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dando continuidade às disputas, vamos agora aos textos da @Iridium e do @Mano Mendigo
bora!Zalamon havia acabado de passar as instruções para seus soldados quando cheguei à sala. Já estavam se preparando para sair quando seu instrutor terminou de orientá-los:
– Não zze ezzquezam, nozza vitória na guerra depende da batalha de vocêz.. Tragam-me a caixa de armazz, e ajudem nozzoz camaradaz que eztão prezoz lá.
O jovem casal apenas concordou e saiu. Zalamon dava voltas pelo aposento, quando percebeu que eu havia chegado.
– Boruzz, zzua vizita é pertinente e oportuna, não gostaria de acompanha-lozz? Tenho certeza de que com zua presenza meuz guerreiros terão maior facilidade em obter o que preciso...
– Não. – comecei – Há coisas mais importantes que devo fazer aqui.
Pois bem, tendo como base o texto incentivador acima, @Iridium e @Mano Mendigo devem atender ao pedido de Zalamon, ajudando os rebeldes com os suprimentos e roubando a caixa de armas. Tomem cuidado! Os Lizards de Chaochai não possuem o mesmo senso de misericórdia dos encontrados em Chor!
Spoiler: Texto 01“E cá estamos, irmã. Diga-me – nao é um lugar amável?” , Maya se posicionava no cume de um rochedo acidentado logo à frente do portal que as levara para o centro do continente mais selvagem que o homem já conheceu – Zao.
Luna então se aproxima, mesmo que relutante, do limite da pedra. A vista, entretanto, a levaria para outra dimensão – os grandes Lagartos aos quais ela só ouvia falar estavam ali, vívidos, diante de uma vasta e diversa flora. O Sol escaldante reluzia na armadura cromada de sua companheira e requintava a já bela vista:
“Realmente, este lugar... Ele é lindo.” - Luna continuava a observar um grupo de Lagartos da guarda-real cercando uma matilha de Cães selvagens, fadados ao iminente abate, principalmente por não estarem em vantagem numérica.
Maya, todavia, espreitava por entre seu Elmo o trajeto a qual deveriam percorrer – afinal de contas, já esteve ali antes. Enquanto isso, os Lagartos lançavam-se ao ataque – e, com sucesso – conseguiriam suas jantas para aquela noite.
“Todos eles são assim, hostis?” – Luna pergunta em tom distante e de certa forma inocente, ainda perplexa com o que acabara de ver.
Maya se volta à sua companheira, fitando-a como se estivesse se esforçando a achar uma resposta à altura:
“Há quem diga que existam, assim como qualquer tribo que me recordo neste mundo caótico em que vivemos, duas facções.” – Maya torna-se a observar o vasto e árido campo que cercava parte de uma pequena tribo de Orcs, não muito longe do abrigo subterrâneo dos Cães selvagens. – “Lembro-me da primeira e única vez que estive aqui, me deparei com um continente harmonioso e pacífco, onde havia apenas uma ameaça iminente e sedenta por caos e desordem.”
“E qual ameaça seria essa?” – Perguntava a jovem paladina.
“Nós, bobinha. A quem mais nós machucaríamos senão nós mesmos?”
Luna semicerra seus olhos verdes, torcendo levemente seu pescoço:
“Mas... não faz sentido, como nós apenas nos machucamos se também machucamos aos outros? – Ao perceber que a guerreira nem a ouvira, continua – V...ocê e seus vislumbres, não é mesmo?
Maya, desvirtuando-se da vista por um instante, retruca:
“Ainda assim, vejo mais sentido nesta prosa que em todos os livros de alquimia que fui forçada a ler em minha infância.” – A mesma ria.
“Você não faz sentido... Pelo menos não depois de tomar Hidromel ou... Vislumbrar horizontes.” – Luna conclui, debochada.
Duas mochilas, um escudo cromado e algumas lanças encantadas aguardavam em repouso sob a beira da rocha suas donas, que dali desciam. Logo após a breve conversa, uma checagem dobrada de armas e suprimentos e uma retomada rápida às táticas de combate, ambas já se encontravam prontas para partir. Naturalmente, a mais experiente das duas tomaria a frente, o escudo elegantemente protegendo à todas. Depois de alguns passos e uma localização geográfica impecável, Maya e Luna pisavam em solo selvagem juntas pela primeira vez.
~~
Maya não poderia sequer seguir em frente sem ao menos dissertar sobre as criaturas do continente, os ímpares de uma terra tão distante de sua terra, e como fora sua expedição ao local – anos atrás, feita por aventureiros como ela. Luna ouvia com afinco cada palavra dita, tentando acreditar que talvez o perigo iminente sentido por ela fosse um prelúdio de algo, de certa forma, positivo – e não de um terrível fim, como seu lado medroso gostava de pensar. Minutos de uma caminhada pacífica e abundante de conversas fizeram Maya recolher seu escudo e espada: “Talvez dessa vez a jornada seja mais tranquila”, pensava. A empolgação de ambas, entretanto, se esvaía à medida que adentravam ao terreno mais hostil. “Parece-me que estas eram casas”, pensava a paladina ao ver escombros por todo onde. Luna já empunhava uma de suas lanças, mas Maya ainda se encontrava desarmada, até começar a enxergar brasões negros cravados à sua frente. Cessou-se a caminhada - o barulho que então advinha de passos em um trilha de folhas secas e armaduras rangendo deram espaço ao silêncio tenebroso de um fim de tarde ensolarado. “Esses brasões... Não estavam aqui antes.”, pensava a Guerreira, que também começara a perceber os escombros de uma possível vila. Em subsequência, o silêncio é cortado por mais ranger de armaduras – que, desta vez, não pertenciam à elas.
Ambas se juntaram, costa-a-costa, cada uma a ver um horizonte diferente. Pyro, que até então repousava em sua bainha, agora ocupava a mão esquerda de sua detentora.
“Vê algo, Luna?” – Uma voz firme surgia por detrás da Paladina, que espiava por entre os escombros cercados por grandes e milenares árvores.
“Apenas ouço.”
Uma explosão ilumina o céu, interrompendo a réplica de Maya e agitando as folhas que até então formavam uma trilha por entre a suposta vila em destroços. O ranger de armaduras se transformavam em grunidos e metal-contra-metal, o que fez Luna, de imediato, se preparar para o ataque – porém ao se mover, é puxada pela Guerreira. Sem dizer palavra, as duas se abstém do confronto ao se esconderem atrás de uma finada casa de madeira. “Estão lutando entre si”, explica Maya, “Algo aconteceu aqui, como se... alguém tomasse o poder.”
“Algum tirano?”, deduz a paladina. Maya, ao levantar seu braço, convida a parceira a olhar ao seu redor, os brasões ainda enfeitando uma vista não tão favorável.
“Será? Fica aí a dúvida”, completa Maya.
Luna resmunga, porém é novamente interrompida por mais um estrondo.
“Vamos ajudar, Maya”, retoma a jovem, ainda com a lança em mãos, mesmo que agachada.
“Ajudar a quem? Não conhecemos ninguém, não sabemos de nada! Vamos seguir caminho!”
A resposta pega Luna de surpresa, que logo se conforma.
“Tem razão, vamos indo.”
As duas então seguem por fora da trilha, tomando o devido cuidado para não pisar em algo que denunciasse suas posições. Explosões e gritos distantes não paravam de ser ouvidos.
“Não era a sensação de aventura seu único motivo por querer vir para cá? Pois bem, ag...”
“Agora não Maya, agora não” - retruca Luna, tentando equilibrar um tom assertivo no menor volume possível. Maya ficara assustada com a reação atípica de sua companheira.
“Desculpa... É o medo.” – completa a Paladina.
“Pois trate de usar esse med..”
“Shhhh.”
