Muito boa a história, cativante sem dúvidas, a descrição é otima, trama e ritmo também, a gama de palavras não a torna pesada e sim ajuda a fluir, alguns errinhos ortograficos, mas deixemos passar, ótimo trabalho, continue!
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Muito boa a história, cativante sem dúvidas, a descrição é otima, trama e ritmo também, a gama de palavras não a torna pesada e sim ajuda a fluir, alguns errinhos ortograficos, mas deixemos passar, ótimo trabalho, continue!
E aí Iridium!
Desculpe não ter comentado mais. Estou sem internet a um bom tempo e uso o wifi do meu celular.
Bom, quanto ao capítulo, ótimo em escrita e sombrio no começo, com a Brotherhood sinistrona de antes(Que até acho que sei quem é) e esse mistério das cartas... Coitado do Sirio, apanhou feio :fckthat:
Bom, acho que agora a história vai ficar até mais legal com a entrada dos Djinns nela. Gosto dos Djinns, e acho que escolheria os Efreet(Azuis, né? Não me lembro mais D: ) por parecem um pouco mais amigáveis e úteis.
Bom, de resto, nada a criticar. Espero que continue escrevendo mesmo tendo alguns leitores que abandonaram a história e a invasão que não ocorreu :(
Bom, até mais e feliz natal e ano novo atrasados pra você! :D
Olá, pessoal! É, não ocorreu invasão aqui na minha história, mas tudo bem.
Vou dar prosseguimento à história do Keras, e tenho um anúncio importante a fazer: o primeiro pergaminho está no fim! Isso mesmo, a primeira fase da história de Ireas se encerra, mas não quer dizer que a jornada desse rapaz acabou!
@Carlos: Vc se confundiu ^^ Os Efreet são os verdinhos; os azuis são os Marid
@Maark: Muito obrigada *.* Continuare com certeza XD
Bom, feliz Ano Novo para todos (atrasado, mas vale)!
Sem mais delongas, vamos ao capítulo de hoje.
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Capítulo 31 – Darama
Ireas tem um lado a escolher...
Djinns. Espíritos livres, fortes, com poderes além de nossa imaginação. São capazes de trazer nossos mais loucos desejos e piores pesadelos à vida com um estalar de dedos. Existem ao todo seis castas de Djinns, mas duas se destacam: Marid e Efreet.
Os Djinns cujas peles ostentam o tom das safiras e tuquesas são os Marid, bondosos, poderosos, arrogantes e vaidosos em mesma medida. São responsáveis pelas tempestades e bravas marés. Muitos navegantes, pescadores e mercadores escolhem os Marid como protetores, e sua lealdade é bem recompensada com prosperidade e felicidade eternas.
Gênios de pele esmeralda ou rubra são os Efreet. Diferentemente de seus contraparentes, são seres cruéis, malignos, sociopatas e agressivos, que dificilmente dariam valor à ajuda de um humano. Contudo, seu ímpeto e desejo por poder e vingança contra os Marid os faz aceitar ajuda oriunda de qualquer procedência.
Entretanto, partilham o poder da transfiguração e sedução como semelhanças. Podem facilmente converter-se em quaisquer raças e usar algum deles a seu favor. Apesar de serem mestres nessa arte, não é incomum um Gênio cair de amores por alguém que não podem conquistar.
Por eras, essas duas raças, tão semelhantes e tão distintas, se vêem em uma batalha interminável e incansável, tudo em nome de seus senhores: Gabel, rei dos Marid, e Malor, autoproclamado senhor dos Efreets e, em seus maiores momentos de loucura e ganância, de todos os Djinns.
Somente um homem soube jogar o jogo dos gênios melhor que eles. Apenas um brincou com ambos, manipulando as peças do comércio e contratos de aliança a seu favor. Quando sua farsa fora descoberta, sua punição fora cruel e praticamente fatal. Contudo, conseguiu se salvar. Hoje, guarda consigo o passado, pois do presente nada pode ver. Seus olhos se foram, mas não suas memórias... Ele é o único que pode dar-lhe a primeira pista de como interagir com esses majestosos seres.
Melchior, o mendigo cego de Ankrahmun. Sombra de seu passado, incerteza de seu futuro, renegado em seu presente.
***
(Narrado por Ireas Keras)
Vaguei pelas ruas de minha cidade por incontáveis minutos. Minha cabeça fervilhava com os acontecimentos mais recentes. A abordagem de Wind...O beijo do Yalahari... Seus pedidos, suas súplicas, suas juras de amor... E sua pergunta. De que lado estou... Efreet ou Marid?
A verdade é que eu desconhecia a cultura e corte dos Djinns. Não sabia como eram, o que comiam, como se cumprimentavam e quais eram suas opiniões acerca dos humanos. Não sabia de seus conflitos, de nada. Tudo o que sabia era do quão trabalhadores, eloquentes eram, bem como possuíam escrita bonita. Só dispunha das informações de Hammoud.
Wind decerto estava na casa de Brand. Eu ainda estava magoado demais para vê-lo, para perdoá-lo. Uma parte de mim queria crer em sua inocência, mas outra parte gostaria de vê-lo trancafiado em um esquife de gelo. Meus olhos olhavam errantes para os prédios que ajudei a erguer, para as estradas que montei, pedra sobre pedra.
Eu voltei ao escritório de Grão-Vizir para assumir os compromissos do dia. Havia pautas para redigir, compromissos para confirmar, contratos a acertar, mil coisas a fazer.
Minha mão arrastou-se veloz e precisa sobre o papel; assinei, carimbei e confirmei o que era preciso. Sempre fui veloz com leitura e burocracia; livrar-me da papelada desorganizada e acumulada do Faraó não era desafio para mim. Ouvi uma batida em minha porta enquanto estava realizando minha temporária tarefa.
— Pode entrar — Disse com seriedade.
— Eram Jezzara e Sírio. Meus olhos se arregalaram levemente ao vê-los. Sorri e ofereci-lhes assento.
— O que os traz aqui? — Indaguei.
— Motivos diferentes — Disse Sírio — Jezzara está aqui para lhe fazer uma oferta, e eu tenho informações a lhe oferecer. Tem um tempo para nós?
— Todo o tempo do mundo — Respondi com um sorriso — Pois bem, falem.
— Você sabe que tenho um filho, Akbar — Disse Jezzara com seu tom sério e firme de comerciante experiente — Ele é um rapaz requintado e trabalhador. Ele pode não ser tão veloz com a pena como você, mas ele tem carisma e sabe lidar com o trabalho. Você disse que não poderá ficar para sempre... Por mais que me doam suas palavras, por considerar você como filho meu, é o mínimo que posso fazer para facilitar sua vida. Enquanto você não encontrar outro Grão-Vizir, meu filho Akbar poderá assumir seus deveres... — Ela fez uma pausa para respirar profundamente — Então? Que me diz?
Eu sorri para ela.
— Traga-o aqui — Falei —, e traga-o rápido, pois tenho que ensinar-lhe o ofício.
Jezzara beijou minhas faces e saiu rapidamente atrás de seu filho. Agora, éramos eu e Sírio. Eu estava extremamente envergonhado por ter sido a causa das feridas no rosto do vandurano. Um silêncio mortal instalou-se em meu escritório.
— Eu...Sinto muito... — Disse, tentando quebrar o gelo — Sinto muito mesmo. Não queria tê-lo feito passar por tudo isso, Sírio.
— Ah, não tem problema — Disse-me o Feiticeiro de dreadlocks castanhos — Já levei tantas chibatadas em meu lombo que, por mais forte que o Yalahari seja, os socos dele não doeram nada.
— Bom, o que te traz aqui? — Indaguei ao oferecer-lhe um manjar de fruta-do-dragão.
— Pelo visto, você seguirá o conselho de Hammoud... — Começou Sírio — E buscará os Djinns. Você por algum acaso sabe como falar com eles? Está ciente de que não respondem de cara aos nossos cumprimentos?
— Bem, disso eu não sabia... — Respondi encabulado.
— Para isso estou aqui! — Respondeu-me Sírio com um sorriso — Conheço um homem cuja maior parte da vida esteve relacionada a eles. Ele sabe todos os códigos dessa raça nobre e milenar. Ele vaga pelas ruas dessa cidade... Basta darmos esmola a ele que ele cumprirá a sua parte do trato.
— Maravilha! — Respondi com alegria — Onde podemos encontrá-lo?
***
O mendigo cego e velho estava repousando sob a sombra de uma frondosa acácia poucos metros da casa de banho. Com cautela, acerquei-me do ancião e sussurrei em seu ouvido:
— O senhor é Melchior?
O velho acordou, espreguiçou e coçou a branca cabeleira antes de me responder:
— Sim, sou eu. Que deseja?
— Queremos falar sobre os Djinns... — Sirio disse em um tom gentil. Ao falar a última palavra, provocou no velho uma profunda tristeza.
— Ah...Djinn... — O velho sussurrou — Quanto tempo já faz? Cinquenta? Sessenta anos? Como estarão Gabel...E Malor? Será que já se resolveram?
— Aparentemente, não — Respondeu Sírio com tristeza — Humanos interessados nos gênios ainda têm que escolher seus lados.
O velho soltou um suspiro decepcionado.
— Bem, ao menos fui o menor dos problemas deles... — Ele soltou um riso triste — Pois bem, os senhores devem estar interessados nas facções... Prestem muita atenção, pois o que vou lhes falar pode salvar suas vidas.
Sentamo-nos, de pernas cruzadas, sob o chão de arenito e mármore, prontos para ouvir aquele antigo aventureiro.
— Djanni'hah — Ele falou lenta, mas firmemente — Esse é o cumprimento tradicional de Djinn. Qualquer um deles. Se você pronunciar essa palavra, um Djinn pode parar para ouvi-lo, mas não adiantará nada se ele estiver extremamente irritado e prestes a cortar-lhe fora a cabeça. Bem, são duas facções: Marid e Efreet. Uma vez escolhida, não se pode voltar atrás. Cada facção terá suas próprias regras e testes para provar se você é ou não de confiança. Nunca, nunca, jamais, nunquinha em suas vidas tentem transgredir a primeira regra, ou vocês terminarão cegos como eu.
Assentimos afirmativamente, mostrando ao ancião que entendíamos o que queria dizer.
Pois bem — Ele continuou — Os Marid são comandados por Gabel, seu rei; ele outrora foi o senhor de todos os Djinns, mas um incidente envolvendo a ele e seu general, Malor, fez com que se separassem as facções.
— Que incidente foi esse? — Indaguei.
— Daraman — Respondeu-me Melchior — Antes de conhecê-lo, Gabel era igualmente cruel como Malor, desprezando totalmente as outras formas de vida. Um dia, porém, eles capturaram nosso bom profeta e, após submetê-lo a várias formas de tortura sem obter dele um único grito, uma única súplica por misericórdia, apenas seu sorriso sereno e piedoso, Gabel sentiu-se tocado pela força de vontade do homem e o libertou, causando a fúria de Malor, que tentou aprisioná-lo em uma lâmpada mágica que Fah'rahdin, o braço direito de Malor, portava.
Eu e Sírio queríamos ouvir mais, e nos inclinamos para perto do velho.
— Preciso tomar cuidado ao falar, sabe? Tenho receio de que eles descubram que ainda vivo e que partilho com outros tudo o que sei. — Ele fez uma pausa para beber um pouco de água — Onde eu estava? Ah, sim! A lâmpada! Sim, a guerra entre os Djinns fora deflagrada, e os Marid passaram a combater seus contraparentes, os Efreet, quando Malor tentara trocar a lâmpada de Gabel pela lâmpada amaldiçoada de Fah'rahdin. Por sorte, a tramoia fora descoberta no ato, e Fah'rahdin fora instruído a entregar a lâmpada ao Rei dos Ogros, que nutria, e ainda nutre, ódio dessa raça mágica.
— E por quê? — Indagou Sírio — Se o rei os odeia, por que decidiu ajudar?
Porque ele tem o mundo dos Djinns nas mãos — Respondeu Melchior com sinistro sorriso — Sem perceberem, os Djinns deram ao rei dos Ogros o artefato que ele precisava para realizar sua vingança contra eles, que o transformaram naquela poça de limo e gosma disforme. A lâmpada está com o Rei, e ele só entregará a uma das facções se a guerra voltar ao seu terreno.
— Como assim? — Confuso, indaguei.
— Psssh! — Melchior sinalizou para que fizéssemos silêncio — Falem mais baixo! Eles podem nos ouvir!
O velho fez um sinal para que nos afastássemos dele. O homem se levantou e nos deu um sorriso triste.
— Desejo-lhes sorte, rapazes — Ele disse com melancolia — E que esses gênios não lhes destruam a vida. Por causa de minha cobiça, perdi minha esposa, filhos e netos. Perdi tudo aquilo que um homem tem de mais precioso; hoje, perto do meu leito de morte e imerso na eterna noite, eu consigo enxergar melhor que em meus tempos de juventude. Que vocês consigam reverter essa situação... Para o bem de todos nós, que seja feita a vontade de nosso bom senhor Daraman.
Nós apertamos a mão do bom velho e o deixamos com seus pensamentos. Meu coração doía, pois me compadeci com a dor do velho. Ele era a prova viva de que poder e posses não deveriam ser tudo na vida de um ser humano. Meu semblante tornou-se ligeiramente melancólico, e Sírio percebeu.
— Tudo bem com você, Ireas?
— Hã? — Perguntei saído do transe — Sim...Sim! Estou bem. — soltei um discreto suspiro — Estou bem...
Estava pensando naquele Yalahari, não é? — Ele me fitou nos olhos e meu rosto enrubesceu.
— Não... — Menti — Estava pensando em como deveria ter sido a família de Melchior... Pobre homem.
— De fato... — Assentiu Sírio — Bom, as informações que ele nos deu são vitais, mas ainda faltam algumas peças nesse quebra-cabeças do deserto. E eu acho que sei quem pode nos fornecer mais respostas.
— Tothdral? — Indaguei.
— Não! — Sírio disse em tom debochado e brincalhão, buscando arrancar de mim um sorriso — O Califa de Darashia, Kazzan! Eu já conhecia a história dos Djinns antes de chegar a essas bandas, e sei do interesse que o califa tem em um apaziguamento entre as raças. Vamos falar com ele; talvez algo bom resulte de tudo isso.
Assenti afirmativa e animadamente. Como não havia ainda um capitão para levar-nos de navio, a saída encontrada foi andar deserto acima e atravessar a passagem que havia pelas montanhas ao norte, no horizonte a perder de vista. O vento soprava gentilmente em minha nuca a medida em que andávamos. Estranhamente, tal fenômeno produzia em mim a sensação de estar sendo observado...
***
Nossa viagem a Darashia fora relativamente tranquila. /desde os tratados de apaziguamento que promovi, assaltos e ataques de nômades tornaram-se muito mais raros, ainda que alguns continuassem escondidos e resistentes quando a Ankrahmun.
Darashia era uma cidade interessante, um verdadeiro souk; não havia muros a rodear a cidade, e as casas seguiam um mesmo desenho, onde tinham de dois a quadro andares com telhados de folhas de coqueiro secas e entrelaçadas sob as paredes de tijolo e calcário com vigas de madeira a sustentar o interior.
Ouvi gritos de ofertas, preços e mercadorias de todos os tipos. Pessoas conversavam perto do centro da cidade, algumas sentadas na beira da fonte que lá havia, funcionando como um oásis artificial.
O palácio de Kazzan não era menos belo que o restante da cidade; havia belas pinturas, móveis e arabescos em seus vários aposentos. Sírio guiou-me até o salão do califa, que parecia já nos esperar.
— Ireas Keras! — Bradou com alegria — Que prazer tê-lo conosco! Em que posso ajudá-lo?
— Na verdade, quem lhe indaga isso sou eu — Respondi com um sorriso — Gostaria de oferecer meus serviços como diplomata. Sei de sua preocupação em relação aos Djinns e a constante ameaça de uma guerra total. Sendo esse o caso, e sabendo que não escolhi um lado ainda, gostaria de sua permissão para interceder em seu nome.
— Certamente! — Respondeu-me com alegria — As fortalezas deles ficam para o lado de Ankrahmun, dentro de cavernas no lado oeste das montanhas, nas cordilheiras que nos separam de Tiquanda. Falem com cada um e vejam o que têm a dizer sobre minha oferta de paz.
Eu e Sírio assentimos e demos meia-volta. Quando estávamos para sair do palácio, ele me cutucou o ombro.
— Não poderei ir com você — Ele me disse.
— Por que? — Indaguei, levemente desapontado.
Sabe a questão da falta de um capitão em Ankrahmun? — Ele indagou de forma retórica — Eu consegui resolver. Hoje mesmo chega o novo capitão do porto de Ankrahmun, e eu preciso recebê-lo. É um amigo de longa data, que conseguiu um novo navio recentemente. Espero que entenda.
Assenti afirmativamente e o deixei partir. Nos separamos no deserto; ele foi para o sul, retornando a Ankrahmun e eu fui para o oeste em direção às fortalezas. Por um momento, fiquei admirando as entradas, que eram simples como as de qualquer caverna. De uma delas, um cheiro de açafrão e jasmins podia ser sentido, causando um pouco de ardência em meu nariz, e acabei por espirrar. No que fiz isso, senti uma mão forte encostar-me o ombro.
— Enfim, sós. Não acredito no tanto que você me fez esperar!
Virei-me e vi Wind atrás de mim. Ele sorria para mim; o vento do deserto gentilmente acariciava seus cabelos. Meu rosto se avermelhou uma vez mais.
— O cheiro de açafrão vem da fortaleza dos Efreet — Ele disse — Eu não sabia que você era alérgico a isso. — Ele soltou uma discreta risada — Sei que você ainda acredita que eu lhe quis mal e que escrevi toda aquela sorte de maldades, mas, apesar da minha inocência, estou disposto a me “redimir”.
Eu o olhei com um pouco de raiva. Como ele ousava brincar com aquilo? Ele se ajoelhou aos meus pés e fitou-me o rosto.
— Conheço essas fortalezas como ninguém — Ele declarou — E estou oferecendo meus serviços como guia. Em uma delas, eu tenho livre acesso; na outra, há muito não posso mais pisar. Em todo caso, posso te mostrar o caminho e até revelar uma coisa ou outra...
— Qual seu preço? — Indaguei-lhe com um sorriso sinistro.
— Meu preço... Meu preço... — Ele pôs-se pensativo — Deixe-me ver: seu perdão, talvez.
— É justo... — Para a surpresa dele, assim repliquei — Mas não lhe será dado prontamente. Você terá que passar por outras provações além dessa para mostrar que merece meu perdão. No momento, não estou tão certo de que você seja confiável.
— Aceito seus termos — O Yalahari respondeu —Então, vamos começar por quem? Pelos Efreet?
— Sim, claro! — Repliquei — Esse cheiro está me deixando nauseado. O quanto antes me livrar dessa parte da tarefa, melhor.
Wind ergueu-se da areia e guiou-me pelas escadarias; eu andava atrás dele com a finalidade de vigiá-lo. O vento do deserto soprava gentil sobre nós; creio que Daraman estava nos observando, e era a favor de nossa missão.
Olhei para o homem que estava a minha frente; pro mais mágoa que tivesse me causado, ele simbolizava uma nova etapa da minha vida, que acabava de se iniciar. Apesar do meu receio, busquei não temer entrar no domínio dos Gênios...
Fim do Primeiro Pergaminho
Fala Iridium!
Acho que na minha opinião, você não demorou muito pra postar um capítulo... :D
Quanto ao capítulo, ótimo como sempre. Este Ireas até que está sendo mais forte quanto aos trabalhos dele, mas ainda assim acho que ele não devia aceitar o Wind e quando o safado se agachou, o Ireas devia aproveitar pra dar um chute na cara dele...:fckthat:
Vai ser interessante essa parte dos Djinns. Que pena que o livro já acabou, espero que o próximo não demore muito :P
E sobre meu erro, lamentável, não gosto dos Efreets, grosseirões :comeon:
Enfim, vou aguardar o próximo livro(ou pergaminho) ansiosamente! Não tenho muito a falar, já que sua história continua FODA! :y:
Abraço.
Sua história continua foda², heh. Uma pena que tenha sido abandonada pela seção (inclusive por mim por vários dias, admito :P).
Acho que eu entendi o que me faz gostar dessa história. É a mesmíssima razão que eu acabei de dar no tópico de um outro cara aí. Você tem qualidades que por vezes faltam até mesmo em escritores profissionais, quem dirá a nós meros amadores da seção Histórias.
Estou falando do fato de você não parecer querer causar impacto em ninguém. Sua história não é voltada a ação, você não espera e nem tenta esforçadamente fazer com que os leitores fiquem eufóricos e cativados em sua história, escrevendo dezenas de mistérios clichês e aventuras e ação mal descritas e escritas.
Você adiciona conteúdo, vida e beleza ao mundo de Tibia e aos seus personagens, no tempo certo, sem correr e correr para a ação sem explicar nada. Justamente por isso, seus personagens são alguns dos mais cativantes das histórias que já li por aqui.
Cada um deles tem seus motivos, medos e conflitos próprios, e você descreve as políticas e dinâmicas dos povos e cidades como ninguém. Demonstra ter um conhecimento do mundo de Tibia que em minha opinião todos que queiram escrever uma história épica e abrangente como a sua deveriam ter. E isso adiciona muita maturidade para a sua história.
Você bem podia publicar alguma coisa algum dia, talento pra isso com certeza você tem.
Até mais companheira de seção, espero que continue a história e não desanime! ;P
Olá, pessoal!
Segundo Pergaminho...
Nossa, faz um bom tempo que comecei esse Roleplay ( exatos 6 meses e 14 dias) para falar sobre o Ireas, agindo como Ireas, vivendo como ele... Eu não sei se é tolice minha, mas eu me apego aos personagens que crio em Tibia, e detesto deletá-los por quaisquer motivos (normalmente um grande número de mortes em mundos PvP). Esse personagem, apesar do nível humilde (atualmente 55), é o que me levou mais longe, descobrindo um mundo além dos pixels na tela de meu computador...
Apesar de meu desânimo (lê-se preguiça) para jogar nesses últimos tempos, ainda tenho fôlego e vontade de sobra para escrever mais um pergaminho inteiro para esse querido (Elder) Druid, o meu único char na atualidade. Torço para que esse não seja o último.
Para isso, conto com vocês, frequentadores da Seção. Aos que me acompanham desde o primeiro capítulo, obrigada por tudo. Obrigada pelos comentários e pelo apoio, e prometo continuar. Espero continuar vendo seus comentários aqui.
Aos novos leitores, eu e Ireas lhes damos as boas-vindas. Espero que vocês gostem tanto de nós e da história quanto nós gostamos de divulgá-la.
Ao longo desses dias, estarei pondo mais algumas coisas:
1. Desenhos e Perfis de Personagens: Do Primeiro Pergaminho, faltam Mandarinn, Solária Brisa-da-Neve, Sirio Snow, Liive, Pingagua e Icel Emonebrin. Os personagens do Segundo Pergaminho em breve aparecerão.
