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Tópico: O Arauto do Expurgo

  1. #1
    Avatar de Emanoel
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    Padrão O Arauto do Expurgo

    O Arauto do Expurgo


    Índice



    ------------------------------

    O Arauto do Expurgo

    Capítulo I
    Visita

    Era madrugada. Todos os habitantes da região acordaram com uma sensação de angústia, medo e dor. Terríveis criaturas aladas pairavam sobre aquele vilarejo, produzindo ganidos estridentes. Um garoto curioso se aprumava na janela e espiava o céu, na tentativa de ver os demônios.

    – Saia da janela, Sam – disse um viajante que passava pela rua. – Você não sabe que esses bichos trazem má sorte e desgraça por onde passam?

    Sam olhou timidamente para o homem e começou a reparar em suas feições. Ele era jovem, tinha estatura mediana e um corpo magro. Seus cabelos pretos, lisos e muito desarrumados, cobriam a sua testa. Usava roupas de outra região e uma longa espada nas costas. O viajante estava muito sujo e cansado, mas trazia consigo um largo sorriso no rosto. Demorou algum tempo para ser reconhecido.

    – Ora, pare com isso – falou o viajante, quando percebeu que o garoto estava prestes a desabar em lágrimas. – Como andam as coisas por aqui?

    O garoto ignorou a pergunta e o abraçou. Tremia e soluçava muito, inundado em um misto de êxtase, felicidade e agonia. O homem não resistiu ao calor humano e retribuiu o abraço. Fez um afago na cabeça da criança e o incentivou a responder a pergunta. O menino engasgou–se duas vezes na tentativa de falar algo.

    – Você... Você voltou... – então reuniu todas as forças que tinha e gritou o mais alto que pode. – O HERÓI VOLTOU! VINCENT ESTÁ DE VOLTA!

    ***

    Uma aglomeração se formou no meio da rua. Pessoas saíam de suas casas para verificar se o que o garoto dizia era realmente verdade. Todos olhavam para Vincent, parecendo não acreditar que o herói da cidade tinha realmente retornado. Uma velha senhora chegou perto do viajante e tocou–lhe a face.

    – É você... Depois de tanto tempo... Sabe que veio em boa hora, não é?

    – Sim – respondeu firmemente. – Eu vim exatamente para isso. Agora, voltem para suas casas. O Arauto está atrás de mim, ele deve chegar em breve.

    Houve um longo silêncio. Todos pareceram congelar ao ouvir as palavras de Vincent. Uma jovem soltou um grito agudo e logo em seguida desmaiou. O barulho conseguiu quebrar o transe que se iniciou depois da terrível notícia, e a jovem foi rapidamente socorrida por seus vizinhos.

    No céu, as bestas passaram a voar em círculos, alguns metros acima da aglomeração. De vez em quando, um deles fazia menção de pousar, mas apenas descia alguns metros e grunhia para os humanos. Logo em seguida, voltava ao seu posto.

    – E agora, o que será de nos? – indagou Sam, com os olhos firmes em Vincent. As lagrimas ainda escorriam pelo seu rosto. – Você vai acabar com ele, não é? Você é nosso herói, você pode tudo!

    – Eu não posso com O Arauto. Mas não se preocupe, pois nada ainda é definitivo. – Respondeu Vincent, sem acreditar nas próprias palavras. Fazia esforço para manter o sorriso e um ar de descontração.

    Vincent deu as costas à aglomeração, andou alguns passos, olhou para trás e gritou uma ordem de retirada. O seu grito soou como um trovão e ninguém ousou desobedece-lo. Até mesmo os terríveis demônios se dissiparam no céu. Em pouco tempo, todos estavam de volta ao conforto de suas casas. Sam foi o último a entrar, despediu–se do herói com um olhar mortificado e a boca seca.

    ***

    O Arauto chegou. Não era belo, tampouco humano. Absurdamente alto e magricela, andava gingando, como se não conseguisse se sustentar. Seu rosto era tenebroso: olhos totalmente brancos e vidrados, boca e queixo exageradamente finos, quase sem nariz. Possuía cabelos ralos e a pele negra como a noite, tornando fácil a camuflagem na escuridão. Suas mãos continham seis dedos finos, que mais pareciam garras. Não utilizava vestimentas, mas geralmente permanecia coberto com suas enormes asas lúgubres e putrefatas.

