejo de continuar. Sentia-se, declarava-se, o vencedor; se tornara, oficialmente, um herói.
    Ajoelha-se, mas agora não porque mandaram; apóia as mãos no chão, ofegante, cansado. Mas com a sensação, a rara sensação que há muito não sentia, de vitória, de alívio.

    Salvara todos de um perigo que, mal sabia ele, nem aconteceria. Mas um pouco de ignorância é boa, em algumas ocasiões...

    Gritos, gritos...

    Olha para trás para ver a razão de tal alvoroço. Via o vilão. Enxergava uma arma em sua mão. Apontada em sua direção.

    O vilão, deitado, se esforçava para mirar a arma em seu refém rebelde. Mal conseguia acreditar na capacidade, na força de vontade, que teve para conseguir se arrastar e assim pegá-la, possuí-la, novamente.

    Mas, outro fator lhe preocupava:

    Compensava matar aquele homem?

    Já tinha decidido se render. Se demorasse demais, se houvesse barulho de tiros, a polícia entraria, e sem se importar com o trato feito, o mataria, certamente. Contudo, o instinto lhe dominava. Queria matar aquela pessoa. Queria tirar-lhe a vida. Foi sufocado, socado, chutado, por aquele infeliz. Que se dane a prisão! Poderia tentar fugir depois, uma, duas, quantas tentativas fossem necessárias, mas, estava convicto; o mataria, sem remorso!

    Nosso herói se encontrava sem saída. De novo. Estava a quatro metros de distância do vilão; antes de chegar perto dele seria perfurado pelas balas mortais daquela arma.

    Encurralado, perdido.

    Agora só aguardava pela vontade de seu provável futuro assassino. Ele tentou, mas não virou o salvador daquelas pessoas “Que Deus as ajude.”, pensava. Não seria mais visto por todos como um herói, e sim como um simples ser inocente sem juízo que reagiu a um assalto. E pior, sem ele saber; quando tudo já estava terminado.

    A última vez que viu a mulher, discutiram. O último olhar que recebeu do filho, mostrava a apatia e o desgosto, que havia em seu coração, pelo pai. Não queria ter como últimas lembranças deles tais imagens tão...

    Som de tiro. Não, tiros. Dois, três. Quatro. Três no peito, um na perna.

    E logo depois, no salão, o único som remanescente era o das pessoas, gritando, perplexas pelo ocorrido. Gritos, gritos, gritos...

    Nosso herói estava morto.




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    Última edição por Emanoel; 01-08-2009 às 10:42.

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    Sobre Tiaras e Joaninhas