2. Capas dos Pergaminhos: Ilustrações que posso pôr em minha Assinatura para divulgar a história (a exemplo do que fazem Danboy e o Izan)
Por ora, é só. Sem mais delongas, vamos ao Prólogo e Capítulo de hoje.
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Segundo Pergaminho – Sagrada Mãe Natureza
***Citação:
Prólogo
Uma parte da jornada de Keras chega ao fim e outra se inicia. Facções, guerras, amor, ódio e traição; tudo isso esse druida aprendeu e ainda terá mais pela frente.
Mais rosas. Mais cartas. Mais perguntas sem respostas.
O Deserto guarda algumas respostas, bem como outras localidades. Com amigos, sonhos e guias, Keras deverá descobrir de uma vez por todas quem ele realmente é, e porquê vive...
Capítulo 1 – O Senhor das Marés (Parte 1)
Um corajoso marinheiro aporta em Ankrahmun...
(Narrado por Sírio Snow)
Francamente, não consigo entender Ireas... Ora diz que odeia o Yalahari, que não quer mais vê-lo nem pintado de ouro e, em outros, atesta o contrário. Não que tenha grande afeto pelo druida, pois minhas preferências são outras, mas uma confusão mental é inevitável.
Talvez o melhor seja deixá-lo se entender com Wind, por mais que essa ideia me desagrade. Do que as cartas me disseram, ele parece ser o tipo que seduz, manipula e trai sem remorso, por conhecer bem o mundo cruel e obscuro dos prazeres. Ireas, contudo, nunca foi iniciado, e temo por seus sentimentos.
Cheguei à cidade já anoitecendo, sem ter notícias do casal. Durante minha caminhada no deserto, fiquei pensando em como era o relacionamento de Ireas com Wind antes da guerra e antes das cartas. Teriam sido eles um casal feliz?
Ainda que Wind negue ser o autor das cartas sob o cadáver de sua mãe, tenho dificuldades em acreditar que um guerreiro de uma estirpe tão nobre tenha sido cruel e desleal o bastante para ferir o coração de uma doce, inocente, corajosa e prestativa alma que é Ireas.
Quando acerquei-me do porto, com aquelas lindas luminárias como constelações em pequena escala, vi o vulto do navio de meu amigo. Assim que se aproximava mais da costa, podia ouvir a voz cristalina e melancólica de sua irmã cantar.
Lonxe da Terrña
Lonxe do meu lar...
Que morriña tenho
Que angústias me dan...
No che nego a bonitura
Ceiño desta Terriña
Ceiño de terra allea
Ai quen che me dera na miña...
Ai meu alala...
Cando te oirei?
Chousas e searas
Cando vos verei?
São as frores dises campos,
Froretentes e bonitiñas
Ai quen lo che me dera...
Entre pallas e entre ortigas...
Lonxe da terriña
Que angústias me dan...
Os que vais pra ella
Con vós me levai...
Os que vai pra ella
Con vós me levai...
Os que vais pra ella...
Con vós me... Levai...
(Luar na Lubre – Lonxe da Terriña; é uma música em galego, uma das línguas oficiais da Espanha e ancestral direta do português e espanhol. Particularmente, acho o galego mais semelhante ao português que ao espanhol...)
O navio aportou assim que a voz da menina cessou o canto. Eu já estava nas docas, esperando os dois saírem do navio. Ao ver o rapaz, que era o capitão do navio e o mais velho saindo, logo corri para cumprimentá-lo.
— Yami! — Eu disse com alegria — Quanto tempo! Faz quantos anos? Três? Cinco? Seis, talvez?
— Acredito que a segunda alternativa seja a correta — Ele replicou-me cordialmente — Por acaso lembra de minha irmã, Yumi Yami?
— Claro! — Corei levemente ao ver o belo rosto da caçula de Yami — Como esquecer tão belo rosto e voz de sereia?
O homem se chamava Yami, o Primeiro, e era dono de lindos olhos dourados, realçados pelo kohl* que usava. Ele tinha um corpo magro, mas musculoso. Vestia túnicas típicas das regiões mais desérticas; era nativo de Darashia, se bem me lembrava. Sua túnica era adornada por um cinto de fios dourados com pequenas esmeraldas nas pontas. Suas sandálias eram da cor do bronze, e sua pele era escura como talos de canela. Sua voz era grave e majestosa; seus cabelos, negros como a noite, compridos até sua cintura, eram levemente espetados e estava presos por uma fita lilás.
A irmã, que era caçula dele por minutos de diferença em seu nascimento, chamava-se Yumi Yami, e seus olhos eram prateados como os dobrões em Nargor. Ela tinha lábios finos e delicados, com a mesma maquiagem do irmão a adornar-lhe a face. Sua túnica não contava com cintos, mas tinha alguns brilhantes nela cravejados, bem como os braços da moça eram adornados por lindos braceletes dourados, que faziam a pele morena da menina reluzir ainda mais. Seus cabelos, tão negros quanto os do irmão, estavam presos por uma fita rosa e batiam-lhe na cintura.
Os dois eram gêmeos, e Yami nascera primeiro; dois minutos depois, Yumi fora trazida ao mundo. Eram igualmente belos e astutos, porém seus talentos estavam em áreas diferentes: Yami era um Cavaleiro que amava o mar, e sua irmã era uma Druida que, nas horas vagas, dedicava-se a arte da culinária. Eu os conhecia desde bem pequenos, e não via ninguém melhor do que eles para reger os negócios marítimos de Ankrahmun.
Então, ouvi dizer que essa linda cidade precisa de um novo capitão... — Disse o rapaz ao alisar o mastro de seu belo navio — Bem, aqui estou.Com quem devo falar para tornar meu emprego legal?
— Venham comigo — Eu disse — Levarei-os ao Grão-Vizir. O Faraó não costuma receber ninguém, e cabe ao Grão-Vizir oficializar tudo.
— Que seja... — Respondeu-me em seu tom majestoso e desinteressado — Se tem que ser feito, que seja de pronto.
Eu sorri ante o comentário de meu amigo de infância. O humor cínico e simples de Yami era o que fazia dele uma pessoa tão fascinante. Era carismático até quando sentia-se contrariado! Isso era fascinante e me fazia gostar mais da companhia dele. Outro tópico que me motivava era a caçula, Yumi, de quem sempre gostei desde que me dou por gente.
Estava feliz de tê-los ali. Desde que Ireas saiu da cidade, senti-me estranhamente só; não era uma sensação agradável, tenho que admitir. O druida Norsir era bem peculiar, uma figura ímpar. Gostava de seus modos e histórias; eu me identificava com ele.
Levei os gêmeos até o Grão-Vizir Akbar, um rapaz de cabelos loiros desbotados como os de sua mãe, olhos castanhos como avelãs, uma sobrancelha grossa e bem desenhada, pele morena, cílios longos e um belo sorriso. Era um rapaz bem carismático, apesar de ser introspectivo e levemente desajeitado. Ele e Ireas eram bem parecidos nesse quesito.
— Bom dia — Disse o rapaz — São eles? — Apontou para Yami e Yumi
— Sim — Repliquei educadamente — O rapaz é o novo capitão do porto de Ankrahmun e a menina é a nova líder da Guilda dos Druidas — Peguei um pergaminho de minha mochila, o qual estava amarrado a uma fitinha roxa com um selo prateado com o símbolo da Coroa Thaiana e do governador de Edron, Daniel Alma-de-Aço — Como pode ver, Zoltan a aprovou como tal. A documentação deles também está toda em ordem — Sinalizei para que Yami entregasse seus documentos a Akbar.
O Grão-Vizir pegou seus pequenos óculos de leitura e examinou os papéis em sua mesa, especialmente os de Yumi. Desde o ataque promovido pela Irmandade, os ankrahmanos tomavam cuidado redobrado em relação a novos feiticeiros ou druidas na cidade. A desconfiança tornara-se uma constante novamente.
— Bem, parece estar tudo certo... — Disse Akbar, que assinou dois contratos e os pôs à frente dos gêmeos — Basta assinarem embaixo de minha assinatura e os empregos serão seus.
Os dois assentiram e assinaram os papéis. As letras eram praticamente idênticas, exceto o fato de Yumi escrever o alfabeto ligeiramente mais arredondado que Yami. Os dois pegaram os contratos e guardaram nas mochilas. Em seguida, Akbar designou um par de guardas para acompanhá-los até suas casas e locais de trabalho. Ficamos apenas eu e Akbar na sala, e rapidamente desloquei-me para a janela, fitando o mar com saudosismo.
— Vai voltar para Vandura? — Indagou-me o Grão-Vizir.
— Não... — Repliquei com um suspiro — Vou voltar a Nargor... Duvido que Raymond consiga ser bem-sucedido em sua rebelião. Ainda assim, antes de voltar para aquele antro que fede a rum, vou ver como anda aquele velho lobo do mar.
— Que que eu avise Ireas? — Indagou-me o Vizir — Ele deve estar perto de Darashia a essa altura, posso pedir para alguém enviar um escaravelho-correio para ele...
— Não será necessário... — Repliquei com melancolia, tirando um papel de minha camisa — Quando ele chegar, chame-o aqui e enregue. Diga a ele que sinto muito por não ficar por mais tempo, mas que não será a última vez que nos veremos...
Eu fiz uma reverência ao Vizir, peguei meu chapéu e parti com uma expressão triste em meu rosto. Por mais que a ideia de ficar por lá com os gêmeos me soasse agradável, eu não aguentaria ver Ireas com Wind. E se os dois fizessem as pazes? Poderia Wind fazer mal a Ireas de novo? Apesar de querer estar lá para cuidar dele, eu tinha que seguir com minha vida. Queria libertar a Baía da Liberdade da Coroa Thaiana para todo sempre, e não poderia fazer isso senão pegando em armas com meus compadres piratas e renegados.
Ao chegar ao porto, rapidamente desancorei meu navio, o Tormenta da Rainha Eloise**, e pus-me a singrar os mares para o Oeste, rumo a ilha pirata onde me treinei nas artes da luta, da feitiçaria e do mercado negro. É claro que a cidade do desrto far-me-ia falta, mas a partida era necessária. Eu precisava resolver essas questões. Nunca seria inteiramente livre se não o fizesse.
Ireas, obrigado por tudo. Obrigado por me mostrar essa bela cidade e fazer dela meu segundo lar. Obrigado por fazer de mim seu amigo e confidente, mostrando-me um lado seu que poucos hoje têm: o lado inocente e naturalmente bom, que cativa muitos, mas pode ser um prato cheio para os mais maliciosos, que ferem desmesuradamente.
Olhei para a alva cidade na medida em que desaparecia. Senti uma tristeza enorme tomar conta de mim, mas não podia voltar atrás. Era para o meu próprio bem. Dirtbeard me esperava. Enquanto o vento soprava em meus ouvidos, era como se a voz de Yumi estivesse em minha cabeça. Era um alívio para minha mente e consolo para minha alma.
Lonxe da Terriña
Que angústias me dan...
Os que vai pra ella,
Con vos me levai (3x)
Continua...
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*Kohl: nome dado ao material do qual se faz o delineador usado no Mundo Árabe. É um cosmético popular entre homens e mulheres, por ter propriedades medicinais. Foi criado no Antigo Egito e difundido do Sinai ao restante do Oriente Médio.
**Tormenta da Rainha Eloise: Referência ao navio Vingança da Rainha Ana, do Barba Negra.
Yami, o Primeiro e Yumi Yami são personagens existentes em Tibia. Eis seus perfis:
Obs.: Mudei o sexo de Yumi Yami (que é homem no jogo)
Name: Yumi Yami
Sex: Male
Vocation: Druid
Level:107
Achievement Points: 131
World: Unitera
Residence: Venore
Guild membership: Blood in eyes of the Happy Assassins
Last login: Jan 15 2013, 18:20:12 CET
Name: First Yami
Sex: Male
Vocation: Knight
Level: 86
Achievement Points: 55
World: Unitera
Residence: Kazordoon
Married to: Kare Fortitude
Guild membership: Reaper of the Happy Assassins
Last login: Jan 12 2013, 01:11:10 CET
Aqui estou! :D
Ótimo capítulo, como sempre. Como o Gabriellk disse, você parece ter mesmo muita experiência ao saber de tanta coisa simples que quase ninguém conhece, e introduzi-la na história. É muito legal ver essas coisas novas para mim misturadas à Ankrahmun. :D
Bom, não há muito o que falar. O capítulo foi simples, e triste o Sirio ter partido. Acho que esse Segundo Pergaminho será bem mais maneiro, hein? :smile:
É só. Aguardo ansiosamente o próximo capítulo. :y:
Por ora, só o Carlos apareceu por aqui (vc é q nem Rexona: não me abandona HAUSHAUHSAUHSAUH)
Bem, para o capítulo de hoje, recomendo uma trilha sonora beeem nostálgica (pelo instrumental e o desenho, não pelo idioma em questão - não se preocupem, há legendas!):
http://www.youtube.com/watch?v=X6QsYuA61Z4
Vejo que já há almas votando na enquete... Ao que parece, os Blue Djinn têm a vantagem xD
Será que o placar vai se manter? Tudo depende do voto de vocês, meus amigos de seção!
Marid ou Efreet - De que lado vocês estão, e quem deveria Ireas seguir?
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Capítulo 2 – Dois Oásis no Deserto (Parte 1)
Efreet...
“Ana guy min bilad (Oh, venho de uma terra)
Agab minha mafish (Da mais bela terra)
Fiha osur min dahab wi nahas... (Onde os palácios [são] de ouro e cobre)
Fiha rmal zay elbahr (Onde os desertos [são] como oceanos)
Harri yisih minno essakhr (E o calor derrete rochas)
Fiha essehr da shee adi...ya nas (Onde a magia é coisa normal... vocês )
Fihar reeh guy mishsha (Onde os ventos do Leste)
Shamsib toshro milgharb (O Sol nasce do Oeste)
Min norha tizaghlil elaen (Seus olhos enlouquecerão com a luz)
La'it tirhali yib'a murih (Percebi o quão confortável seria minha viagem)
Fo busat irreeh (No tapete [voador])
Wayyana "Ala iddeen"! (E Aladdin estará conosco!)
Hanla'e nhar... (Vamos descobrir que o dia...)
...modhish zay elleel (… É tão incrível quanto a noite)
Malyan bil hawadit (É cheio de histórias)
Yesh bena Afarit* ( Nos encherá de Gênios)
Talg iw rad iw nar (Neve, trovão e fogo!)
"Ala iddeen" (Aladdin)
Wih kaytu hatkoon (E sua história será)
Malyana asrar (Cheia de segredos)
Wi hazimet ashrar (E de vilões derrotados)
Wi habibto "Yasmeen'” (E seu amor, Yasmin)
(Música Tema de Aladdin (1997 – Disney Enterprises) em Árabe (Egípcio))
Efreet...
O cheiro de açafrão era insuportável para mim, mas Wind parecia ignorá-lo. Peguei-me espirrando por diversas vezes, causando suas risadas, discretas, leves e igualmente irritantes.
Demos de cara com quatro hienas no primeiro andar, e logo encarreguei-me delas; aparentemente, eu exercia algum poder sobre os animais, que deixavam de me atacar assim que eu estendia a mão a eles. Wind estava fascinado, mas evitava demonstrar. Agora, quem se divertia era ninguém menos que eu. Congelei as patinhas do quarteto, que parecia fatigado pelo calor. Não só poupei quatro vidas, como também as fiz um favor.
Wind então meneou a cabeça para que eu subisse as próximas escadarias; obedeci, e logo o vi ceifar a vida de algumas hienas e morcegos tão rápido quanto apareciam diante de nós. Uma pontada de dor atingiu meu coração, mas não demonstrei.
Ele estava sério, concentrado; era como se ele tivesse algo relacionado com aquela Fortaleza. Ele sinalizou para que eu esperasse: ele desceria primeiro. Deixei-o descer os degraus primeiro e logo o segui, apenas para vê-lo laças as najas e hienas que guardavam o caminho. Não pude deixar de soltar um suspiro de alívio e um sorriso ao ver que ele não os matara. Ele percebeu o sorriso e mandou uma piscadela para mim, fazendo-me corar. Rapidamente desfiz o semblante e voltei-me sério.
Andamos mais uns passos até a Fortaleza surgir; paredes de calcário e mármore branco com gárgulas em pedestais, peitoris de pedra e carrilhões a decorar a linda estrutura; aquele edifício parecia um belo cartão de visitas dos gênios de pele esmeralda, cuja fama não era das melhores, se minha memória não falhava.
Ele fez um sinal para que eu chegasse mais perto; acabei parando ao lado dele para que pudesse ouvi-lo bem.
— Mal' Ouquah, “O Verdadeiro Lar” — Ele disse ao apontar para a Fortaleza — Esse é o nome da Fortaleza dos Djinns verdes, os Efreets — Ele apontou para a entrada — O nome do segurança desse local é Ubaid, um velho conhecido meu. — Ele me deu um sorriso — Fique perto de mim e tudo dará certo, sim?
Senti os dedos dele roçarem os meus. Meu rosto enrubesceu e eu rapidamente tirei minhas mãos do alcance dele e segui em frente, ficando diante da porta de ébano e carvalho. Meu coração batia forte, muito forte; a forte mão direita de Wind segurava a minha esquerda, que só aumentava meus batimentos cardíacos. Respirei fundo e abri a porta, entrando na fortaleza com Wind logo atrás de mim.
Havia um tapete bege e verde-escuro com desenhos que mais pareciam o alfabeto ankrahmano em fios dourados e prateados, em um bordoado bem trabalhado e delicado. Havia algumas pinturas na parede, todas voltadas à temática da guerra. As paredes eram ligeiramente avermelhadas. Supus ser por causa do sangue dos que ali jaziam.
Então, sinto a mão de Wind largar a minha, e vejo-o ir até uma pequena lâmpada de cobre e ouro. Ele põe o indicador esquerdo sobre sua boca, pedindo silêncio. Em seguida, ele esfrega a lâmapada com a manga de sua vestimenta, fazendo uma fumaça esverdeada sair dela. A lâmpada sai das mãos de Wind e pairou no ar. A fumaça foi ganhando forma e comecei a sentir o sangue em minhas veias congelar.
A fumaça logo se transformou em uma montanha de músculos que teria por volta de três metros, com braços e tronco muito definidos, um turbante sobre a cabeça, olhos negros como a noite e um longo e fino bigode a adornar as faces de mandíbula quadrada e forte, de aparência quase selvagem. O nariz, por outro lado, era bem-desenhado, quase delicado, e os lábios eram levemente carnosos. A criatura então voltou seus olhares para mim, e senti como se várias flechas me houvessem perfurado.
— Quem é você, feio espécime? — Indagou-me com desprezo — O que faz aqui?
Vi os olhos dele tornarem-se vermelhos como sangue. Ele estava ficando enfurecido com a minha presença! Abri a boca para falar, mas eu havia esquecido a palavra-chave que Melchior me ensinara! Como fui tolo! Eu não a havia anotado... Comecei a recuar discretamente enquanto o Djinn aproximava-se com uma faca em riste.
— Djanni'hah! - Gritou Wind, ficando à minha frente como se fosse meu escudo, abrindo os braços diante da mágica criatura para me defender.
— Ah... É você, Wind? — Disse o Djinn, guardando a faca e recuando. — Faz muito tempo que não nos vemos... — Cruzou os braços com um semblante assustadoramente sério — Faz tempo que nosso senhor Malor não te vê. Por onde andou?
— Estive em uma guerra recentemente — Respondeu o Yalahari com um sorriso — Em Goroma. É uma ilha perto de Vandura, não muito distante daqui. — Ele segurou minha mão esquerda e puxou-me para seu lado e um pouco à frente de si — Esse é Ireas Keras. Ele veio aqui para falar com você.
— D-Djanni'hah... — Gaguejei um pouco assustado e tentando não espirrar; o cheiro de açafrão era forte demais para mim.
— Sou Ubaid — Disse-me o Djinn com uma reverência. Ele portava algumas folhas de açafrão junto ao seu turbante, que ficaram perto demais de meu nariz. Ao sentir a essência da especiaria, virei meu rosto para a esquerda a fim de não espirrar nele ou em Wind. Ao ver minha crise alérgica, o Djinn sorriu maleficamente.
— Ah, então você é alérgico ao nosso perfume... — Disse ao pegar as folhas — Ah, vamos. Não é tão forte assim, é bem... levinho... — Ele levou as folhas para mais perto de mim, até que sua mão fora afastada por um safanão de Wind.
— Pare! — Bradou o Yalahari — Ele é... A pessoa de que tanto lhe falei. — Eu fitei Wind sem entender o dizer regional, mas foi o bastante para o Djinn parar de me perturbar.
— Esse aí? — Indagou com descrença — Todo de azul... — Ele pronunciou a última palavra com nojo na voz — Que mau gosto, viu? Espere um pouco... Se é... o alguém especial, seu habib** de quem tanto fala... — Ele parecia examinar meu torso — Rapaz, tire seu robe — Apontou para mim, e eu fiz que não.
Então, sem que eu pudesse detê-lo, Wind abriu a parte superior, revelando meu peitoral. Havia o leve desenho de uma rosa azul nele, algo que eu jamais havia reparado; era quase como se fosse uma marca-d'água. Tão rapidamente quanto o abrira, o Yalahari o fechou, e eu simplesmente queria um local para enfiar a cara de tanta vergonha. Ubaid, por outro lado, começou a rir um riso gostoso, leve; parecia não rir há anos.
— O infeliz é azul até no peito! — Zombou o Djinn — Você tinha razão, Wind, ele tem desenhos na pele. E também tem o físico de um Norsir, apesar de sua estatura dizer o contrário. — Fez um movimento com o braço para zombar de minha altura — E então? — Agora ele se voltou para mim — O que quer de nós?
— Bem, eu... — Comecei timidamente; inconscientemente, eu apertava a mão de Wind, buscando segurança, talvez — Vim aqui... A pedido de... Kazzan.
Tão logo que falei o nome do califa, Ubaid mostrou-se raivoso.
— Quem aquele humaninho pensa que é?! — Urrou — Ele e a raça dele são feitos de traidores, isso sim! Quem ele pensa que é para atropelar a autoridade de Malor, nosso mestre, tentando nos comprar?! Eu devia... — Ele se conteve, cerrando os olhos; então, olhou para mim — Diga a seu mestre... Ireas Keras... Que desaprovamos a conduta dele e rejeitamos sua proposta.
Eu assenti, assustado com o ataque de ira do Djinn. Wind puxou meu braço levemente.
— Ubaid, nós vamos subir. Importa-se? — Ele falou ao Djinn; novamente, voltei a ter uma crise de espirros; desta vez, não parecia que a reação passaria rapidamente. O Yalahari me olhou procupado.
— N-não consigo... Respirar... — Disse entre um espirro e outro, sufocado.
— Ubaid! — Wind estava claramente preocupado —Há algo que o Ireas possa usar para disfarçar o cheiro de açafrão? Ele é muito alérgico!
