Capítulo XI
Aquilo que Tezila Sabia
Passos ecoaram pelos estreitos corredores do segundo andar de Kazordoon. As curvas e becos estreitos daqueles corredores de pedras e jóias preciosas faziam qualquer som, por mais baixo que fosse, perambular por cada metro do local, assombrando os ouvidos de quem passava por aqueles lugar. Não havia uma iluminação decente a não ser por duas solitárias tochas que crepitavam próximas a uma entrada em um dos mais movimentados corredores.
Ao norte, o portal escuro e sem vida que dava para a loja de armas e de armaduras, palco de um assassinato a sangue frio pouco tempo antes. Os guardas já haviam prendido a culpada, que devia estar definhando em Dwacatra. Mal eles sabiam que o verdadeiro assassino ainda vagava, sedento por sangue, com sua capa negra a esvoaçar pelos estreitos corredores. Uma lâmina em mãos, uma lista no bolso, palavras bem mastigadas na boca. Um jovem sedutor, capaz de arrancar informações e em seguidas as cabeças de quem as passara.
Ele entrou sem cerimônias no banco, o único local daquele andar presenteado com uma satisfatória luminosidade. Diziam que era porque a dona do estabelecimento, Tezila, usava o dinheiro depositado para pagar a mais suas taxas, recebendo alguns agradinhos do Imperador. Outros maliciavam que ela se envolvia com um guarda, do alto escalão com certeza, e assim conseguia o que queria.
Debruçou-se sobre o balcão de madeira perfeitamente polido, encarando a porta diretamente à sua frente. Porta mágica dos ladrões, levaria ao estoque de jóias e às caixas onde estava todo o dinheiro dos habitantes daquele lixo subterrâneo que ousavam chamar de cidade. Nem apreciou as belas jóias e medalhões que jaziam em pilares esculpidos ao lado da porta. Belas amostras intocáveis daquilo que representava uma das grandes riquezas de Kazordoon.
Bateu com sua mão cerrada no balcão, sem pronunciar uma palavra, mantendo o anonimato. A porta abriu-se, e dela saiu uma velha mulher loira, com os cabelos curtos enrolados em uma transa que caía por suas costas mínimas. Usava um roupão - minúsculo, diga-se de passagem - rosado com detalhes bordados em fúcsia. Arrastou-se até o balcão onde subiu sobre um caixote, fitando os olhos daquele homem, ocultos pelas sombras criadas pelo capuz que usava. Seus olhos verdes recuaram de medo com o jeito sombrio daquele homem, e sentiu seu corpo tremer quando desviou os olhos pára a lâmina que este segurava. Engoliu em seco e pensou que logo estaria com o dinheiro daquele otário em mãos, e então poderia voltar a dormir.
- Quer depositar seu dinheiro? - Disse com a voz seca e sem emoção, disfarçando ao máximo seu temor.
- Não - A voz ecoou longa e dolorosamente pelos corredores, cortando a alma de Tezila em mil pedaços e matando-a do coração.
O silêncio predominou por eras.
- Já ouviu falar de Petra? - Disse o homem sem mudar a direção de seu olhar maquiavélico. Sorriu em pensamento ao ver Tezila tremer perante a palavra, recuando alguns passos e caindo do caixote. Subiu sobre o balcão e puxou a lâmina gargalhando.
- Não devia procurar essas coisas meu jovem! - Ela disse aterrorizada, sem clamar pela vida que perdeu em seguida, com a lâmina cravada em seu peito.