    Santoro subiu apressadamente as escadarias, tomando cuidado com as poças de água remanescentes da chuva que caíra horas antes. Cada salto necessário para escalar os degraus de pedra fazia seu chaveiro tilintar qual um guizo dependurado em um animal de pastoreio. Chegando ao final da escada repousa a mão sobre o bolso da calça, fazendo cessar o barulho. Era hora de se aprumar. Pente ao cabelo, lenço à face, bala de menta à boca. Pelo reflexo da porta de vidro se alinha, ajeita a gravata, fecha o paletó, sobe a cintura da calça. Ah, estava ali um bom partido, pensou. Não que queira se gabar, mas Santoro se sabia o tal. Entretanto, caro leitor, não havia nenhuma mulher agarrada às suas pernas, suplicando atenção. Bem, talvez porque era apenas 9:00h de uma manhã nublada de domingo.
    Deslizou em direção à entrada. Percebeu que o serviço já estava sendo proferido. Redobrou os cuidados para não se fazer notar e, esgueirando-se junto à parede caiada, postou-se entre uma pilastra e um vaso enorme com uma planta densa de folhagens. Seus olhos vasculharam o ambiente, notando os cabelos loiros, ruivos, negros; as carecas brilhosas, os meninos com seus bonés; os penteados elaborados, as permanentes com prazo vencido, as moscas sobrevoando os pouco asseados; brilhosos pelos cremes ou pela oleosidade, vastas e ralas cabeleiras formavam um mar irregular que contrastava com o teto reto daquela igreja.
    Contava já às centenas quando seu olhar repousa em uma singela mas importante tiara vermelha. Só podia ser ela. Coincidiu o momento com a ação do Pastor que conduzia o culto desde o altar. Com um gesto ergueu a todos do conforto rígido dos bancos em que se encontravam assentes, inclusive a garota de tiara vermelha.
    O que era procura virou fascinação, imersão, hipnose. Sentia-se imergindo em outro plano, abstraindo-se da realidade. As palavras professadas pelo Pastor eram como sons sem sentido que compunham o pano de fundo de um ato em que só havia dois personagens: Santoro e Ângela; sim, agora sabem o nome da garota sobre a qual nosso protagonista dirigia toda atenção.
    - Em nome do Pai, do Filho... – o costume era que levava as palavras do Pastor aos ouvidos de Santoro, pois sua concentração estava centrada naquele ponto vermelho que estava postado uma dezena de fileiras à sua frente.
    Os cabelos presos pela tiara deslizavam em direção aos ombros, onde se mostravam libertos. Originalmente negros, agora coloridos em um vermelho discreto. Compunham um contraponto à blusa de cor clara.
    - Glória à Deus acima de todas as coisas... - exalado por caixas postadas nas laterais do recinto, de uma gravidade que parecia que vinha do próprio Criador, o som trouxe nosso herói de volta à realidade.
    Como naquele dia seu espírito era mais de flores que de louvores, resolveu sair pela porta lateral. Alguns passos o levaram para o jardim paroquial. No instante em que a porta se fechou, instalou-se um silêncio feito de cricris, zumbidos e farfalhar de folhagens. Os insetos, alheios às necessidades espirituais cuidavam da sua subsistência e perpetuação. Uma joaninha que havia se instalado no ombro do paletó de Santoro foi ejetada por este com um peteleco, o que denotou sua descrença à suposta boa-venturança trazida por este inseto.
    Quem o visse de longe, logo imaginaria ali um cara discreto, equilibrado, centrado. Mas se esse observador conseguisse se aproximar até poder ouvir a respiração de Santoro, perceberia que esta estaria curta e pesada, os olhos com a retina pronunciada, os dedos nervosos. Em verdade, Santoro estava recuando. O medo de ser recusado o intimidava. Sabia que não retornaria ao ambiente onde Ângela, sem o saber, o esperava. Mais alguns minutos e fugiria covardemente rumo à mesma escadaria por onde subira confiante minutos antes.
    Lágrimas da covardia já haviam se instalado em seus olhos e os fluidos internos faziam santoro ter que engolir. Baixinho, entre soluços, seus lábios pronunciaram:
    - Eu te amo Ângela.
    Quase inaudível, a frase teve um ouvinte inesperado.
    Em coisas de amor, há um pouco de sobrenatural, senão como explicar as coisas relacionadas ao coração? E essa sobrenaturalidade havia ali sido expressa.
    Quem se postava atrás de Santoro era a dona de seus sentimentos. Contrapondo o choro de covardia de um, havia o início tímido de um choro de alegria do outro. Ambos se olharam e com um sim declarado apenas pelo olhar e pelo gesto de aceitação no movimento da cabeça, cancelaram seus choros em um abraço pleno, onde suas almas se converteram em uma só.
    Bem caros leitores, iria relatar ainda da joaninha que veio repousar sobre a tiara vermelha, mas poderiam achar a historia piegas demais. Mas posso garantir, eles viveram felizes para sempre.
    Última edição por Emanoel; 31-07-2009 às 08:00.

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    Vinho, Discussão, uma Velhota e uma Chupada



    Júlia é uma garota legal. Sempre aberta para o mundo e para as minhas maluquices. Sempre aberta, que beleza, garota disposta. Nossa atividade é tomar vinho. Beber vinho pelas praças e ruas de Curita é o que fazemos quando nos vemos e isso acontece invariavelmente todos os dias. O vinho nos alimenta, depois vamos para a sua casa na Cândido Hartmann terminar a noite. Ficar encharcado de vinho é inerente ao meu espírito BEBUM e ao de Júlia, pelo que parece, também. Bom, ela não reclama, e vinho é o que há de mais barato, é aquilo que rola pagar.