Maya semicerra seus olhos – mas não pela resposta. Onde estavam era, aparantemente, o limite da vila - estavam atrás dos escombros da última casa. Em sua esquerda, a uma distância considerável, jazia uma ponte que levaria para o que seria, aparantemente, uma outra vila – por sua vez intacta. Os estrondos também cessaram, o que explicava a feição de alívio de Luna. Ao desviar olhares da vila para um pouco mais perto – ainda em sentido oeste - algo na trilha da vila intrigou-a: Um Lagarto, com roupas queimadas e um cajado aparentemente quebrado ao meio, rastejava em direção norte, seguindo a trilha. Ao observar mais atentamente, notava-se que o mesmo perdera uma perna e sua cauda, o que o deixava a sangrar em demasiado.
“Talvez agora seja uma boa hora de ajudá-los...lo.” – Maya apontava para o Lagarto acidentado.
Luna arregala os olhos, ora observando a criatura, ora encarando sua amiga.
“V..Vamos. Vamos!” – A lança agora dançava por entre suas mãos, mostrando grande habilidade de manuseio.
Ambas de deslocam dali, porém Maya interrompe novamente o andamento:
“E se for uma cilada?”, pondera a mesma.
“Você mesmo me disse que estes não são humanos”, Luna disserta, “criaturas do tipo são as quais eu realmente confio agora.”
Maya se limita a assentir, e ambas correm até o Lagarto, que ao observá-las, se apronta a tampar o rosto com suas mãos. Luna rapidamente abre sua mochila e apanha um pano branco, visando estancar o sangramento. Ao se aproximarem, nenhuma palavra é dita, e as duas começam os trabalhos.
“Talvez isso seja melhor”, aponta Maya, com Pyro em mãos, a espada flamejante, “vai estancar em definitivo.”
Ao passar Pyro por entre o resquício da perna do Lagarto, o mesmo arregala os olhos, tentando falar algo. A queimadura surte efeito e de certa forma cessa o sangue, impressionando Luna. O Lagarto, enfim, consegue falar.
“Vozzz...ezzzzz..... Zzzzzaaalll..... Avizz....”, o mesmo se esforça a continuar, “Zzzzzz...ala...mo....n” – Até que finalmente se limita a bater com a cabeça na terra, sem vida. “Por que todo mundo têm que morrer bem nessa hora?”, pensavam as duas.
”Ele poderia ter morrido à vontade... Depois de terminar seu raciocínio, se é que tinha um.” – Desabafa Maya, levantando-se do chão.
Luna dá de ombros.
“Ele citou algum nome, não? Zalamon, se mal me engano.” – Disserta a mais jovem.
“Seja lá o que for, era para lá que ele rumava” – ambas observavam o norte – “e é para lá que vamos agora.”
As duas consentem em seguir em frente, e assim o fazem. O dia agora dava lugar à noite, formando um lindo espetáculo da natureza. De relance, Maya torna à olhar para a ponte, distraidamente. Desta vez Soldados Lagartos se despusiam por entre a mesma, fardados de preto e em posse de uma grande Lança vermelha de ponta dupla. Alguns guardavam território, enquanto outros pareciam fazer... outra coisa. A guerreira não conseguia enxergar, pois já se distanciara um pouco – porém se sentia na obrigação de saber o que se passava - afinal de contas - ninguém habitava o lugar anteriormente.
“Irmã...”,começa Maya, “eu deixei algumas poções ao lado do Lagarto, voltarei para pegá-las, certo? - Luna responderia, mas logo é cortada – “Fique por aí, tudo bem?” – Completa a mais velha.
Luna asserte, confusa.
Maya então corre em direção ao lugar cuja a vista da ponte melhor se mostraria. Ao chegar no corpo, a mesma volta a observar a movimentação no rio, semicerrando seus olhos. Segundos bastaram para que Maya deixasse sua espada escorregar das mãos, que porventura se contrairíam – os Soldados despejavam corpos de outros Lagartos, já mortos, no rio que cortava a ponte. Dois, três, quatro corpos. “Não pode ser”, pensava a guerreira. Estupefata, ela se limita a recolher Pyro e voltar à sua parceira.
“Está tudo bem, irmã?”, questiona Luna, ao ver sua amiga empalecida.
Maya asserte.
“Eu não havia esquecido nada lá... F-foi um erro...”
“Não se preocupe, irmã”, diz Luna, sorridente, tapeando o ombro da companheira – “a idade chega para todos nós.”
“Chega mesmo, a não ser que este “nós” fique por aqui de conversa”, Maya retruca, mais aliviada, “rumo ao norte, garotinha.”
“Rumo ao norte, garotona.”
~~
Alguns poucos Cães selvagens e um Orc aparantemente deslocado de seu território foram os únicos impecílios de uma caminhada curta e de certa forma prazerosa. Porém à medida que a floresta ficava mais densa, mais as duas se desprendiam do senso de direção. Maya se encarregara de trilhar caminho com seu Machete, enquanto Luna as resguardava com uma afiada e encantada Lança – pronta para uso. Mata adentro, uma atípica luz jazia por entre árvores de bambu e folhas secas. Cessa-se novamente a silenciosa e escura caminhada – as duas se entreolham. Maya coloca a mão sobre a bainha, mas logo lembra que uma espada flamejante provavelmente denunciaria suas posições, e logo desiste. Luna então tomara a frente na íngreme trilha por entre a floresta de bambus, a lança junta à seu corpo, apontada para a primeira ameaça que aparecer.
“Me parece...”, Luna se esforça para espiar, agora que perto do destino, “uma escada, talvez?”
Maya se inclina.
“Uma escada? Tem certeza?”
A paladina se aproxima, agora agachada.
“Agora tenho, e... Esta luz advém de piras por entre a mesma, consigo ver claramente” – Luna apontava para as piras com sua lança.
A guerreira desprende seu Escudo cromado e dá alguns passos a frente, se aproximando da escada.
“Atrás de mim, mocinha.”
Luna asserte, e ambas contornam a escada que dava para o subsolo, tentando obter visão. Maya não conseguia enxergar plenamente com seu Escudo à frente, mas podia ver um pátio plano – nada rústico, ou selvagem. A mesma acena, e ambas começam a, lentamente, descer. Um, dois, três degraus, e o quarto jazia mal iluminado e sem movimentação. Luna se esgueirava por entre às beiras da escada, tentando obter visão de alguma criatura, mas nada via. Cinco, seis, sete dregraus, e estavam em solo firme. Luna rapidamente empunha sua tocha, e então a acende na única pira do quarto. Ainda em silêncio, ambas observavam o que seria quatro portas cercando o salão – todas fechadas. Da porta da frente, entretanto, advinha um barulho familiar... Um rastejar de caudas, uma inquietação – era para lá que Maya apontava, agora protegida por seu Escudo.
“Vamos”, a mesma afirmava.
Luna Asserte, e assim se aproximam da porta. À medida que Maya girava a maçaneta, o pátio então escuro se iluminava. Um corredor estreito dava acesso ao que seria um outro pátio, e ambas adentram, concreto a frente. A inquietação aumentava, e Pyro é desembainhada novamente. A lança dançava por entre os dedos de Luna, ambas estavam prontas.
E enfim a sala se mostra, e dela – uma figura clara para a sua raça, envelhecida e aparentemente frágil – apenas portando uma fina Lança – levanta de sua meditação, e observa as forasteiras. Pyro corria inquieta por entre os dedos de Maya, enquanto o escudo lentamente se abrandava.
Zalamon, por fim, apoia a lança em seu mesanino e lentamente levanta seus finos braços.
“Pazzzzzz,”, Maya e Luna se entreolham, “Que ezzztejam aqui por pazzz.”
Pyro é, ainda sob ares de tensão, embainhada novamente. O Velho Lagarto ri.
“Vozzezzz zzzão novazzz neste continente, não zzzão?” – Maya asserte, apreensiva – “Poizzz bem, zzzentem-se um pouco.” Zalamon apontava para um par de cadeiras repousadas no canto da sala, fitando Maya – que retribuía o olhar do Lagarto – porém já se direcionando aos assentos assim como Luna o fazia.
“Ezziste uma guerra lá fora”, Zalamon começa, “Uma guerra que nozzo povo ezztá aoz poucozz perdendo.”
“Quem é seu povo? E quem são seus inimigos?”, questiona Luna ao velho.
Maya apenas observa.