    Vincent estava a sua espera, sentado em um barril e encostado na parede de um casebre. O monstro postou–se à frente do herói, estendeu o braço direito e mostrou dois objetos na palma de sua mão.

    – Você conhece as regras – disse O Arauto, com uma voz muito rouca. – Não tente me enganar novamente.

    Todos os outros demônios tinham se acomodado no telhado de uma casa próxima. Eles observavam o que se passava e permaneciam preparados para qualquer tentativa de fuga.

    Vincent pegou os objetos rapidamente e sem hesitação. Eram dados de seis lados. Cubos pretos, com pontos brancos. Emanavam uma energia estranha, possuíam um leve brilho e peso anormal. O herói já estava acostumado com aquele jogo.

    – Conheço teu tipo. Faz essa pose, não tira esse sorriso do rosto, mas a verdade é que esta tremendo nas bases. Se pudesse, já teria fugido – O Arauto imitava o linguajar humano e falava de forma debochada, olhando fixamente para ele. – Cê sabe que um dia eu vou ter de matá–lo, não é? Ou pretende continuar assim pelo resto da tua vida miserável?

    O demônio sabia que o herói não iria responder, mas não se importava, pois ele tinha certeza que aquelas palavras feriam por dentro. O Arauto era mais eficaz em causar a dor psicológica do que a física. Além disso, ele se divertia muito com o seu trabalho.

    De fato, Vincent ignorou completamente o comentário e a pergunta. Levantou-se do barril, deu as costas à criatura e atirou os dados sobre o tampo de madeira. Logo que viu os números sorteados, soltou um suspiro com ar de quem acha que poderia ser pior.

    O Arauto não precisou olhar o número. A soma dava sete, e ele já sabia disso antes mesmo dos cubos rolarem. Soltou uma gargalhada ruidosa, pegou os dados de volta, agitou as asas e preparou-se para alçar vôo.

    – Dessa vez... – falou Vincent, com uma voz que não parecia a dele. – A vítima sou eu.

    A princípio, o monstro não compreendeu. Ficou um bom tempo com seus olhos arregalados, fitando as costas do herói e a sua bela espada, com bainha dourada. Sua cabeça deu um estalo e ele finalmente entendeu o que se passava. Por fim, abriu um largo sorriso.

    – Cê que sabe – disse O Arauto, enquanto levantava os ombros em um gesto de que não se importava.

    Não se demorou muito mais e foi embora voando. Vincent o acompanhou com os olhos, e antes de vê-lo sumir no horizonte, reparou que fachos de luz passavam entre rasgos nas asas do monstro. Junto com ele, todas as outras criaturas das sombras se foram. Amanhecia.

    ***

    A grande verdade é que o herói estava acabado e triste, mas mantinha sua pose sóbria e um sorriso estampado no rosto, a fim de tranqüilizar os habitantes e irritar os demônios.

    Entretanto, ele não agüentava mais. Caiu de joelhos no chão e, chorando lágrimas penosas, deu um soco no chão de terra batida, levantando muita poeira. Pensou no vilarejo, na integridade daquelas pessoas e na sua dor interior. Refletiu sobre sua vida sofrida e as dificuldades em sua jornada, ainda em dúvida se tinha feito a escolha certa.

    – Por quê? – perguntou-se em voz muito baixa. – Por que ele faz isso? Por quê?!

    O céu já se encontrava claro e límpido, como se aquele fosse um dia primaveril qualquer. Uma brisa fraca dava um ar agradável à rua. Não existia sinal algum dos demônios. Entretanto, nenhum habitante do vilarejo tinha reunido coragem o suficiente para sair de sua casa.

    Vincent reparou como o lugar era muito mais bonito sem as bestas por perto. De repente, um sentimento forte de nostalgia o atingiu e ele se lembrou de como tinha vivido uma bela infância e juventude naquela mesma rua.

    “Tenho pouco tempo”, pensou. Não resistiu mais, tombou no chão, dormindo quase que instantaneamente. Enfim, podia descansar.