    Marcamos encontro na Osório. Mas antes, é claro, passei no Mercadorama para comprar nosso sagrado vinho diário – isso deve ter algo de celebração! – o famoso e abominável, V.C.L., para os não iniciados, VINHO CAMPO LARGO. Aí então, fui em direção ao local de nosso encontro, quiosque sentido Alameda Cabral. Júlia já estava lá, linda, sorrindo, aguardando ao seu querido Duda. Claro flertava com um ou outro cara, enquanto eu me aproximava e ela ainda não me via.

    - E aí, gata? – sorrindo como uma hiena.
    - E aí desgraçado. Já está alto? Esse sorriso perdido não engana. – com cara de poucos amigos. Apesar de estar sorrindo à toa segundos antes.
    - Pô, princesa, nenhum beijinho, antes de me esculachar? – fazendo beicinho pra receber os lábios doces de Júlia.

    E ela correspondeu. Essa é minha garota sempre disposta a mudar de humor de uma hora pra outra. Raiva e em um segundinho depois, um beijo quente-molhado, delicioso. Só de pensar já fico excitado.
    Sei lá, às vezes acho que Júlia sofra de algum distúrbio bi-polar. Ou talvez fique pensando minutos antes de eu chegar, porque afinal, mantém relações com um inútil. Uma coisa que vocês não sabem: Julia é burguesinha. E eu sou o pesadelo de seus pais, amigos, irmãos, etc,. Um perfeito VAGABUNDO. Apesar de gostar de me definir como um MARGINAL – acho mais digno!

    - Boa gatinha. Que beijo! – hoje ela não vai me chutar, pensei.
    - Comprou vinho? – com uma voz irônica.
    - Claro, gata, não pode faltar! Está aqui na mochila. – feliz como um otário.
    - Óbvio que você comprou vinho! – irritadíssima.
    - Ora, mas o que você queria? Uma VODCA?! UÍSQUE?! – completamente surpreso.
    - Não, não quero nada. Vamos começar tomando aqui ou em outro lugar?!
    - Sei lá! O que você quer?
    - Queria ir a algum lugar. Curtir uma música. Falar com pessoas. – seu belo sorriso aflorou novamente.
    - Então vamos para a casa do Rod, está sempre cheia de gente maluca, e é só chegar com algo para beber que somos sempre bem recebidos! – disse isso tudo como se acabasse de inventar alguma teoria da relatividade.
    - Porra Duda, não quero ir a merda de Rod coisíssima nenhuma, quero ir pra algum bar, ver um show, sei lá! –vermelha de raiva. (Esta é minha pequena.)
    - Ah, claro, e vou pagar como isso? – irritado, mas mantendo o sorriso pra disfarçar.
    - Você não precisa pagar nada, meu querido. – achando que tinha me ganhado.
    - Sim, claro, você irá pagar tudo? E por favor, não me chame de querido, soa muito falso! – retirando um cigarro do bolso.
    - Tá, Duda, não te chamo mais de querido. Vou te chamar de meu amorzinho. Meu amorzinho vamos para a porra de algum lugar decente? – mais brava que... sei lá!
    - Sim, vamos minha linda. Mas antes vamos tomar nosso V.C.L. pelas ruas, ir para uma praça ou sentar em algum maio-fio. Ver os neon’s que adoramos dessa cidade desvairada, desviando dos buracos nas calçadas, conversando e dando nossas risadas. – acendo o cigarro com cara de malandro que vai levar sua garota pra cama.
    - Claro, dar uma de flauner, ir por aí sem rumo, e acabar com você dentro de mim em minha cama? – com uma risada no rosto que insinuava um te peguei otário, sei seus macetes.
    - E o que mal a nisso? – disse em tom de ingênuo.
    - Nada! Mas aí não vamos a lugar algum. Somente vagar pelas ruas. Aí vamos parar em minha casa encharcados de vinho, transar ou dar uma trepada como você diz, e lá pelas tantas depois de dormirmos um pouco, vamos os dois para a cozinha ver algo para comer, mas antes vamos vomitar feito porcos possuídos no banheiro. Perfeito isso, não?!
    - Também acho! – com um sorriso de canto.
    - Ahhhhhhh!
    - Quer vinho? – abrindo a primeira garrafa da noite.
    - Me de logo essa merda.
    - É ISSO AE! Vamos aprontar. Curtir. Dar risadas. – estava com cara de quem planeja algo.

