Primeiro, mil perdões pelo atraso. Desculpe mesmo. Deu um problema no laptop em que escrevo a história, e só consegui finalizar o segundo capítulo hoje. Não saiu um capítulo muito bom. E, não se espantem. Eu amo por nome nos acidentes geográficos inominados pelo Tibia. Se quiserem, eu faço um glossário.
O Pórtico de Partida
A manhã seguinte estava clara e fria, uma perfeita manha de outono, boa para tomar um desjejum quente fora de casa. Coisa que Ralf estaria fazendo, se não estivesse empacotando tudo necessário para a viagem. Sua mochila de acampamento estava cheia assim como sua sacola de caça. Toda a casa estava quieta, só os resmungos de Greenwood e um ocasional passarinho perturbava o silêncio.
Helidan e o Hyacinth tinham saído de noite, depois de ter acertado todos os detalhes da viagem com o jovem. Diziam eles que iriam para a vila, que precisavam resolver assuntos. “Me encontre, no mais tardar, três horas antes do dormir dos dois sóis. Vou estar te esperando na soleira da biblioteca. Precisamos conversar com Seymour antes de partirmos” aconselhara Hyacinth, pedindo para que não se atrasasse.
Ralf dormira uma noite cheia de sonhos terríveis, repletos de aventuras com finais desastrosos e mortes horripilantes. Acordara mais cansado do que quando fora dormir e com um mal-humor de matar. Tomou um desjejum magro, sem nenhum bolo, e começou a selecionar os pertences. Passou o resto da manhã aprontando tudo para viagem. Quando faltava pouco tempo para a terceira hora de sois, trancou, com um grande pesar no coração, a porta da frente e saiu, entrando pela trilha da floresta.
O jovem não olhou para trás, talvez porque soubesse que se olhasse, seria difícil deixar o lugar. A temperatura estava muito agradável, mesmo para meio-dia. Os pássaros estavam alvoroçados, cantando com suas vozes agudas algo que Greenwood não entendia, por estar em suas línguas estranhas ao homem. A trilha, bem conservada pelos funcionários reais, entrava na floresta até o sul da vila, passando por pequenos montes e vales rasos. Riachos despontavam pela mata e cervos corriam, se afastando do rapaz.
Ralf estava em silêncio, apesar de apreciar muito cantar enquanto caminhava. Seus pensamentos vagavam pelos pesadelos da noite anterior, assim como o destino incerto à frente. A mochila estava pesada nos ombros, mas não incomodava mais do que o peso que anuviava o coração do jovem. Apesar disso, o entusiasmo de estar participando de uma aventura animava-o a prosseguir.
Greenwood continuou a andar, parando ocasionalmente para descansar um pouco. Cobriu a metade da distância rapidamente. A trilha, que antes seguia para o leste, inclinara um pouco para noroeste. O rapaz sabia que a vila estava perto, mas, devido aos montes que a circundavam, não era possível ver nada, nem a fumaça dos fornos. Parou para descansar aos pés de uma elevação, a norte da estrada. Ralf preferiu entrar na floresta e deitar na grama, à sombra de um grande abeto. Um riacho, com nascente nos montes, caía numa bonita cascata, ali perto.
O jovem deixou a pesada mochila cair e armou uma pequena fogueira. Meia hora depois já tinha água fervendo e estava preparando um pouco de carne cozida, junto com umas ervas que encontrou perto. O local era um dos seus favoritos para fazer piqueniques ou descansar no meio de caminhadas, vinha muitas vezes ali, principalmente quando ia para vila vender carne ou ouvir histórias. Ralf olhou o sol e viu que tinha feito o percurso num bom tempo, por isso, depois de comer, resolveu dormir um pouco.
Com o bom-humor restaurado pela comida e pelo sono, o rapaz prosseguiu viagem. Cantarolava pequenas canções e caminhava devagar, apreciando a paisagem. Parecia que as cores do verão ainda resistiam, e, embora o tom melancólico do outono estivesse presente, estava ofuscado pela exuberância restante. Um dos únicos indícios de que o inverno estava próximo era o chão de folhas, que atapetavam o solo e abafavam as passadas de Greenwood.
A trilha virou-se para o norte e os espaços entre as árvores aumentavam. Baldwin, o monte à sudeste da vila e Trescodin, o monte sul, se aproximavam. Um pequeno vale se formava entre eles e a trilha seguia por ali. Nas encostas escarpadas dos montes se multiplicavam trepadeiras e liquens. Em pouco tempo, as árvores escassearam e se agruparam em pequenos bosques até desaparecerem. A trilha se alargou e virou subitamente para leste.