O Djinn ria discretamente enquanto pegava uma infusão. Aos espirros segurei a xícara; estava quase para beber o líquido fumegante e transparente quando Ubaid deu-me um leve tapa na cabeça.
— Não é para beber, animalzinho! — Zombou — É para cheirar. É chá de flor-do-sono, perigoso demais para ser consumido, mas excelente para curar males da respiração. Você ficará bem. Apesar de não ser algo de praxe, só porque Wind é um de nossos maiores aliados e você é alguém muito importante para ele.
O Djinn nos deu passagem e Wind abriu a porta. Eu ainda estava segurando a mão dele, sem perceber. Eu segurava o chão com a minha mão livre, mantendo-o perto de meu nariz. Eu podia ouvir a risada do Djinn pelo outro lado da porta.
— Desculpem... Desculpem! — Dizia Ubaid entre risos — Mas não consigo evitar...
— Está se sentindo melhor? — Indagou-me Wind, preocupado.
Sim... — Respondi com voz nasalada — Acho que não consigo sentir cheiro de mais nada...
Ele sorriu para mim e virou as costas. Antes de chegarmos ao próximo andar, pude ouvir a voz de Ubaid:
— Wind, seu cachorro! Você esqueceu o meu hidromel!
— Não se preocupe! — Retrucou o Yalahari — Da próxima vez, trarei!
— Acho bom! — Urrou Ubaid, ainda dominado pelo riso.
Wind puxou levemente meu braço e seguimos escadaria acima. No próximo andar, haviam duas salas trancadas e um Djinn azul, que aprecia ser um comerciante. Eu estranhei a presença dele ali; afinal, não era Mal'ouquah a fortaleza dos Efreets, os peles-verdes? Não cabia a mim julgar...
— Alesar! — Disse Wind ao Djinn, soltando minha mão — Rapaz, há quanto tempo!
— Já disse que não vou com a sua cara? — Respondeu o comerciante com visível mau-humor.
— Já disse que você é o melhor lojista de todos? — Respondeu Wind com um sorriso, fazendo-me rir levemente.
— Por que o garoto está com o chá na cara? — Indagou Alesar, apontando para mim. — À propósito, garoto, sou Alesar. E o prazer é todo seu, entendeu?
— É alergia... — Respondeu o Yalahari — Açafrão; ele não tolera nem o cheiro, que dirá o gosto. Você está com um humor péssimo, meu caro. O que há?
— Yaman — Respondeu o Marid — Ah, que infortúnio! Inventei de jogar cartas com ele, apostando... Horas de serviço. Não só perdi como Malor veio com sermão... Que infortúnio! Ainda mato aquele retardado mental infeliz... — Ele volta a olhar para mim — Wind, é ele... O rapaz especial?
Wind acenou positivamente com a cabeça.
— Que seja — Respondeu Alesar com desinteresse — Se for para ficar de namorico, sugiro que suba; não preciso de mais um infortúnio na minha lista...
— Relaxe... — Ele respondeu — Vou te poupar da minha alegria. Ireas, poderia esperar aqui? Preciso falar com Baa'leal sobre alguns... Assuntos secretos. Alesar, não o maltrate, sim?
Ele me puxou de encontro ao seu corpo, beijou-me e subiu a escadaria. Apesar de ter sido um beijo rápido, pareceu ter durado uma eternidade para mim. Sem perceber, acabei derrubando a xícara no chão, quebrando-a.
— Agora você vai limpar — Disse Alesar com um sorriso maléfico — Já me bastam meus infortúnios diários.
Eu assenti e conjurei um pano e um balde de água, fazendo o serviço sem reclamar, o que impressionou o Djinn comerciante. Sabendo de minhas ascendência Norsir, ele não estranharia se, por orgulho, eu me recusasse. Aceitei pra evitar conflitos. Não posso deizer, contudo, que meu orgulho não fora ferido. E Alesar havia percebido isso, tamanho era seu deleite.
— Quais as suas intenções com Wind? — Indagou — Pretende ter algo sério com ele?
Parei de limpar o chão; não sabia o quê responder. Ainda estava muito magoado, ferido, triste com ele. Não sabia ao certo se eu ainda sentia algo por ele que não fosse raiva e mágoa.
***
A noite chegou rápido ao deserto; terminados meus negócios em Mal'ouquah, logo pedi a Wind que me levasse à fortaleza dos Marid. Ele, contudo, se recusou; disse que estava muito tarde, e que era melhor repousarmos. Visando não entrar em conflito, concordei com ele, conjurando duas tendas para nós. Sob os uivos vigilantes do quarteto de hienas cujas vidas salvei, deitei na cama improvisada que fiz e dormi o melhor sono de toda minha vida...
Continua...
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Notas da Autora:
*Afa'rit ou Afarit: Outra forma de se escrever Efreet; também existe a forma Ifrit, mais usual.
**Habib: Em árabe, “Amado”
O bordão "Que infortúnio" foi tirado da personagem Funérea, da série da MTV "Fudêncio e Seus Amigos".
Usei o bordão e a prórpia Funérea como base para a personalidade do NPC Alesar, bem como a descrição dada no TibiaWiki: "Alesar é um tanto quanto especial, por se tratar de um Djinn Azul a serviço de Malor. A verdade é que ele repudia humanos, mas tolera aqueles que se aliaram à causa de Malor e dos Efreets".
E aí, Iridium!
Finalmente voltou com o bom ritmo de postar capítulos. Mas infelizmente o povo abandonou sua história, o que é muito ruim... :(
Realmente não vou abandonar! Curto muito sua história, é diferente as outras da seção. E vou acompanhar até o final, com certeza.
Quanto ao capítulo, ótimo, ri com a estranha alergia do Ireas. Achei legal as descrições da fortaleza, apesar de não gostar dos Efreets. Também achei interessante esse Djinn azul no meio de tantos verdes, mas realmente não conheço nenhuma fortaleza Djinn. Ainda não consegui um char forte pra entrar nelas, e muito menos premium. :/
A música eu nem pude ouvir, estou no celular, ou leio ou ouço a música. E os desenhos dos personagens estão muito bons, parabéns. Você desenha bem :y:
Bom, é só. Abraço :D
Olá pessoas, tudo bem?
Só estou passando para avisar que ficarei um tempo sem entrar no Fórum. O motivo? Uma viagem - estarei fora do país até o início de Fevereiro. Até lá, vamos ver se mais gente lê, né? XD
Bom, a luta de facções continua aqui no tópico! Os Djinns Azuis estão levando a melhor! Será que vão permanecer assim por muito tempo? Cabe a vocês, leitores, a decisão!
Sem mais delongas, o Capítulo de hoje.
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Capítulo 3 – Dois Oásis no Deserto (Parte 3)
Marid...
Acordei com o raiar do Sol; desconjurei minha tenda, que sumiu no ar em uma fumaça gélida. O céu rosado me recordava do primeiro nascer do Sol que vi em Ankrahmun; apesar do Sol ser o mesmo em qualquer cidade, havia algo mágico naquele deserto.
Wind já estava desperto e me fitava com um semblante que não sabia descrever; ele tinha alguns dos famigerados (e deliciosos) manjares de fruta-do-dragão; sem cerimônia alguma, peguei um docinho de cada vez e os fui devorando.
— Continua viciado nisso, não? — Disse o Yalahari — São exclusividades de Yalahar... Posso te levar lá... Um dia... Se quiser... — Ele foi se encolhendo timidamente a cada sentença; era algo estranho vê-lo tão contido.
—Wind... — Comecei, tímido. Eu ainda estava com as perguntas de Alesar na cabeça — Podemos ir? Quero voltar o quanto antes para Darashia para falar da missão e... Para Ankrahmun. O novo Capitão já deve ter chegado, bem como a nova líder da Guilda dos Druidas...
— Nossa, já conseguiu organizar tudo isso? — Wind cruzou as pernas e deixou as costas eretas — Puxa, estou impressionado!
Eu senti meu rosto pegar fogo e fitei as areias; uma das hienas, decerto um filhotinho, veio até mim com um rosto pidão. Com um sorriso, pus o pequenino no espaço entre minhas pernas cruzadas e pus-me a acariciar o pelo malhado dio pequenino.
— Além disso, também arranjei um Grão-Vizir... Assim que eu voltar, assinarei minha carta de demissão ao Faraó e entregar-lhe-ei a chave de meus aposentos.
O semblante de Wind pareceu entristecer-se.
— Você... Vai deixar Ankrahmun? — Indagou o Cavaleiro, levantando e guardando os manjares sob os meus protestos — Digo... Para sempre?
Eu cerrei meus olhos e segurei a hieninha em meus braços.
— Para sempre é muito tempo... — Respondi em um sussurro. Em seguida, gentilmente soltei a hieninha no chão, para que ela pudesse se juntar à mãe. Desci as escadarias com Wind logo atrás. Ele ainda parecia bem triste.
— Algo te chateou, Ireas? — Indagou-me preocupado, aproximando-se de mim, caminhando ao meu lado — Alesar disse algo que te magoou?
Eu parei de andar; não sabia o quê responder a ele; a verdade é que não sabia o que sentira ao ouvir o Marid carrancudo perguntar o que perguntou. Talvez fosse meu orgulho ferido, ou o peso da voz de Alesar; a verdade é que a pergunta martelava na minha cabeça insistentemente.
— Ireas? — Ele pôs as mãos sobre meus ombros — Você está bem?
— Sim... — Eu repliquei, saindo de um transe — Sim, eu estou. Acho que é o cheiro de açafrão... — Menti — Ainda está nas minhas narinas, deixando-me atordoado...
— Lamento... — Disse Wind em tom queixoso — É uma pena que você seja alérgico desse tanto... — Um sorriso brotou em suas faces — Bem, sei que a fortaleza Marid, por outro lado, cheira a jasmin e sândalo... Decerto será mais agradável ao seu olfato.
Eu retribuí o sorriso, que logo desapareceu em meu semblante melancólico; o Yalahari me guiou à escadaria de pedra que levava à fortaleza Marid. Novamente, ele me ultrapassou e parou diante dela, para dar mais explicações acerca da outra facção Djinn.
— Ashta' Daramai, a “Casa de Daraman” — Disse Wind — Essa é a residência dos orgulhosos Marid, os Djinns Azuis. Uman guarda o primeiro andar da fortaleza. Siga-me.
Obedeci; Wind subiu a escadaria primeiro. No que chegamos ao fim dela, uma enorme pedra fora ao nosso encontro como um cartão de boas vindas.
— Exori Tera! — Gritei, convocando vimes e cipós para segurar o projétil no ar, impedindo-o de nos esmagar.
Vi Wind correr em direção ao nosso inimigo, um enorme Golem de Pedra; uma criatura que teria cerca de quatro metros de altura, com o corpo feito de várias pedras e pedregulhos mantidos juntos por alguma força mágica. Para mim, parecia adversário difícil, mas não para Wind.
O ruivo defendia cada soco e pedrada desferidos pelo golem com seu escudo. Sua espada cortava a couraça de pedra como se fosse manteiga. Vi o golem cair tão rapidamente quanto havia aparecido. A julgar o número de Grandes Feitos de Wind, bem como sua força, estranhei que tivesse levado tanto tempo. Parecia cansado, como se não tivesse dormido bem. A preocupação imediatamente inquietou meu coração e mente.
— Golens de pedra... — Resmungou Wind — Decerto guarda-costas dos Marid... Não vem ao caso. Siga-me.
Assenti e seguimos em frente. Ashta'daramai era ainda mais bela que Mal'ouquah, com pedras incrustadas no mármore das paredes. Da distância em que me encontrava, era possível visualizar um balcão que deveria ter um jardim, a julgar pelo cheiro de flores e de grama molhada que vinha do edifício. Um sorriso brotou em meu rosto – os Marid certamente sabiam causar uma boa impressão.
Parei diante da porta, receoso. Será que Uman atentaria contra minha vida, tal qual Ubaid? O que mais me preocupou, estranhamente, foi o fato de Wind ter-se mantido longe das portas, aumentando minha desconfiança.
— Não vai entrar? — Indaguei receoso.
— Não posso — Replicou o ruivo com vergonha — Lembra que te falei que das duas fortalezas, só podia entrar em uma, meu bem? Pois bem, Mal'Ouquah é a fortaleza em que tenho salvo-conduto; naturalmente, isso me desqualifica para entrar em Ashta'Daramai. — Ele soltou um largo suspiro — Eu terei que esperar por você, Keras. Se alguma coisa acontecer... — Ele se aproximou e segurou minha mão esquerda com vigor — Corra para cá. Não hesite em fugir do combate se for preciso; Djinns são mais fortes do que aparentam. Não dê a chance para eles te ceifarem a vida; se você o fizer, tenha a certeza de que aproveitarão a oportunidade. — Ele soltou minha mão e se afastou — Estarei aqui, se precisar de mim.
Fitei-o com seriedade; por isso ele tinha livre acesso em Mal'Ouquah, sendo tão íntimo de Alesar e demais Djinns que lá residiam. Ele me fitava com preocupação; eu, por outro lado, busquei ignorar os maus pensamentos que tinha e não retornei nem o olhar, nem o segurar de mãos. Eu ainda não confiava plenamente nele. Depois da pergunta de Alesar, então... A minha desconfiança apenas crescia.
Abri a porta. Havia um Djinn lá; certamente, era Uman. Tinha uma pele azul-arroxeada, um turbante de cor branca, uma cinta de pano branco com fios de prata, um bigode fino e negro e olhos de mesma cor. Ele me olhou com curiosidade, o que me espantou; Ubaid me havia fitado com desprezo e quase me matara. Já estava ficando desconfiado, e a dose de adrenalina que circulava em minhas veias em nada ajudava.
— Ora essa! Um pequenino visitante! — Disse Uman com um sorriso — Olá, pequeno estranho! O que te traz aqui?
— Djanni'hah... — Disse lentamente, empunhando meu cajado. O Djinn então arregalou os olhos, maravilhado.
— Onde você aprendeu a dizer isso?! — Indagou-me imensamente feliz — Que maravilha, contarei a Fah'rahdin e... Espere aí um instante! — Ele lentamente voltou sua cabeça em minha direção, interrompendo seu voo em direção à porta lacrada da esquerda.
— Bem, eu... — Eu estava prestes a entregar Melchior, mas logo voltei a mim — Isso não vem ao caso. Meu nome é Ireas Keras e estou aqui em uma missão. O califa Kazzan...
— … Quer nos oferecer o apaziguamento com nossos contraparentes; algumas vantagens em troca da paz no deserto, blá, blá, blá... — Completou Uman, abrindo e fechando os dedos de sua mão direita como se representasse alguém que falasse demais; certamente já ouvira aquele mesmo discurso várias vezes — Diga a ele que não estamos interessados, sim? Apesar de buscarmos a paz, Malor parece não querer ouvir a voz da razão, e insiste em manter o clima de tensão nessas montanhas.
— Bem, eu... Agradeço a atenção... — Repliquei, surpreso. Uman não gritou, não esbravejou, nada; foi extremamente educado e respeitoso. — Mande lembranças ao seu rei...
— Espere! — Suplicou Uman — Não gostaria de se juntar a nós? Digo, sei que essa é uma batalha nossa, dos Djinns, mas... Uma ajuda é sempre bem-vinda. — Ele pegou uma bandeja prateada com uma chá vermelho com favas de baunilha, alguns docinhos e uma flor de jasmin na parte direita e um pedaço de sândalo na parte esquerda dela — Aceita algo? Um chá, um docinho, talvez?
— Aceito o chá, por favor... — Eu respondi pegando a xícara, sorvendo lentamente o líquido. Uman continuava a me fitar com curiosidade.
— Pobrezinho... — Ele disse com um sorriso triste — Você está com cheiro de açafrão. Essa essência é inconfundível; você falou com os Efreets antes, não foi?
Respondi que sim com a cabeça, devolvendo a xícara.
— Sou alérgico a esse negócio — Respondi, referindo-me ao açafrão — Não aguentava mais a atmosfera daquele local.
— Eles usam açafrão para acobertar o cheiro de morte de Mal'ouquah — Informou-me Uman — Você deve ter notado o quão rubras são as paredes. É tudo sangue, Keras; tudo sangue. Não gosto de guerras, sabe? E discordo plenamente das atitudes de Malor e seus comparsas e sei que, quando chegar a hora, as lágrimas de Daraman julgarão esses infiéis. Tenho certeza — Ele guardou os utensílios — Bem, se algum dia você desejar saber mais sobre nós... E quiser defender o lado dos justos, dos que nunca quiseram mal aos humanos... Sabe onde vir.
— Antes de sair, gostaria de uma coisinha só — Eu disse — Por acaso você não teria um frasco com essência de sândalo ou jasmin? Se tiver, gostaria de pegar um de cada; um é para presentear uma pessoa. O outro, para mim.
O Djinn soltou um discreto e rápido riso, pegando duas pequenas garrafinhas com líquido meio ocre e outro mais transparente. Eram essências de sândalo e jasmin, respectivamente.
— Obrigado — Respondi — Mande lembranças a Gabel.
— Disponha — Respondeu Uman com um sorriso — Sei que não será a última vez que nos veremos...
Sorri para o simpático Marid e me retirei. Wind estava parado no mesmo lugar, com os braços cruzados. Ao me ver, arregalou os olhos e descruzou-os lentamente.
— E então? Como foi?
— Melhor que o esperado — Respondi com um riso forçado — Se todos os Marid forem como Uman, certamente posso dizer que são criaturas encantadoras.
— Fico feliz de saber que saiu ileso... — Ele fitou meu rosto, pondo o dedo indicador esquerdo sobre o meu nariz — Vejo que está curado da alergia. Suponho que jasmin e sândalo realmente tenham efeitos medicinais...
— Também creio nisso — Respondi ao me afastar — Bem, tenho que voltar ao califa... Quanto mais cedo eu terminar isso, melhor. O dever me espera...
— Em Ankrahmun? — Indagou Wind, cujo tom de voz parecia dizer “tomara que você não tenha falado sério em relação a partir de Ankrahmun”.
Não lhe respondi; apenas metralhei-o com o olhar, o que o fez recuar um pouco. Dei de ombros e segui viagem para Darashia. Como já estava ciente do caminho, não me importaria se Wind desaparecesse. Na verdade, bem que eu gostaria disso. Aquela convivência forçada já estava me irritando. Se eu fosse um pouco mais forte... Naquela hora, em Mal'ouquah... Eu o teria empurrado... Ou socado. Tudo para afastá-lo.
Subimos as escarpas da montanha, passando por hienas, algumas najas e um grupo de nômades, os quais acabei por ignorar. Enquanto tentava chegar o mais depressa possível ao palácio de Kazzan, o Yalahari tentava me frear! Que inferno!
— Por que a pressa, Ireas? — Indagou-me com um sorriso — Seja lá quem você contratou, podem se virar sozinhos... — Ele se aproximou, colando os lábios no meu rosto e sussurrando ao pé do meu ouvido — Dê-me uma chance... Apenas uma...
— Te dar uma nova chance? A troco de quê? — Indaguei, afastando-me bruscamente — Você cumpriu com a sua palavra; guiou-me até as duas Fortalezas e explicou-me sobre os Djinns. Sua parte você já fez, e é o bastante.
Então, senti algo roçar meu calcanhar esquerdo; olhei para o chão, e era um escaravelho-correio; o pobrezinho estava ofegante, parecia ter voado uma boa parte do trajeto. Peguei o inseto com uma das mãos e tirei a carta de sua mandíbula com a outra; pus o escaravelho sobre meu ombro e abri a carta. Wind me fitava, atônito.
— Então... Não significou nada para você?
— Como? — Fiz-me de desentendido, fitando-o com o canto de meus olhos.
— O fato de ter te salvado de Ubaid. — Ele estava começando a ficar com raiva, elevando o tom de voz — Que eu me lembre, você estava prestes a ser atacado por ele; além de você ter esquecido a frase de cumprimento Djinn, pareceu-me que, por um instante, você se esqueceu como lutar!
Se ele queria me deixar com raiva, conseguiu; lentamente, fechei a carta e a pus em um dos bolsos que abri em meu robe. Fitei-o sem esboçar reação alguma.
— E ainda tem mais! — Havia lágrimas nos olhos do Yalahari — Eu busquei te salvar de sua alergia! Eu me preocupei com seu estado de saúde! — Ele já estava gritando, e minha irritação aumentava em igual proporção; a cidade inteira parou para nos ver — Ora, vamos admitir: sua alergia é bem conveniente, não?! Não conseguir respirar por inalar... Açafrão? Açafrão, caramba! Uma vez na vida, Keras, admita algo! Admita que estava errado sobre a autoria das cartas! Admita... Admita que... Ainda sente... Algo por mim. — Ele passou a diminuir o tom de voz.
No momento mais crítico da discussão, podia jurar ter visto Jack e Brand com mais dois rapazes.
— Brand. Brand! — Jack falou, puxando o braço do paladino de grisalhos cabelos. Em seguida, ele apontou para mim e Wind. Eu estava tão absorto, que nem percebi.
— Ai, santo Banor... — Resmungou Brand — Isso vai melar. Jack, leve Icel e Emulov para outro local, sim? Eu cuido disso...
Voltando a mim e Wind. Ele queria continuar a falar; e eu apenas queria que ele calasse a boca.
— Já... Chega! — Eu disse entre os dentes, transformando minha varinha em um machado de gelo — Se é briga que você quer, Wind Walker, então é briga que você terá, e ao estilo Bárbaro... Que conhecemos muito bem!
Eu não sabia mais o que estava fazendo; a ravia tomou conta de meu ser, e avancei com tudo em direção a Wind, que usou seu escudo para defender-se de minhas investidas. Ele não queria me atacar, e aquilo me irritava demais. Descobri que minha força era tamanha que comecei a causar um estrago no escudo dele.
— Pare, Ireas! — Gritou Wind — Não é assim que você vai resolver seus problemas! Não quero brigar com você! Não quero te machucar.
— Meus problemas?! — Eu já estava rugindo — Meu único problema é... VOCÊ!!!
Eu acertei o machado de gelo no chão, conjurando estalagmites que fendiam o chão de terra seca e arenito; os cidadãos saíram correndo, desesperados. Ao que parecia, os darashianos de maior número de Grandes Feitos não estavam por ali. Graças ao susto e ao tremor que as estacas causaram, Wind acabou caindo no chão, surpreso.
— Tudo estava perfeitamente bem! — O machado só acertava o chão, pois Wind rolava no chão, desviando da lâmina — Eu havia saído da abadia de Rookgaard com a missão de achar minha mãe, nada mais! — Eu parecia um animal raivoso; Wind conseguira se levantar, e eu o segui com o machado em mãos — Eu vivia bem como o rapaz criado pelo padre e que perdera os amigos de infância no único lar que tivera a vida inteira!
Eu me irritei tanto com o jogo de desvio de Wind que conjurei uma estava de gelo e arremessei contra ele, acertando sua coxa esquerda. Agora, ele pararia de andar e eu poderia acertá-lo como tanto queria. Não notei, contudo, que estava na mira de alguém...