“Ozz Zzelvagens de Chaochai, nozzos ingratos irmãos.. Zzedentozz por zzangue, por terra, zzempre querem maizz.” - Zalamon faz uma pequena pausa, lamentando – “E nózz, Chorianozz, obzervamozz nozzza terra ser uzzurpada por nozzozz própiozz irmãozz.”
Uma onda de silêncio paira sobre a sala, e logo Zalamon se aproxima mais das duas guerreiras.
“Precizzo de ajuda, zzoldados para ezzza batalha, meuzz irmãos ezztão morrendo lá fora” – O tom que antes era de assertidão passa a melancolizar-se. Zalamon dá voltas na pequena sala, a cauda agitada e as mãos para trás – “prezzizzo enfiltrá-lozzz.”
Maya se levanta, comovida.
“Podemos ajudá-lo, mesmo não sendo... Suas soldadas?”
Zalamon encontra-se pensativo, andando mais agitadamente por entre a sala.
“Humanozz não pode zze aliar, Boruzz se zzangaria...” – Ambas olhavam confusas para o Lagarto, e ele percebera – “Boruzz é meu maizz fiel Zzoldado, o maizz forte. Porém eu tenho uma ideia – mazz antezz permitam-me contar meu plano.”
O velho parara de andar, e agora fitava ambas, que, no canto da sala, pensavam entre si. Maya responde.
“Vá em frente.”
“Poizz bem, todozz ezzezz anozz de atividade mágica me enzzinaram algunzz truquezz... Mazz antezz, o plano.”
~~
Vários minutos se passaram desde que Zalamon começara a dizer seus planos às garotas. As mesmas se encontravam prontas para a missão.
“... Mazz Boruzz recuzzará o convite, afinal de contazz ele acabara de chegar no continente, e o mezzmo tem afazerezz a ser- “– Um ranger de portas pegava à todos de supresa, e a luz do corredor externo iluminava mais um pouco a sala, Zalamon muda completamente o tom e o caminho da conversa – “N-Não zze ezzquezam, nozza vitória na guerra depende da batalha de vocêzz.. Tragam-me a caixa de armazz, e ajudem nozzozz camaradazz que ezztão prezzozz lá.”
Maya e Luna evitavam se olhar ao máximo, e o medo fora instaurado de vez quando avistaram um Lagarto negro, portando um redondo Escudo de escamas em suas costas, com uma grande e sangrenta Lança dupla em mãos. Ao continuarem inertes, Zalamon eloquentemente as conduz para a saída, enquanto Boruzz repousava sua arma no canto da sala. As duas saem, e a porta se fecha – o pânico era evidente.
“Minhazz...” – Luna para, e tenta novamente – “Minhazzz...” – A tentativa falha – “Não conzzzigo falar, e minhazzz mãozzz...”
O pânico se convertera em um choro copioso, Maya tentava acalmá-la.
“Veja bem, ele nozz dizzze que é temporário, vai acabar em inzztantezz. Vozzê não vai zzer uma Lagartona para zzempre, e nozzozz pertencezz logo não ficarão mais invizzíveizz.”, Maya assertia, de certa forma se divertindo com a situação, porém ainda transparecendo comoção.
Era certamente uma noite linda – iluminada por inúmeras estrelas, sendo a Lua a mais brilhante. As duas humanas metamorfizadas já se encontravam em terra firme, e ainda desconfortáveis com a situação marchavam desajeitadamente em direção à Mata. “Essa cauda pesa demais, não consigo andar direito!”, pensava Luna, enquanto Maya se esforçava para andar com seu novo par de pés. Seus pertences, invisíveis em suas costas, guardavam a tão preciosa tocha que as ajudaria imensamente – porém o novor par de olhos as beneficiava à noite, tudo parecia mais... Visível. Ainda marchando em frente, aos poucos um incômodo – o mesmo que sentiram quando foram transformadas – acontecia simultâneamente entre as duas. Ao passo que duas mochilas, uma Espada, bainha, um escudo preso à uma cinta e Lanças em uma Baga voltavam da invisibilidade, Maya e Luna lentamente voltavam a ser Maya e Luna.
“Viu? Falei para não se preocupar, aquele parece saber o que faz”, comentava Maya, olhando para uma Luna já humana. “Não estou preocupada com isso”, apontava a Paladina, “Só quero saber como nós passaremos por aquela ponte... Mesmo que inabitada.”
Maya se encolhe.
“Agora que já passamos por esta Mata horrenda, podemos voltar para a tribo em ruínas e de lá observar uma forma de infiltrarmos a outra vila”, a guerreira ainda relutava em contar o que vira, e continuava a omitir tal informação ,“ veja, a trilha está com luz o suficiente para enxergarmos tudo ao nosso redor... Pegue sua Lança e vamos até lá.”
“Parece uma boa ideia..”, asserte uma Luna que tentava esconder seu intenso medo por detrás de uma expressão dura e corajosa. Ambas começavam a se armar novamente, continuando o trajeto à citadela.
Maya, entretanto, continuava a se sentir culpada, mas temia a reação de sua amiga e companheira por já a conhecer e saber de seu medo internalizado.
“Acho que vai ser bem tranquilo, irmã”, Começa Maya. “Lembra-te daquela Runa de Explosão que tenho aqui na mochila? Pois bem, se algo der errado, iremos explodir tudo!” – A guerreira forçava um riso, mexendo com o cabelo solto de Luna, que por sua vez não se manifestou da forma como Maya gostaria.
“Kaboom”, murmurava a jovem, simulando uma explosão com as mãos.
Seu comentário foi o único som que cortava o silêncio da noite, e dali para frente o único barulho que se ouvia era o de passos em folhas secas cobertas por terra – certamente não chovia há muito naquele lugar. Instantes se passaram de forma rápida, e um novo horizonte jazia para ambas – logo em frente, ruínas de casas queimadas até o chão. Acima das ruínas, em uma distância média, um rio cortando parte do continente corria calmamente, deixando um outro aglomerado de construções isolados – se não fosse por uma ponte de madeira, propositalmente frágil e não muito grande. Por mais que o lugar estivesse iluminado com pequenas piras aqui e ali, a cena se repetia – pouco conseguia se ver dali, a distância não ajudava. O que separava os dois aglomerados de construções era um campo judiado pela seca, porém bonito como só ele. Plano, com bambús e pequenas árvores, parecia um grande quintal de recreação. Grandes pedaços de pedras acidentadas também decoravam o lugar, e Maya viu nisso uma ideia.
“Acho melhor prosseguirmos mais afundo, mas não desprotegidas. Este campo aberto não nos favorece caso algo apareça contra nós... Que tal corrermos até aquela rocha para observarmos melhor a ponte?”, questionava Maya.
“Correr?” – Luna lamentava por carregar mais de uma Lança nesta ocasião – “Tem certeza?”
Maya a fitava furiosamente
“Tudo bem, tudo bem. Vamos logo com isso.”, resmungava a Paladina.
“No três nós corremos.... TRÊS!”
Maya dispara com todos seus aparatos em direção à pedra mas Luna continuava parada, sem entender. Ao perceber que sua amiga não a acompanhava, a Guerreira se vira para ver onde estava e...
“Pelo amor de Fardos, MAYA!”
A mesma caía miseravelmente no chão, a mochila já desprendida do corpo despejara itens por todo o lugar. Luna se move com velocidade até a amiga.
“Não se olha para trás em uma corrida, regra básica da vida”, comenta Luna enquanto recolhe os itens de sua amiga.
“A pedr... Ai. A pedra está log..o à frente. Ai.”
Luna conseguira resgatar todos os itens, inclusive a runa que por sorte não explodiu.
“Ah sim, com certeza. A pedra.”
Agora ajudando Maya a se levantar, ambas se projetam por detrás de uma rocha acidentada que serviria como um ponto de observação seguro, conseguia-se ver melhor dali. Maya, encostada, esgueirava-se para ver algo da ponte, e seus temores se confirmariam – Lagartos armados continuavam a fazer uma guarda na ponte, com dois em cada ponta. Sua concentração em ver aquilo, entretanto, foi interrompida por uma cutucada em sua armadura – era Luna.
