Talvez uma postagem prematura, mas quero aproveitar o momento da seção e retomar o ritmo da história. Segunda deve sair o capítulo cinco, e então voltaremos ao velho ritmo de um capítulo por semana. Esse aqui pode ter ficado pior que os demais, mas mesmo assim gostei dele, pois sinto que fiz um bom avanço com Angela e Zoroast.
Comentem =dCapítulo Quatro
Em Direção do Amanhã
Angela acordou graças ao forte cheiro de fumaça vindo de algum lugar próximo. A princípio acreditou veementemente ter sido atacada por feiticeiros mortos-vivos durante a noite, e que eles haviam posto fogo na tenda. Sentou-se rapidamente na esteira de bambu – sentindo o ferimento protestar fortemente – e coçou os olhos com força, obrigando-se a acordar completamente. Tateou às cegas do lado esquerdo da cama improvisada e encontrou a varinha de energia, a qual puxou para perto de si. Pegou ainda o chapéu alaranjado que deixara junto da arma. Foi só então que percebeu a claridade excessiva.
Uma forte luz esbranquiçada vinha de todos os lados e tomava sua cabeça impetuosamente, fazendo-a girar. Resmungou e fechou os olhos, tentando fugir da claridade. Ficou em pé, meio cambaleante pelo sono e gritou de raiva, ainda sem entender por que. Abriu as pálpebras novamente e finalmente conscientizou-se da inexistência da tenda avermelhada na qual dormira. Deu pela falta ainda das sacolas cheias de qualquer coisa, do toco, da mesinha e do criado-mudo. Buscou pelos campos ao sue redor – completamente secos e vazios – por Zoroast, e encontrou-o a poucos metros de distância, perante uma fogueira carregada de tranqueiras. A chama alaranjada e quente que dançava sobre tais coisas facilmente ultrapassava os três metros de altura. Dela rodopiava uma longa coluna de fumaça preta e espessa.
- O que raios está acontecendo aqui? – Disse ela com um tom pouquíssimo eloquente, o que era anormal à sua pessoa. O minotauro virou-se calmamente e examinou-a. Resmungou alguma coisa na sua língua antes de responder.
- Fogueira. – Disse simplesmente, voltando-se para seu fogo. Chutou algumas sacolas cheias para o meio de tudo aquilo e observou enquanto línguas de fogo consumiam-nas com gratidão.
- Eu sei que isso é uma fogueira. – Angela começou a andar em volta do minotauro para encará-lo de frente. Percebeu estar se exaltando um pouco, então parou e respirou fundo. Os últimos acontecimentos estão me alterando muito. Não costumo ser assim, nervosa, estressada... – O que quero saber é por que está fazendo uma fogueira!
- Sumir sinais de habitação. – Zoroast falou com um tom bruto como se aquilo fosse óbvio, mas anormalmente não travou durante a frase e nem errou nenhum fonema. Angela ergueu uma sobrancelha e voltou mancando para a esteira, onde pegou sua mochila cinzenta e puxou um pão seco de dentro dela. Mordeu-o com uma careta e sentou-se. – Não problema fogo crescer. Caveiras já for embora.
Uma surpresa inesperada tomou conta da bruxa enquanto terminava sua pavorosa refeição. Engoliu os restos de seu alimento com dificuldade antes de fazer seu comentário.
- Sério? Quando foi isso? E pra onde foram? – Falou enquanto tentava deglutir tudo. Fuçou na mochila um frasquinho de água que entornou na boca, esvaziando-o por completo.
- Perguntas demais. – Zoroast deu a volta na fogueira para checar tudo e chutou algumas madeiras para o meio do inferno controlado. - Madrugada. Antes de eu dormir. Foram pra lá. – Ele apontou na direção do pântano, indicando certamente a cidade de Venore. Angela engoliu em seco e fitou os pés por alguns instantes. Brincou um pouco com os sapatos de coco e jogou os cabelos para trás.
- Desculpe pelas perguntas. Sou meio curiosa mesmo. Eu gosto de saber o máximo possível sobre as coisas que me dão interesse, e neste momento, tudo que envolve o Pentágono de Yöer me interessa. – Ela forçou um sorriso, tentando ocultar a preocupação com o que ocorreria com sua amada cidade.
- Muito falante também. – Completou o minotauro, emitindo um som estranho que Angela quase interpretou como uma gargalhada. Duvido que Zoroast ria...
- Prefiro pensar que me comunico bem por intermédio das palavras. – Ela riu de novo, mas parou subitamente quando constatou que o ser homem-touro não a acompanhava. Resolveu mudar de assunto. – Pra que vai queimar todas as suas coisas? Até a tenda você carbonizou!
- Ir embora.
A resposta pegou a bruxa de surpresa, como quase tudo que envolvia aquele minotauro.
- Para onde? Mintwallin?