— Eu...Eu... Já havia aceitado o fato, e o fardo, de viver sozinho... — Eu ofegava; transformei o machado em uma lança cuja ponta funcionaria como a arma favorita de execução Norsir — Aceitei a morte de Khaftos... Executei uma criança deplorável chamada Shambler... Aceitei minha doença... Aceitei... Meu passado... — Apontei a lança para o pescoço de Wind, pronto para decapitá-lo.
— Não tem que ser assim, Ireas! — Ele estava ofegante — Você não é assim! Você não é esse Norsir sanguinário, essa... Essa monstruosidade sedenta por sangue! Eu... Eu não sabia dos horrores que você passou, meu bem.
— Calado! — Gritei, pressionando a garganta dele com a ponta da lança — Você não tem o direito de me chamar assim! Você não tinha o direito de aparecer na minha vida, de me conquistar, de ir para a guerra... — Eu já estava chorando, mas mantinha-me gritando. Ouvi o barulho da mira de uma besta sendo acionada — Me deixar só... Me magoar... — Afastei a lâmina do pescoço dele. Meus olhos estavam vidrados nos dele. Eu só desejava uma coisa: congelar a alma dele.
Ele começou a ofegar e piscar lentamente; seu hálito tornou-se cada vez mais gelado, e sua pele estava empalidecendo.
— Pare... — Ele implorou; uma lágrima que saía de seu olho tornou-se um belo cristal de gelo. Eu me preparei para ceifar a cabeça dele.
Ouvi um tiro de besta; senti uma dor lacinante. Minha lança voltou ao estado normal de Cajado da Tempestade de Gelo. Eu caí com um urro no chão. Perdi a consciência.
(Narrado por Wind Walker)
Esse homem... Não é Ireas. Não é o Ireas que conheci. Crunor, me ajude! Eu não entendo o que eu fiz para ganhar o ódio do homem que mais amei em toda minha vida. O que eu fiz de errado?
Aquele olhar. Lindo e mortal ao mesmo tempo; eu senti meu corpo paralisar, senti o sangue em minhas veias parar de correr. Se Brand não tivesse atirado... Não sei o que teria sido de mim.
Assim que ele caiu no chão, meu corpo voltou a responder. Ainda assim, foi a sensação mais horrível que enfrentei. Nunca, em todos esses anos, cruzei com alguém que seria capaz de enxergar minha alma e congelá-la — Keras quase conseguiu isso.
Ele estava com os olhos cerrados, sangrando através do furo em sua escápula esquerda. Eu olhei para cima, e não vi mais Brand. Eu estava aterrorizado. Meu coração batia descontroladamente em meu peito, que parecia mais apertado na medida em que eu o via sangrar.
— Ireas?! Ireas! — Eu o amparei em meus braços, tentando despertá-lo — Acorde, meu amor, acorde! — Tirei a besta do local e tentei estancar a ferida — Socorro! Socorro! Alguém me ajude! — Berrei a plenos pulmões.
Corri até o posto de enfermagem da cidade; ele já havia sangrado demais. Fosse Norsir ou não, ele era humano como qualquer um. E eu sabia o que aconteceria se ele perdesse mais sangue...
Continua...
P**A QUE
Não, pera, tenho que falar sobre o começo do capítulo e_e
Bom, o capítulo foi bem maneiro, do jeito que eu queria(não tenha péssimas impressões :fckthat:) e que me surpreendeu o tempo todo.
Os Marid já me pareceram bem gentis, e o jeito que você escreveu já pareceu bem conviciente.
Mas a parte que eu gostei foi essa revolta do Ireas. Puts, o cara ficou loucão mesmo, não sabia que era possivel transformar um cajado em um machado ou uma lança(Ou é coisa da sua história ou os druidas são fodas mesmo! :o). Já de resto foi mais impressionante, perceber que finalmente o Ireas quis dar uma porrada no Wind, mas eu só imaginava murros e chutes e violencia sobre o documento masculino, não uma decapitada ao estilo Norsir ._.
Bom, gostei, hein! Que pena que você vai ficar fora do pais(espero que você não vá a um pais comunista :rageface:) e sumir um pouco. Bom, vou aguardar sua volta, e com ela, mais um capítulo foda! xD
Abraço.
Fala ai Iridium, como prometi estou lendo sua história, cheguei no capitulo 20. Gostei muito mesmo, mas eu tenho que falar a minha surpresa no lance do Ireas ser gay. Espero que segure um pouco a decisão do Ireas, de escolher um dos lados, para que eu possa votar com o conhecimento da história como um todo, e não pela metade.
E outra essa mãe do Ireas é toda estranha também, acho que ela sofre de bipolariedade. Mas eu tenho certeza que pelos temas abordados, e principalmente sobre o tão esperado encontro de Ireas e a mãe, vai aumentar ainda mais os leitores dessa história.
Boa Tarde!
Enfim, de volta ao Brasil... Depois de 15 dias fora, nos EUA (afazeres de escola) eu e Ireas enfim mataremos a saudade de vocês.
Sem mais delongas, o Capítulo de hoje.
P.S.: Vai rolar o Torneio?
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Capítulo 4 – Perdão
(Narrado por Ireas Keras)
A escuridão. Outra vez, não. Eu parecia flutuar no vazio, no escuro infindo. Minhas mãos estavam claras; meu corpo parecia mais pálido que de costume. A flor azul em meu peito brilhava.
Um vulto começou a surgir. Inicialmente, uma massa disforme violeta; em seguida, foi tomando forma. Uma forma masculina.
— Não pode fugir para sempre, Keras... Uma escolha tem que ser feita...
Que escolha? O que ele queria dizer? Era apenas um contorno, um elemental violeta, que parecia ter cabelos espetados. A voz era macia, grossa, majestosa... Como a de Tothdral... Ah, que saudade daquela múmia...
Então, outros vultos, de cores azul-escuro e rosa, apareceram. O vulto rosa parecia atacar o azul, que tinha o físico de um bárbaro. Ele não só tomou forma como também assumiu uma imagem — a imagem de Liive. O vulto rosa ria maleficamente.
— Nunca mande um homem fazer o trabalho de uma mulher...
Comecei a me desesperar, tentando recuar. Vi Liive no chão, morto — ao menos aparentava. O vulto violeta se aproximou de mim.
— Vai ter que escolher... Ou ele... Ou o outro.
Fiz que não com a cabeça. Outra vez, não podia falar; o vulto rosa pulou em cima de mim, encobrindo-me. Agora, não havia nada senão o rosa na minha frente. Tentei lutar contra ela, mas nada adiantava.
— Socorro! — Enfim consegui gritar, balançando meus braços, atancando o ar — Socorro! Ela vai me matar! Ela vai me matar!
— Acorde, Ireas! — Era a voz de Brand — Acorde!
Abri meus olhos de uma só vez; Brand me segurava forte em seus braços. Eu estava encharcado de suor; minha respiração estava ofegante.
— Quem vai te matar, Keras? — Indagou o paladino — Sua mãe?!
Eu ainda estava atônito; não tinha a menor ideia de onde eu estava; eu fitava os olhos rubros de Brand com pavor. Fiz que sim com a cabeça; não havia dúvidas na minha mente de que estava em Darashia. Então se eu estava lá...
— Wind... — Sussurrei, surpreso. Então, virei-me para Brand com o semblante desesperado — Wind?! Onde ele está, Brand?! Ele está bem?! Por acaso eu...
Ele se manteve calado, com um olhar sério. E senti meu coração ficar cada vez mais apertado.
— Por favor! Brand, eu te imploro! Onde ele está?! — Lágrimas saíram dos meus olhos; eu entrei em estado de pânico — Não me diga que...
— Não. — Respondeu-me secamente — Você não o matou... Mas chegou perto. Bem perto.
Eu o olhei surpreso, com meus olhos muito arregalados.
— Quando eu vi, você estava prestes a honrar seu sangue Norsir... No pior sentido — Censurou-me Brand. Ele estava zangado comigo — Agora, quem está com ele é Jack. Sinceramente, Ireas, eu não lhe compreendo. Desde que te conhecemos, não houve um dia sequer em que ou você ou Wind não me tenham causado problemas!
— Eu... — O desespero tomou conta de mim — Eu... Eu quase o matei... — Abafei minha voz com a minha boca, aterrorizado — Eu quase o matei... Depois de tudo... — Comecei a chorar — Eu sou um monstro... Uma besta, um animal! — Cobri o meu rosto com as duas mãos, chorando sofregamente.
— Eu estou perplexo! — Declarou Brand com tristeza — Desde que Wind chegou, tudo o que você tem feito é maltratá-lo, humilhá-lo... Yalaharis também têm sentimentos, sabia?
Eu parei de chorar para ouvi-lo.
— Sei que isso tudo não tem sido fácil para você, meu caro... — O mais sério dos homens que conhecia estava tentando trazer-me de volta à razão — Você está tendo informações demais para absorver. Descobriu-se Norsir, órfão de pai; testemunhou o começo de uma guerra que, ironicamente, trouxe-lhe o amor. — Ele me ofereceu uma garrafa com limonada — Beba um pouco.
Eu aceitei a bebida e consumi-a em lentos goles, enquanto Brand seguia com seu discurso.
— Vou lhe contar uma coisa — Ele começou — Olha, há uns anos atrás, quando Wind revelou a mim e a Jack acerca das preferências dele, ele não era exatamente o homem que ele é com você — gentil, atencioso, prestativo... Ele costumava não se importar com os parceiros dele, preferindo algo mais casual, momentâneo, do que pensar em um relacionamento sério. Durante a guerra, não houve um momento sequer em que ele não tenha falado de você ou pensado em você.
— É sério? — Eu parecia uma criança de cinco anos ao perguntar, como se estivesse diante de algum parente que dissesse “eu te amo, sabia?”.
— Pela primeira vez na vida, ele queria ter alguém para voltar! — Brand se levantou — E esse alguém é você, Keras. E ele escreveu para você sim! Mas não aquilo que você julgava que ele teria escrito...
Brand me entregou um papel bem dobrado. Minhas mãos tremiam muito, e meu ferimento nas costas doía. Antes de abrir, virei-me para Brand outra vez.
— Quem me impediu de matar Wind? Quem que atirou em mim?
— Fui eu. — Respondeu-me friamente — Jack havia visto o início da discussão. Pedi para que saísse de cena e deixasse em minhas mãos. O que eu pus no virote foi uma pequena dose de sonífero. Contudo, acho que exagerei no virote...
Eu sorri ironicamente, e ele deu de ombros.
— Leia — Pediu — Verei como Wind está. Trate de não surtar novamente.
Obedeci. O paladino saiu de cena e eu abri o papel lentamente, nervoso. Fiquei aliviado ao identificar a caligrafia de Wind.
“Querido Ireas,
Como está você? Desde que tudo isso começou, tem sido impossível obter notícias suas... Ainda busca por sua mãe? Tem conseguido ficar mais forte? Como tem passado?
A verdade é que estou ansioso para ver-te de novo... Você é um rapaz cordial, gentil, honesto, trabalhador e carinhoso. Não consigo acreditar que você seja um Norsir, pois nem de longe você guarda resquícios do típico estereótipo que fazemos deles — basta ver Liive para entender o que digo...
Você é a pessoa mais extraordinária que conheci. Sua sede por conhecimento, sua simpatia... Seu sorriso, o mais lindo que vi, cativante, que aparece apesar de todo sofrimento que você aparenta ter passado, é fascinante.
Brand e Jack vem zombando de mim, pois nunca me viram dessa forma, tão apaixonado. É verdade; não tenho vergonha de dizer que me encantei com você, que não consigo pensar em ninguém senão você, que não entendo como consegui viver tanto sem ter te conhecido...
Meu objetivo é voltar inteiro dessa guerra. Não para ser glorificado como herói nem nada — mas para ver você. Para viver com você. Para, quem sabe, ter algo mais sério. Quero te ajudar nessa busca por sua mãe, estar lado a lado com você, o Druida mais fantástico que já tive a honra de conhecer e o prazer de me apaixonar. E espero ter o privilégio de tomar-lhe o coração para mim.
Esperando ansiosamente por sua resposta,
Wind Walker”
A julgar pelo estado do papel, decerto ele datava do período em que Wind estivera fora. Ou seja, ele estava falando a verdade o tempo todo! As cartas... Onde estavam?
Rapidamente, busquei por elas em minha mochila; abri uma delas, não com a intenção de ler as odiosas palavras, mas sim comparar as caligrafias. Chequei as letras do alfabeto uma a uma. Algo não batia. As letras tinham um traçado diferente!
Como pude ser tão idiota?! Sempre me vangloriei de ser tão detalhista, estratégico; nada nunca me escapou, nunca! Eu estava com tanta raiva que sequer me havia tocado de que as caligrafias não eram iguais! Talvez, minha memória fotográfica já não fosse mais a mesma...
Fitei os dois papéis com surpresa e ódio. Fui enganado novamente! Agora, tinha que voltar no passado, em meus pensamentos, em minha meória, e lembrar: quem me havia entregado as falsas cartas?
Fechei os olhos e busquei me concentrar. Durante o tempo em que Wind estivera fora, passei pela Baía da Liberdade, Porto Esperança, Svargrond, Ankrahmun e... Svargrond? Liive!
Bati em minha testa. Claro! O Norsir me havia entregado as cartas pouco depois da ocorrência do ataque a Ankrahmun! Não só as circunstâncias me eram estranhas, mas o próprio Liive me parecia estranho, como se estivesse fora de si... Ou algo assim.
Guardei os papéis dentro de minha mochila uma vez mais. Em seguida, peguei a carta que me fora dada pelo escaravelho-correio, que, àquela altura, havia voado de volta a Ankrahmun.
“Boa Noite, Sr. Ireas Keras.
É com imenso prazer que eu, Yami, o Primeiro, apresento-me para os deveres de capitão do porto de Ankrahmun. Estou certo que não me conhece; sou um antigo amigo de Sirio Snow, e ele me recomendou para o serviço. Modéstia a parte, sou um dos melhores, se não o melhor no que faço. Minha situação foi regularizada por seu substituto, o Grão-Vizir Akbar. Comecei a trabalhar imediatamente, mas gostaria de poder encontrar-me com o senhor para que possamos nos conhecer melhor.
Além disso, trouxe minha irmã, Yumi Yami, para ser a líder da Guilda dos Druidas de Ankrahmun. Saiba que ela também se encontra aprovada para tal tarefa. Quando chegar a Ankrahmun, estará disponível?
Saudações,
Yami, o Primeiro.”
E mais essa agora! Guardei a carta e pus os dedos indicadores e médios sobre minhas têmporas. Mais compromissos, mais responsabilidades... Não só tinha que confrontar Liive, encontrar o mandante do ataque a Ankrahmun, voltar a Svargrond para assumir o posto de meu irmão, conhecer o novo capitão ankrahmano como também tinha que me redimir com Wind. Essa última tarefa, no entanto, soava-me praticamente impossível. Depois do que fiz mais cedo, duvidaria do perdão dele. Até o entenderia, se ele não me perdoasse.
Então, notei que havia algo junto à carta de Yami. Novamente, peguei a carta enlaçada com fio dourado. Olhei-a de cima a abaixo, mas não parecia ter nada. Tateei o verso, e então percebi que havia outra carta ali!
Rapidamente, peguei o escaravelho-incendiário de dentro da minha mochila e usei o calor que emanava do vidro para revelar o conteúdo oculto. O envelope teve seu efeito de invisibilidade cancelado, e caiu em meu colo. Guardei o animalzinho e abri a carta. Minha mente fervilhada com tantas atividades a fazer.
“Para Ireas Keras, Darashia.
Vamos combinar algo, meu filho? Você já deve ter uma ideia de quem sou e para que vim, bem como acredita que estou por trás da morte de Hjaern e outros atos. Você se crê ciente de minhas ações, bem como eu estou ciente das suas.
Você decidiu assumir-se Norsir e candidato ao posto de Xamã de Nibelor? Pois bem. Você acabou de cavar sua própria sepultura. Vou dar-lhe um aviso, e será o último.
DESISTA ENQUANTO AINDA PODE. SOU MAIS FORTE DO QUE VOCÊ IMAGINA.
Se você gosta de seus amigos e de quem suponho ser seu amante, é melhor parar por aqui. Às vezes, se você trilha um caminho longo demais, torna-se quase impossível retornar para o começo. Não haverá volta, Keras.”
A tinta era da cor do sangue, e cheirava a sangue; sentia o horror tomar conta de mim. Tinha que voltar a Ankrahmun e ter minha última conversa com Tothdral. Eu já estava pronto para ouvir a verdade que me fora negada por quase vinte anos. Já estava cansado daquilo.
Guardei a carta junto às outras que minha mãe me enviara. Ainda assim, soava-me como uma brincadeira: não, minha mãe não poderia ser membro da Irmandade dos Ossos, muito menos ser a mandante daquele crime. Apesar da forma como ela matara meu pai... Eu ainda tinha meus motivos para não crer na veracidade daquela carta. Já havia sido enganado antes... Estaria sendo enganado outra vez?
Levantei-me da cama, pus minha mochila cuidadosamente em minhas costas, peguei meus equipamentos e saí do quarto. Brand estava do lado de fora do quarto vizinho — onde Wind certamente estaria. Meu coração estava a mil.
— E então? — Eu estava ansioso, temendo pela vida do Yalahari — Como ele está?
— Péssimo — Replicou Brand com tristeza — Por muito, muito pouco você não o mandou ter uma conversinha com o Divino.
Senti meu coração congelar; não era a melhor das sensações.
— Não sei se ele sairá dessa, Keras — Acrescentou Brand com tristeza — Eu realmente não sei.
— Mas eu sei. — Subitamente, meu semblante tornou-se decidido — Eu sei, pois... Pois vou salvá-lo!
Brand fitou-me com surpresa e descrença; abri a porta do quarto e entrei; Wind estava respirando de forma débil. Apesar do único ferimento em seu corpo ter sido um pequenino e raso corte próximo à sua garganta, o dano que causei em sua alma tinha proporções maiores do que pensava.
Aproximei-me do leito onde ele dormia, com lágrimas nos olhos. Crunor, o que eu fiz? Quase tirei a vida de um inocente... Da pessoa que esteve sempre ao meu lado em quaisquer momentos desde que saí de Rookgaard, precisando ou não. Segurei sua mão direita, tão gelada, entre as minhas.
— Exura Sio Wind Walker — Comecei a entoar baixinho — Exura Sio...
Brand entrou a lentos passos no quarto, incrédulo. A pele de Wind começou a ganhar a cor outra vez, e sua respiração tornou-se suave e tranquila. As faces do Yalahari tiveram o vigor restaurado, e as feridas de guerra de sua pele tornaram-se alvas cicatrizes. Não só salvara a vida dele, como também o ajudara em seu processo de recuperação.
Roubei um beijo de seus lábios. Ainda haviam lágrimas em meus olhos, e elas caíram sobre as bochechas sardentas do cavaleiro. Segurei a mão dele por mais alguns minutos antes de me retirar.
— Cuide dele por mim, por favor... — Pedi a Brand, que estava ao lado da cama.
Nessa hora, Wind acordou, moveu a mão que eu mantinha presa junto às minhas e a pôs sobre a minha cabeça.
— Ora, que isso... — Sussurrou Wind — Não há a necessidade disso. Eu estou perfeitamente bem, acredite...
— Não está não — Censurou Brand — Você quase foi congelado de dentro para fora. — Ele resmungou algo baixinho, e logo nos deu as costas — Bem, vou procurar por Jack, Icel e Emulov. Temos alguns negócios a resolver. Por favor, não se matem em minha ausência.
O paladino fechou a porta, deixando-nos a sós. Eu estava me sentindo péssimo, e o Yalahari sabia disso. Eu esperava palavras de ódio, golpes. Um soco ou outro em meu rosto, talvez. Eu esperava qualquer reação dele, menos a que ele tinha.
Ele me fitava com um sorriso no rosto, como se nada tivesse acontecido. Ele parecia alegre por me ver, como sempre. Nem mesmo tendo o algoz de sua experiência de quase morte à sua frente ele perderia aquele sorriso.
— Quem é... Emulov? — Indaguei Wind, buscando uma oportunidade para pedir perdão.
— Um amigo nosso — Respondeu Wind, piscando lentamente — Ele... Se não me engano, veio de Zao... — Ele se sentou na cama com dificuldade, fitando-me nos olhos.
— Perdoe-me... — Disse de sopetão, amargurado pelos meus atos mais recentes.
— Que disse? — Wind indagou, sorrindo. Ele havia ouvido, mas queria que eu repetisse, fazendo-me perder a pose.
— Perdão... — Eu estava quase chorando — Eu peço... Perdão...
Ele me puxou para perto de si, abraçando-me.
— Não precisa pedir — Ele disse — Eu te perdoo. Eu sempre perdoo, não? Como poderia ficar com raiva de você?
Soltei um largo suspiro. Wind era, de fato, uma figura única. Quanta paciência comigo! Julgava-a um tanto quanto desmerecida, pois... Considerando quem sou, nunca fui merecedor de tamanho afeto, tamanha atenção... Sequer sabia lidar com isso.
Ele passou os polegares perto de meus olhos, secando minhas lágrimas. Em momento algum ele deixou de sorrir e fitar-me no fundo dos olhos, como se também quisesse (e pudesse) ver minha alma.
— Brand judiou de você, não foi — Ele indagou com serenidade — Ele não precisava ter feito aquilo...
— Precisava sim! — Protestei em meio-tom — Eu quase te matei, Wind! Se ele não tivesse atirado... — Abaixei a cabeça, envergonhado — Crunor, que tipo de Druida sou, se tudo o que faço é ferir, e não curar?
— Não fale assim; quem pede agora sou eu — Wind usou a mão esquerda para levantar-me a cabeça — Você é um Druida, e um dos melhores que conheço: você foi capaz de me trazer de volta dos portões de Devovorga* e com o bônus de cicatrizar as minhas feridas do combate a Morgaroth! O que mais poderia ser pedido a você? Tenho certeza que Yandur tem muito orgulho de você!
Eu sorri timidamente para o Yalahari, que me beijou a face.
— Mas então, conte-me tudo, esconda-me nada — Ele falou — Alguma novidade? Cartas? Descobertas? Saudades minhas... Talvez?
— São tantas... — Respondi com um riso tímido — A cidade reconstruída, poderes novos... Consegui achar pessoas para assumir os cargos deixados pelos falecidos Sinbeard e Ishebad em Ankrahmun... Dessa parte, você já sabia, certo?
Ele assentiu afirmativamente.
— Bem, um deles será o novo capitão do porto de Ankrahmun — Continuei — O nome dele é Yami, o Primeiro, e ele vem de Darashia. Foi recomendação de Sírio Snow... Que saiu da cidade.
— Ele foi embora? — Indagou-me o Yalahari — Para onde?
— Não faço ideia... — Respondi tristemente — De qualquer modo, eu ainda o encontrarei. Não será a última vez em que nos veremos... Outra coisa... — Meu semblante ficou ligeiramente soturno — Você me indagou sobre cartas... Pois bem... Recebi outra carta de minha mãe.
— E o que ela diz? — Indagou ligeiramente aflito.
