O próximo capítulo, provavelmente, domingo que vem.
Se tiver bons comentários, talvez chegue antes.
Capítulo 9 – Ataque à Filars Porl.
Os atacantes chegaram de Carlin em cinco barcos que navegaram aproveitando o vento oeste durante a noite. Apesar do barco ter as bandeiras de Carlin, não se via nenhuma mulher, apenas homens com roupas de pele e de grande porte. O líder, Sir Hälge Ed’Veque era um guerreiro experiente que tinha combatido os thaisenses próximo da Ponte dos Anões e em Fíbula, por duas vezes fizera ataques repentinos à costa sul de Thais. Em ambas as ocasiões ele levara seus barcos a salvo para casa, com cargas de lã, prata, gado, equipamentos raros, armas poderosas, runas mágicas e mulheres. Morava numa bela casa de pedra em Senja, uma das três ilhas geladas, onde era conhecido como o cavaleiro de terra e mar. Tinha trinta anos de idade, peito largo, a pele queimada pelo vento e cabelos louros, um homem alegre e estouvado que vivia à custa de pirataria no mar e de serviços de cavaleiro em terra, e agora tinha ido a Filars Porl.
Era um lugar insignificante, dificilmente capaz de proporcionar uma grande recompensa, mas Sir Hälge fora contratado para o serviço e se fracassasse em Filars Porl, se não tirasse ao menos uma única moeda de baixo valor de um morador, ainda iria ter lucro, porque lhe haviam prometido cerca de mil moedas de platina por aquela expedição. O contrato estava assinado e selado, e prometia a Sir Hälge as mil moedas de platina junto com qualquer outro butim que ele encontrasse em Filars Porl. Cem platinas já haviam sido pagas, e o restante estava sob a guarda do clérigo Martin em Vega, e tudo o que Sir Hälge tinha que fazer para receber as outras novecentas era levar seus barcos a Filars Porl, tirar o que quisesse, mas deixar o que se achava na igreja para o homem que lhe oferecera um contrato tão generoso. Aquele homem estava, agora, ao lado de Sir Hälge no barco que chefiava a expedição.
Era um jovem que ainda não completara trinta anos, alto, orelhas pontudas e de cabelos negros, que raramente falava e sorria ainda menos. Usava uma cota de malha cara que lhe caía até os joelhos, e por cima dela um sobretudo de linho preto sem escudo algum, embora Sir Hälge imaginasse que o homem fosse de origem nobre, porque tinha a arrogância da classe e a confiança do privilégio. Era certo que ele não era um nobre carliniano, porque Sir Hälge conhecia todos aqueles homens, e ele duvidara que o jovem fosse de Darashia ou Ankrahmun pela pele branca do rapaz. Era mais provável que fosse de Ab’Dendriel, a terra dos elfos, porém ele era muito mais arrogante do que os outros. Talvez fosse de Edron, mesmo sendo muito provável que o elfo fosse um venoriano, e todos daquela área eram loucos. Loucos. Sir Hälge sequer sabia o nome do homem.
- Algumas pessoa me chamam de o Hurguifh. – respondera o estranho quando Sir Hälge perguntara.
- Hurguifh? – Sir Hälge repetira o nome, fazendo depois um sinal e beijando um amuleto de Uman preso a uma corrente no pescoço do guerreiro. Um nome daqueles não era motivo de orgulho – O senhor quer dizer como Urgith?
- Urgith em Darama. – admitira o homem – Mas em Edron eles dizem Hurguifh. Dá no mesmo. – o homem havia sorrido, e algo naquele sorriso sugerira que era melhor Sir Hälge conter a curiosidade se quisesse receber as novecentas moedas de platina restantes.
O homem que se dizia chamar Hurguifh agora olhava fixo para a costa enevoada onde se podia vislumbrar uma torre baixa de igreja, um amontoado de telhados vagos e uma mancha de fumaça saía das fogueiras pela vila. Haviam comemorado muito o Nacite no dia anterior, morreriam feliz.