    Sugeri para sairmos da Osório, os guardinhas da lei já estavam nos olhando de modo estranho. Passando pelo Stauart, o barzinho dos advogados da City, com sua fachada cinza e suas placas vermelhas, tive uma idéia bizarra, o Bar estava lotado, um conversê dos infernos, era doutor prá lá doutora prá cá, doutor fulano de tal, doutora do escambaú... esses papos cheios de enfado de gente metida a importante. Haha. Pensei, bem sei que Júlia gostaria que eu estivesse cursando Direito, trabalhando de estagiário no escritório de seu pai, ou em alguma dessas merdas arranjadas, fazendo um social e contando vantagem. Mas eu o anti-herói não me rendia. Nada dessa história de viver de joelhos. Afinal pra que grana? Estava bem. Se estava em queda livre ou já no fundo do poço não me importava. Foi aí que tive uma idéia, afinal, havia prometido a Júlia que iria aprontar. E como Prometeu iria colocar fogo no circo.

    - Ei, Júlia? – com uma cara de diabo louco.
    - Humm? – sem demonstrar interesse.
    - O que acha de entrarmos no Stuart? – sem demonstrar que pensava em algo bizarro.
    - Ahhh! No Stuart? Não, aquilo é um saco. – mostrou seus olhinhos de interrogação.
    - Poxa, mas você queria ir a algum lugar, podemos tomar um choppezinho, e daí voltamos pra rua, bebemos nosso vinho e vamos pra onde você quiser. Que acha? – pensando na insistência e que ela poderia estar desconfiada.
    - Não sei! Você está tramando algo seu canalha? – intrigada. Me olhando no fundo dos olhos
    - Imagina. Você não confia em mim, minha princesa? – falso como uma nota de 3 pilas. Sem desviar o olhar.
    - Certo. Vamos! – dando meia volta e me olhando de rabo de olho.
    - Essa é minha gata. Sempre sorrindo e querendo se divertir. – ela não estava sorrindo.

    Mal entramos no Stuart e pedimos o chopp, Júlia demonstrou enfado e se arrepiou toda, vi bolhinhas em seus braços. Isso era problema, ela era sensitiva de mais. Perguntou o que eu estava tramando. Eu sem arriscar que ela me arrancasse dali o mais rápido possível, disse que só estava sendo menos orgulhoso e aceitando suas propostas de diversão. Acho que ela não acreditou. Mas amansei a fera momentaneamente. Começamos a beber aquele chopp Brahma. Não lembro se era Brahma, e isso não importa, pois só foi o tempo de darmos o primeiro trago. Trepei na mesa. Isso mesmo, eu, Duda, subi na mesa de madeira do Stuart e comecei a fazer um discurso. Berrar mesmo. O silêncio se fez. Cabeças giravam em corpos imóveis. E Júlia, primeiro ficou vermelha, depois começou a sorrir de forma doentia como quem quer ver o desfecho. Depois de dois pedidos de atenção, acendi um cigarro, numa classe como se fosse uma estrela de um filme B.

    - Ei, pessoal, ATENÇÃO! – para garantir o silêncio e como se fosse declarar a independência do Staurt-Bar.

    Comecei a escutar burburinhos.

    - Quem é esse louco doutor?
    - Doutora ligue pra polícia, vai que está armado!
    - Não, senhoras e senhores, não sou louco, nem estou armado. – quase um Robespierre em algum boteco da França.
    - Ahhhhhhh! – foi o grito geral.
    - Eu só gostaria de fazer um pergunta. – com um sorrisinho para Júlia.
    - E precisa subir a mesa, seu otário? – um rapaz com cara de metido a esperto.
    - É ISSO AE DOUTOR! – reverberou a claque espontânea.
    - Tal qual a você, meu amigo, mas você de fato é um doutor? Onde fez doutorado? Quantos doutores e doutoras têm neste recinto? Dois, três? Talvez nem isso! – com cara de quem jogou merda no ventilador.
    - Isso não é de sua conta! – gritou um senhor com cara de “não sou doutor”.
    - Você pelo jeito não! – com uma piscadinha para Júlia.

    Júlia estava orgulhosa, sorria, mandava sinais de que eu estava me saindo muito bem. Quase senti uma leve estremecer em sua face, e uma atitude de subir a mesa e continuar o meu discurso. Mas ela ficou sentada. Já havia bebido o seu chopp e metade do meu. Isso em menos de 2 minutos. E se preparava para matar a caneca de 600 ml.