— É uma ameaça de morte — Respondi de sopetão — Diz aqui que, se eu não parar de buscar por respostas... Elas poderão vir de formas indesejadas...
— Diga-me uma coisa — Ele chamou-me a atenção — Você se lembra de algum dia em que sua vida não tenha corrido algum risco? Não lembra, certo? Se você não lembra, é porque você já é acostumado com a sensação de não saber se terá o amanhã de histórias para contar!
Ele tinha razão. Todos os dias, levantava-me sem saber o que me esperava; sem saber se voltaria vivo ou não. E o Yalaharia entendia essa sensação melhor que ninguém, por ter voltado do Inferno vivo.
— Eu estou aqui para você, meu amor. — Ele falou, segurando minhas mãos — Estarei sempre ao seu lado independentemente da situação. mas preciso saber se você também está.
— Não precisa ter dúvidas — Tranquilizei-o — Também estou contigo. — Abracei-o carinhosamente — Estarei sempre ao seu lado...
****
Voltei a Ankrahmun com Wind amparado em meus ombros. Apesar de ter operado nle um milagre, meu poder não fora completamente capaz de curar-lhe a saúde. O ruivo estava com os olhos semicerrados, como se estivesse prestes a adormecer. Fiquei extremamente feliz de ter desenvolvido massa muscular durante a reforma de Ankrahmun — eu realmente precisava disso se quisesse carregar o Yalahari de quase 1,90m.
Chegamos aos portões da cidade sem problemas. Era época de festividades nômades, portanto havia mais movimento que de costume. Yami, o Primeiro, esperava por mim. Tinha que me apressar. Odiava, e continuo a odiar, atrasos.
Continua...
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Nota da Autora: Acho que esse foi um dos capítulos mais bonitos que escrevi... Ireas é tão orgulhoso quanto eu hahaha
O que eu gostei mesmo foi ver o Brand salvando a Pátria (como sempre) e a reconciliação.
Bom, a enquete ainda está aí - Marid ou Efreet: De que lado vocês Estão?
Olá.
Estou começando a ler o segundo pergaminho aos poucos, estou gostando.
O conhecimento que você tem e a forma como você descreve os personagens e o que se passa na cabeça deles é muito legal, adiciona muito à história.
Conforme for lendo os capítulos vou falando mais aqui.
Abraços!
Ops, esqueci de comentar... :P
Bom, sobre o capítulo, ótimo como sempre. Mas não esperava que o Ireas perdoasse o Wind... Pensava que ele tinha aceitado o lado Norsir dele. Mas, temos um longo pergaminho pela frente ainda, tudo pode acontecer. :D
E agora a mãe dele anda assombrando-o, agora o ameaçando sem consideração alguma. Porra, que mãe, hein? Mas ainda acho que quem vai se ferrar vai ser ela, se pá.
Bom, não há muito o que comentar. Não percebi erros, ótimo texto como sempre. xD
Aguardo próximo capítulo ;)
Demorei, mas estou aqui!
Iridium, que estória incrível! Não conseguir parar de ler até o final do Segundo Pergaminho. Você escreve maravilhosamente bem, e ainda adiciona conhecimento aos capítulos (como a música em galego) e isso é muito legal mesmo.
Os últimos capítulos me deram ainda mais ânsia de leitura. Você mistura toques de humor, cultura e momentos épicos dos personagens. Essa coisa criativa (não haver no jogo mas existir na estória) também é muito legal.
Me surpreendi com as artes dos personagens. Além de escrever maravilhosamente, também desenha muito bem! Parabéns mesmo.
Não vou me exceder muito nos comentários agora. No próximo capítulo comentarei mais sobre a estória. Espero que não demore postar!
Abraço.
Bom dia a todos.
Pois é, me ausentei desse Fórum... Bem, acabei por me inscrever em outro Fórum e estive bem engajada nele. Como as coisas andam paradonas lá, decidi voltar aqui e ver se animo as coisas.
Recentemente, recebi péssimas notícias, sobre as quais não quero falar. Visando esquecer o orgulho que me foi ferido e os anos de estudo que consegui jogar fora, decidi reviver minha história.
Primeiro, respondendo aos Comentários mais recentes:
Obrigada, Carlitos, novo GM da seção SHAUSHAUSHAUSH Fico muito feliz por ter você aqui, sempre xD
Fala, pedrinho! leitor novo xD
Desculpe a demora na resposta, mas fico feliz q vc esteja gostando. Vamos ver o seu parecer nesse aqui xD Boa sorte na ua Disputa Roleplay =)
Lacerdinha, que honra!
Finalmente consegui te puxar hehehe
Fico feliz que tenha gostado, e estou muito, muito lisonjeada com os elogios =P
Eu espero ansiosamente pelo teu comentário.
Abraço!
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Com vocês, Ireas Keras e mais um capítulo de "A Voz do Vento"...
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Capítulo 5 - O Senhor das Marés (Parte 2)
Ireas conhece Yami...
Enfim, a hora havia chegado. Yami havia dito no rodapé da carta que ele se encontraria perto dos cofres e depósitos de Ankrahmun. Esperava conseguir desviar da balbúrdia a tempo de encontrá-lo.
A cidade estava tingida em cinquenta tons das mais distintas cores. Os ciganos certamente traziam mais alegria à cidade. Fiz bem em fazer tal acordo com eles, graças aos favores que tenho com Muhad. Acredito que o nômade esteja mais feliz por ver seu povo e sua integridade cultural sendo respeitadas...
A música era maravilhosa - som de sistros, alaúdes, harpas, tambores e pianos sendo dedilhados com maestria, tocando as mais belas canções daquela gente. Wind parecia estar recobrando o vigor, visto que já era perfeitamente capaz de caminhar com as próprias pernas, apoiando-se pouco em mim. Ele parecia uma criança, fitando as faixas de tecido colorido e os sinos de vento com um sorriso bobo. Comecei a rir para dentro a fim de não desviá-lo de seu foco.
— Algo errado, meu bem? — Ele indagou, voltando a si.
— Não, nada... — Respondi com um sorriso — Escute, se quiser, pode ficar para o festival...
— Nada disso! — Retrucou com um sorriso, pegando meu braço direito — Vou com você. Eu posso ver essas festividades depois.
Dei de ombros igualmente sorridentes. Lado a lado, seguimos até uma das maiores pirâmides de Ankrahmun. À frente do arco de basalto da entrada principal, estava Yami, o Primeiro, com alguns papéis em mãos e um relógio de bolso, conferindo a hora. Wind soltou meu braço e deixou-me seguir em frente.
— Bem em tempo. — Comentou Yami com um sorriso, espiando pelo rabo do olho e fechando o relógio de mão, guardando-o — Achei que não fosse chegar.
— Sinto muito por tê-lo feito esperar — Repliquei com um sorriso cordial, estendendo-lhe a mão — Sou Ireas Keras.
— Yami, o Primeiro — Ele falou ao retribuir o gesto, apertando minha mão. — Bem, vamos direto ao assunto: como você é o Grão-Vizir legítimo, visto que Abkar mal assumiu o posto, gostaria de confirmar meus contratos com o senhor.
— Perfeitamente — Respondi sério — Deixe-me ver os papéis, sim?
No que ele me passou os papéis, percebi que seus olhos fitavam Wind, que estava a poucos metros de distância.
— Seu guarda-costas? — Indagou-me com um sorriso.
— Não... — Respondi, sem jeito — Ele é...amigo...amigo meu.
— Não parecem apenas amigos — Pontuou Yami. E ele estava certo— Desculpe a intromissão...
Amigo? Puxa, estava tão incerto acerca de como referir-me a Wind que... Não soube o que responder. Ele aproximou-se de Wind a passos lentos, fitando-o com o que julguei ser um sorriso amistoso. Dei de ombros e continuei a ver os papéis. Ainda que me parecessem normais, algo me despertava desconfiança... E eu não sabia bem o que era ao certo.
***
(Narrado por Yami, o Primeiro)
Sujeito interessante, esse Keras. Realmente, difere da imagem de um Norsir, ainda que porte o orgulho e desconfiança típicos dos filhos do Norte. O que me intrigava mais era o Yalahari que o acompanhava... Ele parecia fitar-me com igual desconfiança. Que pena...
— Seu nome? — Indaguei-o.
— Como? — Replicou fazendo-se de rogado.
— Perguntei seu nome. — Repliquei, olhando rapidamente para Ireas, que parecia observar minha interação com aquele que o acompanhara até ali.
— Sou Wind Walker, o Andarilho do Vento — Respondeu o ruivo com altivez. — Você é Yami, certo?
— Correto — Respondi-lhe com uma reverência. Notei uma fragância familiar oriunda do corpo daquele homem, o que me fez fitá-lo com curiosidade.
— Algo errado, senhor? — Indagou-me ao me fuzilar com seu olhar.
— Açafrão? — Indaguei — Você é... Aliado dos Efreet?
— Na falta de algum melhor, reconheço-me como um deles. — Respondeu-me com um sorriso desafiador — Mas uma vez, algo errado com isso?
Olhei para Keras. Ele não me parecia ser alguém que andasse com um aliado dos Djinns esmeralda. Um sorriso malandro brotou em minhas faces. Encontrei algo além de meu trabalho com que me entreter.
— Efreet... — Sussurrei o nome, fitando-o no fundo de seus olhos castanhos — E o garoto? É Efreet também?
— Não... — Respondeu-me com leve decepção — Ele ainda não escolheu um lado... Sequer sei se ele tomará algum partido nessa guerra...
— Você vai perdê-lo.
Sorri ao ver a expressão surpresa e enraivecida do ruivo Cavaleiro. Uni lentamente as pontas de meus dedos, deliciando-me com aquele momento. Ah, as dores alheias... As vítimas de meu encantamento, melhor que o de qualquer feiticeiro mundando...
— Que quer dizer com isso?! — Vociferou Wind.
— Saberá quando a hora chegar... — Disse, afastando-me à lentas passadas.
Ireas apertou minha mão, entregando-me os papéis com um sorriso no rosto. Ele explicou-me as rotas que Sinbeard costumava fazer até o dia de sua morte, e instruiu-me a ser o mais eficiente e cordial possível. Reverenciei-o e despedi-me.
Aquele garoto... Encontrei, enfim, algo para me entreter.
***
(Narrado por Ireas Keras)
O que quer que tenha acontecido entre aqueles dois, certamente não tivera nada de amistoso, pois Wind observava Yami com raiva em seu olhar. O que o Darashiano o teria dito para tirar-lhe do sério, ferindo semblante tão sereno?
— Algo errado, meu bem? — Indaguei, preocupado.
— Nada... — Respondeu-me em um sussurro — Escuta, aquele Yami... Acha certo confiar nele?
— Parece-me um bom profissional... — Respondi, dando de ombros — Sírio o recomendou e eu ouvi coisas boas a respeito dele... Por que?
— Esqueça... — Respondeu meneando com a cabeça — Coisas da minha cabeça. Acho que todas essas provações que você me fez passar mexeram comigo!
Ele correu até mim e segurou-me em seus braços, girando-me no ar. Eu ri um riso alegre, despreocupado. Estava feliz. Aquele sujeito me fazia feliz como ninguém jamais havia feito. Se Cipfried pudesse me ver... Se eu ao menos pudesse falar com ele... Acho que ele estaria igualmente feliz...
O Yalahari levou-me em seus braços até à feira. Ainda havia muito o que ver e tínhamos bastante tempo para isso. Eu abri uma carta que havia recebido recentemente — era de Silfind, muito saudável e vigorosa, levando sua gravidez adiante. Já deveria estar no quarto ou quinto mês...
Aquilo me fez lembrar de minha tarefa — não poderia ficar em Ankrahmun para sempre. Para que pudesse sair com a consicência leve, ainda havia algo que eu precisava fazer... Mas que não faria naquele momento. Tudo o que eu queria era divertir-me com aquele que me arrebatara o coração; queria conhecê-lo melhor, e não havia ocasião mais adequada para isso...
***
(Narrado por Yami, o Primeiro)
Ah, a balbúrdia dos comuns, as festividades do povo... Há muito não via algo assim. Da última vez que estive em Ankrahmun, os nômades ainda eram escória, excluídos da sociedade ankramana, esquecidos em meio à areia flamejante de Darama...
Lembro-me de tempos anteriores a esses, onde o deserto era um lindo jardim, e que as montanhas de Kha'labal não existiam... Quando Drefia não era um local esquecido pelos deuses, tragado pelas areias do deserto, aprisionando as almas ensandecidas daqueles que traíram seres muito superiores a eles...
Humanos... Não são nada senão peões em um jogo maior que eles... Não são nada, senão peças da linha de frente, que podemos sempre sacrificar sem remorso, pois são substituíves. São fracos, volúveis... Cedem fácil... Encantam-se fácil.
Quase não vejo graça em manipular, brincar com eles. Quase. Keras é diferente. Há algo nele que me incita meu lado brincalhão, que pensei há séculos ter perdido. Minha caminhada levou-me para longe das ruas da plebe vulgar, voltando-me para a silenciosa biblioteca de Ankrahmun, guardada por um velho conhecido meu...
— Tothdral! — Gritei por ele — Não se esconda de mim... Sabe que não gosto dessa brincadeira...
— E você sabe o quanto eu não tolero grande parte das suas.
A majestosa múmia apareceu por entre prateleiras abarrotadas de livros e pergaminhos. Ele segurava um papiro entre as mãos grandes e cobertas de ataduras. Seu único olho descoberto pairava sob meu semblante, fitando-me no fundo de meus olhos igualmente dourados.
— Ah, que isso! Não seja tão sentimental! — Disse com relativo desdém, jogando-me no divã logo atrás de mim, pusando minhas mãos atrás de minha cabeça, deitando-me confortavelmente no móvel — Sabe que é assim que costumo jogar...
A múmia deu de ombros e cerrou seu único olho. Sua voz majestosa e gutural era similar à minha. Conhecíamos há muito, muito tempo atrás, quando seu corpo ainda tinha o vigoar dos vivos e não cheirava à bálsamo e essências oriundas das ataduras que hoje o cobrem.
— O que te traz aqui? — Indagou-me sem rodeios.
— Ah... Você não sabe brincar... — Disse em um suspiro — É uma pena... Bem, eu vim aqui por causa do garoto... Ireas Keras.
— Chega, Yami! — Bradou a múmia — Pare de fazer de nós suas marionetes! Já basta o que ele tem passado... Já basta tudo o que venho escondendo dele... e que não posso revelar...
— Você e esse seu sentimentalismo barato... — Desdenhei — A vida ainda magoará muito esse rapaz... Sou arauto do futuro que se desenha para ele... E que somente as areias do deserto podem soprar para ele...
A múmia fitou-me com leve horror em seu semblante, e eu retribuí tal olhar com meu sorriso de costume, com meu semblante inalterado. Decidi passar a noite lá. Meu trabalho começaria cedo, e nada me impediria de tirar uma boa noite de sono...
Continua...
Caramba, esse Yami é realmente sombrio! Mal posso imaginar o que ele ira tramar contra o Ireas... Você é muito boa com mistérios, Iridium. Sabe como deixar o leitor com vontade de ler mais, sempre!
Tomara que o Yami não obrigue Tothdral a fazer certas coisas... coitado, ahaha.
Abraço!
E aí, Iridium!
Ficou muito bom o capítulo! Acho que você realmente sabe de Ankrahmun ou sabe explorar algumas coisas que se liguem ao deserto, pois o lance dos ciganos ficou ótimo, tanto como suas descrições.
E este Yami... Comecei a achá-lo meio suspeito desde quando surgiu aquela carta da mãe do Ireas junto da dele. Ele deve ser uma múmia sem(esqueci o nome do objeto utilizado para cobrir as múmias) ou talvez seja um Ghoul! Será? :O
Gostei muito desse novo mistério... Deixou com vontade de quero mais! Espero que não demore a terminar o próximo, e sinto muito pelo que tenha ocorrido contigo.
Abraço.
Bom dia, gente!
Bem, faz um tempo que não posto. Está na hora de matar a saudade!
Primeiro, aos Comentários:
Fala, Carlos!
Fico muito feliz pelo teu feedback! Éééé, negada! Yami vai dar muuuuito o que falar nesse Segundo Pergaminho, mas não será apenas ele! E a múmia volta para aconselhar Ireas! O que mais Tothdral escondeu nesses tempos? Só lendo pra saber rsrsrsrsrs
Fala Lacerda! Que bom que eu te puxei pra minha história xD
O Yami ainda vai mostrar muita coisa =) Fico feliz que esteja gostando
da narrativa! Espero não decepcionar com esses capítulos que estão vindo!
Tomara que o Tothdral se safe dessa HSAUHAUHSAUHSUAHSAHS
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Sem mais delongas,
ao Capítulo de hoje...
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Capítulo 6 - Revelações
Segredos têm um preço... Eles não vêm de graça.
(Narrado por Ireas Keras)
Não conseguia dormir. Por algum motivo, aquela interação entre Wind e Yami me deixou preocupado. Estava dormindo virado para a janela, com o luar iluminando minhas faces. Apesar de ter aceitado Wind novamente, não me sentia confortável para fazer algumas coisas... Incluindo dormir ao lado dele.
Virei meu rosto para a escuridão à minha direita, e lá estava Wind, na outra cama, dormindo serenamente. Suas cicatrizes estavam menos aparentes, mais amenas. Nem pareciam recentes, oriundas de uma guerra que quase lhe custara a vida.
Fiquei pensando no que Yami o teria dito para tirar-lhe do sério como o fizera. Apesar de termos tido uma tarde maravilhosa, senti-o um pouco distante... O que teria acontecido?
***
- Algumas Horas Antes -
Minha alegria era tão imensa que nem eu era capaz de acreditar no que sentia; o Yalahari carregou-me até aquela feira, cuja beleza nem mesmo eu conhecia, apesar de ter sido o responsável por sua existência em Ankrahmun.
O ruivo me carregou até o cenro da balbúrdia, onde chovia confetes e tiras de papel colorido, com pessoas se apertando em busca de passagem ou espaço para ver alguma atração ou mercadoria.
A música tradicional, oriunda dos alaúdes e liras, preenchia o ar e criava uma confortante e alegre atmosfera. Chegamos a dançar juntos; recordo-me bem do ritmo e das voltas que o cenário parecia dar sob minha cabeça. Lembro-me de meus cabelos ao vento e da chuva de confeitos coloridos a cair sobre nós.
Em um dado pontodo evento, quano o sol já se punha, decidimos procurar alguns itens para comprar. Eu havia pousado meus olhos no que parecia ser um amuleto de águia ricamente adornado, com asas de lápis-lazuli, corpo em ouro, olhos de rubi e o centro com uma opulenta ametista, como se fosse seu coração.
— Que amuleto é esse? — Indaguei ao vendedor, um homem moreno, de meia idade e olhos verdes.
— Trata-se do Broche Adornado — Respondeu-me com um sorriso — Dizem que, através da ametista, você pode ver as bênçãos que os Deuses o concederam.
Fiquei interessado. Aquele amuleto, além de bonito, parecia ser muito útil. Wind já me havia falado desse sistema de bênçãos - rumores diziam que seriam capazes de te proteger de várias perdas em aventuras, incluindo da própria morte.
Quando o homem me falou o preço, tive que recuar. Ceno e cinquenta mil peças de ouro era muito dinheiro para mim, e eu não dispunha de tamanha quantia. Hesitante, mordi o canto esquerdo de meu lábio inferior. No segundo seguinte, vejo Wind com duas enormes sacolas de ouro, trocando-as por dois exemplares do amuleto.
— É um prazer fazer negócios com os senhores! — Disse o lojista com os olhos arregalados e um sorriso de orelha a orelha — Que Daraman os abençoe!
Wind me entregou um dos amuletos, aquele que parecia ser mais novo e reluzente. Em seguida, sussurrou ao pé do meu ouvido:
— Não deixarei que nada te falte. Especialmente um item desses, que é raro, caro e útil.
Fechei meus olhos e assenti com um sorriso. Preguei o broche no lado esquerdo de meu robe e seguimos adiante. Havia muito o que ver, e tenho em minha mente lindas imagens de todo o evento. Pela primeira vez em minha vida, passei a colecionar memórias alegres...
Contudo, a todo momento carregava comigo a estranha sensação de estar sendo observado; era como se houvesse uma terceira pessoa conosco para qualquer lugar que íamos. Aquilo me gerava certo desconforto.
O pior era quando eu começava a ouvir uma voz soprada pelo vento. Uma voz gutural, majestosa e por vezes assustadora:
"Ou um, ou outro, Keras. Não se pode ter tudo..."
***
— Tothdral... — Sussurrei de repente.
Queria sair. Precisava sair. Tinha que falar com Tothdral o mais rápido possível! Sentei-me na beirada da cama, fitando meus pertences — a mochila dourada, meu robe, meu cajado, meus sapatos e o quilte. Vesti-me rápida e silenciosamente. Ao por minha mochila em minhas costas, contudo, detive-me. Não queria abandoná-lo como outrora eu fiz.
— Wind? — Sussurrei em seu ouvido — Sei que você está cansado, meu bem, mas...
O ruivo abriu os olhos lentamente, despertando de seu sono. Com a mesma lentidão dos recém -despertos, ele se sentou na cama e espreguiçou-se, piscando lentamente.
— O que houve? — Indagou-me aos sussurros — Não consegue dormir?
— Sim... — Respondi, cruzando os braços — Sinto que há algo errado por aqui... E não posso deixar essa cidade sem descobrir o que é...
Ele assentiu e pegou seus pertences. Em seguida, deu-me um beijo na testa e, com seu sorriso costumeiro, lançou-me a pergunta:
— Para onde, Keras?
— Para a Guilda dos Feiticeiros — Respondi-lhe no mesmo momento — Tothdral me esconde algo, e já estou cansado desses segredos. Quero respostas, e rápido. E múmias não dormem muito. Decerto ele já deve estar trabalhando.
Wind assentiu e saiu da casa ao meu lado. Seguimos diretamente para a Torre Serpentina, onde Tothdral, o Contemplador de Estrelas, parecia nos esperar. Ele tinha mapas e mapas astrais sobre uma mesa de mogno. Ele parecia tão absorto em sua atividade que sequer notara nossa chegada.
— Tothdral? — Chamei pela múmia.
— Hã? — Ele replicou com indiferença. Pouco depois, voltou seu olhar para cima, e arregalou seu olho ao nos ver — Keras! Walker! Não os esperava aqui tão cedo... O que os traz até meu humilde recinto?
— Há um tempo atrás, você me disse que jamais sua Guilda ou a minha pronunciariam o nome de minha mãe — Disse sem rodeios v Sei que vocês, obviamente, tem um motivo. E quero saber que motivo é esse.
A múmia soltou um largo suspiro e voltou aos seus mapas. e eu comecei a me irritar com a atitude dele.
— Sabe que dia é hoje, Keras? — Indagou-me a múmia em seu monólogo — Hoje, a lua passa pela Constelação que regia a sua mãe... A mesma que deu nome à Devovorga... Então, chegou a hora. O mapa não mente...