- Aquela é Filars Porl? - perguntou ele.
- É o que ele diz. – respondeu Sir Hälge, sacudindo a cabeça em direção ao capitão do barco.
- Pois que Fardos tenha piedade dela. – disse o homem. Ele sacou a espada, muito embora os quatro barcos ainda estivesse a uns oitocentos metros da costa. Os besteiros de Folda, contratados para a viagem, fizeram o mesmo sinal que Sir Hälge fizera quando soubera do nome de Hurguifh. Era algo como pedir proteção aos céus. Depois começaram a enrolar suas cordas enquanto Sir Hälge mandava que sua bandeira fosse erguida no mastro. Era uma bandeira azul decorada com três falcões amarelos curvados com as asas abertas e as garras em forma de gancho, prontos para atacar a presa. Sir Hälge sentia o cheiro das fogueiras e ouvia os frangos cacarejando em terra.
Os frangos ainda cacarejavam quando as proas de seus cinco navios se chocaram com o cascalho.
Sir Hälge e Hurguifh foram os primeiros a desembarcar, mas atrás deles seguiram uns vinte besteiros de Folda, soldados profissionais que sabiam o que fazer. Seu líder os levou pela praia através da vila para bloquear o caminho que ficava do outro lado, onde iriam deter qualquer um que fugisse com seus pertences de valor. Os homens de Sir Hälge que restaram iriam saquear as casas, enquanto os marinheiros ficavam na praia para proteger os navios.
Tinha sido uma noite longa, fria e angustiante no mar, mas agora vinha a recompensa. Quarenta soldados armados invadiram Filars Porl. Usavam elmos justam e vestiam armaduras de prata embaixo de um grande robe negro, levavam espadas, machados ou clavas, e tinham permissão para saquear. A maioria era de veteranos de outras incursões de Sir Hälge e sabia exatamente o que fazer. Derrubar com pontapés as portas frágeis da vila e começar a matar homens. Deixem que as mulheres gritem, mas matem os homens, porque eram os homens que iriam revidar com maior violência. Algumas mulheres correram, mas os besteiros foldanianos lá estavam para detê-las. Uma vez mortos os homens, o saque poderia começar, e isso demorava, porque os moradores de todas as partes escondiam o que fosse de valor e os esconderijos tinham de ser descobertos. O sapé dos telhados tinha de ser arrancado, poços explorados, pisos investigados, mas muita coisa não estava escondida. Havia presuntos esperando pela primeira refeição na manhã do Nacite, prateleiras de peixe defumado ou seco, pilhas de redes, boas panelas para cozinhar, fusos, ovos, barris de sal – tudo muito humilde, mas suficientemente valioso para levar de volta para Carlin. Algumas casas produziam pequenas reservas de moedas, e uma casa, de uma mulher viúva, era uma cova de tesouro. Fora encontrado um elmo de guerreiro, devia ser de um bom guerreiro de Thais. Estava empoeirado, porém ainda tinha uma grande resistência.
Infelizmente, teve que matar aquela viúva. Lamentou aquela morte. Sir Hälge não tinha escrúpulos quanto a matar mulheres, mas sua morte não trazia honraria alguma e por isso ele desestimulava esse tipo de matança, a menos que a mulher criasse problema, e a viúva o atacou com um machado velho. Avançou contra os soldados de Sir Hälge com o machado, chamou-os de bastardos e vermes do demônio, e no fim Sir Hälge abateu-a com sua espada porque ela não queria aceitar o destino que lhe fora reservado.
- Mulher idiota. – disse Sir Hälge, passando por cima do corpo dela para dar uma olhada dentro do piso da lareira. Dois belos presuntos estavam sendo defumados na chaminé.
- Tirem eles daí. – ordenou a seus homens, e os deixou revistando a casa enquanto se dirigia para a igreja.