    ----------


    Marcotonio, valeu pela revisão do Capítulo I e pela ajuda com a gramática.

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    Última edição por Emanoel; 21-06-2008 às 09:47.

  2. #2
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    Bom, muito bom.

    Não há muito o que dizer, o capítulo foi bom e sua narração é muito boa. Vou me limitar a isso e aguardar o próximo capítulo.

    Lembre-se, não tenha pressa para postá-los. Revise-os bem para evitar que a qualidade deles decaia.

    Edit: Mensagem de número 500 no board roleplaying.
    Última edição por Wk~; 11-10-2007 às 17:56.
    _/_/_/_/_/_/_/_/_/

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  3. #3
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    Emanoel =P

    Gostei da sua história, esse capitulo me deixou muito curiosa para saber a continuação!

    Não há muito o que falar, que venha o próximo!
    Meeeeh






    QUEM É VIVO SEMPRE APARECE!

  4. #4
    Avatar de Marcotonio
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    Pessoas saiam de suas casas
    saíam*

    Não utilizava de vestimentas
    se utilizava de vestimentas
    ou
    utilizava vestimentas

    Ah... não re-reli tudo porque as mudanças foram poucas, a história tá o que eu já li mesmo.

    Eu gostei da história, ficou interessante para um 'prólogo' misterioso, o jogo de dados que resulta no 7 e deve-se matar alguém...

    Só agora eu entendi que ele morreu ali no final. 8D

    Continue a história, está muito boa.

    Ps: aquele link ali no meu nome redireciona ao último poster do tópico:
    "pq vc criou char em rook? e qual é sua missão? oq aconteceu pra vc criar um char ?"

    s=D|--<
    q.

  5. #5
    Avatar de Emanoel
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    Citação Postado originalmente por Elmon Ver Post
    Achei legal, criativa, mas não entendi, ele jogou o dado contra o demônio e o demônio foi embora e ele ficou caido no chão? Estranho. o.o
    Como eu disse no MSN... É mistério!

    Mas não se preocupe, eu decidi entregar a maior parte dos segredos no próximo capítulo. Para quem ler não ficar com aquele ar de Lost: "legal, mas não entendo nada".

    Citação Postado originalmente por Wk~ Ver Post
    Lembre-se, não tenha pressa para postá-los. Revise-os bem para evitar que a qualidade deles decaia.
    Obrigado pelos elogios e pelo conselho. Eu já tenho boa parte da história idealizada e vou escrevendo vagarosamente. Tentarei lançar o segundo capítulo no próximo sábado.

    Citação Postado originalmente por Chazys Ver Post
    Emanoel =P
    Chazys!

    Sempre bom me esbarrar com você. Fico muito contente em ver a minha historieta sendo lida e apreciada. Muitíssimo obrigado.

    Citação Postado originalmente por Marcotonio Ver Post
    Só agora eu entendi que ele morreu ali no final. 8D
    Bem... Não é bem isso... :rolleyes:

    Sabe que eu até pensei em fazer o prólogo, explicando a história, o mundo, etc? Mas eu decidi criar um enredo quase-não-linear, sem ser baseado em apenas um personagem ou um grupo. A característica principal será a falta de explicações, estarei evitando ao máximo narrativas longas, sem diálogos e com muitos detalhes sobre o que se passa. A maioria dos detalhes da história serão explicados pelos próprios personagens. Eu não quero forçar nada, portanto, em capítulos em que o personagem já sabe tudo, ele não vai ficar repetindo o que pretende fazer... Se é que você me entende. Se não entende, vai entender com os próximos capítulos.

    Corrigi os erros de português e o link. Valeu a ajuda, Marco!




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  6. #6
    Avatar de Steve B
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    Gostei.

    Não vi erros e é o tipo de história que eu gosto, ainda mais com esse lançe de dados.

    Que Nimb role bons dados para você...

    Falows, esperando o próximo capítulo.

  7. #7
    Banido Avatar de Hovelst
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    Parece que será uma ótima história.

    Ótima narrativa. Ótimo enredo. E suspense.

  8. #8

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    Você tem potencial, o texto está bem estruturado e tudo mais, mas se quiser evoluir terá que se desprender desse universo dos Animes e Mangás e buscar inspiração em outros lugares...