“E..eu pensei qu...”
Uma lança finca-se na pedra. Maya empurra Luna para o chão e se levanta rapidamente.
“PROTEJA-SE! VOCÊ ESTÁ DESARMAD..!”
Mais uma lança encontra seu alvo – desta vez, a Armadura Cromada da guerreira. Maya tateia a bainha por Pyro, mas não a encontra. O plano então se torna usar o Escudo, que repousava sob a pedra. Em um rápido movimento, a mesma consegue tomar posse do Escudo Cromado, e agora conseguia ver seus inimigos: dois Lagartos robustos, de escama Negra e dentes amarelos e afiados, vindos da vila destruída. Suas Lanças eram decoradas com penas de um Animal então desconhecido, o metal afiado da ponta brilhava mais que qualquer artefato por perto. Ambos projetavam seus ataques em direção à Maya, que lentamente se aproximava com seu escudo, mesmo sem sua Espada. As Lanças já apontadas, entretanto, não foram usadas – um movimento abrupto por detrás dos inimigos os desconcentraram. Luna acerta o peito de um deles com sua arma, que atravessa suas escamas. Sem armadura e apenas com uma Enchanted em mãos, a Paladina não teve dificuldade em rolar pelo chão até chegar ao lado do segundo Lagarto, que tentara um golpe terrestre com seu punho, sem sucesso. Ganhando mais tempo, Maya toma impulso e, com o Escudo à frente, empurra o Lagarto ao chão, logo caindo ao lado dele. Agora caída, uma luz no solo chamava sua atenção.
“PYRO!”, gritou a Guerreira, percebendo que sua Espada se encontrava caída à uma distância mínima. Mas seu olhar logo se voltou para o inimigo ao lado, que tentaria fincar sua Lança em seu coração. Com a truculência requesitada para a situação e punhos cerrados, Maya desfere o primeiro golpe na face do Lagarto, que se inclina de dor. Levantando rapidamente, a mesma se apronta em pegá-lo pela armadura e levantá-lo à força, para depois jogá-lo novamente ao chão – isso daria tempo para correr até sua Espada. Enquanto isso, Luna se aproximava do Lagarto ferido lentamente e com Enchanted dançando entre seus dedos. O mesmo se levanta, e se arma novamente. Pegando-a de supresa, o Lagarto se aproxima e começa um combate corpo-a-corpo. O primeiro golpe mirava sua cabeça, mas fora interceptado. Luna então desliza para o lado e tenta golpeá-lo em troca, mas o mesmo consegue rebater o golpe com sua Lança, já preparando o próximo movimento. A paladina recua em dois passos, prevendo o ataque. Impetuosamente, o Inimigo avança com a Lâmina reta em direção ao pescoço de Luna, que teve muito pouco tempo para esquivar-se para o lado, quase que pulando. A dança de lâminas continuava, enquanto mais acima Maya, já em posse de Pyro, travava um embate similar. A luta, entretanto, se fazia entre uma Lança fina projetada para arremesso e uma Espada flamejante. O primeiro Golpe corpo-a-corpo foi interceptado pela Arma do Lagarto, que quebrara instantâneamente em dois pedaços. O mesmo, com rápida reação, joga os pedaços no chão e saca um par de Facas do bolso, tentando um último golpe. Maya teve uma reação ainda mais rápida, e enquanto o mesmo armava-se novamente, Pyro forjava a primeira ferida por entre as escamas do Lagarto, que instantâneamente larga suas Facas e gruni de dor. Maya não pára, e um golpe fatal queima o pescoço do Lagarto, que cai no chão. Pisando em seu peito, por cima do Iminigo, a Guerreira daria ali o golpe de misericórdia, perfurando o coração do Lagarto. Todas suas ações foram movidas pela adrenalina, e julgava-se pelos rápidos batimentos de Maya que tal situação não a fez pensar corretamente. O último olhar do Lagarto, como bem lembra Maya, era de desespero – ela havia esquecido que eles não são, de fato, cem porcento selvagens.
Voltando à realidade e tornando-se para onde Luna estaria, percebe-se que um combate ainda está sendo travado – com sangue derramado no chão. A paladina estava conseguindo rebater os golpes impetuosos do Lagarto, mas sua fragilidade começava a se destacar, e um corte em seu braço advindo de um golpe que não a acertara em cheio já jorrava uma certa quantidade de sangue. A lança estava semirachada ao meio, prestes a quebrar, e seus pés bambeavam constantemente, fazendo-a perder equilíbrio. Mas devido à um erro inimigo, tudo mudara – um erro que poderia ter sido facilmente evitado pelo Lagarto. O mesmo concentra seu próximo ataque na ferida no braço da garota, que por sua vez gira seu corpo para o lado oposto e derruba-o com um rápido empurro. Agora no chão, o Lagarto observava a afiada ponta de Enchanted prestes à ceifar sua vida. Luna distancia a Arma e apronta seu ataque, mas em uma fração de segundos tudo muda – e Pyro intercepta o golpe com uma leve estocada, porém suficiente para partir Enchanted em dois.
Luna não entendia.
“Afaste-se”, diz uma Maya ofegante.
A Guerreira retira seu capacete e uma feição furiosa se mostra, e a mesma se direciona para o Lagarto, que arregalava seu olhos diante da situação.
Pyro é levantada, e um golpe solene e impetuoso encontra seu alvo... O solo. A Espada repousava, fincada, ao lado do rosto do Lagarto. O mesmo não se atreve à olhar para o lado.
“Você vem comigo.”, Maya vocifera enquanto arrasta o Lagarto, já rendido, até a rocha. Chegando lá, a mesma o encosta na pedra, e o primeiro soco é desferido sem ressentimentos. Após mais uma ajustada, o segundo soco é dado na outra face.
“Será que este lindo presente da natureza tem um nome?”, começa Maya sutilmente, “DIGA-ME, VOCÊ TEM UM NOME OU NÃO TEM UM NOME?”
Luna dá mais dois passos para trás, assustada. O Lagarto só observa, os olhos ainda arregalados.
“DIGA-ME SEU NOME!”, grita mais uma vez a Guerreira, porém não tão firmemente como antes, claramente desconfortável com a situação.
“D..D..DD..Drark.....” , o Réptil consegue cuspir seu nome depois de muito esforço, junto com um dente.
“Muito bem Drark, você fala”, começa Maya, “Eu tenho um plano para você continuar vivo... Gostaria de ouví-lo?”
“Zzzimm...”, assertiu Drark, ainda atordoado.
“Bom garoto! Agora me diz, a caixa de armas está em sua posse? Quem comanda você?”, perguntava Maya em um tom assutadoramente brando, acariciando as escamas do Guerrilheiro, cujo os olhos ainda se encontravam arregalados.
“Chozzeenn.. Chozzen, nozzo líder, ezztá dezzaparezzido há tempozz... E zzim, a caixa de armazz ezztá conozzco.”, afirma o Lagarto, quase que melancolicamente.
À esta altura uma Luna confusa e inquieta observa os arredores do lugar, atentando-se a quaisquer movimentos aparentes. Maya continua.
“Isso é bastante interessante para mim, Drark. E os reféns, onde estão?”
Drark se revira, incomodado com a pergunta.
“R-refénzz?”
“Isso”, Maya o espreme contra pedra pelo pescoço, enforcando-o, “Reféns.”
Mesmo depois de solto do suposto enforcamento, o Lagarto continua sem fala.
“Vocês os mataram, não? Vocês mataram os reféns e os jogaram no rio como se não fossem nada, estou certa?
A afirmação pegara Drark de surpresa.
“N-não for-ram ordenzz m-minhazz.... Dezzc-culpe-me...”
“Tudo bem, Drark. Está tudo bem. Agora só mais uma pergunta, e desta eu quero uma resposta concreta. Está pronto?”
O Lagarto asserte, assustado.
“O será que eu encontraria dentro da caixa de armas, e qual seria o tamanho dela?”
Drark pausa rapidamente antes de responder.