O padre Rod, acordado pelos gritos, tinha vestido uma sotaina e corrido para a igreja. Os homens de Sir Hälge o deixaram em paz por uma questão de respeito, mas uma vez dentro da pequena igreja o padre começara a agredir os invasores até que Hurguifh chegou e, com rispidez, mandou que os soldados o detivessem. Eles agarraram seus braços e o mantiveram seguro diante do altar.
Hurguifh, espada em punho, curvou-se diante do padre Rod.
- Senhor clérigo, digo, padre. Como posso ver, não tem um título de um clérigo. – disse ele.
O padre Rod fechou os olhos, talvez em oração, embora parecesse mais em desespero. Tornou a abri-los e olhou para o rosto atraente de Hurguifh.
- Você é o filho de meu irmão. – disse ele, e não parecia aborrecido, em absoluto, apenas cheio de arrependimento.
- É verdade.
- Como vai seu pai?
- Morreu. – disse Hurguifh – Tal como o pai dele e seu.
- Que Crunor abençoe suas almas. – disse o padre Rod, piedoso.
- E quando você estiver morto, seu velho, eu serei o soberano e nossa família tornará a se projetar.
O padre Rod deu um meio sorriso, depois abanou a cabeça e ergueu os olhos para o frasco com um líquido rubro, sobre um pedestal.
- Ele de nada lhe servirá. – disse ele – Porque seu poder é reservado para homens virtuosos, e não vai funcionar para um lixo do demônio como você.
Em seguida o padre Rod soltou um curioso som que parecia um miado quando o ar escapou-lhe e ele baixou os olhos para o ponto em que o sobrinho enfiara a espada em sua barriga. Esforçou-se para falar, mas nenhuma palavra saiu, e desabou quando os soldados o soltaram, ficando caído ao lado do altar, o sangue formando uma poça no seu colo.
Hurguifh limpou a espada no tecido do altar manchado de vinho e mandou um dos homens de Sir Hälge limpar suas botas, agora ensangüentadas. O padre Rod sentia seu interior jorrar, sentia remorsos de não ter ido para Rookgaard se tornando um clérigo de verdade.
Hurguifh embainhou a espada e depois ergueu os olhos para o frasco.
- Eu lancei uma maldição sobre ela. – disse o padre Rod com voz fraca. Estava pálido, morrendo, mas parecia estranhamente calmo.
- Sua maldição, senhor, me preocupa tanto quanto um troll bêbado, me ameaçando com uma clava.
Hurguifh jogou os castiçais para um soldado, depois apanhou um cálice onde continha um líquido sagrado que representava a magia de Uman por sete noites no Nacite, e bebeu. Ergueu o cálice, olhou para a superfície escurecida e concluiu que ela era um objeto sem valor, de modo que a deixou sobre o altar.
- Onde está o vinho? – perguntou ele ao padre Rod.
O padre Rod abanou a cabeça.
- Exevo Gran Mas Pox. – disse ele, e Hurguifh limitou-se a rir ao ver que nada havia acontecido. O padre Rod fechou os olhos quando a dor apertou-lhe o ventre. – Oh, Crunor. – gemeu ele.
Hurguifh agachou-se ao lado do tio.
- Está doendo?
- Como se estivesse em fogo. – disse o padre.
- Vai arder nas chamas das trevas, meu senhor. – disse Hurguifh e, vendo que o padre Rod estava apertando a barriga ferida para estancar o fluxo de sangue, puxou as mãos do padre, afastando-as, e, de pé, deu-lhe um forte pontapé no estômago. O padre Rod arfou de dor e encolheu o corpo. – Um presente de sua família. – disse Hurguifh, girando sobre os calcanhares e se afastando. Caminhava na direção do frasco.