    Essa coisa de herói e sentimentos\expressões exageradas é bem típico do gênero. Com isso eu quero dizer que fica meio caricata a história, perde a sobriedade necessária para fazer dela uma obra com suspense que realmente tenha um "peso psicológico" forte no leitor, que faça ele vivenciar o suspense ou outras coisas como se fosse um dos personagens. (Como acontece com os personagens e leitores do Stephen King, ou então, usando um caso mais banal, entre as mocinhas da novela das oito e as senhoras idosas que vêem as novelas, e que, se encontram o ator que faz o papel de vilão na rua, o repreendem como se ele fosse mau como seu personagem.) [Falarei disso com precisão mais tarde...]

    Por exemplo, naquela parte em que o demônio caminha gingando, foi uma descrição que me chamou bastante a atenção e tornou a cena bem real. Porém, em contrapartida, toda aquela história de herói, de ver o próprio narrador se referindo ao personagem como heróico, deu ao texto um ar infantil, ingênuo - E isso quebrou o clima, pelo menos para mim. Não manteve o suspense até o final. (conte quantas vezes a palavra "herói" e similares apareceram no texto, e você terá uma idéia do que eu estou falando.)

    Não existem heróis propriamente ditos, ou pelo menos não um que o seja durante 100% do tempo. Na melhor das hipóteses, eles reservam as suas dúvidas e dualidades para o interior, não deixando que se reflita em ações (o que, ainda sim, é meio "bobo", caindo no estereotipo do herói com dúvida existencial, como por exemplo, os heróis da Marvel.), mas essa coisa de "bem" contra o "mal" onde os lados estão bem definidos e estáticos é ingênuo (se tratando de humanos).
    E isso já se torna evidente quando o autor usa de seres emblemáticos como demônios, que são naturalmente inclinados ao mal e ponto final. Digamos que é fácil usar desse tipo de recurso, não requere maiores elaborações de personagens. (Nada contra, porém. Às vezes um ser assim cai como uma luva no enredo, e pode até enriquecer a história dando simbologias para refletir e etc.)

    Voltando ao que eu falei anteriormente, só para reforçar, tente sair um pouco da mentalidade Anime. É claro, se você estiver disposto a isso.

    Vale a pena testar alternativas novas.

    E voltando à relação leitor\personagem: Não deu tempo de se apegar ao Vincent para sentir realmente os infortúnios dele. Veja bem, você não mostrou nada da personalidade ou sentimentos dele para o leitor se identificar em algum aspecto, e isso é essencial para que sentimentos como "pena" sejam sentidos pela pessoa que lê.
    É mais fácil se sentir mal vendo o sofrimento de uma pessoa que tem alguma coisa a ver com você, não é? E o tal Vincent apareceu do nada, não se sabe nada sobre ele além de que ele é um "herói". Como nenhum de nós, leitores, se identifica com o heroísmo dele pelo simples fato que isso é surreal, não tem porque sentir nada lendo as passagens onde ele "se ferra". (com exceções, é claro)


    Próximo Capítulo?


    A.E. Melgraon I
    Última edição por Melgraon I; 12-10-2007 às 20:39.

  9. #9
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    Agradeço aos elogios e críticas! Tanto do pessoal que postou aqui, quanto aos que falaram comigo via MSN e afins. Vocês me dão forças para continuar e me ajudam a melhorar!

    Melgraon I: A sua crítica foi uma das mais significativas para mim. Só tenho a agradecer pela análise. Quero comentar alguns pontos, vamos por partes:

    • Já li Stephen King e sei bem o que você quis dizer. O "mestre do terror" consegue transmitir emoções e pensamentos de uma maneira impressionante e angustiante!
    • Tentei, tento e tentarei me desprender da "mentalidade anime". Apesar de ter ciência que a história possui muitos elementos clichês, quero criar um enredo realmente inovador e envolvente.
    • Não se preocupe, você terá tempo de se apegar aos personagens! É que eu senti a necessidade de criar esse primeiro capítulo assim: interessante, sombrio e sem muitas informações.


