Não vou comentar as brigas, as resolvam por pms. Em todo caso, pelo menos o tópico ganhou posts não? [+ mente fria]. Ok, sério agora, vim postar o segundo capítulo. É maior, mas não quer dizer que é melhor, porém dará uma continuação ao I.
Capítulo II
Os Viajantes de Kazordoon
Chronus correu por mais alguns metros, rindo absurdamente alto, chegando até a espantar algumas aranhas que transitavam pela caverna abafada e circular, que fedia a corpos mortos e era tão escura como o manto de uma feiticeira.
- Henry, dá pra me ajudar aqui? - Disse ela, ainda não contendo o riso, nem fazendo nenhum esforço para tal. Um homem mais alto e forte veio ao seu lado, rindo. Tirou uma longa e afiada espada das costas e cravou-a no chão, ao lado de uma pilha de pedras de onde se via uma corda cair em um buraco profundo. O guerreiro abaixou-se e agarrou na ponta da corda, puxando-a com força. Enquanto isso, Chronus ajudava-o de leve, sem tirar os olhos de seus músculos dos braços, expostos pela falta de uma camisa. Ele usava apenas uma armadura dourada, brilhante como as estrelas que dançavam no véu da noite.
Segundos se passaram e a corda pairou no ar, caindo ao lado dos dois, que voaram contra uma parede. Da ponta da corda voou pelo buraco um terceiro elemento. Este caiu em meio à terra seca e fétida, desajeitado. Limpou suas vestes azuis e catou um chapéu emplumado de mesma cor, colocando-o sobre a cabeça. Arrumou uma mochila vermelha nas costas, tirando o pó dos sapatos negros.
- Muito engraçado - Disse olhando fixamente para os amigos que riam - Sou um mago, não sou obrigado a ter músculos.
- Mas subir em um buraco com uma corda não requer isso - Disse Chronus, desatando a rir. Era a mulher com o senso de humor mais estranho que ele já conhecera - Ava, sabe que é brincadeira!
Ele a encarou com os braços cruzados, sério. Mas riu em seguida.
- Ta bom, já saquei...
- Vem cá - Disse Henry postando a mão no ombro do amigo bem forte, quase o enterrando na terra de tanta força - Porque não usou uma magia pra subir? Você sabe uma, não é?
Avalanche nem respondeu. Ponderou por um instante e encarou um alongamento no final da gruta.
- Vamos.
***
Viajam juntos já a algum tempo. Conheceram-se em Darashia, enquanto Chronus arrumava confusão em uma feira livre. Claro, ela estava tentando deter um larápio que roubara uma das frutas de um dos feirantes, mas o cara nem quis saber e já a expulsou dali. Pra evitar mais encrencas ela saiu, esbarrando com Henry e ai vem toda aquela velha história. Conversaram, se conheceram e ficaram amigos, viajando pelo mundo.
Avalanche era um homem alto, de uns vinte e poucos anos. Sua inteligência gerava inveja em muitos. Mas o que tinha de cérebro, faltava em músculos. E ele ligava pra isso, até demais. Por essas e outras - como por exemplo ele nunca conseguir mandar nas criaturas que conjurava - ele tinha a auto-estima mais baixa possível. Apesar disso, tinha um senso de humanitarismo absurdo, sendo capaz de morrer para salvar a vida de alguém. Por isso escolhera ser druida, para ter em mãos o poder de salvar vidas. Andava sempre com sua confiável mochila cheia de quinquilharias, de onde tirava a solução para tudo. Na cabeça, sempre estava seu chapéu. Presente de uma bela jovem que conhecera em uma de suas viagens. Viajava não por gosto, mas para ajudar quem achava pelo caminho. Já fizera missões no pântano da garra verde, no deserto de Jakundaf e até nas “planícies do caos”. Em todos esse pontos, fazia de tudo para ajudar quem precisava.