“A caixa é... Não muito grande, zzabe? Vozze conzzegueria carregar”, com Maya observando atentamente, o mesmo continua, “o que há dentro eu n-não z-zei... Mazz Chozzen a roubou por um motivo... Deve zzer algo poderozzo.”
“Então a mim interessa”, começa Maya, “o que me leva ao plano! Preparado para escutá-lo? Pois bem,...”
~~
“Maya, tem certeza que este plano vai dar certo? Me parece maluco demais!”
“Maluco demais? Acho a opção mais sensata de longe!”
“Tanto faz, já estamos aqui mesmo... Mas por que você escolheu esta pedra tão pequena para nos escondermos mesmo?”
Maya interrompe a conversa dada em murmúrios para observar a ponte.
“B..em, é o mais próximo que conseguimos chegar sem sermos vistas!”
“E se o Lagarto nos entregar para os guardas, você não acha isso provável?”
“Pertinente este pensamento, irmã... Acho que ele não é louco o suficiente para fazer isso.”
“Tudo bem. E se algum guarda perceber que o outro já está morto?”
“Luna, meu amor... O que importa é eles saírem de onde estão para socorrerem os nossos pobres Lagartos, e aí vamos lá e-“ – Maya conclui com um gesto que simbolizava, provavelmente, uma corrida.
“Tá, mas e se eles não se moverem?”
“Luna, minha querida... Que tal observarmos apenas e torcermos para que dê tudo certo?”
Luna dá de ombros, o que empurra Maya para fora da pedra. A mesma volta rapidamente, sem ser vista. Ambas agora observavam, por detrás da não-tão-grande rocha, a movimentação que se daria logo à frente, enquanto um lindo crepúsculo começava a cerimônia do início de um mais novo dia.
Drark carregava seu irmão de guerra nos braços, claramente se esgotando fisicamente para fazê-lo, os ferimentos forjados por Maya por todo seu corpo o complicava ainda mais no andar – o que era ótimo. Ao chegar perto da margem do rio e também não muito longe da ponte, o Lagarto cai – e é percebido pelos Guardas.
“Veja Luna! Eles estão se olhando, eles o viram!”
“Estou vendo, estou vendo... Mas ser...”
“Eles estão indo até lá! Eu sou um gênio, não sou? Eles estão saindo! Se prepare!”
“Eu queria sentir a mesma emoção que está sentindo agora... E se você continuar gritando eles sairão de lá, sim – mas virão até aqui!”
Maya parece ignorar o que Luna diz, tamanha atenção que a mesma prestava diante da situação. Os quatro Guardas realmente se locomoviam para Oeste até Drark e seu falecido companheiro, o que certamente daria tempo de sobra para ambas.
“Está pronta?”, pergunta Maya. Luna asserte, e então ambas se locomovem pela primeira vez em direção à ponte, agachadas e extremamente atentas. Enquanto se moviam com certa agilidade mesmo que impossibilitadas de correr, obsersavam o plano campo que as cercava, e a única movimentação se dava à Oeste, onde Drark contiuava a atrair a atenção de seus irmãos. O plano corria perfeitamente bem, e dentro de instantes ambas já se encontravam à poucos passos do rio. A guerreira pausa para observar a parte interna da citadela, agora que visível. Com nenhuma ameaça aparente, ambas cruzam a ponte.
Foram segundos de tensão, a mesma rangia a cada passo e a visão periférica se esvaía à medida que avançavam. O plano, entretanto, culminou em sucesso – estavam em terra firme novamente. À frente, uma casa – mas não uma casa qualquer. Uma torre, decorada como Luna nunca antes vira. Um telhado simétrico e desenhado, seguido por luzes em luminárias redondas e vermelhas. A porta era simples e bem conhecida – madeira pura, e uma maçaneta de ferro. Estava entreaberta, convidativa. Pyro é silenciosamente desembainhada, enquanto Luna saca uma de suas últimas Enchanted. O silêncio acompanhava a jornada das aventureiras, visto que tudo parecia calmo mesmo em território inimigo. A citadela era íngreme, estreita e com algumas torres idênticas à primeira. Tinha mais árvores, e dessas árvores flores mais vívidas, que dançavam com o vento pelo ar. Um cenário, Luna imaginara, destoante do resto do continente.
Maya então dá seu primeiro passo para dentro da estrutura. O salão de entrada era simetricamente decorado com pavimentos quadrados, janelas retangulares e estreitas e dentes de Dragão nas paredes, dando uma certa rusticidade ao lugar. Uma mesa forjada com as mais preciosas pedras do continente sustentava uma imponente estátua de vidro, ilustrando o que seria, talvez, o líder daquela tribo. Ao entrar, Luna fecha a porta da torre, que continua a ser iluminada pela luz do dia. Nota-se que haviam duas escadas de mármore – uma para descer e outra para subir. O lugar, quase que claustrofóbico, continuava em silêncio.
“Você não me explicou direito, Maya. Eu ainda não entendi”, questionava a Paladina.
“Precisamos descer, para aí termos calma e discutir mesmo que brevemente o plano”, completa a companheira.
Luna não se agrada com a resposta.
“Não quero descer, este lugar me parece ótimo para conversa. Zalamon nos explicou apenas que precisariamos pegar a caixa de armas, que seus soldados estavam encurralados, mas ele não explicou os porquês.”
Maya se envolve em pensamentos – talvez pensasse o mesmo acerca da situação.
“Ele me pareceu um Leão em pele de Cordeiro, uma figura oca... Sem contar que usou em nós uma magia que eu nunca antes vira por este continente...”
“Nem eu”, completa Maya.
“E-eu não sei irmã, não sei onde a caixa está e os reféns estão mortos, segundo Drark. Deveríamos parar de travar uma luta a qual não sabemos o incentivo da mesma.”
“Você não vê, Luna? Esta cidade era de Zalamon e seu povo, e agora estão todos mortos, e mortos por- por eles!”, Maya apontava para oeste, sugerindo os Lagartos Guerrilheiros, “Agora tenho outro motivo para continuar além da sensação de... aventura.”
Luna se cala por um instante, olhando para o chão, e só responde instantes depois.
“Vamos terminar isso então.”
Maya asserte.
“Seja lá qual for o arsenal deste lugar, têm de estar em subsolo, vamos começar por aqui.”
As jovens Guerreiras então se armam, com Maya empunhando agora seu Escudo em uma mão e Espada em outra, e Luna com Enchanted mirada e afiada. A sala a qual a escada as levaria se encontrava escura, e impossibilitada de ser ilumanada por fogo, pois não havia por perto. Maya então ruma à escuridão, o Escudo a protegendo, e desce os degraus. Luna a acompanha, tentando apagar qualquer pensamento que viesse em sua mente.
Terra firme. E úmida, pegajosa. Um cheiro forte, sala fria e escura – com apenas uma pira acesa à direita das guerreiras. O silêncio, ainda predominante, estranhamente as confortava um pouco mais. Luna pega sua tocha e a acende, iluminando mais o lugar. Maya a acompanha, e também acende sua tocha. Ambas então adentram ao salão. Um verdadeiro arsenal – fileiras e fileiras de estantes com Lanças e Machados decoravam o lugar. Centenas, Maya diria. Milhares, segundo Luna. Sem dizer palavra, as duas adentram em um dos vários corredores, todos iguais, e tentam observar algo peculiar – uma caixa, talvez. Chegando no fim da sala, a mesma não obtinha quaisquer outras entradas e/ou baús – era mais do mesmo. Maya e Luna então voltam, ainda imaginando a magnitude e o poderio do arsenal. Ao subirem novamente, a luz as assusta – mas nenhum sinal inimigo ainda. “São muitos”, pensava Maya, “Onde estariam?”.
Ainda silenciosamente, a Guerreira toma a decisão de subir a torre, e assim o fazem. Porém nada havia em nenhum dos andares, a não ser a mesma decoração e estátua que já teriam visto antes. Então descem, confusas, e abrem a porta da torre, saindo novamente. Luna percebera que os Guardas ainda não se encontravam em suas posições, e se alivia com isso. Maya aponta para a trilha que adentrava à vila. Ambas então seguem para a segunda torre, ainda atentas e armadas. Já próximas da próxima porta – um barulho, à esquerda, nas árvores.