    Próximo Capítulo?
    Eu ia postar o segundo capítulo ainda hoje... Mas, infelizmente, tive um problema com meu computador e não deu tempo de terminar. Provavelmente vai demorar mais alguns dias.

  10. #10
    Avatar de Emanoel
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    O Arauto do Expurgo

    Capítulo II
    Ataque

    Ao meio dia, Vincent ainda estava desacordado. Aos olhos dos poucos transeuntes – a maioria deles com mochilas nas costas – que passavam e não conseguiam reconhece-lo, parecia um mendigo, sujo e jogado no meio da rua.

    Acordou de supetão, com uma leve dor na nuca, e se levantou com incrível velocidade. Levando a mão esquerda ao cabo da espada em suas costas, rosto severo e dentes a mostra, parecia um touro feroz prestes a atacar. Quando percebeu o que se passava, já era tarde demais, uma pequena menina fugia dele em disparada, gritando a plenos pulmões.

    “Acho que assustei a garota”, pensou vagarosamente, enquanto observava ela correr de forma desajeitada, com o longo cabelo rabo-de-cavalo balançando freneticamente as suas costas. Sumiu em uma esquina próxima, sem olhar para trás.

    Vincent observou o chão e encontrou um galho de árvore, provavelmente o objeto usado para lhe cutucar a cabeça. Lamentou-se por ter espantado o único ser humano que fez questão de lhe acordar.

    Andando pelas ruas quase desertas, lembrou-se dos acontecimentos da madrugada anterior e do seu número de azar: sete. Poucas pessoas saíram de suas casas, tornando o lugar um vilarejo fantasma. Muitos ainda se escondiam, aterrorizados com a possível volta do Arauto e seus subordinados das sombras, ou algum outro acontecimento macabro.

    Enquanto se encontrava em aparente devaneio e vagava pelas ruas como alma penada, tentando lembrar-se dos sonhos que tivera em seu repouso nada confortável, Vincent foi surpreendido por uma mão ágil em seu ombro e uma voz penetrante.

    – O seu espírito guerreiro está fraco, meu amigo. Sempre alerta! Já esqueceu? Se estivéssemos em uma batalha real, você já teria sido morto sem sequer vislumbrar o rosto do seu assassino.

    O homem misterioso estava atrás dele e mantinha a mão direita apoiada em seu ombro. Vincent nada disse. Reconheceu a voz e abriu um largo sorriso.

    ***

    – Você tem a minha gratidão eterna – disse Vincent, muito sorridente e brincalhão, depois de limpar o prato. – Não faz idéia de quanto tempo eu fiquei sem uma refeição decente. Você sim tem uma vida que valha a pena!

    Sirius, mais conhecido como Garra Negra, tinha abordado o velho amigo na rua para convidá-lo a um almoço digno de um herói. Era um homem poderoso e influente, que conservava uma aparência séria e intelectual.

    – Falando sério – continuou Vincent, de forma mais gentil. – Fico feliz em encontrar alguém que não me chame de “herói” o tempo todo. Obrigado pelo convite, sua nova casa é bem bonita.

    Vincent se deteve a observar a bela construção rústica. A simplicidade da casa tornava-a um lugar agradável. Estavam sentados, um de frente para o outro, em uma mesa pequena e redonda, totalmente feita de madeira.

    Nas paredes, só havia um quadro, que fora um presente de Vincent dado há pelo menos cinco anos atrás. Ele tinha comprado em uma de suas viagens, quando ainda era um adolescente rebelde que pretendia conhecer toda a extensão do mundo. Na pintura, encontrava-se um jovem guerreiro lutando eternamente contra três demônios, em uma bela imagem estática. O guerreiro do quadro empunhava sua espada e mostrava confiança. Vincent reparou como aqueles demônios pareciam O Arauto e seus seguidores, esboçou um sorriso amarelo ao se deparar com ele mesmo tentando derrota-los.

    – Por onde andou? – perguntou Sirius, transparecendo preocupação e interrompendo os pensamentos de Vincent. – O que andou fazendo nesses dois anos em que passou fora de Doria? Depois da Grande Guerra, trouxeram noticias de que você estava vivo, ficamos esperando o seu retorno... Mas você nunca reapareceu!