Tudo que Ava era, Henry era o oposto. Egocêntrico, forte e pouco esperto, ele levava as mulheres ao delírio, e sabia disso. E gostava: sempre adorou se sentir desejado. Talvez porque os pais o rejeitaram, abandonando-o pelas ruas de Carlin. A vida na cidade o criou, ele teve que aprender sozinho como se virar. Por isso achava que conhecia a vida. Era um cavaleiro muito habilidoso, sempre usando sua poderosa e cortante espada, ligeiramente negra com uma lâmina desbotada muito antiga, mostrando um misticismo em seu brilho. Sentia-se seguro com sua arma, ao contrário de muitos. Mas se visse um morto de fome na rua, era capaz de ignora-lo. Pra compensar, era otimista até demais, sempre vendo o lado bom de tudo. Mesmo sabendo que não existia.
Chronus por fim era uma exploradora nata, estava no sangue. Filha de um ladrão com uma paladina de Ab’Dendriel, se criou entre os elfos, ouvindo histórias sobre coisas fantásticas que sonhava ver um dia. Por isso ingressou na Sociedade Exploradora. Para ter o prazer de viajar pelo mundo, conhecer lugares e pessoas que nunca imaginou ver. Lutava por justiça, mas não por igualdade. Acreditava que tudo precisava ser como deveria, mas não necessariamente bom para todos. Se alguém tinha que sofrer com certa decisão, paciência. Não gostava de se definir em uma vocação só, mas o que disse ao Oráculo era sua opção: paladina, como a mãe. Apesar disso, não tinha o menor talento com arcos e acabava apelando para as clavas.
O grupo permanecia junto por companheirismo e por um pacto de vida e morte. Chronus salvara Ava de um dragão certa vez, e este salvara Henry de uma peste que pegara anos atrás. Essa dívida os mantinha sempre unidos, atentos para salvar a vida daqueles que eram suas famílias. Quando um tinha que ir a tal lugar, iam todos. Chronus explorar, Ava salvar vidas e Henry proteger os amigos. E em suas viagens, sempre se ajudavam.
Estavam agora em Kazordoon. Chronus precisava falar com o vendedor de armaduras local - que nem sabia o nome - sobre uma armadura de defesa incrível, prateada como a lua com detalhes dourados como o sol. Era a harmonia perfeita entre dia e noite. Fora forjada pelos mais antigos mestres anões e tinha um valor inestimável por sua raridade. Chronus ouvira boatos de que apenas o mais nobre dos heróis a teria em mãos um dia, e aquilo era a maior razão de sua jornada. Sentia que precisava por as mãos na armadura. Mais por meta, por missão. Mais por valor sentimental que monetário.
Naturalmente, Ava seguiu-a pois ouviu falar das condições de vida péssimas de quem viajava a Kazordoon. Era uma cidade traiçoeira, onde andar despreparado podia ser a sentença de morte de qualquer um. Henry os seguira justamente para protege-los disso.
Desceram em um outro buraco, próximo ao primeiro. Se viram em uma clareira entre as montanhas. Do outro lado, uma grutinha com um buraco. Mais adiante, em frente, um amontoado de árvores paralelas anunciava a presença do maior orgulho arquitetônico dos anões. O Colosso de Kazordoon. Uma enorme construção simbolizando o grande herói que eles idolatravam: Durin. Duas torres paralelas de pedra e mármore se erguiam, sendo as pernas do guerriero divino. Seus braços se cruzavam na altura do peito, ocultando a longa barba. Na cabeça, os olhos eram verdadeiras fendas iluminadas. Tinha uns cinqüenta metros de altura e levara anos para ser finalizada. Era a maior demonstração de que aquela cidade tinha história para contar.
- Banor! - Gritou Chronus, que seguia alguns metros em frente aos seus companheiros que conversavam animadamente sobre lendas da cidade - Vejam isso! - Ela parou abruptamente, e os distraídos Henry e Ava colidiram com ela, forçando-a para frente. Os três olharam fixamente para uma árvore de tronco forte, com folhas arredondadas agrupadas em tufos grotescos na ponta de galhos mirrados. Ela devia ter metade da altura de uma árvore comum. Entre os tufos e galhos contorcidos estava um homem, todo de preto, preso. Seus membros estavam moles e sua cabeça caída sobre um galho. Seu corpo estava perfeitamente encaixado entre dois galhos pontiagudos. Estava desacordado e sua face permanecia oculta por um capuz. Chronus deu um passo à frente.
