Acho que já conversamos sobre isso em algum ponto do tópico mas uma distinção importante sobre como perceber a política no país é não ser otário e entender que: nem todo absolvido é inocente, nem todo condenado é culpado, muitos desvios sequer são alvo de inquérito e tem gente roubando, que todo mundo imagina (ou até efetivamente sabe) mas que nunca foi pego. Política é lugar de poder e o poder move montanhas. Nesse sentido, como cidadão, quando analisamos qualquer político, qualquer governo, vale a antiga frase: não basta o cara ser honesto, ele tem que parecer honesto.
Quando o sítio de Atibaia do Lula foi filmado pelo helicóptero do Fantástico mostrando os pedalinhos com os nomes dos netos, quando fotos do interior com porta-retratos da família Lula, quando depoimento de caseiro dizendo que o Lula passava fins de semana no sítio, enfim, quando a denúncia sobre o imóvel apareceu, sequer existia processo. Sequer existia qualquer tipo de prova documental de que o imóvel era do cara, apenas uma delação que pouco tempo depois o delator alegou que foi coagido. Mas mesmo assim, a opinião pública encaixou as peças e, politicamente, a figura do Lula foi associada a corrupção. Afinal, o que tem rabo de burro, orelha de burro, pé de burro, cabeça de burro e não é um burro?
O que acontece com o Bolsonaro é a mesma coisa. Pode ser que um dia a justiça investigue e descubra vastos indícios desses crimes (e muitos vão dizer "eu avisei"). Pode ser que processos morram simplesmente por questões políticas. Pode ser que o delegado amigo não indicie, o MP amigo não ofereça denúncia e o Tribunal arquive. Justiça condenar ou justiça absolver, no Brasil, não significa nada. O Maluf, o Sarney, o Renan Calheiros e tantos outros estão aí até hoje para provar isso. Ou você realmente acha que todos esses não tem seus esquemas, que não podem ser efetivamente corruptos? O processo do Lula acaba de ser anulado. Você acha que isso faz dele inocente? Só que, para o cidadão normal que tem o mínimo de discernimento, o mínimo de pensamento crítico e não é servo de político, a desconfiança é o sentimento mínimo esperado. Rachadinha, funcionário fantasma e gasto superfaturado é expediente comum na política brasileira (e mais ainda da carioca), você tem indícios que associam o Bolsonaro a isso, seria inocente achar que o cara é um santo no meio de tanto lixo.
Eu não sou purista, eu não espero que políticos sejam pessoas puras, sem defeitos e totalmente honestas. Principalmente no Brasil. Por isso mesmo o que me estranha é ver pessoas defendendo político X porque ele não foi indiciado pela polícia que ele controla, por não ter sido oferecida a denuncia pelo desembargador que é amigo da família e pelo processo não ter seguimento pelo procurador indicado por esse cara.
Eu realmente acredito que tudo precisa ser investigado, que provas robustas são necessárias para a esfera criminal e que tirar um presidente necessita de elementos legais sólidos, não os vapores que estão sendo veiculados nas últimas duas semanas (mas sim, por exemplo, uma provada incompetência de um líder que tira a vida de milhares de pessoas). Mas o mundo da política não é o mundo que eu acredito.
Enfim, fico com a única frase coerente que um dos filhotes do presidente já disse:
https://pbs.twimg.com/media/D1eBKztW...jpg&name=small
Talvez esse seja o maior engano. O "povão" SEMPRE engoliu a narrativa. O povão não liga para o Lobo, na real ele elege o Lobo. Olha o nosso Congresso, que tem desde presidente impichado, trambiqueiro conhecido, ator pornô convertido (e desconvertido de novo), gente que já bateu na mulher, gente investigada por desvios grandes e vários nomes que ocupavam planilhas de corrupção a pouco tempo atrás. O Lula foi eleito depois do Mensalão, a Dilma foi reeleita sem ter feito absolutamente nenhuma reforma prometida, o Bolsonaro foi eleito se dizendo a "nova política" tendo sido deputado por 28 anos, a maioria desses nos partidos conhecidamente mais corruptos do país. A real é que é um país de otários. Bolsonaro perder a eleição ou ser deposto por rachadinha não provada ou golpe de vacina mal-explicado seria o natural, não o excepcional.