    – Eu não queria voltar – respondeu Vincent, ficando inesperadamente sério.

    – Eu estou preocupado com você... Olha, sei que não tem muito tempo de vida.

    – Como tem tanta certeza?

    – Todos os que se encontram com O Arauto acabam loucos! Vivem seus últimos dias envoltos em desgosto e miséria, geralmente se suicidam da maneira mais desonrosa possível! Eu estou impressionado em te ver assim, fisicamente inteiro, depois de tanto tempo! Vincent... Até ontem, eu realmente acreditei que você já tivesse morrido.

    Vincent revirou os olhos. Um turbilhão de idéias e memórias desconexas embaralharam sua mente em um rodopio convulso. Acordo. Arauto. Morte. Estava sem chão, a sensação era de uma arma apontada para sua cabeça. Teve um arrepio repentino, seguido de um gemido quase inaudível.

    Ele não estava em boa situação, era inegável e não adiantava mais disfarçar. Sirius era esperto, fingir alegria ou despreocupação não iria convencê-lo. Estava diante de um velho amigo, alguém realmente interessado no seu bem estar. Desarmou-se, resolveu contar tudo.

    ***

    Lá fora, tudo ainda estava anormalmente calmo. Não existia criatura entre o céu e a terra que tinha a ousadia de quebrar a quietude daquele ambiente cálido e nostálgico. Um grande furor era pressionado – pelo insólito pavor que as criaturas das sombras conseguiam causar – no coração de cada habitante da região. Todos sentiam a necessidade de fazer ou dizer algo, mas poucos tinham a coragem de sair de suas casas, e os que faziam isso, corriam para muito longe, levando tudo que podiam carregar.

    Pouca gente naquele mundo sabia algo de concreto sobre O Arauto. Era fato, para a maioria das pessoas, que ele era vil, cruel e sanguinolento. Acreditava-se que existia apenas para trazer desgraças, e matava ao seu bel prazer, sem se importar com as vidas humanas. Naquele dia ensolarado e triste, Sirius “Garra Negra” se tornou um dos poucos felizardos a descobrir alguns segredos que aquela entidade possuía.

    – O Arauto, e os outros demônios que o seguem, não podem matar – decretou Vincent.

    – Como? – perguntou Sirius, com uma sincera reação de espanto.

    – Ele não mata... Eu não sei por que, mas não mata! É irônico, mas é verdade. Aquela criatura pestilenta não é capaz de derramar uma gota de sangue humano.

    – Explique melhor... Como descobriu isso, e afinal, porque ele veio atrás de você? Qual a relação entre vocês dois? Vocês fizeram algum acordo? Eu ouvi falar que ele não é confiável, vai sugar sua alma e...

    – Chega de suposições, Garra Negra! Deixe-me contar tudo primeiro!

    Sirius parou de falar imediatamente. Estava surpreso, não apenas pelo tom ríspido que o amigo usou para lhe interromper, mas também por ter ouvido, depois de muito tempo, o seu “nome de guerra” ser pronunciado. É verdade que todos o conheciam como “Garra Negra”, mas ninguém o chamava assim há alguns anos.

    – Eu era jovem e tolo... Deixei-me levar por uma oportunidade incerta... Fiquei sabendo sobre a existência de um acordo, que eu poderia fazer com O Arauto.

    – Quem te informou sobre isso? – perguntou Sirius, sem conseguir se conter.

    – Existe gente muito sábia em outras terras, além de Doria – Vincent respondia de maneira quase serena, querendo se desculpar pelo tom arrogante de poucos segundos atrás. – Eu aprendi muito nesses dois anos em que vaguei por aí, tentando me esconder daquele demônio maldito. Conheci gente interessante e coisas que arrepiariam os poucos cabelos que restam em sua cabeça.

    Sirius tentou sorrir, o maximo que conseguiu foi algo semelhante a uma careta. Reparou que Vincent vestia roupas estranhas, diferente de tudo que era produzido no vilarejo de Doria. Ele era um homem pouco viajado, e apesar de ser um guerreiro mais hábil que seu jovem amigo, respeitava os conhecimentos que Vincent tinha adquirido em suas inúmeras viagens. Mesmo antes da Grande Guerra, o “herói” já tinha percorrido os quatro cantos do mundo.