Maya rapidamente se vira, junto com o Escudo e Pyro. Um par de olhares, e uma túnica alaranjada se escondiam por detrás das folhas, junto com um cajado. Era um Lagarto, certamente – porém parecia ser mais forte. Luna prepara Enchanted, porém o inimigo não opta por atacar – ao invés, o mesmo corre em direção à mata.
Ambas se entreolham.
“Vamos seguir até a torre, e não até ele!”, diz Maya, assustada. “Também acho mais sensato”, responde Luna.
A torre não estava um pouco distante, e não demoraram muito para chegar lá. Estava fechada, porém não trancada. Tinha exatamente a mesma aparência da primeira, sem nada a retocar. A sala, todavia, não mais se mostrava escura. Com um maior senso de urgência, Maya e Luna adentram ao salão, ilumado por piras em todos os cantos. O mesmo arsenal assutadoramente bruto se mostrava – fileiras e fileiras de armas afiadas. Porém um brilho ao fim da sala, mais intenso que as piras, chamou a atenção de Maya. Ambas, armadas, seguiram em frente até o fim do corredor, e desta vez a sala nao acabaria ali.
“Isto... é uma porta?”, questiona Luna.
“Sim, é uma porta de madeira”, Maya tenta abri-la, mas sem sucesso, “Precisaremos quebrá-la.”
Pyro então estoca a maçaneta rústica, que cai facilmente. A porta então se abre, e uma sala mais ìngreme se mostra.
De primeira instância, ambas observam baús espalhados pela pequena sala, ao todo quatro deles. Porém em um baú mais afastado, um corpo jazia ao lado. Com escama esverdada, sem armaduras e com um cajado quebrado em dois pedaços, o corpo parecia segurar algo em seus braços.
“Maya, veja... Ali, no canto!”
A mesma se vira, e se surpreende.
“Este corpo... É um refém!”
Maya e Luna se direcionam ao Lagarto, já morto. Maya o fita por alguns intantes - uma figura clara para a sua raça, envelhecida e aparentemente frágil...
“ZALAMON! ZALAMON!”
Luna não acredita no que vê – a imagem e semelhança do velho Lagarto ao qual vos falara jazia morta em sua frente.
Maya entra em pânico, tremendo. Porém em meio ao seu frenesi, a Guerreira vê a caixa.
“Zalamon, Luna... Zalamon já esteve aqui... El-lee... Morreu tentando... A caixa...” –
Sua voz se perdia em meio ao devaneio de emoções que sentia.
“Eles o deix-xar-am... Aqui.... Com a....”, Maya pega a caixa, com as mãos tremendo, e a abre - Três esferas vermelhas se enfileiravam, todas com aspecto frágil. Ao fechá-la, a guerrreira a entrega a Luna, fitando-a por entre seu capacete, “Não saia detrás de mim e meu Escudo, ouviu? Não pare de correr até que eu pare, eu irei te proteger. Eu irei te proteger! Agora precisamos correr, VAMOS!”
Luna asserte, com a caixa em mãos. A mesma era pequena, e irretocavelmente fabulosa, esculpida em mármore branco. Tinha um peso médio, porém altamente aceitável para ser carregada em mãos.
Ambas correm até a escada de mármore impetuosamente, e sem olhar para trás. Luna, com sucesso, não conseguia pensar em mais nada a não ser se proteger – e proteger sua companheira. Maya despejava lágrimas por detrás do capacete, ainda em estado de choque. Porém seu pensamento era um só – se necessário, morreria por Luna, sem hesitação. Antes de subirem, Maya revira sua mochila em busca de algo.
“Use-a, caso algo dê errado. Lembre-se que eu te amo, irmã”, a guerreira entrega sua única unidade da Runa Explosia à Luna, que a guarda em sua própia mochila.
“Eu também te amo, irmã.”
Maya e Luna sobem a escada, a porta da torre encontra-se aberta. Maya toma à frente, seguida por Luna. O ambiente externo, por poucos instantes, encontrava-se tão silencioso como antes. Conseguia-se ouvir o grunir de cachorros selvagens à milhas de distância. As árvores ao redor, entretanto, se comportavam de maneira diferente. Não se moviam de acordo com o vento, estavam mais escuras, mais volumosas. De dentro delas haviam olhares que fitavam as guerreiras diretamente – olhares maléficos e perversos. E da trilha uma sombra surge, inquieta, em direção às humanas. A mesma figura que deu-lhes e missão anteriormente parecia ignorar sua idade ao andar de forma ágil até elas.
“Eu penzzei que vozzezz... Gostazzem de uma surprezza.”
Luna se recolhe atrás de Maya, que por sua vez não tira os olhos do velho Lagarto. Ao lado dele, uma ourta sombra surge da mata – um Lagarto negro, portando um redondo Escudo de escamas em suas costas, com uma grande e sangrenta Lança dupla em mãos. A guerreira não consegue acreditar no que vê.
“Ezzta guerra ezztá perdida, minha jovem. Izzo tudo não é apenas meu agora”, ao fazer um sinal com o cajado, todos os outros Lagartos então escondidos nas sombras se mostram, armados e preparados para destruição. Dezenas deles se mostravam fiéis à figura de Zalamon, bem como Boruz, “Izzo tudo é nozzo”, completa o mesmo.
Aos poucos, a escama estão esverdeada, típica de Zalamon, se transforma em algo escuro, mais duro. Um corpo envelhecido e fraco se torna forte e viril para a raça, uma marca no corpo representava o mesmo símbolo que Maya vira no brasão negro, na vila em chamas. Os dentes agora eram grandes a ponto de saírem da boca, e a arma multiplicara de tamanho – tudo isso dentro de instantes.
“Eu ozz matei, e acabei com a única chance que tinham de me deter”, Chosen apontava com seu machado de dois gumes para a caixa de armas, que Luna ainda segurava, “e agora matarei vozzêzz... ATÉ OZZ OZZZOZZ!”
Todos os Lagartos então levantam suas armas, urrando para o alto, como símbolo de força. Mais e mais Lagartos chegavam, e ambas se encontravam cercadas – a não ser por um pequeno vão vazio à direita, que dava para a ponte, ainda livre. Maya consegue, ainda em tempo, sussurar:
“Corra, irmã. Eu fico, eu aguento. Corra agora. Não hesite... Por favor.”
Luna, sem tempo para recusar, se prepara para correr. Maya dá um passo a frente, chamando a atenção de Chosen e seu braço direito, Boruz.
“Se você acha que vou sair daqui morta, é porque ainda não prestou atenção em minha lâmina”, Maya dá mais um passo, agora cara-a-cara com Chosen e completamente cercada, “AGORA QUEIME NO FOGO DO INFERNO!”
A guerreira larga seu Escudo, e maneja Pyro com os dois braços, avançando até o tirano. O mesmo, pego de surpresa, não se encontrava armado. Então em um furtivo e forte golpe, o mais forte de sua vida, Pyro atravessa as escamas de Chosen, queimando-o por dentro de sua barriga. Todos ao redor, instantâneamente, urram de horror e sacam suas respectivas armas. Maya desprende Pyro do corpo do líder, que tampava a ferida com as mãos, vermelhas de seu sangue. Boruz saca seu Maço, possuído pela raiva. Antes da primeira lança ser arremessada, Maya vocifera, olhando para o céu – que brilhava, como a mesma pensou, igual aos olhos de Luna.
“EXORI MAS!”
~~
Luna corria desesperadamente até a ponte, aos prantos. As lágrimas, aos montes, corriam rapidamente por seu rosto e dentro de sua mochila havia a caixa de armas. Três Lagartos de elite a viram, e agora a perseguiam impetuosamente. “Eu consigo despistá-los”, pensava a Paladina constantemente. Ao pisar na ponte, todavia, uma má notícia – os três estavam a três passos de alcançá-la. Os mesmos eram mais fortes e mais armados do que aquele que ela tentara lutar com, quase que sem sucesso. Luna olha para o lado, observando o rio correndo calmamente em seu fluxo, destoante de toda a situação. Uma ideia então a ocorre instantâneamente – uma ideia que poderia salvá-la. A Paladina, ainda correndo, tateia a runa Explosiva, e ao encontrá-la, se vira aos três Lagartos, que param por um instante.
