Postado originalmente por
Bob Joe
Volto aqui para comemorar a possível queda do meu, ainda chefe, ministro colombiano. Algumas movimentações de gestão no MEC indicam que isso deve acontecer mesmo, que dessa vez o Bolsonaro não vai adiar o inevitável só por birra de furo de reportagem da Globo.
Já passou da hora, desde os primeiros dias já foi possível notar a incapacidade administrativa dessa gestão. Quando comentei sobre a infame "cartinha às escolas", sublinhei que a maior crítica foi à forma com que tudo estava se dando até aquele momento em termos administrativos. Para vocês que estão acompanhando através da imprensa, a coisa talvez não esteja tão ruim, mas pra quem está dentro da educação federal, que está intimamente atrelada à administração do MEC, a coisa está periclitante. É o famoso "se vocês soubessem, estariam enojados". Vários sistemas importantes estão fora do ar desde janeiro, por consequência de exonerações, a maioria aparentemente ideológicas e/ou partidárias. Nada anda se não for para secretarias que ainda se mantiveram de pé e, mesmo assim, anda devagar, porque os funcionários técnicos (servidores concursados) estão perdidos pela falta de capacidade de gestão dos novos servidores comissionados (sem concurso, indicados politicamente). Isso em alguns ministérios (como no Turismo) não causa graves problemas. Mas para a Educação, que é periódica, está totalmente atrelada ao Estado e precisa de atenção de urgência, estamos rumando para um ano perdido.
Acho que cabe uma autocrítica da galera bolsonarista e do pessoal de direita conservadora, acerca de dois pontos:
- A tarefa de um ministro de Estado é, majoritariamente, de gestão. Nessa nomeação do Velez, um cara que nunca gerenciou nem creche e pré-primário, ficou a impressão que os setores ideológicos do governo acreditavam que a função de um ministro da Educação seria criticar o Paulo Freire, perseguir professor comuna e ensinar civismo e valores morais para a molecada. Quando, na realidade, o trabalho de um ministro de Estado é de gestão pública: pensar e redigir projetos de gestão pública, redigir editais, assinar papelada, organizar a máquina pública, analisar números, dentre outras. A rotina e responsabilidade de um ministro são compatíveis às de um executivo top de multinacional, não é para qualquer um.
- É preciso assumir que, talvez, a direita conservadora no Brasil seja tão pouco expressiva ideologicamente que não possua quadros competentes o suficiente, e que estejam dispostos a assumir essa bucha. A maioria dos olavetes, como é o caso do Velez, são profissionais fracassados em suas respectivas profissões, que se apoiam na narrativa de perseguição ideológica para justificar esse fracasso. Existem ótimos profissionais dentro do MEC que são de esquerda (diria que a maioria dos bons profissionais da educação hoje são de esquerda) e isso não deveria ser um problema. Nenhum gestor competente deixa de contratar um técnico excelente e que entrega só porque o cara não "veste a camisa" da empresa.
Acredito que, se o próximo ministro do MEC não for um militar da área de educação ou um cara com experiência de gestão na educação (como o Mozart Neves, antigo cotado para a função, que caiu por culpa da "Bancada Evangélica" ou o grego da FGV, o Stavros Xanthopoylos), estamos fadados a finalizar o ano da educação do Brasil com o pior desempenho em décadas.
P.S.: Quanto às brigas dentro do ministério, comenta-se à boca miúda que os militares não estão exatamente putos pela área ideológica estar no comando. Competentes e metódicos que são, eles estão é abismados com a incapacidade de certas pessoas que foram nomeadas para as secretarias. É coisa de secretário de pasta importante que delegou todo o trabalho para algum servidor concursado e competente do MEC porque não consegue utilizar um sistema que seja sozinho. Surreal.
P.S.2: Já existem pedidos para que certas secretarias e setores sejam assumidos por servidores de carreira, ao invés de indicados políticos. Isso ajudaria a agilizar diversas decisões técnicas que ainda não foram tomadas, mesmo com o ano letivo já em andamento.