    – Bem, acontece que eu procurei O Arauto – continuou Vincent, ficando mais nervoso a cada palavra. – Depois de encontrá-lo em seu covil, e conversar com ele, eu aceitei o acordo...

    – Que acordo?

    – Ele me daria uma segunda vida, e eu seria seu servo eternamente... – Vincent hesitou alguns segundos e depois continuou a falar, tentando se explicar da melhor forma possível. – Eu ia para a Grande Guerra, e temia que não pudesse voltar! Entenda, eu ainda tenho muito para fazer em vida. Todos nessa cidade me tratam como um grande herói, mas eu não sou imortal, Sirius!

    Sirius pareceu congelar. Tentou falar algo e não produziu som. O silêncio que se seguiu foi sufocante. Vincent estava cansado, mesmo tendo dormido tanto, não se sentia regenerado. Esperou impacientemente, o que lhe pareceram horas, que o amigo dissesse algo. Quando não suportou mais a invisível pressão daquela situação, resolveu encerrar o assunto de uma vez por todas.

    – Eu morri, Sirius. Essa é a verdade, eu morri e renasci. No final da Grande Guerra eu fui abatido pelos soldados de elite de Janour, na tentativa de adentrar no palácio imperial com as tropas principais. Uma punhalada para cada dedo de minhas mãos e pelo menos meia dúzia de flechas cravadas em meu tórax. Lutei bravamente e levei vários inimigos para o inferno... Lutei como nunca haverei de lutar novamente. Naquela época eu era outra pessoa, eu tinha honra...

    – Não se deprecie. Vamos, continue – depois do susto inicial, Sirius pareceu capaz de falar novamente. Mas não parecia ser a voz dele, era diferente, uma voz debochada e seca.

    – Eu renasci alguns dias depois de minha morte, não sei ao certo quanto tempo... Meu corpo estava um pouco distante do campo de batalha e O Arauto estava ao meu lado. Eu parecia inteiro, não havia sangue e nem cortes. Era um corpo novo, eu até me sentia mais jovem e mais forte...

    – E desde aquele dia, você tem sido escravo dessa criatura vil! – Sirius interrompeu, gritando subitamente. – É para isso que ele lhe procura, para lhe designar tarefas, não é? Você esta compactuando com o mensageiro da morte e destruição que apavora o nosso mundo, não é mesmo?!

    Sirius parecia explodir em ira. Vincent se sentiu um coelho enjaulado, não imaginava essa reação vinda do amigo.

    – Sirius, preste atenção... Eu já te disse que O Arauto não pode matar seres humanos, mas ainda não lhe contei tudo... Têm os dados, nós estamos em um jogo...

    Sirius era frio e analítico. De certa forma, estava feliz em rever o amigo, mas o que realmente queria era a confirmação de que existia um acordo entre Vincent e O Arauto. Agora, só estava esperando a hora certa de atacar. Vincent não parecia mais aquele herói imponente, estava em um momento de fraqueza e impotência. A hora tinha chegado, e não poderia ser desperdiçada.

    Sirius “Garra Negra” fez jus ao seu apelido. Em uma velocidade sobre-humana, como quem já tivesse feito isso muitas vezes antes, levou a mão direita ao bolso largo de suas vestes e retirou uma pequena caixa marrom. Dentro do compartimento, estavam dois objetos parecidos com soqueiras, cada um com quatro navalhas extremamente afiadas. Sirius acoplou as armas em suas mãos – com incrível habilidade e agilidade – e elas ficaram semelhantes às garras de um felino. Vincent se sentia um animal morto, só conseguiu piscar e observar.

    – Você é um verme! Deixe-me dar-lhe uma morte honrosa, na mão de um verdadeiro herói de Doria.

    Vincent estava aturdido, nunca tinha visto o seu amigo pronto para o combate, daquele jeito feroz e violento. Finalmente entendeu o porquê do apelido, quando Sirius já tinha saltado sobre ele em um ímpeto admirável, com as quatro garras de sua mão direita indo em direção ao seu coração.

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    Última edição por Emanoel; 22-03-2008 às 01:17.



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