Luna então sorri.
“Vamos esquentar este dia um pouco, que tal?”
Logo após, a mesma joga a runa em direção aos Lagartos, que observam a mesma rodar no ar em suas direções, sem saberem o que fazer. Luna então rapidamente mergulha no rio, nadando para o mais longe dali, sentido oeste.
A explosão não só acabara com os Lagartos, mas também destruira por completo a então ponte de madeira. Luna continua a nadar, tentando ao máximo se convencer de que Maya pudesse, de fato, cumprir com sua palavra de sobreviver.
~~
Luna repousava sobre a margem do rio, distante da vila. Depois de tanto chorar e se conformar que nada poderia fazer a não ser obedecer à Maya, a mesma se contentava a descansar um pouco ao lado de seus pertences. Após por um pouco olhar para o horizente selvagem a qual se encontrava, um som familiar ecoava à sua esquerda, aproximando-se lentamente – um rastejar de caudas, e um ranger de armaduras. Luna se recusa à acreditar por um instante, mas logo se vira para pegar Enchanted, que repousava também à sua esquerda. O rosto, todavia, também era familiar.
“D-d-drerk?”
“Drark”, corrige o Lagarto, “ E ezzta é uma ótima hora para vozzê me matar.”
Drark se encontrava muito mais ferido que antes, na batalha entre ele e Luna. Sangue por todo o corpo, armadura quebrada, e até mesmo parte da orelha direita arrancada. O mesmo andava quase que rastejando, com a perna provavelmente torcida. Luna se preparava para dizer algo, mas o Lagarto continua.
“Eu não quero maizz ser eu... Não quero maizz servir para Chozzen, não quero maizz matar e ver meuzz irmãozz serem mortozz... Eu quero lutar contra, contra todozz que me fizzeram mal, contra Chozze....”
Luna nunca vira algo do tipo antes, mas a mesma poderia jurar que Drark se encontrava a chorar copiosamente, ao constantemente abrir e fechar seus olhos, já marejados. A Paladina se levanta, e de forma desconcertada o abraça. O mesmo retribui.
“Como me encontrou aqui, Drark?”, pergunta Luna, após o abraço.
“Eu... não zzei... Estava caminhando, e vi alguém... Queria pedir ajuda para esse algúem, mas esse alguém era... Vozzê....”, após uma pausa, Drark continua, “Vozzê também... Quer minha ajuda?”
Luna olha para o céu novamente, e pensa em sua irmã de alma, Maya - a única pessoa neste mundo a qual realmente amara e que a qual realmente a amou. Precisava protegê-la, tê-la ao seu lado, ao mesmo passo que precisava acabar com a tirania dos Lagartos de Chaochai. A mesma então se levanta, olhando para Drark. Estava, apesar de tudo, esperançosa.
“Quero”, diz Luna, “Quero sua ajuda.”
Spoiler: Texto 02Escamas na Neblina
Escondi minhas Sais em meu cinturão de couro e reverenciei aquele conhecido como Boruz, o Pardo. Minhas escamas ainda estavam se recuperando de minha última missão pela Revolução. Ajeitei minha túnica de algodão trançado e minhas sandálias de couro e madeira enquanto o pele-pálida se aproximava de Zalamon.
— Nózz voltaremozz em breve, Zalamon. Zzeu pele-pálida não precizza nozz acompanhar, cazzo não queira.
A ordem fora clara: confiscar armas do Exército Imperial, libertar nossos irmãos de escamas e retornar para contar a história. Diante da recusa do pele pálida, fiz uma reverência a Zalamon e terminei de ajeitar meus pertences. Ajeitei minha tiara de ferro com detalhes floridos prateados e coloquei minhas manoplas de couro e encaixei os ferrolhos da proteção de minhas pernas.
— Vamozz logo, Ming Xiao. — Sibilou meu companheiro de armas, Gao Chai. — Ezztá quazze anoitezzcendo! E você zzabe que é a melhor hora possível para atacar!
Gao Chai tinha razão; Levantei-me do chão e ajeitei minha capa negra sobre meus ombros, espanando a poeira que manchava os padrões brancos de minhas escamas esverdeadas. Ele movimentou seus ombros fechando as escápulas e estalando algumas vértebras, soltando e relaxando os braços em seguida com um ruidoso suspiro aliviado; seu moicano, agora novamente no tom loiro escuro, quase preto, que lhe era natural, mexeu-se com bruta naturalidade quando ele decidiu estalar o pescoço, movendo-o de um lado a outro.
O enorme Lagarto de escamas azuis com padrões rajados roxos recolocou sua armadura de Alto Guarda, agora modificada para o bem da Revolução, com as cores vermelha e preta substituídas pelo bronze e dourado. Ele logo empunhou seu martelo de duas mãos em sequência, e saímos da base sem maiores comoções.
— Acha que encontraremozz muitozz dozz nozzozz irmãozz e irmãzz, Ming?
— Ezzpero que encontremozz o suficiente delezz vivozz, Gao… Será o bazztante para Zalamon e para a Revoluzzão.
Galgamos as escadarias de pedra rápida e silenciosamente; uma vez que chegamos à superfície, o farfalhar alto da grama amarelada fazia sua sinfonia ao sabor do vento; respirei fundo e ajeitei a minha sacola de pertences atada ao lado esquerdo de meu corpo, ocultando-a melhor com com a minha capa; Gao assumiu a dianteira e seguimos adiante em meio à relva. Com os últimos raios de sol tocando gentilmente meu couro e minhas escamas, comecei a suspeitar que o pior estava por vir.
Nossos olhos dourados se encontraram antes da luz do dia ser substituída pelo reflexo da noite. Nada poderia nos impedir. Nada.
****
Chuva. Pela primeira vez em muito tempo, chuva.
O anoitecer chegou para nós assim que saímos do transporte oculto pelos Picos da Chama dos Dragões; Os pingos prateados caíam em uma fina cortina, mas felizmente não fazia barulho suficiente para delatar a nossa presença. Ao longe, no entanto, começamos a ver lanternas acesas como grandes vagalumes flutuando entre a grama alta, que dificilmente ganharia cor depois daquela noite.
Adentramos na mata, mais curvados e escondidos; tomei a frente, escoltando adiante. Aparentemente, as patrulhas estavam menores que de costume, dadas as poucas luzes no ambiente. Comecei a sentir o sangue esfriar; com a inesperada chuva, teríamos menos tempo de ação. Vi, então, um patrulheiro desavisado. Sozinho.
Fui rápida; agarrei-o pelas costas, tapando sua boca com uma das mãos e fincando uma de minhas Sais em seu coração. Soltei seu corpo, peguei a Lanterna e sinalizei para Gao Chai, que logo apareceu de dentro da mata.
— Temozz que ser maizz rápidozz… — Ele sussurrou. — Ezztá ficando frio!
Concordei e seguimos adiante juntos; o vilarejo de Chaochai estava mais próximo do que imaginávamos, com alguns casebres mais humildes próximos de nós. Não arriscamos, no entanto, entrar em um deles: seriam locais perfeitos para emboscar rebeldes. Abaixei a lanterna para diminuir a visibilidade da luz e mantive o passo. Passamos reto e longe da casa, seguindo mata adentro.
O número de luzes aumentou, e eu vi Gao Chai se afastar de mim e ir em direção a um dos patrulheiros mais distantes do bando. Ele se embrenhou na mata e, segundos depois, ouvi um leve estalar de ossos e o som abafado de uma lanterna caindo no chão, cuja luz logo se apagou. Respirei fundo; logo estaríamos em um ponto sem volta.
Seguimos adiante, com a chuva ficando mais grossa; as folhas farfalhavam intensamente com os pingos caindo em grosso volume sobre elas, e minha audição começou a ficar confusa. Eu tinha que me manter concentrada, mesmo não sabendo ao certo por onde Gao Chai estava passando. As matas começaram a diminuir de tamanho, e mais lanternas puderam ser vistas; vi meu companheiro de relance, que me apontou o mais próximo para ser eliminado. Em seguida, ele apontou para seu alvo, e eu apenas concordei.