- Não. Pro norte. – Zoroast parou e se aproximou um pouco dela, fitando-a com aqueles olhos negros brilhantes. – Terra-mãe foi atacada pelo Pentágono não poder ir lá. Os minotauros indo pro norte. Zoroast vai também.
- Também vou pra lá. – Ela se ergueu e colocou a mochila nas costas com extremo cuidado, evitando tocar o container no ferimento. Limpou algumas migalhas do vestido e arrumou o chapéu na cabeça. – Mais precisamente para Ab’Dendriel. Os elfos são meio reclusos, mas tenho um amigo que pode me ajudar.
- Fazer o que depois? Matar os que mataram sua amiga?
Angela não havia parado para pensar nisso. Tal ato significava envolver-se em uma teia de sentimentos confusos e de idéias absurdas que engoliriam ela sem piedade e a fariam alterar-se. Detestava ter que matar ou até mesmo ferir qualquer ser vivente, mas o faria se não tivesse outra opção. E ela sabia perfeitamente que entrar naquela guerra significava essencialmente modificar por inteiro seu jeito pacífico e eremita de ser.
- Não pensei nisso. Só quero ir embora daqui. Prefiro sinceramente nem me envolver nesse conflito desgraçado. Só queria poder ficar no meu canto, com as minhas ervas e as minhas poções.
- Zoroast quer ficar fora também. Mas matar da minha raça, e devo matar quem o fez. Código de honra! – Ele disse isso e no instante seguinte bateu no peito bufando. Voltou para a fogueira e pegou um saco pardo aparentemente lotado de quinquilharias. Havia uma corda na boca do saco, a qual amarrou no cinto, na parte da cintura. – Irei com você para norte. Mais seguro viajar grupo agora. Tropas da Sombra passar estradas.
- Mas os elfos não vão gostar de recebê-lo por lá! – Constatando que o minotauro fuzilava-a com os olhos, acrescentou: - Lamento a falta de eufemismos, mas é verdade! Se quiser viajar comigo vai ter que se acostumar com a minha personalidade meio... Insólita.
- Não ir com você para elfos. Só norte. Minotauros perto de Carlin. Ir até eles. Ir juntos um pedaço. – Dizendo isso, deu alguns passos a frente, como se indicasse que estava partindo. Angela acompanhou-o apressada, pois cada passo da fera equivalia a dois dela, mas logo sentiu as costas e rangeu os dentes.
- Droga. – Respirou fundo e fechou os olhos, buscando um ponto de fuga na sua mente. Quando encontrou-o, sussurrou, envolvendo-se em uma forte luz branca: - Exura Vita.
Sentiu o ferimento desaparecer por completo e um formigamento leve tomar a área onde este existira. O minotauro franziu o cenho.
- Não gostar magia. Não poder se curar antes?
- Podia, mas não achei que podia ser necessário. E acostume-se com a minha magia! – Feito isso, ela seguiu em frente, saltitando pela grama morta e cantarolando músicas bobas em idiomas estranhos. O homem-touro bufou e começou a caminhar a passos largos atrás dela, rumo ao desconhecido Condado do Norte. Seria uma longa viagem, e os dois teriam muito tempo para se conhecerem melhor.
E naquele dia, cedinho, com o sol ainda timidamente brotando no leste, os dois abandonaram suas terras. Quando o grande rei dos céus chegou ao topo do seu reino, com seu brilho incandescente transformando tudo em dourado, a dupla já se encontrava na orla das Planícies do Caos. Um lugar de grama seca que se confundia com o verde, árvores baixas e fortes com folhas cortantes e escuras. Havia pedras oblíquas e gigantescas espalhadas pelo cenário quente e desolador. O vento seco e forte que vinha do norte fazia as vestes deles esvoaçarem e levava ciscos aos seus olhos. Mas eles lutavam, mudos, parecendo cada vez mais decididos a chegar o mais breve possível aos seus destinos.
Evitavam as estradas e faziam poucas paradas, ficando sempre atentos a qualquer movimento incomum. As ações do Pentágono haviam espantado todas as criaturas tão comuns da região. Lobos, aranhas e cobras não existiam mais naquela área, e como quase ninguém ousava viajar naqueles tempos, qualquer agitação ou sinal de acampamento recente podia ser um indício de soldados mortos por perto. Nenhum dos dois estava disposto a enfrentar caveiras e mais caveiras, mas apesar disto eles não evitavam as viagens à noite, quando teoricamente seria mais fácil encontrar a morte. Queriam chegar depressa, mesmo que tivessem de se arriscar deste modo.
A cada poça de água ou riozinho que encontravam, enchiam frascos e odres até a capacidade máxima. Paravam apenas duas vezes ao dia para comer, ocasiões em que Zoroast caminhava alguns quilômetros em busca de algo para matar enquanto Angela pegava folhas, raízes e frutos próximos. Na manhã do segundo dia de viagens, quando já haviam se distanciado um pouco do antigo lar, encontraram restos de fogueiras e outras coisas como botas, armaduras velhas e amassadas e armas, tudo largado ao chão. Zoroast pegou uma lança suja e com a ponta enferrujada, mas que usou muito bem para pescar sempre que era possível. Angela analisou alguns restos de comida e constatou que haviam humanos – ou pelo menos seres-vivos – com as tropas.