- Não - Disse Henry postando-se em frente à amiga - Pode ser um bandido de tocaia.
- Em cima de uma árvore? - Ela respondeu ironicamente sem tirar os olhos do corpo - Fala sério Henry.
Ele fuzilou-a com o olhar e virou-se para Avalanche.
- Estou certo, não estou?
- Duvido - Disse o druida, caminhando junto á árvore. Escalou-a sem muita dificuldade, vez ou outra deslizando acidentalmente. Encarou o corpo e vasculhou em seu tronco, removendo alguns trapos rasgados. Ergueu os olhos e observou que parte do capuz que cobria-lhe o rosto estava rasgado, perfurado. Voltou a baixar os olhos para o outro e percebeu uma rodela de sangue manchando a camisa negra e pingando em seus dedos - Está ferido.
- Mas está vivo? - Indagou a paladina, com as sobrancelhas levemente erguidas e um tom de preocupação na voz. Olhava a cena por cima dos ombros de Henry, que permanecia em sua frente.
- Por sorte - Ele pegou alguns trapos jogados ao lado do corpo e os encarou - Parece que arrancou alguns pedaços de vestes para estancar o sangramento. Mas acabou perdendo a consciência - Ele fez uma pausa, levando uma mão ao queixo - Não sei por quê.
- Como foi parar ai? - Tornou a questionar Chronus, dessa vez apoiando-se nos braços do cavaleiro.
- Que preocupação toda é essa? - Disse Henry encarando-a nos olhos e vendo um profundo temor neles. Virou a face para a árvore - É meio óbvio que caiu ai, não é?
- Só se for do Colosso - Argumentou Avalanche, virando-se encarar a enorme estátua colossal - Mas duvido que alguém sobreviva dessa queda...
- Bem, se ficarmos debatendo aqui ninguém vai mesmo - Retrucou a outra, passando por baixo dos braços estendidos de Henry - Mas se o levarmos para a cidade quem sabe?
***
- Não é totalmente um caso perdido - Averiguou Isimov, coçando a testa e encarando o corpo com interesse - Onde acharam?
- Caído sobre uma árvore anã, logo perto dos pés do Colosso - Repetiu pela milésima vez Avalanche, que dissera aquilo a todos os guardas que achara pelo caminho. Todos mostrando muito interesse em Chronus...
- E como foi parar lá?
- Isso é o que todos queremos saber - Respondeu Henry prontamente, antes que Chronus pudesse dar uma de suas explicações baratas.
Estavam no templo de Kazordoon, situado no quarto andar abaixo do solo. Era uma construção limitada, retangular, feita de tijolos. Era decorada com estátuas de grandes anões que ora foram lenda pelos corredores da cidade, mas que hoje não passavam de um amontoado de pedras e placas de ouro com histórias que ninguém queria ouvir. “Essa nova geração” praguejava Isimov toda vez que via jovens anões ignorando sua cultura, negando sua própria identidade.
Sobre o piso de mármore e entre seis pilares paralelos de concreto jazia uma mesa de madeira plana, presa ao chão. Era clara como a luz do sul e polida como o próprio piso do local sagrado. Sobre ela estava o corpo encontrado na árvore. Os quatro encontravam-se ao redor da mesa, encarando o corpo formulando respostas para tantas perguntas inquietas que queriam fazer mas tinham medo. Isimov apurou os ouvidos e direcionou os olhos azuis por entre a cabeleira ruiva que caía em sua testa para a única entrada ao templo: um corredor largo escuro. Por ele apareceu a silhueta de um anão, muito bem armado e protegido por armaduras e escudos. Entrou na sala fazendo alarde com o tilintar de suas proteções.
- Isimov fui notificado de que... - Mas parou de falar ao dirigir os olhos a Chronus, que não parava de encarar o corpo. Engoliu em seco, puxou a espada e correu até ela, pegando-lhe o pulso com força e colocando-o em suas costas, jogando-a contra a mesa e a obrigando a bater a cabeça nela, poucos centímetros do braço esquerdo do corpo. Henry tentou reagir e Ava ficou perplexo com a cena. Isimov apenas olhava - A senhorita está presa.