    - Desce daí, por favor, garoto. – um garçom com um sorriso de “boa garoto!”.
    - Sim. Já fiz o meu show. – olhando pra Júlia procurando respaldo.

    O Bar todo estremeceu. Pessoas saiam. Não sei se acabei com a noite destas pessoas, mas as coloquei em questão. Eu e Júlia saímos do Stuart. Júlia parecia meio desorientada. Saiu em direção ao Edifício ASA me puxando o braço. Eu a segui. Taxistas estavam parados do outro lado da rua, fumando, conversando, nenhum sabia o que havia ocorrido no Bar. Parei. Júlia estacou também. Retirei o vinho da mochila e enchi primeiro um copo pra ela e antes que enchesse o meu Júlia já pedia mais um.

    - Eita garota beberrona. – disse sorrindo.
    - EDUARDO, VOCÊ É UM FILHO-DA-PUTA! – com uma carranca que eu sabia que ia ter trabalho pra retirar.
    - Está brava? Achei que estivesse curtindo! – passando meu copo a ela.
    - CURTINDO? CURTINDO... COMO? – vi lágrimas vermelhas.
    - Linda, se acalme, não houve morte, foi só uma piada. – recomeçamos a andar.
    - Me deixa. Vou pegar um taxi e sumir daqui. – saiu desvairada em direção a rua Voluntários da Pátria.
    - Ei, onde você está indo? Têm taxis bem aqui. Está perdida? – apontando em direção aos taxis e quase caído na gargalhada.
    - Vem, vamos andando, seu canalha. – seus dentes apareceram. Era admirável. Que boca maravilhosa!
    - Gostou né?
    - Foi demais. Mas não faça mais isso! – quase uma ordem.
    - Sim. Não fiz isso para te magoar! Era pra você sorrir.

    Caímos na risada.

    Seguimos rindo em direção a Carlos de Carvalho. Trocando perspectivas sobre a cara das pessoas. Falando sobre a atitude dela de beber o chopp das canecas em segundos. De como eu subi a mesa. Dos garçons rindo meio ressabiados. Júlia estava mais alta do que eu, ria à toa e eu seguia a onda. Tropeçou em um buraco na calçada e riu. Paramos em frente a um restaurante de massas com janelas gigantescas e fachadas envelhecidas. Falei que ia zoar, mas Júlia me conteve. Continuamos devagar subindo a Carlos de Carvalho em direção a Praça da Espanha. Falando muita merda. E a cada parada para reabastecer nossos copinhos descartáveis com vinho, cometemos graves crimes de ataque ao pudor e ao BOM COSTUME. Mas a polícia não vinha. E eu e Julia no amasso. Beijos. Língua. Mordidas. Mãos pousando em diferentes partes do corpo. Cochas. Bunda. Seios. Caralho. Buceta. Cabelo. Nuca. Costas. Mãos. E assim continuamos caminhando e parando e bebendo. E para esquentar, o amasso.

    - Vamos já pra sua casa?
    - Ainda não. Vamos dar um tempo na praça!

    Espíritos ébrios isso é o que somos. Júlia e eu. Dois bebacos. Um poste. Um suporte. Uma brisa. Algo nos molhava. Ahhhh! O chafariz da Praça da Espanha. Nada como aquela água saltadora pra relaxar nossas mentes chafurdadas em vinho. Retirei a mochila. Peguei o vinho dosando nos copos. Sentamos nos banquinhos de madeira. Nossos queridos banquinhos de madeira. Quantos momentos. Descansar ali era fatal depois de longas caminhadas. A bibliotecazinha com seus livros que nunca vamos ler. É sempre noite quando estamos na praça. Eu e Júlia gostamos desta praça. E dos cachorros-quente que comemos ali.

    - Julia, está com fome? – sabendo da resposta.
    - Não!
    - Sério? Você sempre está com fome quando chegamos aqui. – meio surpreso.
    - Não, só não estou a fim de vomitar agora. – toda séria.
    - Nossa, belezura, está passando mal? Quer uma água? – atencioso e prestativo como um cão.
    - Não. Não quero água! Estou com vontade mesmo é de te chupar. – incisiva e bela.
    - Haha. Você está falando sério? Vamos pra sua casa, já. – meio surpreso.
    - Não. Quero te chupar aqui e agora, neste banquinho. – colocou a mão dentro de minha calça pegando meu pau.
    - Ohhh! Gatinha me beija. – seguido de um entrelaçar de línguas e eu colocando minha mão por entre suas pernas.

