As Crônicas do Mundo Antigo – A lenda do Cavaleiro Negro.
Raiva, desejo, amor... Poder
Sentimentos e condições fortes. Doenças difíceis. Defeitos humanos.
Cura para isso?
...
Não há.
Prólogo
O crepúsculo já ocupa todos os pequenos e profundos cantos do céu que era azul, fazendo a escuridão dominar o campo e guerrear contra as fracas e vibrantes labaredas das tochas da cidade distante. Essas mesmas sombras, lutam contra a simplória fogueira situada ao centro de um pequeno e cercado pasto de ovelhas; Aquela, com seu fogo trêmulo, é remexida por um fino graveto que revira e reaviva as chamas, iluminando a enrugada face do idoso que se encontra sentado em uma pedra.
Seus olhos fundos quase cobertos por suas sobrancelhas grossas e brancas, analisam as sombras à espera de seus pequenos e assíduos ouvintes... Era mais uma noite de fantasia e imaginação.
As risadas inocentes e os murmúrios alegres chegam aos seus falhos ouvidos, aproximando-se cada vez mais, até serem iluminadas pelo fogo, revelando bonitas faces que aparecem uma a uma. Algumas assustadas, outras curiosas, as crianças vão sentando em volta da fogueira sem dizer uma palavra, voltando todos os olhares para ele.
- Que bom! Temos mais pequeninos do que o normal hoje... – Começa o velho quando todos se sentam. – Deixe-me admirar os rostinhos de vocês... – o rosto flácido aproxima-se da luz, revelando sua assustadora face: além das sobrancelhas extremamente grossas, o cabelo e a barba rala também são brancos como a neve, porém, apesar das cicatrizes de muitas batalhas e das rugas ocasionadas pelo tempo, o sorriso amarelo transmite um conforto inigualável para as crianças.
- Hoje teremos mais histórias de demônios, Sir. Ludain? – indaga com receio uma das muitas bocas de rostos hipnotizados.
- Não e sim. – responde o velho mirando o garoto que perguntou, deixando todos confusos. – Terá demônios mas, eles não serão os principais e... – O silêncio da pausa prende todos em sua boca, libertando-os quando ele continua de forma seca. – A conversa termina por aqui. Prestem atenção em cada palavra que direi, pois, a história que contarei é real e será a melhor de todas as outras já ditas... - A voz rouca e lenta é uma antítese ao vigor com que suas palavras são normalmente ditas e seus lábios fracos mostram firmeza a cada entonação. A história iria começar e a excitação já brilhava em cada pupila presente.