Novo capítulo, boa leitura.
Capítulo 3 – Silêncio, lamentos e lágrimas.
O dia nascera como qualquer um na vila, mas a alegria não era a mesma. Sol forte, temperatura agradável, nenhuma nuvem no céu, casas queimadas. Esta última era o que não faltava no vilarejo. A maioria dos lares, lojas e outros estabelecimentos foram transformados em cinzas. As pessoas andavam entre os escombros em busca de sobreviventes. Algumas mulheres choravam suas perdas, sejam elas seus casebres, seus familiares ou amigos. Feridos eram levados para os curandeiros. Era um dos piores dias para Rookgaard, que sempre seria marcada por uma cicatriz de tristeza, choros, gritos, cinzas e mortes.
Saindo do prédio da curandeira Lyria, Bleda caminhava ainda com dores de cabeça. A visão que nunca tivera antes de sua vila o deixou em choque. Como alguém poderia fazer aquilo? Deixar mulheres chorando, pessoas feridas, casas destruídas, crianças sem pais. Pais? Onde estavam seus pais? Correndo em direção ao seu casebre, um pouco distante da área central do vilarejo, Bleda não via casa alguma. O que havia ali era mais um monte de cinzas, cinzas que foram as mais marcantes nas memórias do garoto de apenas nove anos.
Aqueles dois vultos, presos entre as chamas, sufocados. O menino parecia ter sua confirmação. Eram seus pais, sofrendo, com o fogo ardendo em seus corpos. Os olhos de Bleda começavam a lacrimejar. O sentimento de medo de que estava agora sozinho no mundo entrava em conflito com a vaga, desesperada e esperançosa idéia de que seus pais tinham conseguido escapar e estavam agora vivos, aos cuidados de um dos curandeiros de Rookgaard.
No centro da vila, a única druida local parecia estar muito preocupada.
- O que foi, bela Lyria? – perguntou um senhor percebendo a perturbação da curandeira.
- Você viu um menino de cabelos negros, olhos castanhos, passando por aqui? Provavelmente estava com a mão na cabeça. Preciso falar com ele, é urgente!
- Não vi menino algum aqui. Vindo para cá, porém, avistei um garotinho com essas características. Parecia ter uns oito ou nove anos. Estava correndo desesperadamente para a casa daquele pescador. O nome dele era alguma coisa Kironius.
Ao ouvir isso do rapaz, Lyria foi correndo em direção ao local onde se achava a casa citada. Quando chegou lá, viu Bleda perguntando para as pessoas se haviam visto seus pais.
- O pescador Furhil Kironius e sua mulher. O senhor viu? Por favor, diga que sim!
A resposta era sempre a mesma:
- Desculpe menino, não vi.
Apressadamente, Lyria se aproximou do garoto.
- Bleda, venha rápido! Seu pai e sua mãe estão em meu prédio. Apresse-se, estão muito feridos!
Chegando ao local de trabalho da curandeira, Bleda afobadamente foi correndo em direção aos seus pais. Triste era a notícia que viria a lhe ser dada de um dos assistentes de Lyria.
- Você conhece essa mulher, garoto? – perguntou o ajudante.
- Sim, é minha mãe. Como ela está?
O homem olhou para os olhos de Bleda, e com uma expressão séria, falou o que o menino menos queria.
- Ela faleceu há pouco. Sinto muito.
Sem conseguir demonstrar reação alguma, o garoto ficou pálido. Nove anos de carinho, amor, ensinamentos, que não mais poderiam se prolongar. Sua mãe estava morta.
Seu momento sem reações foi interrompido por uma mão que o tocou. Bleda se virou e viu seu pai. Corpo queimado, tosses. Estava gravemente ferido.
- Pai!
- Olá meu filho. – Disse com uma voz extremamente fraca.
- Pai, o senhor vai ficar bem. Fique firme!
- Ó, meu filho. Não importa o que aconteça, sempre ficarei bem. Sei que você é um menino bom. Terá uma vida boa. Não maior felicidade para mim do que saber disso.
- Agüente meu pai!
- Fique...
Sem conseguir terminar a frase, faleceu.
Lyria sem muito saber o que fazer, disse:
- Chore, Bleda. Chore.
E assim o menino o fez.
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Valeu! :o