A múmia fez um sinal para que sentássemos. Ela se sentou em uma poltrona à nossa frente, pronto para falar.
— Sua mãe há muito cruzou as fronteiras da vida e da morte — Disse a múmia secamente — Ela era um jovem prodígio, uma Feiticeira como nunca houve. Mas ela tinha muito orgulho, cobiça e ganância no mais fundo de seu ser. Ela cometeu crimes odiosos contra a humanidade e quaisquer raças e seres que cruzassem seu camino. Ela quer poder, Keras. E não hesitará em contatar quem for preciso.
— Que crimes?! — Indaguei, impaciente — E quem ela contatará?!
— Pergunte aos Djinns. — Replicou Tothdral. — Diferentemente de mim, eles não precisam que Guildas lhes ditem regras às quais devem seguir. Uma das facções guarda a resposta. Basta você escolher a correta.
Continua...
Porque? Porque deixar as respostas para o próximo capítulo? :aah:
Agora fiquei curioso. Ultrapassou os limites da vida e da morte, a mãe do Ireas.. Caramba, o que ela é? Vish.. Acredito que [nonsense] o broche tem algo a ver com isso! [/nonsense]
Respostas, queremos respostas.
Bom dia gente!
Primeiro, vou responder o comentário do Lacerdinha:
Só deixo pro próximo só de sacanagem SHUASHAUSHAUSHAUHS
Bem, o que ela é... Veremos! Veremos, meu caro!
Bem, só te digo uma coisa, não tem nada a ver com
o broche, até porque é a descrição do Ornamented Brooch,
que vai ser útil (talvez) para o Ireas de agora em diante...
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Sem mais delongas, ao capítulo!
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Capítulo 7 - Dois Oásis no Deserto (Parte 3)
A busca de Ireas é retomada.
Fiquei olhando aquela múmia com curiosidade e raiva simultâneas. Por que ele não desembuchava de uma vez? Que coisa mais irritante! Respirei fundo, pisquei lentamente e voltei meus olhos para a múmia uma vez mais.
— Que seria...? — Tentei forçar-lhe a revelar mais.
— Ah, Ireas... — Replicou Tothdral em um tom de deboche — Não é assim que eu jogo. Se quiser saber, que seja você o revelador da verdade. Já lhe dei uma orientação e dois caminhos nela contidos. Escolha. Eu não posso, e não vou, lhe revelar mais nada.
— Mas... — Tentei protestar.
— Ireas, deixe estar — Wind interveio — Tothdral já nos deu alguma ajuda. Podemos falar com os Efreet. conheço Baa'leal e Malor como ninguém. Pode ser que eles tenham a resposta!
Os Efreet? Eu tinha lá minhas dúvidas. Wind já declarara para mim que via a causa dos Efreet como a mais justa, mas eu não estava assim tão certo.
— Meu bem, podemos revisitar ambas? — Indaguei-o — E se eu escolher a errada? Ficarei eternamente sem respostas! Não tenho muito tempo de sobra... Em breve retornarei a Svargrond... — Meu semblante tornou-se melancólico — ...E de lá não mais sairei.
Wind soltou um largo suspiro e assentiu. Nós reverenciamos Tothdral e saímos da Torre Serpentina. Eu me mantinha cabisbaixo, com os olhos voltados ao chão. Wind me guiava pela cidade. Em um dado momento, ele parou frente a frente comigo. Sua mão esquerda ergueu gentilmente meu queixo, fazendo com que eu voltasse meus olhos para ele.
— Você não precisa voltar para Svargrond se não quiser. — Ele disse — Não que eu não me importe com a mulher de seu irmão, mas acho que você pode encontrar alguém para cuidar dela e exercer a função de Xamã de lá...
— Meu bem... — Balbuciei, triste.
— Você tem uma vida inteira pela frente, meu amor! — Protestou Wind — E eu quero estar ao seu lado!
— Eu entendo... — Respondi-lhe entristecido — E quero que você esteja comigo. Tornar-me o Xamã de Nibelor não me impede de ter relacionamentos, Wind. Mas não quero pensar nisso agora. Preciso achar minha mãe... E responder a todas as perguntas que há muito me assombram e seguem.
Ele assentiu e virou seu rosto para a esquerda.
— A casa de Brand é aqui. — Disse-me — Que tal chamarmos os rapazes para nos ajudar?
***
— Claro! Não vejo motivos para não ajudarmos!
Era Jack quem assentia com muita alegria. O paladino de olhos verdes logo aderiu ao grupo. Explicamos rapidamente o que se passava e o que teríamos que fazer. De todos ali presentes — Wind, Brand, Jack, Emulov e eu —, eu era o único que não havia feito os testes para juntar-me a uma das Facções.
— Ireas, você levantou um ponto importante — falou Brand — Sem ter alianças com os Djinns, você pode transitar entre os muros de ambas fortalezas. Proponho o seguinte: eu e Wind podemos investigar a Fortaleza Efreet, visto que nós dois nos aliamos a eles, enquanto você e Emulov visitam a Fortaleza Marid, tudo bem assim?
— Olha, por mim, tudo bem — Repliquei — Mas, e você, Jack?
— Sinto muito... — O paladino me fitou com triste sorriso — ...Tenho coisas a resolver na Baía da Liberdade. Ao que parece, as coisas por lá estão meio... Tensas e Icel me chamou para ajudá-lo. Partiremos amanhã pela manhã.
Nós assentimos e passamos o resto da noite discutindo os detalhes. Por algum motivo, Wind manteve-se calado, sério e de braços cruzados. Estaria ele... Com ciúmes Preferi não indagá-lo. Apesar de ser do conhecimento de todos que tínhamos um relacionamento, não queria fazer nenhuma exposição pública dos sentimentos do Yalahari. Seria algo baixo de minha parte.
***
Todos adormecemos na casa de Brand. Novamente, mantive-me distante de Wind. Não conseguia me aproximar, por mais que quisesse. Fiquei uma boa parte da noite sentadona cama, com o lençol a cobrir-me da cintura para baixo enquanto fitava a lua. O luar me acariciava as faces e clareava meus pensamentos.
Uma noite em claro era o que eu precisava. Sem sonhos, sem pesadelos. Escutei uma doce melodia vinda de fora da casa. Acerquei-me da janela. Nada. Não havia nada.
"O que diabos é isso?" Pensei. "Por acaso é algum tipo de pegadinha?". Examinei atentamente o ambiente. O som vinha de uma flauta de madeira; fiquei mais e mais curioso para saber quem era o instrumentista. Meus olhos voltaram-se para uma sombra a poucos metros da pirâmide.
Era... Yami! Eu reconheceria aquele penteado e aquelas roupas aonde quer que ele estivesse! De repente, o som parou. Ele descolou a flauta de seu lábios e abriu seus olhos dourados lentamente. O brilho deles era visível à distância.
Um sorriso melindroso veio em seus lábios; em seguida, vi seu corpo converter-se em púrpura neblina e mesclar-se ao vento, desaparecendo tão rápido quanto se materializara à minha frente.
Esfreguei meus olhos, incrédulo; o que havia acabado de acontecer?
***
Amanheceu; eu havia conseguido dormir um pouco, mas ainda me via perturbado pela visão da madrugada. Decidimos acompanhar Jack até o porto, onde vi Yami desancorar o barco para iniciar mais um dia de trabalho.
— Saudações! — Cumprimentou Brand — Esse rapaz deseja ir à Baía da Liberdade.
— Com o maior prazer. — Replicou Yami educadamente, com uma reverência e um rápido olhar para mim — Se estiver na posse das moedas, farei-o de pronto.
Jack atirou uma sacolinha marrom para o alto, e Yami rapidamente a pegou com a mão esquerda. Desenlaçou o embrulho e contou as moedas, sorrindo melindrosamente para nós. Fitei Wind, e percebi uma leve pontada de raiva em seu olhar.
— Pois bem, aos negócios! — Falou Yami alegremente — Rapaz, fique à vontade. Sente-se onde quiser e aprecie o mar. A viagem até Vandura não será muito longa.
Nos despedimos de Jack e o deixamos partir. Consegui distinguir um comecinho de diálogo entre o Paladino e o Capitão do navio.
— Sou amigo de Keras... — disse Jack.
— É mesmo? — Replicou Yami em um tom estranho, que me fez sentir calafrios — Que interessante...
***
Eu, Brand, Wind e Emulov. Um quarteto composto por um Druida Veterano, um Paladino Real, um Cavaleiro de Elite e um Mestre Feiticeiro. Chegamos à saída norte de Ankrahmun, que nos levaria direto ao deserto.
Descemos a rampa de arenito e calcário e seguimos deserto adiante, sempre nos orientando pela enorme cordilheira de Kaa'labal.
— Se precisarem de ajuda, não hesitem em correr. — Instruiu Brand — Você e Emulov têm um número de Grandes Feitos que torna essa missão ligeiramente mais perigosa, sem falar que combate corpo-a-corpo não é o forte de vocês. Djinns são perigosos: não deixem que eles os alcancem ou é morte certa.
— Certeza de que não prefere ir comigo à Mal' Ouquah? — Indagou Wind, visivelmente preocupado.
— Desculpe, meu bem... — Repliquei sem jeito — Aquele local é tóxico demais para mim. Não sei se teria condições de ficar lá por muito tempo.
Wind assentiu tristemente. Seguimos em frente, com o Sol de meio-dia a nos cozinhar sem piedade. Como era o único capaz de manipular gelo e água, conjurava alguns blocos de tempos em tempos, a fim de evitar que morressemos de desidratação.
Em um dado momento, decidimos parar. Havia um oásis a alguns metros de nós. Estava receoso, pois sabia que alguns nômades haviam montado acampamento por lá. No entanto, suas barracas não mais se encontravam lá. Havia algo errado. Muito errado...
— Não gosto disso... — Murmurei.
— Como? — Indagou Brand, olhando o entorno — Deixe de neurose. Não há nada aqui.
— É exatamente isso que me preocupa... — Repliquei — Esse local costumava ser habitado por nômades. Não entendo o que os faria sair daqui tão depressa...
— Devem ter encontrado algum local melhor perto do litoral — Falou Emulov. Era a primeira vez que eu o ouvia falar — Talvez seja esse o motivo...
Sua voz não era nem muito grave, nem muito fina. Era uma voz juvenil e qu soava um pouco inocente, talvez até mais que a minha. Emulov tinha modos que nos eram muito desconhecidos — usava estranhos talheres para comer e falava com um jeito sibilante, como se fosse um lagarto. Seus olhos eram amendoados, levemente rasgados nas extremidades. A íris era bicolor — o olho esquerdo era da cor de avelã e o direito, azul como safiras. Parecia ser tão tímido quanto eu, ou até mais.
Em um dado momento da nossa jornada, quando decidimos finalmente prosseguir, aconteceu o que eu mais temia.
— Tempestade de areia! Protejam-se! — Gritei.
Contra a areia, eu era impotente. Meus poderes de druida só me permitiam controlar plantas e água. O deserto contava com muito pouco ou nada desses elementos. A nuvem de areia veio veloz até nós, e jurava ter visto o desenho de enormes cavalos na poeira.
Cobrimos nossos olhos e nos jogamos ao chão a fim de não sermos pegos naquela mortal armadilha. Ledo engano; a areia parecia ter vida própria. A lufada de poeira nos suspendeu no ar e separou-nos em duplas. Ouvia Wind e Brand gritando por mim e Emulov inutilmente. Em momento algum fui capaz de abrir meus olhos.
Vez ou outra sentia a mão ou os longos cabelos de Emulov passando por mim. Segurei firmemente sua mão, torcendo para que aquele pesadelo logo acabasse. Fomos impiedosamente arremessados ao solo. Quando abri meus olhos, não acreditei no que vi.
Era Yami. Outra vez. Seu semblante era o mais sinistro que já havia visto. Seu olho estava completamente dourado e havia arabescos verdes em seu corpo, que apresentava uma parte esvoaçante, que ia da cintura em diante. Ele sorria maleficamente para mim. Emulov estava desacordado ao meu lado.
— Yami?! — Indaguei, furioso, tentando me levantar.
Meu corpo não respondia. Eu estava paralisado! Só conseguia mover meus olhos; vi Yami se aproximar de mim e ajoelhar-se ao meu lado. Seu sorriso era belo e simultaneamente assustador. Ele se curvou e aproximou seu rosto do meu. Ah, se eu pudesse me mexer...
— Minha mestra não está gostando nada disso... — Ele sussurrou para mim — Como gostei de você... — Sou sorriso torna-se mais leve e ele passa a murmurrar para si — Por alguma razão, você me atrai, e é de minha natureza Djinn usar meus...Sentimentos...a meu favor... — Ele torna a falar em tom normal — Decidi avisá-lo: largue essa história e vá viver sua vida. Deixe minha mestra em paz... Ou será pior para você. Muito pior, eu te garanto.
Ele roçou os dedos de sua mão direita em meu rosto, arranhando-me com a unha de seu dedo indicador. Em seguida, eu o vi desaparecer entre os resquícios da tempestade de areia. Pouco depois, meu corpo voltara a responder, e fui capaz de me levantar.
— Emulov! — Gritei nos ouvidos do rapaz enquanto o sacodia — Emulov! Acorde!
— Ai... Minha cabeça... — Resmungou Emulov — O que houve? Onde estamos?! Ireas, o seu rosto! Quem fez isso?!
— Yami... — Respondi, ajudando-o a levantar — Foi ele quem criou a tempestade de areia. Decerto já nos vigiava desde que saímos de Ankrahmun... Desde a hora em que deixamos Jack para trás. Ele devia saber de nossa inexperiência, Emulov... E decidiu nos jogar aqui para nos testar.
Olhamos para o nosso entorno. Yami nos havia jogado para um local distante das fortalezas dos Djinns. Não estávamos mais no deserto de Darama, e sim em uma cidade, que não Darashia.
As edificações haviam sido engolidas pela areia, e a saída daquele local estava muito longe de nós. Yami nos havia posto em cima do que eu julgava ser um antigo posto de observação. Eu conseguia ouvir os lamentos de pessoas abaixo de nossos pés. Emulov tinha o terror estampado em seu semblante.
— Sabe onde estamos? — Indaguei vagarosamente, igualmente aterrorizado.
— Drefia... — Sussurrou Emulov, translúcido de medo — A cidade morta... Os traidores da causa Marid... Ireas...
— Não temos escolha — Disse com seriedade — Emulov, a saída de Drefia é oposta ao mar. — Apontei para o leste com meu braço esquerdo — Dizem que, à noite, os mortos-vivos conseguem escalar todo seu caminho por debaixo da areia, atingindo a superfície. Não sou tolo, os números deles são absurdamente maiores e, sem um Paladino que possa usar as Preces a nosso favor, seria burrice ficar aqui. Na certa, morreríamos.
— O que você está sugerindo? — Indagou-me o Feiticeiro.
— Estou sugerindo que você pegue sua varinha, runas e o que mais você tiver à mão que não envolva magia negra... Temos que limpar o nosso caminho até a saída de Drefia!
Continua...
E aí Iridium!
Dessa vez não devo ter aparecido(Merda, não me lembro), mas você nem deve ter se importado, afinal, eu sempre apareço :smile:
Bem formidável este capítulo, não imaginava que o Yami seria um Djinn, tava pensando em outra merda aqui que nem queira imaginar :assovia:
E esse cara me parece muito apelão, cria uma tempestade de areia mega que joga o Ireas e o lek largatixa até o fim do mundo só pra descobrir que esse doidão é servo da mainha-diabo do Ireas e que também deve ser o mandante das pms que o Ireas andou recebendo durante a "primeira temporada" da história. Agora que o bagulho fudeu memo, como vão limpar o caminho até a saída de Drefia com level 45-? Só quero ver :smile:
Aguardo próximo capítulo, não se atreva a demorar, e sua disputa tá empatada ainda, 4x4.
Abraço,
Carlos.
Vixi, fiquei bem atrasado nessa história. Li o capítulo 2 só agora, e nossa, está muito bom mesmo.
Adorei o uso de palavras árabes no meio dos diálogos, combinou bastante.
Vou ler aos poucos e comentar aqui com o passar dos dias.
Abraços!
Oi, essa é a minha 1000ª volta a seção(kkkkkkk), dessa vez consegui chegar até seu último capitulo publicado. Esse Keras tem uma grande capacidade de gerenciamento, e também de persuasão, como no caso do acordo entre nômades e os cidadãos de ankrahmun, mas o teste de fogo vai ser resolver a guerra efreet e marids, visto que seja lá o lado que ele seguir, ninguém cede ajuda sem querer nada em troca, ainda mais se tratando de um cenário de guerra. (Votei para que o keras, escolhesse os marid)
De um outro lado essa tal "mãe" do Keras é bipolar, porque ela ascende no filho esse desejo de encontrá-la, mas o impede dele a encontrar? Acho que ele Yami é um "peão" da mãe do Keras, a personalidade dela se parece um pouco com a do Rbladder (clássica história que ainda espero ler o final do Ramon).
Mesmo com a história rica de detalhes, e acrescentando algo novo na seção, como um romance homossexual, acho que faltou apimentar um pouco isso, se tratando que tibia se passa num tempo medieval, minha humilde opinião seria a de que certa forma tivesse um certo conflito da sociedade com o Keras, porque mesmo no posto de Grão-vizir honorário, ele é um dos braços do Faraó. Não seria muito aceito esse tipo de relacionamento, de uma pessoa que exerce um cargo "politico" na região, pela ignorância de grande maioria da época.
Sua história continua envolvente, e muito boa de se ler, quando vejo o empasse do Keras em ficar em Ankrahmun, e o desejo de ajudar sua cunhada em Nibelor, lembro um pouco também do filme "Jonh Carter - Entre Mundos".
Bom eu acho que é isso, continue arrebentando na história, que eu irei estar sempre acompanhando. Abraços e beijos :D
PS : Sou de Unitera também, caso volte e precise de ajuda, mande uma private pro Sono Metziro.
Izan, ela está demorando... O que faremos? :hum:
eu sou o único que não perdeu as esperanças que um dia ela volte a escrever?
Acho que não... Ela conquistou muita gente com sua formidável escrita e criatividade, não deixaria tudo que construiu para trás. Assim espero.
Iridium... Onde você está?
Exiva" Iri~
Iridium is Very Far to the north.
Mesmo que eu ainda não esteja no ultimo capítulo, Iridium come back!
Vocês pediram, e ELE voltou!
Sim, após um BOM TEMPO ausente, o Druida Ireas Keras jogar-se-á novamente nos braços do povo, e bem a tempo! A Universidade decidiu me dar uma trégua e, sem ter impedimentos, nosso amado heroi voltará à ação!
Aos novos leitores, sejam muito, muito bem-vindos e obrigada pela paciência. Detesto fazer as pessoas esperarem, mas minha mente resolveu entrar em greve. A minha sorte é que o sindicado dela é bem peleguista e cedeu mais facilmente hehehe
Eu colocarei aqui depois uma retrospectiva dos Pergaminhos até aqui. Por ora, como sempre, teremos aqui o capítulo de hoje. Espero conseguir retornar ao meu ritmo de escrita do começo da história.
Mais uma vez, eu e Ireas, em nome de todo o elenco de "A Voz do Vento", agradecemos todo o suporte!
Sem mais delogas...
Ao Capítulo de Hoje! (Saudades infinitas de escrever isso!)
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Capítulo 8 - Dois Oásis no Deserto (Parte 4)
A cidade que nunca dorme...
O posto de observação era apenas uma estrutura simples de três andares em madeira e cordas podres. Com cuidado, ajudei Emulov a descer atravéz de um sistema de roldanas por mim inventado. A sorte é que ele era bem mais leve que eu. O problema estaria na hora em que eu fosse descer.
Eu havia ganhado mais massa muscular do que jamais imaginara em todos esses anos, e o sistema era bem frágil. meu maior medo, contudo, residia na possibilidade de um ataque surpresa por parte da horda incansável de Drefia.
Respirei fundo ao enlaçar minha cintura; usando a madeira como apoio, desci lentamente, sem tirar os olhos de Emulov, que me parecia levemente assustado, mas estava bem, e sem feridas. Ao pousar meus pés no chão, respirei aliviado. A parte mais simples estava feita, e a aventura estava pronta para começar.
— E então, Emulov? — Indaguei — Tudo certo? Tem suprimentos para essa jornada?
— Creio que sim — Respondeu-me timidademente - Só uma pergunta: quanto tempo temos?
— Infelizmente, não sei...
Carne fresca... Carne fresca...
— Essa não... — Sussurrou o mago, com os olhos bicolores arregalados - Ireas...
— Mortos-vivos... — Sussurrei com horror - Eles nos perceberam! Utevo Res: Esqueleto Demoníaco! - Urrei, tomado pelo pânico e adrenalina.
— Utevo Res: Esqueleto Demoníaco! — Repetiu Emulov.
A um passo à nossa frente, as areias fizeram um pequeno redemoinho, o qual gerou ossadas vermelhas e sangrentas, as quais deram vida às nossa criações. Eram eles idênticos aos seus contraparentes, com a diferença de terem a nós como senhores.
De esqueletos de várias patentes a fantasmas de piratas e outras criaturas de igual e infeliz sorte, eles escalaram seu caminho pela areia até a ala principal, onde estávamos.
— Ireas, corra! — Ordenou Emulov, em um tom de voz tão alto que chegou a me assustar - Eu os tentarei bloquear! Você usará as runas para me dar reforço!
Assenti afirmativamente e afastei-me cerca de três passadas de Emulov, bem a tempo de vê-lo começar a brigar.
— Exevo Vis Hur! — bradou o mago com determinação.
As esferas de energia foram implacáveis, acertando a primeira leva de monstros. Para ajudá-lo a diminuir os números, fiz a tempestade de raios surgir, usando uma das runas roxas que Emulov me havia dado. Estávamos dando um aviso à Drefia, a Yami e... à minha mãe.
— Exevo Gran Frigo Hur! — Urrei ao ver algumas das repugnantes criaturas apoximando-se de mim e Emulov.
As estacas fizeram da carne podre e ossos puídos estilhaços quase impossíveis de se identificar. Atirei aos céus a runa da avalanche, soterrando mais algumas das amaldiçoadas criaturas.
— Ireas, os números não param de aumentar! — Informou Emulov, preocupado.
— Temos que aproveitar esse momento! Corra para a saída, depressa! — Repliquei, puxando-o pelo braço.
— Utani Gran Hur! — Pronunciamos em uníssono, fazendo o chão aos nosso pés perder grande parte de seu atrito, aumentando nossa velocidade.
Buracos se abriram a alguns metros atrás de nós, e mais deles saíram. Ouvi uma risada cínica deslocando-se pelo vento. Ao olhar para uma das torres velhas e arrasadas, vejo Yami nos observando muito contente. Seu cinismo fez meu semblante fechar-se em ira.
— Seu cachorro! — Urrei — Você planejou isso desde o começo! Desgraçado!
— Ah, caro Ireas... — Ele respondeu de forma arrastada, fazendo graça com sua voz majestosa - Você me diverte. Vamos ver quanto tempo você aguenta até que esse lugar te ensandeça, destroce seu corpo e roube sua alma!