    O beijo rolou algum tempo. Talvez o tempo de Júlia abrir o zíper de minha calça. Continuei a beijá-la enquanto abria um olho pra vasculhar a praça. Problemas. Isso estava procurando problemas a evitar ou a criar. Dei por satisfeito, avistei somente uma velhota e seu poodle e ela era o problema que iria acontecer. Júlia começou a descer lentamente sua cabeça em direção ao meu pau. Uma mão sua escorregava pelo meu rosto e peito. Depois esta mão estava dentro de minha blusa acariciando meu tórax. Júlia adorava fazer isso. Eu de cima olhando a sua cabeleira e os movimentos de sobe e desce, sentindo seus lábios e sua língua no meu pênis, os movimentos circulares de sua língua na cabeça de meu pau. A sucção. Que beleza. Que cena. Olhava a velhota à distância com seu cão cagão com aquela coleira vermelha ridícula. A rua de paralelepípedo. Sentia uma brisa. Dizia pra Júlia continuar. Acho que ela nem escutava, estava na função. Ai, ai. Os cabelos lisos e negros de Julia caindo sobre sua face. E ela com a delicadeza de uma deusa retirando esse belo cabelo e enroscando-o atrás de sua orelha, revelando a mim novamente seu rosto, seu belo rosto, ela sabia que eu gostava de ver sua boca engolindo meu pau. A vida é bela, pensava. Sua boca esticando com os movimentos. A cabeça de meu pau fazendo relevo em suas bochechas. Os barulhos. Delícia. E a velhota com o cão branco se aproximando. MINHA VONTADE ERA BERRAR PR’ AQUELA VELHOTA FILHA-DA-PUTA VAZAR. Mas não conseguia reagir. Qualquer som que soltasse seria uma denúncia do meu estado de gozo. Júlia não parava. Os passos da velhota eram audíveis. O cão latiu. E Júlia não me deixando escolha, a não ser a de que ela continuasse.

    - O que vocês estão fazendo? – berrou a velhota do cão.

    O cão assustado latiu mostrando os dentes. Júlia continuou por alguns segundos me chupando. Logo em seguida levantou a cabeça passando a manga de sua blusa por seus lábios. Olhou pra velhota e seu cão. Enquanto isso eu arrumava um jeito de abotoar a minha calça. Na maior calma Júlia olhou pra mim, eu também não estava nervoso. Sabia que isso ia acontecer. Então retornou o olhar para a velhota.

    - O que senhora, vai dizer que nunca deu uma chupada em alguém? – disse Júlia com uma calma de gata mimada.
    - Não. Não na rua, em um lugar público. Isso é um descalabro! E meu marido está morto. Mais respeito! – vermelha de indignação.
    - Senhora, você é uma velhota hipócrita. – mantinha a postura de deusa.
    - Eu vou chamar a polícia. É isso que eu vou fazer. – andando e repetindo a frase.

    Júlia começou a dar uma arrumada no cabelo. Eu procurei um cigarro na mochila. Júlia fez que queria um com a cabeça. Acendi um cigarro pra Júlia e a passei. Acendi outro pra mim. Pensava no que faria. Tive uma idéia. Bebemos mais um pouco de vinho. Meio-noite e levar um cão pra cagar, isso iria colar. O plano. Estava matutando. Júlia veio me beijar. Correspondi. Gostinho de vinho. Que garota! Pensava: isso sim é uma mina moderna, que sabe o que quer. Vi um taxi vindo em nossa direção. Assoviei. O taxi parou. Pedi que Júlia entrasse e fosse pra sua casa. Ela relutou. Queria que eu fosse com ela. Disse que já a encontraria. Ela queria saber o que eu estava tramando. Disse que depois lhe contaria. Ela me beijou calorosamente. Pediu mais vinho. Derramei vinho em seu corpo. Ela me xingou. Pedi desculpa. Ela sorriu e entrou no carro. O taxi saiu. Eu retornei ao banquinho com meu cigarro e meu vinho. Minutos depois a velhota chegou com a polícia.