- Provavelmente necromantes ou bruxos. – Ela disse ao companheiro de viagem na ocasião. – Vê essas pegadas? São de uma bota de humanos. E são recentes. Devemos sair logo de perto do deserto.
Um dia depois já haviam se afastado das areias alaranjadas e intermináveis do deserto de Jakundaf, um lugar árido e eternamente mortal para viajantes. As freqüentes tempestades de areia e quase total inexistência de oásis tornavam o lugar um verdadeiro repelente de formas de vida. Por isso geralmente a morte espreitava por aquele lugar. Continuaram andando, e dois dias depois já se viram em meio a dois caminhos de barro disforme que se uniam em direção ao norte. Estavam chegando perto da divisa dos dois condados nos quais o continente havia sido repartido.
Falavam pouco. Quase nunca trocavam olhares ou gestos amigos, ficando quase que sempre como se estivessem viajando sozinhos. Só trocavam longas conversações quando encontravam vestígios de tropas ou de animais. Quando viam as próprias caveiras fazendo suas rondas, escondiam-se habilmente graças as habilidades de Angela, que usava suas “feitiçarias absurdas”, como definia Zoroast. Evitavam ao máximo confrontos, que só ocorriam com raros lobos ou outros animais fracos que achavam em seu caminho. Apesar de tudo, Angela sentia como se tivesse uma dívida com o minotauro, e talvez por isso imaginava-se próxima dele. Sabia que iria se sentir mal caso ele morresse no meio da travessia. Realidade essa que se tornava cada vez mais possível enquanto se aproximavam das estradas.
Depois de seis dias de uma viagem longa e complicada, na qual faziam rotas e voltas inúteis para evitar exércitos inteiros, eles se viram chegando à fronteira. Era demarcada pelo profundo Rio do Meio, que formava um arco contido à beira da mais alta de todas as montanhas do mundo: A Grande Velha. Ela nada mais era do que um emaranhado escuro e pedregoso de rochas empilhadas que formavam paredões cinzentos e ásperos com incontáveis milhares de metros de altura. O labirinto rochoso era o lar de diversas criaturas e de segredos tão antigos quanto o tempo. Mas acima de tudo, era o lar dos anões. Metros e metros abaixo da montanha ficava Kazordoon, a cidade mãe deles. Mas todos foram embora... Só há refugiados agora naquelas terras quentes.
Perante a montanha, cortando o rio ficava a Ponte dos Anões de Kazordoon. A edificação simples de madeira fora construída sobre rochas e era a única passagem segura para o outro lado do rio. Sobre o térreo, claro. Havia túneis sinuosos e profundos abaixo deles que levavam até a cidade, mas eles não tinham como acessá-los dali. Outrora a ponte fora vigiada por anões, mas agora estava repleta de caveiras que emanavam trevas de si mesmas. Era noite alta, e os dois estavam escondidos na sombra das rochas que seguravam a ponte. Não havia luz nem das estrelas e nem da lua. Os únicos ruídos eram os dos mortos-vivos andando sobre eles.
- Como vamos passar? – Indagou a bruxa ao minotauro, que balançou os ombros e lançou-lhe um olhar inquisitivo.
- Você bruxa. Destruir eles!
- Mas eu detesto fazer essas coisas! E não é tão simples assim! – Ela protestou demasiadamente alto. As caveiras então pararam de andar. Zoroast praguejou baixinho e olhou para cima, buscando algo. Levou a mão à maça pendurada na cintura e Angela segurou mais forte a varinha, como se esperasse um ataque.
Mas foi tudo muito rápido. Um som arrastado veio de cima da ponte e uma sombra disforme pulou dela e aterrissou perante eles, gritando palavras estranhas que a bruxa não conseguia entender. Então, vindas do além, dezenas de caveiras começaram a atacá-los e os segurar, enquanto a figura estranha de preto ria e recitava versos sombrios. Quando Angela pousou os olhos nele, percebeu sua pele pálida e os trajes que usava. E teve certeza de que era um necromante. Praguejou alto e tentou se soltar, mas era tarde demais: o feiticeiro já havia usado sua magia. E foi quando seus olhos começaram a se fechar involuntariamente, quando seus membros ficaram moles e sua mente parou de raciocinar que Angela lembrou-se de gritar.
Manteiga.
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[+ puxando o saco] Sobre essa questão do tempo que você citou, eu só me toquei que escrevi meia-hora agora. Eu uso MUITO meia-hora no cotidiano, qualquer coisinha eu uso esse marcador de tempo, mesmo que nada tenha com a realidade. Devo ter passado isso para o texto e escrito o resto sem perceber, o que soou estranho. Obrigado por apontar, vou editar esse deslize.