Ele fez seu corpo tornar-se uma névoa verde, sendo levado pelo vento junto com os grãos de areia levantados por nós e pelos habitantes de Drefia.
— Exevo Gran Vis Lux! — Emulov estava determinado a mostrar-me todo seu arsenal.
— Exevo Gran Frigo Hur! — Pronunciei para não deixar de me afirmar enquanto cobria o céu com as runas.
Os raios combinados com o gelo geravam pequenos e exóticos explosivos, que faziam um belíssimo estrago nas hordas incansáveis. Os esqueletos também faziam sua parte ao segurar e ferir seus contraparentes, auxiliando-nos em nossa tarefa. Sempre que conseguíamos diminuir consideravelmente os números, aproveitávamos para correr o máximo que desse até a entrada da cidade.
Os demônios pareciam ter a energia de mil divindades, pois não paravam de nos seguir! Fizemos de tudo - conjuramos magias, arremessamos runas, conjuramos outra dupla de Esqueletos Demoníacos - visto que os nossos caíram em batalha -, consumíamos as poções de energia mágica freneticamente, como em uma dança em um ritmo muito, muito acelerado.
Perdemos horas naquele embate. O Sol nãos e importava conosco, simplesmente fazia seu caminho pela abóbada celeste. Na medida em que o pôr do sol se aproximava, o pânico começou a tomar conta de meu ser. Eu não podia dar a razão a Yami. Não poderia perecer ali. Não quando a verdade sobre quem eu realmente era estava ali, tão perto de mim!
— A escadaria! — Gritou Emulov, tirando-me de meu transe enquanto eu fazia questão de dar um descanso eterno àquelas aberrações - Ireas, vamos! Estamos a apenas alguns metros de distância!
Joguei estacas de gelo contra as vis criaturas, perfurando-lhe os crânios sem dó. Emulov valeu-se de seu vasto arsenal ofensivo, mostrando àquelas criaturas o que era poder. Por mais que não gostasse dessa filosofia dos Feiticeiros, admiti que me fora bastante útil.
Ajudei-o a subir a escadaria. Ao chegar a minha vez, contudo, uma das criaturas fora mais rápida, ferindo meu peitoral. Meu sangue do Norte ferveu, e bastante.
— Exevo Gran Frigo Hur! — Conjurei a sentença de morte daquela e das demais criaturas logo à frente.
Com o peitoral sangrando, engoli os gritos de dor e segui em frente, subindo a escadaria sem olhar para trás. Quando dei por mim, vi Emulov ajoelhado nas areias do deserto, com os braços erguidos para o alto em sinal de louvor, ele urrava alegremente em um dialeto por mim desconhecido.
Eu também estava aliviado. Um sorriso emoldurou as minhas faces. Pena que não duraria muito.
— Ireas? — Indagou Emulov, vendo-me pálido e letárgico - Você está bem?! Ireas!
Perdi os sentidos naquele momento, desfalecendo nos braços do tímido Feiticeiro de olhos bicolores... Pergunto-me o que teria ocorrido com Brand e Wind nesse tempo em que eu e Emulov estivemos presos em Drefia...
***
(Narrado por Jovem Brand, o Terceiro)
Não sabíamos de onde viera aquele tufão, nem de como havíamos parado ali, mas todas as evidências apontavam para apenas um conjunto seleto de seres — os Marid. Fosse quem fosse o autor daquela trágica cena, ele sabia que tanto eu como Wind éramos os detentores do maior número de Grandes Feitos do grupo. Portanto, ele não tentaria nenhuma gracinha com monstros...
Abri lentamente meus olhos, e vi-me amarrado a um poste; meus pertences haviam sido jogados a outro canto da sala, onde vi Wind amarrado pelas mãos, como se fosse uma cruz, com o corpo muito avariado, sangrando pelas feridas abertas. Meu sangue fervia em minhas veias.
—Muito bem, seu palhaço! — Urrei, irritado — Mostre-se! Por acaso tem medo de me enfrentar? Acha que esse escurinho me vai impedir de lhe dar uma bela bofetada na cara?! Se acha isso, está redondamente enganado!
O seu camarada tentou a mesma coisa. Veja só o estado dele...
Das trevas surgiu uma linda moça, similar ao...
— Yami?! — Vociferei.
— Não... — Replicou docilmente a menina — Sou Yumi, a irmã dele. Por muito pouco meu irmão não ceifou-lhe a vida; ele os havia transportado até o Inferno Vampírico de Drefia. Por sorte, segui o rastro mágico dele e pude salvá-los. Infelizmente, você havia sido paralizado pelos Morte-Cérebros que meu irmão conjurara. O Cavaleiro ali salvou-lhe o couro... — Ela apontou Wind com a cabeça — ...A certo preço. Ele ainda está extremamente ferido, e o dano que os Morte-Cérebros o causaram foram tão graves que a psiquê dele ficou muito alterada. Por isso o prendi ali.
— Entendo... — Repliquei, mais calmo. A moça não era ameaça — Mas, se você é uma Efreet, então, onde estamos?
— Não sou Efreet... — Replicou timidamente a menina — Nasci Marid...
Ela revelou as marcas azuis em sua pele morena.
— Eu e meu gêmeo somos meios-Djinnanis — Explicou Yumi — Marids e Efreet são divisões fenotípicas, nada tem a ver com raça ou espécies distintas. Somos uma única espécie. Sei que você se aliou à causa Efreet, mas eu preciso lhe dizer que acho essa guerra a maior das estupidezes que já testemunhei em todos esses anos...
Ela se aproximou de mim, desatando as cordas que me prendiam. Quando seu corpo ficou próximo ao meu, senti aquele perfume de sândalo e jasmim emanando dela. Que fragância maravilhosa... Somada à bela aparência da criatura, era perdição na certa. Ah, se eu não fosse tão cavalheiresco...
— Pronto! — Anunciou Yumi docemente — Você está livre. Olha, vou quebrar o teu galho, pois gostei de você... — Ela chegou mais perto de mim, sussurrando ao pé de meu ouvido, o que me fez tremer levemente — Hoje, dou-lhe acesso à Fortaleza Marid. Eu o havia prendido aqui para enganar meus companheiros. Há uma escadaria secreta no lado sudeste dessa sala. Os guardas já foram... Postos para dormir. Suba por ela, e terá acesso à biblioteca. Fale com Djema e diga que Yumi te mandou.
— E... Wind? — Balbuciei, levemente extasiado.
— Cuidarei dele — Disse, afastando-se de mim, para minha infelicidade — O estado dele é tão grave que receio que ele esteja instável demais para te acompanhar. Em todo caso, passe a ele as informações. Só peço para que você não revele nada aos Efreets. Por mais que eu odeie essa guerra, não quero dar munições a nenhuma das partes. Posso contar com sua palavra?
— Sim — Afirmei com um sorriso — Você tem minha palavra.
Despedi-me da moça tomando sua mão esquerda para beijar-lhe os delicados dedos. Seus olhos prateados pareciam seguir-me naquele ambiente escuro e hostil. Nunca eu havia pensado que uma Marid poderia ser tão generosa. Por ter passado tanto tempo com os Efreets, acabei por tomar-lhes as dores. Por mais que nossos laços fossem comerciais, não pude deixar de ter sido tocado pela causa deles; Yumi me fez questionar essa certeza.
A escadaria subia por dentro de um enorme pilar, que me levaria direto à biblioteca. Para o meu alívio, os Marid que ali viviam sequer desconfiaram de minha presença. Cheguei à biblioteca sem grandes dificuldades, e Djema não estava lá. Dei de ombros e pus-me a investigar a biblioteca, torcendo para que os demais estivessem sãos e a salvo...
Horas se passaram, e minha investigação em nada resultara... Até que achei um livro de capa rubra como sangue. O que havia nele mudaria para sempre nossas vidas, e o que fora visto não mais sairia de minha mente.
— Essa não... Preciso achar Ireas, e rápido!
Continua...
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Voltei, gente! Juro que não faço mais isso! Não ficarei mais tão distante. Esses dias foram meio complicados. Maaass... Darei um jeito. Tenham certeza de que Keras e seus amigos ainda estarão conosco por muito, muito tempo!
Abraços!
P.S.: Pretendo colocar os desenhos de Icel, Emulov, Yumi e Yami aqui o mais breve possível!
Minha alegria retornou a mim, pois a Iridium voltô *-*
Bem vinda de volta! E regressou a seção com um ótimo capítulo!
Comentário sobre o cap: Achei a saída de Ireas e o lek lagartixa meio rápida, mas acho que foi normal mesmo, pois é possível contar um caso de horas com poucas palavras. Eles mostraram força lá, não achei que conseguiriam sair com facilidade(Muito menos o Ireas, pois já sabe né :smile:) e que sairiam com poucas feridas. Porém conseguiram sair, maldito Yami e Efreets, queria que ardessem no vampire hell... Não pera
Achei sinistro essa aparição misteriosa de Yumi e que ela ajudava ao invés de tramar algum plano contra os nossos heróis. Mas achei também bem suspeito, pois ela até que foi meio "boazinha" demais da parte dela de ajudar o Brand e o Wind. Bem, o Wind quase fez tudo solando os braindeath, mas ele meio que foi possuido, então a yumi ficou com a parte difícil. Ah, uma coisa: acho que os nomes em inglês das criaturas, palavras juntadas, como é o caso do braindeath, que é cérebro e morte, pode ser a junção de palavras para formar um nome diferente do sentido normal que utilizamos, saindo com diversos nomes: morte cerebral, morte aos cerebros... No caso de "morte aos cérebros", seria um nome criado pelos humanos para essas criaturas, mostrando algum significado do que elas são capazes de fazer. Pois o nome de morte-cérebro fica meio estranho...
E o que será que Brand achou no livro? Maldito fim de capítulo, fiquei raivoso quando li o "continua" :bravo:
Bom iri, continuo aguardando novos capítulos! Se quiser, posso "eliminar" alguns dos professores da sua universidade pra dar mais um tempinho pra você, se quiser...
~Carlos
Spoiler: Respostas aos Comentários + @Off
Caso apareça algum outro comentário relacionado ao Capítulo 8, editarei aqui a janelinha. Bem, vamos ao próximo Capítulo!
Sem mais delongas, o Capítulo de hoje...
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Capítulo 9 - Dois Oásis no Deserto (Parte 5)
A curiosidade pode matar...
(Narrado por Jovem Brand, o Terceiro)
Por Crunor, aquele livro! Não pude acreditar em meus olhos e tampouco em minha mente quando vi o que suas letras rubras diziam para mim. Pobre Ireas, não sabe com o que está lidando! A verdade é que nem eu sei ao certo, e aquele ser que nos arrancou de nossa rota deverá ser apenas a ponta de um colossal Iceberg...
— Então, a mãe de Ireas é...
— Alto lá!
Virei-me bruscamente para trás, e vi dois seres - uma mulher frágil e pequena, de corpo esguio, quadris mais finos e pouco seio, com cabelos ruivos, olhos da cor de avelãs e rostinho sardento e um Djinn azul musculoso, portando uma cimitarra ricamente adornada, a qual empunhava pronto para me matar.
— Djanni' hah! — Bradei, levantando-me devagar.
— Sou Nah' Bob. — Apresentou-se o Marid, embainhando sua cimitarra. — O que um servo de Mal' Ouquah faz aqui? Como conseguiu entrar?
— Isso importa? — Indaguei com uma pontada de raiva.
— Importa, é claro! — Replicou Nah' Bob, ofendido, pronto para desembainhar a cimitarra e lutar comigo. — Lute ou morra!
— Yumi me mandou. — Repliquei secamente para a menina, que arregalou seus olhos. — Djema, não é?
— S-sim... — Gaguejou a menina — Nah' Bob, não faça nada... — Ela colocou a mão à frente da lâmina, freando o descomunal Marid. — Ele é amigo, não inimigo.
— Gabel não gostará nada disso... — Resmungou Nah' Bob, deixando-me a sós com Djema. — Não mesmo.
Eu cumprimentei-a com um aceno de cabeça de forma respeitosa. Ela retribuiu com igual aceno, e aproximou-se lentamente de mim.
— Sou Djema, a guardiã da biblioteca de Ashta' Daramai. — Ela disse — Se Yumi te mandou, é porque é algo importante. O que te traz aqui, servo de Efreet?
— Busco por informações acerca de uma Feiticeira... — Repliquei, mostrando-lhe o livro — ... Ao menos, era isso que eu pensava que ela era.
A menina pegou o livro e examinou-o página por página em uma velocidade impressionante.
— Esse livro não me é estranho... — Ela disse com um largo suspiro — É, ela ainda está entre nós... Isso é um dos Nove Tomos Pessoais de uma das arcanas mais poderosas que conheci. Ela foi nossa aliada por muito tempo, mas desapareceu há quase vinte anos...
— Vinte anos?! — Indaguei, supreso — Quanto anos você tem?
— Não se pergunta a uma dama a idade dela... — Respondeu-me com um sorriso e uma piscadela — Após viver tantos anos cercada por magia, um desejo bom me foi concedido por meu pai, Gabel. Mas isso não vem ao caso...
Ela me entregou o tomo com pesar.
— Esse é o primeiro dos Nove, e ela os espalhou por todo o nosso mundo — Explicou-me — Nesse tomo, ela ainda não havia abandonado seu nome, e é dos tempos em que ela ainda não havia abandonado seu verdadeiro nome e sua face mais bela... Hoje, só podemos nos referir a ela como Esquecimento Eterno... Há muito não podemos nomeá-la por seu nome verdadeiro... Seria uma catástrofe se um dia alguém viesse a fazê-lo de novo.
Eu comecei a entender a gravidade da situação. Se alguém se intitula "Esquecimento Eterno", não era de se espantar que muitos a temessem. Contudo, os fatos só me confundiam mais que me esclareciam algo, e eu temia que Djema não fosse cooperar mais se eu não a informasse o real motivo de minha presença ali.
— Djema, você soube que Esquecimento Eterno teve um filho, não soube? —Indaguei-a.
— Puxa, você me pegou agora! — Respondeu-me levemente frustrada — Que eu saiba, não, mas isso explicaria muita coisa...
— Como assim? — Indaguei, ávido por quaisquer informações que eu pudesse dar a Ireas.
— Antes de desaparecer, ela não pegava mais missões desgastantes ou que exigissem grande esforço físico — Contou-me Djema — Ela passou a ficar em Ankrahmun por mais tempo antes de zarpar muito ao norte. Ao ficar em Ankrahmun, reduz-se a jornada às Fortalezas. Eu pensava que era apenas uma medida financeira, pois ela era, de longe, a mulher mais morrinha que conheci...
— Entendo... — Repliquei — Escute, sobre os Tomos... há alguma pista acerca do paradeiro dos demais oito?
— Leia o Tomo com atenção — Replicou Djema — , pois nele há pistas. Esquecimento adorava enigmas e adivinhas, e sempre fazia algumas comigo sempre que possível, antes de sair de Ashta' Daramai. Talvez haja a pista para um ou dois Tomos, mas isso é algo que você deverá descobrir. À propósito, você é o filho de Esquecimento?
— Não... — Repliquei com um discreto e efêmero sorriso — O filho dela atende pelo nome de Ireas Keras, que logo estará aqui. Ele certamente se aliará a vocês, não tenho dúvidas quanto a isso.
— É uma pena você servir Malor... — Ela disse - Você é um homem encantador, devo admitir.
Minhas faces coraram levemente, mas não perdi a postura.
— Sou Jovem Brand, o Terceiro — Apresentei-me — Comandante-em-chefe das tropas contrárias a Morgaroth, orgulhoso Paladino da Real Guarda Thaiana, e Thaiano desde que me entendo por pessoa.
Curvei-me, segurando a mão esquerda de Djema para beijar-lhe os delicados dedos.
— Há um amigo meu nos calabouços de Ashta' Daramai — Disse —, e ele precisa de socorro. Apesar de ele também ser Efreet, poderia ele ficar aqui por um tempo a fim de se recuperar?
— Ele está com Yumi? — Indagou Djema — Se estiver, sem problemas. Suponho que você tenha subido pela escadaria secreta... Vou descer por ela e pedir a Yumi que o traga até aqui. Espere por mim.
Assenti e sentei no assoalho, abrindo Tomo e tornando a lê-lo novamente; dessa vez, com atenção redobrada...
***
(Narrado por Ireas Keras)
Acordei no que parecia ser o hospital de Darashia, tão distinto daquele que construí para Ankrahmun. Realmente, Hammoud tinha razão - essa cidade precisava de uma reforma, mas não estava ali para isso. Não naquele momento. O Sol já se punha quando despertei.
Meus olhos estavam semicerrados; olhei para meu entorno lentamente, e logo vi Emulov ao meu lado, com um semblante inicialmente triste, mas que logo abriu-se em um sorriso ao ver-me são e salvo.
— Ireas! - Ele disse — É bom ver que ainda está vivo!
— Ai, minha cabeça... — Resmunguei enquanto Emulov ajudava-me a sentar — Há quanto tempo estamos aqui?
— Há umas duas horas, se não me engano — Replicou-me o rapaz de Zao — Os médicos agiram rápido. Estranhamente, assim que puseram as mãos em seu peito, a ferida se fechou e apareceu uma cicatriz com uma rosa azul e umas folhas e vinhas emoldurando...
Meu primeiro instinto foi olhar para meu peito, que se encontrava cheio de ataduras; pensei em removê-las, mas não havia motivos para expor uma ferida desse modo, especialmente com a ameaça iminente de tempestades de areia.
— Sei... — Repliquei, buscando esconder minha estranheza. — E você, como está? Está bem?
— Estou... Só tenho aqui alguns arranhões... — Replicou com um sorriso, mostrando-me ataduras nos antebraços. — Bom, temos uma fortaleza a examinar... Vamos?
Assenti e me levantei, pronto para sair daquele local. Vesti meu robe, empunhei meu cajado, pus minha mochila nas costas e, com meu livro de feitiços em mãos também, saí do quarto com Emulov.
No caminho, decidi perguntar acerca dele. O rapaz, um pouco tímido, começou a responder minhas perguntas. Emulov não teria mais de 18 anos, e fora criado em Zao por Lagartos gigantes. Ele desconhecia seus pais biológicos, e supunha que fossem algum dos raros humanos que ali habitavam. Como eu, Emulov tinha uma série de perguntas as quais ele seria incapaz de responder. A Feitiçaria veio como um consolo para ele, como uma fonte de respostas; diferentemente de seus companheiros, que buscavam poder desenfreadamente, Emulov não parecia tão interessado nisso. Apenas queria respostas. Éramos simultanemante iguais e diferentes, dois paradoxos ambulantes...
***
Chegamos perto das Fortalezas sem grandes dificuldades; a noite já caíra quando subíamos a escadaria que nos levaria a Ashta' Daramai, e os ventos que sopravam em minha nuca pareciam querer dizer algo.
"Ireas... Ireas... Ajude..."
Eu parei no último degrau da escadaria, olhando para trás em busca da fonte do som, já desconfiado.
— Keras? - Indagou Emulov — Está tudo bem?
A voz de Emulov tirou-me momentaneamente do transe, e voltei a fitá-lo.
— Sim... — Repliquei - Está tudo bem. Vamos em frente. Decerto Brand e Wind devem estar esperando por nós pelas redondezas...
Emulov sorriu para mim discretamente e deu-me as costas, tornando a andar. A passos lentos, porém constantes, segui-o, e as vozes no vento vieram comigo.
"Ireas... Ireas..."
Havia algo errado, eu podia sentir. Mas o que seria? Minha nuca já contava com os pelos bem eriçados, e sentia um frio percorrer minha espinha. Talvez fosse apenas a noite.
Emulov bateu três vezes à porta de Ashta' Daramai, e eu reconheci a voz de Uman nos concedendo a entrada. Entramos na Fortaleza, e contamos tudo a ele.
Entretanto, aquela sensação horrível não me abandonava. Estava preocupado com Wind, com Brand, com Jack e com Silfind, cuja gravidez, cada dia mais avançada, lembrava-me constantemente de que a hora de retornar a Svargrond estava chegando.
Em minha cabeça, enquanto narrava a Uman tudo o que ocorrera, só uma pergunta martelava em minha cabeça: 'Efreet ou Marid: de que lado está você, Ireas Keras?' ...
Continua...
---
Aeeee \o/ Tô voltando, moçada! Tô voltando e com a corda toda!
Mais de Ireas Keras muito em breve! Aguardem!
Comentem, divulguem, apoiem! Sem vocês, não haveria como manter a história viva! Obrigada por tudo!
Esse roleplay é em minha humilde opinião o melhor; a riqueza de detalhes é impressionante, além de que todos os personagens possuem a sua própria personalidade, isso mostra o lado humano deles, o que faz o leitor mergulhar na história... e não notar que o jantar estava queimando... enfim mais um ótimo capítulo de A Voz do Vento.
Ya, Iridium.
Muito bom saber que está realmente retornando, assim espero. Sentimos um pouco de falta de você :)
Quanto ao capítulo, ótimo como sempre. Parece que Brand descobriu que a mãe do Ireas é uma Ferumbras da vida, só falta dizer que ela é Tafariel.(Se for isso e acabar quebrando o mistério da história, eu retiro de imediato) Porém continuo acreditando que ela seja uma brotherhood líder com poderes a mais sobre o que há ao redor dela, sendo assim quase como uma poderosa aberração que ganhou um filho.
Tenho três palpites de quem ela é:
1: Tafariel, seria original se ela fosse esse Ruthless, ele é pouco usado em histórias e tem poderes muito poderosos, como a mãe do Ireas aparenta.
2: Fortinbrae, já bem adulta e desenvolvendo mais e mais seus poderes e se tornando famosa por todo o Tibia pelos seus poderes e atos.
3: Devovorga, não sei se esse bicho era Fortinbrae, mas de qualquer forma, seria um bom palpite, pois esse bichano é cheio de truques e é muito forte. Mas é o menos provável para ela.
Ou então a mãe de Ireas seja apenas uma líder brotherhood mesmo... Ela me parece isso, aparência e poderes iguais.
E qual será a fama de Yumi no território dos djinns? Pareceu meio curioso isso, pois mesmo já sabendo que ela e Yami são meio humanos meio djinns, deve ter algo a mais por trás dela para que os djinns blues não agredissem o Brand.
E o final ficou interessante, quem será que tá tentando se comunicar com Ireas pelo vento? Pela primeira vez vemos o título da história aparecer na própria história :smile:
Só isso, aguardo os próximos capítulos. Até mais :D
~Carlos
Brand sem vergonha, só de olho no corpo das minas que passam por perto dele ou falam com ele. Só ler os detalhes que ele dá da garota pra me entender rç
Iridium, que bom que voltou!
Sabe, eu já estava com saudades dos enigmas da sua história... Você escreve muito! hahah :D
Agora sobre o capítulo, eu espero que o Ireas se alie aos Marids. Djelma pode ajudar na busca pelos tomos, pois além de já ter convivido com a mãe de Ireas, ela poderia auxiliá-lo para desvendar os mistérios que rondam esses tomos.