    - É ele, policiais, que estava aqui com sua namorada ou uma vagabunda praticando felação! – toda afetada.

    Os policias deram uma risada. Deviam pensar na velhota nesta situação.

    - E aí, garoto, gosta de exibicionismo? – com ar de autoridade.
    - Bem, até gosto. Mas não sei do que esta senhora está falando. – com a maior cara-de-pau.
    - Ela está o acusando de pratica de sexo oral em local público? – quase riam.
    - Olha senhores da autoridade, vocês estão vendo outra pessoa aqui, além de mim? – que cinismo, pensei.
    - O que você faz aqui?
    - Estou dando um tempo seu guarda. Fumando um cigarro e bebendo um vinhozinho. Vai aí?
    - Não. Estamos de serviço.
    - Ei, prendam logo esse vadio! – intrometeu-se a velhota na conversa mais civilizada que tive com policiais.
    - Calma senhora! – disse o policial que só sorria até o momento.
    - Pensem amigos da lei, eu não sou tão flexível e meu pau não é tão grande pra que eu possa praticar sexo oral em mim mesmo. Mas se querem saber, essa velhota aí é que é estranha, e está me acusando de algo só porque eu não quis dar um trato nela. – armei o jogo.
    - Como assim? – em uníssono os policiais.
    - É. Como assim, seu infeliz? – a velhota assustada.
    - Olha senhora, você sabe, eu estava aqui sentado tomando meu vinho e você veio com o seu poodle de merda me oferecer um troco para eu ir até a sua casa para dar uma. Eu recusei falando que não era um puto. E você saiu desbaratada com uma louca... – fui interrompido e quase agredido.
    - Ahhhhhhhh! Seu pequeno canalha. Vou te matar. – a velhota desvairou.
    - Acalme-se senhora! – intervieram os guardinhas.
    - Guardas! Quem sai à meia-noite com um cão para rua? Isso é ou não é pretexto? – com ar de surpresa.
    - É senhora. Você educou mal o seu cão ou o quê? – indagou um dos guardas.
    - Malditos! – a velhota saiu, perdeu o combate.

    Ficamos ali, eu e os dois guardas observando a velhota tropeçar nos calcanhares. Rir. Isso. Rir era o mais interessante que podia ser feito. Diversão. Uma sacaneada aqui outra acolá. Nada que faça mal ou bem, só algo que enriquece a paisagem, altera as situações. Os policiais até pediram vinho. Peguei os copinhos reservas na mochila. Beberam. Eu bebi.

    - Que enrascada garoto! Quanto ela te ofereceu? Não valia a pena? – gargalhava o polícia.
    - Não ofereceu nada. Não dei espaço! – só pensando no que Júlia riria quando lhe contasse.
    - Tá indo pra onde garoto? – falou o guarda sorridente.
    - Qual o seu nome? – disse o inquiridor.
    - Duda. Eduardo, seu guarda. Pô, estou indo pra Praça da Ucrânia, pegar meu bus-madruguerio. – ganhei uma carona, pensei.
    - Hummm! – chamada no rádio do carro. Tentativa de assalto.
    - Ihhhhhhh! Problema, né? – perdi a carona.
    - Pois é. Falou garoto. E cuidado com as tiazocas! – rindo.
    - Pode deixar! Falou. – ri também

    O carro policial disparou descendo a Saldanha Marinho. Fiquei só observando o giroflex. Despejei mais vinho no copinho. Acendi outro cigarret’s. Coloquei a mochila nas costas e comecei a subir a Fernado Simas. Estava indo ao encontro de minha deusa Júlia. Ela vai rachar de rir. Será que ela já está dormindo? Vou ter que acordá-la. Fantástico. Parei na banca de cachorros-quente ao lado da Vídeo 1 e pedi dois dog’s completos. Pensei no poodle fedorento. Haha. Noite boa. Pago o hot-dogueiro. O cara me passa a sacolinha com os dog’s. Uma garoazinha começa. 1:30 (uma e meia) da matina no meu relógio. Uma chuva forte irrompe. Coloco meu capote e meus fones de ouvido. Toca Rain Fall Down dos Stones.
    A noite ainda promete...
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