A vila se enchia de gritos, porque a maioria das mulheres e crianças ainda vivia e seu sofrimento mal começara. Todas as mulheres jovens foram rapidamente estupradas pelos homens de Sir Hälge e as mais bonitas, inclusive Anny da taberna, foram levadas para os navios que as transportariam para Senja para tornarem-se prostitutas ou esposas dos soldados de Sir Hälge, claro, sem o conhecimento da rainha de Carlin. Uma das mulheres gritou porque o seu filhinho ainda estava dentro da casa, mas os soldados não entenderam o que ela dizia e bateram nela para que se calasse, empurrando-a depois para as mãos dos marinheiros, que a deitaram no cascalho e levantaram-lhe a saia. Ela chorou, inconsolável, enquanto sua casa pegava fogo. Frangos, porcos, seis vacas e o bom cavalo do padre, que eram raros, foram levados para os navios, enquanto as gaivotas giravam pelo ar, gritando.
Suon mal se levantara acima das colinas do leste, e a vila já rendera mais do que Sir Hälge ousara esperar.
- Nós poderíamos penetrar na área. – sugeriu o capitão dos besteiros foldanianos.
- Já temos o que viemos buscar. – interveio Hurguifh vestido de preto. Ele colocara um frasco com um líquido rubro por dentro das vestes, e agora olhava para a vila destruída, sarcástico. – Nenhuma mago, nenhum guerreiro e nenhum paladino. Apenas um projeto de clérigo, uma vila pertencente ao grande Rei Tibianus assim?
- O que é isso? – perguntou o besteiro foldaniano, percebendo que Hurguifh guardara um frasco por dentre as vestes.
- Nada que lhe seja útil.
Sir Hälge sorriu.
- Toda esta viagem para encontrar bebida? – disse ele - Em Carlin a bebida é proibida, mas Kazordoon têm a melhor cerveja desta terra.
Hurguifh deu de ombros. Encontrara o que queria, e a opinião de Sir Hälge não lhe interessava.
- Avançar para o interior. – tornou a sugerir o capitão foldaniano.
- Alguns quilômetros, talvez. – disse Sir Hälge. Ele sabia que Thais era próxima e os temíveis guerreiros thaisenses acabariam indo para Filars Porl, mas provavelmente só depois do meio-dia, e ficou imaginando se não haveria uma outra vila perto dali que valesse a pena ser saqueada. Viu uma menina aterrorizada, talvez onze anos, sendo carregada para a praia por um soldado.
- Quantos mortos? – perguntou ele.
- Nossos? – O capitão foldaniano parecia surpreso com a pergunta. – Nenhum.
- Nossos, não. Deles.
- Trinta homens? Quarenta? Algumas mulheres?
- E não sofremos nem um arranhão! Apenas bons soldados e paladinos, nem uma runa gasta. – exultou Sir Hälge. – É uma pena parar agora.
Ele olhou para o homem que o contratara, mas o homem de preto não parecia se importar com o que eles fizessem, enquanto o capitão foldaniano limitou-se a grunhir, o que surpreendeu Sir Hälge, porque ele pensava que o homem estava ansioso para ampliar a incursão. Viu então que o grunhido do homem não era causado por qualquer falta de entusiasmo, mas por uma flecha de penas brancas que se enterrara no seu peito, agora desprotegido. A flecha penetrara a cota de malha que, há minutos atrás, era protegida por uma armadura negra. Havia atravessado o peito do rapaz como uma agulha grossa atravessando um tecido de linho, matando o besteiro quase instantaneamente.
Sir Hälge jogou-se ao chão, e um segundo depois uma outra flecha passou por cima dele e com um barulho surdo cravou-se na turfa. Hurguifh, segurando firme o frasco, correu na direção da praia, enquanto Sir Hälge cambaleava até a proteção do alpendre da igreja.
- Bestas! – gritou ele – Bestas!
Alguém estava reagindo ao ataque.
Sem mais;
Asha Thrazi!![]()
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