E.. Lance logo um novo capítulo! Ás vezes eu preciso ler novamente uns 2 ou 3 capítulos anteriores quando você lança um novo. Ficar muito tempo sem ler pode me deixar escapar algum detalhe, e eu não gosto de ficar meio atordoado quando eu leio um novo capítulo, haha.
Espero pelo próximo.
Abraço.
Falaí.
Vim pra falar que estou voltando a ler a história. Eu acha que teria uns 4-5 capítulos desde que eu parei, mas já tem um monte! e.e
De qualquer forma, terminei o livro um, e volto a comentar quando tiver terminado todos os capítulos, Até porque provavelmente eu vou ter que reler tudo desde o começo, esqueci várias coisas. D:
PS: Sírio Snow é um bastardo do norte? Mas como pode ser, se ele é do sul? oO
Saudações, pessoal!
Há 10 dias atrás, A Voz do Vento completou 1 ANO DE EXISTÊNCIA! Isso mesmo, um ano de Ireas Keras e seus dramas e aventuras! Um ano do Roleplay do personagem mais querido por mim... (Bateu uma vontade de jogar agora, rsrsrs)
Spoiler: Respostas aos Comentários (a janelinha ATACA NOVAMENTE!)
Bem, sem mais delongas, o Capítulo de hoje!(ADORO ESSA FRASE!) (Até que enfim!)
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Capítulo 10 - Os Renegados: O Chamado do Mar (Parte 1)
Pois Vandura há de tremer...
(Narrado por Rei Jack Spider)
Minha cabeça girava; meu corpo doía. Minha vista estava embaçada, e o ambiente fedia a peixe e rum. Senti algo me cutucar o ombro, e voltei meus olhos em sua direção.
Havia dois homens. Um era gordo, de cabelos grisalhos, olhos azuis,roupas esfarrapadas, garrucha na cinta e espada em mãos. O outro era forte, jovem, de cabelos castanhos, olhos negros e pele branca. O último me cutucava com a lança enquanto o primeiro fumava.
— Olha só o que o mar nos trouxe! — Disse o gordo — A escória de Thais!
— Heh, pois deveria ter afundado com a embarcação que o trouxe... — Comentou o jovem — Quanto azar, meu caro...
— Temos o desprazer de lhe receber no lar dos renegados, o pesadelo da patrulha thaiana, o porto da liberdade... Nargor!
O jovem levantou-me bruscamente, e tive que forçar minhas pernas a me obedecerem. Nargor? Não podia ser! Como eu havia me desviado tanto assim de minha rota?
— Devemos levá-lo ao chefe? — Indagou o jovem, me ignorando
— Talvez... — Sibilou o gordo velho — Sendo ele claramente thaiano, óbvio que é um patrulheiro. Sendo assim, deveríamos deixar que o chefe decida o que... Ei!
Patetas! Com quem pensavam estar falando Claro que eu, Jack Spider, não ficaria ali parado, esperando que outro decidisse minha sorte! Ridículo! Assim que eles começaram seu colóquio, logo pus-me a correr. Ainda que fosse um local completamente montanhoso, com cavernas e mais cavernas ao meu redor, eu abraçaria aquele desafio. Subi pelas escarpas com aqueles dois em meu encalço, rindo da distração deles.
— Adorarei frustrar os planos de seu "chefe"! — Esnobei, sorridente — Esperem só até...
Quando me aproximei de uma das cavernas, um braço forte me puxou e senti uma mão em meu rosto, cerrando meus lábios. A dupla de piratas desajeitados logo passou pela caverna e, imobilizado, escutei-os afastarem-se com muita, muita frustração.
— Sshh! Fique quieto! — Disse-me a pessoa que me segurava — Vão nos descobrir!
Dei um pisão no pé do sujeito e afastei-me quatro passadas; nisso, o homem aproximou-se de mim - era Liive. Alto, forte, ruivo, de olhos castanhos e expressão séria, era o mesmo Norsir que eu conhecera na celebração de Icel.
— Liive?! — Indaguei, supreso — Não te vejo desde...
— Morgaroth, talvez — Replicou-me frio à sua maneira — Bem, não importa. Deve estar se perguntando o que houve comigo...
— Isso também. — Repliquei sem jeito — Estou vendo que passaremos um bom tempo aqui... Gostaria de saber o que aconteceu contigo... E por que está aqui também.
Ele assentiu e sentou no assoalho de pedra, acendendo uma tocha para iluminar o local.
— Pois bem... — Começou Liive — É até irônico... Visto que me lembro de pouca coisa...
— Como assim? — Indaguei, intrigado.
O Norsir coçou a cabeça levemente frustrado. Ele franzia o cenho, buscando lembrar-se de algo, ao passo que eu o analisava, buscando entendê-lo.
— Bem, lembro-me do assalto da Irmandade dos Ossos à Svargrond... — Disse-me de forma soturna — Lembro-me que não queria participar do assalto a Morgaroth... Não que não goste de uma batalha, mas não concordo com intervenções barbáricas em briga de usurpadores... Se é que me entende. Bom, não vem ao caso.— Seu semblante tornou-se sério e compenetrado — Jack, preste muita atenção no que te falarei agora, pois é de extrema importância.
— Prossiga. — Meu coração já estava extremamente disparado.
— Não fui até Morgaroth por vontade própria... — Confessou Liive — Fui mandado por outrem.
— Sven?! — Indaguei.
— Não ele! - Replicou o Norsir, frustrado, antes de fazer uma pausa — Preciso perguntar algo, antes de falar-lhe tudo.
— Pergunte, pergunte... — Consenti, impaciente. Quanta demora!
— Como estão Ireas e Wind? — Indagou secamente — E você sabe o que quero dizer...
Eu arregalei meus olhos. Como não compreender Agora, tudo fazia um pouco mais de sentido.
— Foi você o autor das cartas?! — Indaguei de forma retórica e furiosa — Como pode?!
— Não fui eu. — Replicou Liive - Foi... A pessoa que se apossou de meu corpo nesses meses que se passaram... Nesses tempos de agonia.
— E quem seria?! — Eu precisava daquela informação - Responda!
— Esquecimento Eterno - Falou o ruivo em um tom igualmente solene e assustador — É o nome dela. É só do que me lembro. Nos dias que se passaram, era como se eu fosse mero espectador das ações que ela executava em posse de meu corpo. Era como se eu fosse... Um espírito errante.
— Quem será essa? — Indaguei, reflexivo.
— Não sei ao certo, mas deve ter alguma relação com Ireas. — Falou Liive. — De qualquer modo, estou aqui buscando minha redenção.
— Como assim? — Indaguei, levantando-me.
— Achei que você fosse melhor informado... — Zombou Liive com um sorriso de canto — Não está sabendo? As paredes aqui tem ouvidos, e os piratas tem sede de vingança... E liberdade.
— Continuo entendendo nada... — Respondi, frustrado.
— Simples... — Riu Liive. — Eles começaram, finalmente. O Chamado do Mar começou; francamente, nunca achei que uma corja de rufiões maltrapilhos e arrogantes juntar-se-ia para varrer os senhores das Casas-Grandes de Vandura...
— Uma... Revolução? — Concluí, surpreso.
— Isso mesmo... — Assentiu Liive — E há uma pessoa que conhecemos no comando dela. Sei que você é de Thais, jack, e teria todos os motivos para discordar desse plano... Contudo... — Sorriu-me melindrosamente — Admita que seria uma batalha de proporções épicas.
Eu conhecia aquele olhar. Aquele sim era Liive — um bárbaro que se alimentava das batalhas, da adrenalina que pulsava forte em suas veias repletas do sangue do Norte. Nunca concordei com a escravidão em Vandura... E queria ser um herói também. Quem não quer seu dia de glórias
— Concordo com você. — Repliquei com um sorriso. — Leve-me até os líderes do movimento. Rei Jack Spider juntar-se-á à Resistência!
— "Renegados" — Corrigiu Liive — Eles se intitulam Renegados. E confesso que quero uma redenção nessa batalha também. — Cerrou os dentes e franziu o cenho, levemente irritado — Pois ninguém manipula Liive. Ninguém mesmo.
Por algum motivo, voltei meus olhos ao fundo da caverna, onde vi um ponto azul bem brilhante. Caminhei lentamente em direção ao objeto, que era uma esfera de cristal, a qual parecia ter grande poder.
— Mas o que...?
Vi a imagem de Ireas refletida nela! Como era possível
— Ireas?! — Chamei — Ireas! — Não obtive resposta, infelizmente.
— Jack! — Gritou Liive — Você vem ou não?
Peguei a esfera e coloquei-a em minha mochila, voltando a me encontrar com Liive. Juntos, saímos da caverna e seguimos adiante Nargor adentro. Perguntava-me o que aquela esfera poderia fazer...
***
(Narrado por Ireas Keras)
— Ireas, você está bem? Algo errado?
Era a voz de Emulov trazendo-me de volta de meu transe. Aquela voz... Era... Não, não poderia ser. O rapaz de olhos bicolores me fitava com preocupação enquanto estávamos diante de Uman. Sacudi minha cabeça levemente, determinado.
— Djanni 'hah. — Saudei Uman, que sorriu para mim.
— Vejo que já fez sua escolha. — Disse o Djinn, cruzando os braços.
— Sim. Tanto eu quanto Emulov.
— Sabia que voltaria para nós. — Disse Uman, alegre — Um de seus amigos está aqui. O rapaz de cabelos grisalhos...
— Brand?! — Indaguei, surpreso.
— Sabemos o porquê de sua escolha, Keras — Disse Uman com um olhar sério — E você está certo: temos o que você procura, mas apenas a primeira parte de sua jornada. O restante, você deverá descobrir. Ainda quer se juntar a nós, Marids? Você jura defender a causa Marid com sua vida, jurando fidelidade a Gabel, o único e verdadeiro senhor da Raça Djinn?
— Mais do que nunca. — Disse, decidido como jamais estive em minha vida.
— E você, Emulov Suv? — Indagou Uman, ainda de braços cruzados — Jura manter-se atado ao seu juramento de fidelidade eterna a Gabel e aos Marids, com a bênção de Daraman?
— Com toda a certeza. — Replicou o Feiticeiro de olhos bicolores.
Uman sorriu como uma criança, feliz por ouvir de nós a resposta afirmativa.
— Muito bem. — Disse o Djinn — Abram a primeira porta à direita de vocês: ela os levará a Fa' hradin, que lhes dará a primeira missão. Lembro a vocês que nossa fidelidade não lhes será dada de graça. Cumpram as missões e o passe-livre por essa Fortaleza lhes será dado. Do contrário... Bem, não creio que preciso explicar...
Assentimos, subindo as escadarias que levavam ao andar seguinte. Era um aposento octogonal enorme, com várias paredes recortando-o e dividindo vários cômodos. Dos dois maiores — a cozinha e a varanda —, o primeiro nos era de maior interesse.
Fomos até a cozinha, onde estava um djinn azul de avental sujo, faca na mão direita e um livro em sua mão esquerda. Ele parecia resmungar coisas em um idioma que eu não compreendia. Vi Emulov aproximar-se do djinn de forma tímida.
— D-djanni' hah... — Disse o rapaz.
— Oh! — Disse o Djinn, saindo de seu transe, deixando a faca cair no chão aos pés de Emulov, assutando-o levemente — Desculpe, não os ouvi entrar... — Ouvi-o resmungar para si — Ah, esse maldito livro! Já cozinhei todas essas receitas... Preciso de algo novo... Ah, aquela pilantrinha da Maryza deve ter algo novo para mim...
Ele então volta seus olhos para nós, com um sorriso simpático no rosto.
— Vocês podem me ser bem úteis! — Disse-nos — Ah, meu nome é Bo' Ques; sou o Cozinheiro Real da Fortaleza. Bem, como vocês podem ver, eu estou passando por uma crise... Poderiam ir até Kazordoon e pegar um livro de receitas com uma anã chamada Maryza? Se vocês fizerem tudo direitinho, posso falar com Fa' hradin a respeito de vocês...
Continua...
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Aeee, gente!!! Tô de volta!
Bem, como vocês podem ver... Ireas tem um lado na Guerra Djinn! A todos que votaram, muitíssimo obrigada! Quem me conhece, sabe... Ireas é Marid in-game, não teria jeito... Amei DEMAIS os djinns azuis... Não haveria como largá-los!
Bem, demorei UM SÉCULO para postar, mas não se preocupem — mês que vem, tenho 3 semanas de descanso da faculdade, o que significará mais tempo (e Capítulos) para A Voz do Vento!
Comentem! Feedback é sempre bem-vindo e muito apreciado!
Abraço,
Iridium
foi essa história que me deixou empolgado para voltar a jogar tibia após alguns meses retired, vc sabe como adequar as missões do jogo a sua história da melhor maneira possível, além de elaborar um enredo incrível, sobre o capítulo de hoje gostei do Ireas ter se juntado aos Marids, gosto mais deles, e também achei legal Liive ter voltado a participar ativamente da história (como um cara legal), não vejo a hora de ler mais sobre os renegados, é isso aí vlw.
Spoiler: Respostas aos Comentários
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Capítulo 11 - A Cura ou a Loucura
Como salvar uma mente tão danificada?
(Narrado por Jovem Brand, o Terceiro)
Mergulhei com vontade naquela leitura frenética; era a forma que eu tinha de manter afastados de mim as preocupações. Estava incerto acerca do paradeiro de Ireas e Emulov, temia pela vida de Wind e aguardava por notícias de Jack, que nos havia deixado semanas antes para resolver assuntos na Baía da Liberdade. Tanto ele quanto Icel não me deram retorno, e isso já estava me preocupando demais.
— Brand! — Uma voz feminina me chamou.
Ergui minha cabeça em direção ao som, e vi Djema sair da escadaria secreta com Wind em suas costas. Yumi materializou-se logo em seguida, preocupadíssima.
— Ele está em um péssimo estado... — Disse a Djinn tristemente — Consegui acalmá-lo, mas creio que não poderei curá-lo.
— Como?! — Indaguei, chocado. — Está dizendo que a sanidade de Wind jamais voltará?! Tem que haver algo que você possa fazer!
— A mente é um território desconhecido para muitas pessoas, Brand. — Interveio Djema calmamente — Vamos com calma. Deve haver algo em meus arquivos que deverá...
De repente, ouvimos um urro animalesco vindo do canto da sala — Wind despertara com uma fúria que não sabia de onde vinha. Seus olhos estavam avermelhados; sua pele estava acizentada, e ele aparentava estar mais magro, como alguém bem doente e desnutrido. Seus dentes estavam afiados e arreganhados, como um lobo que assim o faz para intimidar seu adversário.
— Wind, tenha calma. Sou eu, Brand. — Disse calma e firmemente, buscando trazer-lhe à razão.
Ele não quis nem me escutar; correu em minha direção, urrando como louco; ele acabou por chocar-se comigo, levando-me brutalmente ao chão. Suas mãos, apesar de mais pálidas e finas, continuavam fortes como as patas e um urso. Uma das mãos dele estava em meu pescoço, e ele tentava me sufocar. A outra mão segurava meu ombro esquerdo, impedindo-me de levantar. Ele parecia uma besta, não era o Yalahari que outrora conheci.
Tentei erguer meu braço direito, o qual eu havia cerrado o punho, socando Wind com toda a força de que dispunha; meu soco fora eficaz, e consegui afastá-lo de mim, respirando normalmente outra vez. Fiquei de joelhos enquanto observava Wind levantar-se rapidamente e investir novamente. Franzi meu cenho e cerrei meus olhos.
— "Exori San"! — Urrei, torcendo pelo melhor.
Ergui minha mão esquerda rapidamente e disparei uma rajada branca e dourada no formato de um ankh em direção a Wind, o qual fora atingido e momentaneamente crucificado, urrando de dor enquanto a cruz sagrada tentava tirar aquela corrupção toda de si. Fitei-o com pena, seriedade e tristeza em um único semblante.
Ainda ajoelha, enquanto ele urrava de dor, entrelacei os dedos de minhas mãos e pus-me a rezar pelos Deuses, fortalecendo os efeitos de meu feitiço, e torcendo para ser a solução para a condição insana de Wind.
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(Narrado por Wind Walker)
Morte. Morte. Definhar, morrer, reviver, matar... Sangue... Morte... Cérebros... Morte aos Cérebros...
Um borrão, tudo cinza. Só via raios brancos passando eventualmente por minhas retinas.
Ouvia vozes, vozes femininas, estranhas para mim. Mas também havia outra voz... Brand...
A dor era lacinante; o cinza voltou, junto com o vermelho do sangue. Sangue... Cérebros... Morte... Morte!
Urrei de dor; senti uma onda destrutiva e construtiva de energia passar por meu corpo. O cinza se estava esvaindo. A cor de sangue estava sumindo... E pensar nunca havia se tornado algo tão leve novamente...
Morte...Cérebros... Morte aos Cérebros... Morte... Morte...
Meus olhos estavam cerrados, e minha mente desenhava um cenário para mim. Havia um rio, límpido e cristalino, serpenteando uma linda clareira. Cervos, coelhos, esquilos e outras criaturas da relva caminhavam pacificamente por lá. Entre eles, reconheci Ireas na beira do lago, bebendo das águas limpas e puras daquele rio. Que visão maravilhosa...
— Ireas... — Sussurrei de olhos cerrados, entreabrindo um sorriso em meus lábios.
Meus olhos se abriram lentamente, e me vi de joelhos, encarando Brand, Yumi e uma outra desconhecida. Sondei o local com ares perdidos, sem saber onde estava... E nem por quanto tempo permaneci nas trevas de minha mente.
— Onde estou? — Indaguei lentamente,
— Ashta' Daramai — Replicou Brand, sentando-se ao meu lado — Yumi nos trouxe até aqui. Não fosse ela, teríamos morrido no Inferno Vampírico de Drefia. Foi lá que você...
— Morte-Cérebros... — Sussurrei cabisbaixo. Disso eu me lembrava.
— Você salvou minha vida, Walker. — Disse-me o Paladino de cabelos grisalhos — Se você não tivesse lá no Inferno Vampírico comigo, eu não estaria aqui hoje e eu sinto muito que você tenha sofrido os maiores danos.
— Não se desculpe. Sei que faria o mesmo por mim. Somos um time — Repliquei com um sorriso leve e um pouco triste. — E Ireas, onde está? Ele está bem?!
Um silêncio constrangedor tomou conta do recinto; meu coração aflito disparou.
— Infelizmente, não sei... — Respondeu Brand com um largo suspiro. — Desde a tempestade de areia, desconheço seu paradeiro...
Soquei o chão com força, urrando de tristeza e inconformidade.
— Que droga! — Rugi, frustrado — Eu falhei em protegê-lo!
— Acalme-se! — Falou Brand — Tenho certeza que...
Levantei minha cabeça, e meus olhos encontraram os olhos prateados de Yumi. Aquelas marcas azuis... Ela era uma Marid! Meu sangue ferveu — eu já havia entendido.
— Foi você! — Rugi para Yumi, levantando-me lentamente — Foi você que criou aquela armadilha e dividiu nosso grupo! Diga-me onde está Ireas ou farei de seu corpo nada além de poeira!
Brand tomou a iniciativa de frear-me, segurando-me pelos ombros.
— Não foi ela! — Ele protestou — Foi outro... O irmão gêmeo de Yumi... Yami, o Primeiro!
Eu parei, com os olhos arregalados.
— Yami é... Um Djinn? — Indaguei, surpreso.
— Um Efreet. — Replicou Brand secamente — Foi ele que armou esse embuste... Contudo...
Ele me mostra um livro de capa rubra.
— ... Se ele não tivesse feito isso, jamais teríamos achado isso: um dos Nove Tomos Pessoais da mãe de Ireas.
— Isso é... Da mãe de Ireas?! — Eu estava perplexo.
— Sim, e ela se auto denomina Esquecimento Eterno — Informou-me Brand — Os outros oito estão espalhados pelo resto do mundo. Se encontrarmos todos...
— ... Meu bem-querer terá suas respostas! — Concluí com um sorriso.
— Tenham cuidado... — Advertiu-nos a bibliotecária — Esquecimento logo ficará sabendo que alguém reencontrou um de seus Tomos. A partir de hoje, creiam em mim, nenhum lugar mais será seguro.
Brand assentiu, sério.
— Teremos cuidado, Djema. Já enfrentamos muitos perigos, e estamos cientes de que não serão missões fáceis. Agradeço mais uma vez por sua hospitalidade, e por nos ter salvo a vida. Contudo, não poderemos permanecer aqui... Espero que entenda.
— Infelizmente compreendo, servo de Malor... — Assentiu Djema tristemente — Algum dia, quando essa guerra cessar... Volte. — A última palavra fora dita em um triste sussurro.
Vi Brand assentir com as faces vermelhas. Yumi bateu palmas duas vezes forte e lentamente; em frações de segundo, estávamos fora de Ashta' Daramai.
— É uma pena... — Suspirou a moça — Creio que Ireas e Emulov estiveram aqui... sinto os rastros do gelo que aquele druida conjura no ar...
— Ele escolheu um lado... — Disse em um tom reflexivo — Bom, agora já foi. Brand, vamos esperar por eles em Ankrahmun. Com certeza, voltarão para a cidade após encerrarem as missões em favor dos Marid.
— Tem certeza? — Indagou Brand, sabendo de meu receio.
— Não há o que se fazer — Repliquei, sério — Por mais que eu esteja aflito, por mais que meu coração esteja em descompasso e que não saibamos por onde começar a busca... Eu esperarei. Depois de Ireas ter feito isso por mim enquanto enfrentávamos Morgaroth, é justo que eu faça isso agora...
Saímos de Ashta' Daramai e partimos em direção a Ankrahmun. Tínhamos uma nova missão agora. Apenas Oito Tomos nos separavam da mãe de Ireas...
Continua...
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E a Saga tá tomando um rumo novo!
Opinem, comentem! Seus pareceres são muito bem-vindos!
Saudações,
Iridium
Fala aí, iri. Mals aí não ter comentado antes, sacumé... Problemas :smile:
Gostei dos dois capítulos, fiquei feliz pelo Ireas ter escolhido o lado Marid, os carinhas são gentis e compram mais coisas, se não me engano. E são o lado correto da força.
Já este novo capítulo foi até meio tenso, não sabia que braindeaths eram capazes de tal estrago, Wind se ferrou legal com eles, só faltava virar um tipo de... Yalahargun.(Entendedores entenderão) Mas por sorte ele se livrou da maldição dos braindeaths, que foi muuuito esquisito. "Morte morte cérebro". Wtf ._.
O novo rumo que a história tá tomando tá ficando beeem bacana! Espero que chegue logo na parte decisiva onde acham todos os Tomos e batalham com a mãe capeta do Ireas. Aliás, anteriormente você tinha me dito que meu personagem Mesaros cairia bem na sua história, então pensei em um momento bom pra ele aparecer. Podemos nos falar por face mesmo pra ver isso melhor. :D
Só isso Iri, aguardo próximo capítulo.
~Carlos