Mesmo indo freqüentemente para a vila, Ralf ficava sem fôlego com aquela visão. O vale se alargava, a trilha era pavimentada e, encravada na encosta norte de Trescodin, ficava o magnífico templo, dedicado a Crunor. Construído há séculos atrás, por mãos agora desconhecidas, o templo era um prédio alto e grande. Era feito de pedras que pareciam não se deteriorar, se por reparos ocasionais ou por habilidade do artífice misterioso não posso dizer, e suas janelas eram adornadas com vitrais belíssimos, representando lendas do passado.
O pórtico de pedra era virado para o norte, para a vila. Mais precisamente, para a praça principal da vila, onde todas as construções importantes estavam. Foi para lá que Ralf andou, acelerando o passo. A expectativa de ver de novo Hyacinth ou até mesmo Helidan, o animava, além de que os sóis já estavam descendo, a oeste. Por isso prestou pouca atenção aos moradores da vila que passavam por ele, ou o cumprimentavam a distância o conhecido contador de histórias.
Pouco depois, quase em frente a entrada do templo, a estrada se ramificava em três. Uma continuava a leste, e levava ao sul novamente, só que pelas as encostas orientais de Trescodin. Outra estava voltada para o sul, levando ao pórtico do imponente templo. A última ia em direção norte, para a vila. Rumando para a mesma, Ralf chegou na praça principal sem grande esforço.
O jovem então contemplou Rookgaard, feliz. Os sóis ainda iluminavam o suficiente para que o rapaz reconhece os prédios. No lado direito, uma grande casa de madeira se erguia. Lá viviam os mais ricos comerciantes de toda a ilha: Obi e Dixi. A esquerda, a estrada continuava por uma centena de metros e dava em outra casa de dois andares, encravada no monte Baldwin, a casa do curtidor da vila, Tom.
O celeiro para armazenagem de grãos podia ser visto, ultrapassando as altas casas, a noroeste. E, se Ralf forçasse a visão mais um pouco, podia divisar as muralhas de pedra resistente que protegiam a vila de qualquer incursão inimiga, seja humana ou não.
Mas o prédio que atraiu imediatamente a atenção do rapaz foi a biblioteca, logo ao norte. Não era o grande tamanho, nem a posição privilegiada, que fazia qualquer visitante olhar primeiro para ela. Não, o que fazia Greenwood olhar tanto para a construção era a importância de chegar lá o mais rápido possível.
O jovem foi correndo para o prédio, com sua pesada mochila balançando atrás do seu corpo. As cores da tarde estavam começando a desaparecer. A fumaça dos fornos e das pequenas fogueiras das casas da vila já começavam a empestar o ar. Uma menininha que brincava com sua boneca quase foi atropelada pelo rapaz, que pediu desculpas num sopro de voz. As faces magras de Ralf estavam vermelhas, e seu peito subia e descia rapidamente, tentando repor o oxigênio perdido.
Com as mãos nos joelhos, Greenwood parou um pouco arfando. Estava na soleira da construção. Uma estranha penumbra impedia o jovem de ver qualquer coisa no interior da biblioteca. O pórtico de entrada era de mogno escuro, com runas estranhas esculpidas nele. Ralf se aproximou, apreensivo. Um silêncio estranho parecia cair sobre a vila. As figuras reluziam, iluminadas pelos sóis que se encaminhavam para o horizonte à leste.
O rapaz andava em direção a escuridão, hesitante. Suas pernas estavam pesadas, como que se não quisessem ser conduzidas ao pórtico. Uma figura esculpida no mesmo atraiu a atenção de Ralf, que estreitou os olhos e se aproximou da madeira. A imagem, habilmente esculpida, representava um homem jovem, com uma mochila nas costas. Fosse por magia ou por um efeito de iluminação, Greenwood jurava que a figura estava se mexendo.
Atônito, o rapaz esticou os dedos para tocar na imagem. Depois recuou, horrorizado. O que pensava ser um homem, na verdade era um cadáver, com carne putrefata e ossos aparecendo em diversas localidades. Como que hipnotizado, Ralf viu o morto se virar para ele e abrir um sorriso sarcástico, como que dizendo algo.
O jovem gritou quando percebeu o que a figura representava. Era idêntica a ele mesmo, uma cópia perfeita. E mostrava certamente o que a aventura resultaria. No destino inevitável que o acompanharia se partisse. A figura abriu o sorriso e começou a se mexer, aumentar de tamanho. Seus olhos brilhavam de um vermelho maléfico que fazia o jovem tremer. De repente, uma mão da escuridão agarrou Ralf e o puxou para dentro do prédio. Assustado, o rapaz tentou se soltar, mas a mão era firme e não relaxava. De súbito, uma voz zombeteira falou em alto e bom tom:
- Está atrasado, Ralf Greenwood, contador de histórias.
Por favor, comentem o que acharam sobre o capítulo.