- Capítulo 1 -
O Viajante
Era uma tarde ensolarada na cidade de Paríncia, a rotina dos moradores do vilarejo continuava calma e agradável, apesar dos últimos acontecimentos naquela região. Alguns moradores não conseguiam disfarçar o sentimento de preocupação de ameaça a suas vidas e as vidas de seus filhos, enquanto outros acreditavam que os vultos vistos nas minas, eram apenas animais selvagens caçando. Quanto aos tremores, qual lugar não tem alguns? A terra está em constante movimento, terremotos são normais naquelas regiões montanhosas.
A hospedaria da Dona Rosa era a única da cidade, pequena, mas aconchegante. Nesta mesma tarde, um novo viajante surgiu na porta de sua hospedaria, parecia um andarilho qualquer, roupas esfarrapadas e cara de quem não come há algum tempo, mas com um rosto agradável.
Eis que o viajante diz:
- A senhora é a Dona Rosa?
Dona Rosa, de costas e cantando uma de suas canções rotineiras enquanto varria seu local de trabalho, se vira para a porta lentamente, batendo a sujeira de seu avental e abrindo um sorriso simpático, responde:
- Boa tarde, meu filho! Sou eu mesma! Em que posso lhe ajudar?
- A senhora pode me dizer algo sobre o errante misterioso que passou por aqui há alguns dias?
Sua feição mudou totalmente, sua preocupação ficou eminente em seu rosto. Um calafrio andou pelo seu corpo dos pés à cabeça. Começando num tom mais baixo, como se não quisesse que as paredes ouvissem, disse:
- Meu filho, aquele homem tinha um aspecto sombrio, por onde passava causava arrepios nas pessoas, mas ao mesmo tempo parecia um senhor muito calmo e amigável, ficou por uma semana aqui em minha hospedaria – parou e pensou mais um pouco. – Ele saía todos os dias pela manhã, pouco antes de raiar o dia, nem sequer provava do meu delicioso bolo de chocolate! Ele voltava todos os dias quase na mesma hora, próximo ao entardecer, entrava no quarto e se trancava lá, não fazia barulho algum, pareceu-me que dormia direto, e só acordava para suas saídas rotineiras.
O viajante coçou um pouco a cabeça, como se já esperasse por esse tipo de informação, sussurrando algo como “É, bem típico de alguém escondendo algo...”. Então perguntou mais uma vez: - Sabe algo mais sobre ele? Um nome? Ou pra onde foi?
Dona Rosa pensou mais um pouco, tentando lembrar de algo, com muito esforço, pois eram tantos os viajantes que passavam por ali, que era difícil se lembrar detalhadamente de todos eles.
- Ele me disse o nome umas duas vezes quando chegou, mas não consegui compreender muito bem o que dizia, apenas me recordo de ter entendido algo como “Sou um mensageiro da paz”. E parecia mesmo ser um homem de paz! Não arrumou confusão, nem nada, apenas enchia os moradores de perguntas todos os dias e depois sumia vilarejo a fora. Já faz algumas semanas que ele saiu como de costume pela manhã, deixou um dinheiro em meu balcão, e foi embora, e ninguém mais o viu.
- Entendo. Muito obrigado pelas informações. E se não se importa – deu uma cheirada no ar, como se tivesse sentido o cheiro de algo suculento – acredito que seja cheiro de bolo de chocolate, não é? Poderia me servir um pedaço antes de eu ir?
Dona Rosa, que ainda estava pensando no viajante misterioso, depois de alguns segundos, ouviu um estalo em sua cabeça, e desastrosamente deixou a vassoura cair no chão, e atendeu ao pedido do viajante, com muito gosto.
- Ó sim sim sim! É pra já! Se precisar de um quarto, tenho um disponível! Mas você não parece estar procurando um quarto, não é mesmo?
- Não senhora, estou procurando algo muito maior e mais escuro do que um quarto – dando um leve sorriso no canto da boca -.
Venha desvendar os mistérios dessa história em ASN Online!