Não era apenas um alvo: eram dois. Fui rápida com o primeiro; tapei sua boca e finquei o punhal em suas costas; o segundo, no entanto, me viu e tentou revidar; um Legionário que, pego de surpresa, arremessou uma lança, a qual foi cravada no corpo de seu companheiro morto, que usei como escudo.
— INTRUZZOZZ! — Berrou o Legionário. — REBELDEZZ ESTÃO PERTO DE CHAOCHAI!
Atirei uma faca contra sua garganta, fazendo-o engasgar em seu próprio sangue e morrer, ao mesmo tempo que Gao terminava de esmigalhar o crânio de seu alvo. Estávamos a alguns metros de Chaochai e, infelizmente, o alarme havia sido soado. Ouvíamos o gongo agudo e retumbante soando ao longe, e as lanternas ganharam mais luz. E a chuva não cessava, mas estava mais grossa. Chance melhor que aquela infelizmente não teríamos.
— VAMOZZ! — Gao gritou. — VENHAM ATÉ MIM! — Batendo em seu peito forte, entendi que ele queria se usar como isca ao meu favor.
Corri para dentro dos muros e me embrenhei nas sombras, a tempo de ver dois Altos Guardas virem em direção a Gao Chai, que estava com martelo já em mãos. Dois guerreiros quase tão grandes quanto ele, os servos do Imperador vieram já com os martelos em mão, fazendo movimentos fortes contra meu companheiro de batalha, que estava disposto a dar-lhes a mais difícil das lutas. Tive que continuar adiante, na esperança de que ele viesse ao meu encontro quando pudesse.
Trovões começaram a soar fortes nos céus, e em tive que tapar meus canais* para não sentir tanto a agressão sonora. Coloquei minha língua para fora, silvando; o cheiro familiar de sangue e metal não estava longe. Corri por detrás das casas; a chuva ainda estava grossa, e o som de passos sob a lama estava cada vez mais alto e ecoando: as tropas estavam se mobilizando para as portas. Alcancei uma das casas onde vi três Lagartos preso.
Eram três dos nossos. Estavam pálidos, com as escamas caídas pelo chão e mal-nutridos. Engoli em seco e fui até eles.
— Ajude-nozz… Por favor… — Suplicou um deles a baixo tom.
— EI! QUE EZZTÁ FAZZENDO?!
Droga. Dois Altos Guardas, haviam me encontrado; pensei o mais rápido que pude. Arrebentei as amarras de um dos Lagartos e pulei tentando alcançar uma das vigas do teto. A bola da maça de ferro de um deles atingiu o chão, quebrando uma parte do assoalho de madeira. Caí por cima desse guarda desarmado e finquei uma das Sais em sua cabeça; ele caiu e a maça de ferro do companheiro furioso me acertou a cabeça, e eu fui de encontro a uma pilastra com muita força.
Meu adversário sorriu sinistramente para mim e começou a girar a maça para me acertar novamente; tentei me levantar, mas estava tonta demais. De repente, vi uma estaca atravessar o peito do Alto Guarda e ele cair com um berro de agonia. Atrás dele estava o Lagarto que eu havia libertado. Ainda muito fraco, mas com espírito de luta aceso.
— Eu vou… Ajudar a libertar os outros. — Falou o Lagarto, ofegante — Você… Veio com mais alguém?
— Gao Chai. — Falei agradecida e menos atordoada. — Fique aqui com os demais; trarei comida e armas para vocês!
Ele assentiu e eu saí correndo; àquela altura, vi que Gao Chai não estava mais sozinho; ele estava entrando na cidade com fogo e fúria de outros sete Sacerdotes de Dragões ao seu lado, os quais sopravam chamas no formato do Deus Cobra, renunciando aos Dragões que um dia veneraram; a julgar pelos corpos maltratados, tive certeza que eram dos nossos; ele me viu e piscou para mim, apenas para acertar um Legionário com seu martelo em chamas. Olhei para o outro lado e vi as silhuetas de mais adversários. Coloquei a língua para fora e, junto com o gosto da água pura da chuva, senti o cheiro de peixe defumado e batatas. Comida.
Tudo que meus amigos precisavam.
Passei rapidamente pelas tropas; optei pelo método mais rápido, mas agoniante: cortei suas gargantas com velocidade na medida em que passava correndo por eles. Consegui derrubar quinze dos vinte Lagartos tementes ao Imperador que passaram por mim. Os outros tentaram, em vão, me achar. Não conseguiriam. Minhas escamas não exalavam nenhum odor. Eu não tinha cheiro. Nunca tive.
— Bingo.
Consegui entrar em uma das casas; as tropas estavam tão desleixadas que a comida estava sem guarda! Subi facilmente os demais andares, seguindo o cheiro característico da mais caseira das refeições. Encontrei o local onde estavam sendo guardadas, e era uma enorme quantidade de comida. Peguei tudo o que pude e escondi em minha bolsa.
Zalamon precisava saber disso: estávamos com sérios problemas. Tropas demais, suprimentos demais… Rezava para o Deus Cobra para que ao menos estivessem com poucas armas.
— Que meleca. — Resmunguei, descendo as escadarias.
Assim que cheguei, um Legionário distraído assustou-se com a minha presença; preparei-me para atacá-lo, quando ele rapidamente levantou os braços, em sinal de rendição.
— Não me ataque! — Falou o Legionário rapidamente. — Zzou um de vocêzz!
— Mentira! — Repliquei, apontando as Sais para ele em postura combativa.
— Zzei que Zalamon ainda vive! — Falou o Legionário, firme em sua postura. — Meu nome é Xiang! Eu era membro da Rezziztência, mas precizzei me dizzfarçar! Ezze vilarejo está com armazz até o talo! Não teremozz chance alguma se ezze ezzército não diminuir! Eu zzei onde elez ezcondem az armazz!
Abaixei as Sais; por algum motivo, Xiang parecia estar dizendo a verdade. Conseguia ver isso em seus olhos. Ele abaixou os braços e olhou para os lados, aguardando com ânsia por alguma decisão de minha parte.
— Me mozztre az armazz.
Ele concordou e me guiou adiante; passamos por outra casa, na qual havia uma cela de bambu nos fundos com cinco dos nossos; Xiang me ajudou a quebrar uma parte da cerca e libertar nossos irmãos de armas, e eu ofereci a parte da comida que podia. Três deles se ofereceram para continuar conosco, enquanto os outros dois se embrenharam na mata ao nosso comando, em uma tentativa de contornar o vilarejo de Chaochai e chegar ao outro lado das montanhas em segurança.
Agora éramos cinco; Xiang me levou ao depósito de armas, onde abafei um grito; o vilarejo estava altamente equipado e muito bem alimentado. Naquele momento, quatro Legionários nos viram e vieram para cima de nós. Eu e Xiang atacamos, sentindo nossos corpos ficarem mais letárgicos por conta do frio e ausência de calor dos Sóis. A chuva não dava trégua alguma, e alguns pingos caíam de infiltrações no teto, em meio ao sangue de nossos adversários no chão.
Duas lanças voaram em nossa direção; consegui desviar da primeira e Xiang prendeu a segunda em seu escudo; os outros três rapazes correram em direção ao estoque de armas e pegaram lanças para nos auxiliar; os demais Legionários os tiveram como alvo e eu me adiantei para que o meu desaparecesse, cortando garganta com uma Sai e fincando a outra em seu coração.
— Por favor me diga que você veio acompanhada! — Replicou Xiang, atirando uma lança contra outro Legionário, acertando seu peito e matando-o.
— Gao Chai ezztá nozz portõezz da vila! — Repliquei, empunhando minhas Sais novamente.
— Vamozz logo então! — Um dos rapazes falou ao terminar de colocar um escudo removido de um dos corpos no chão. — Libertaremozz quem maiz ezztiver no caminho! Ezztá muito frio!
Assenti; os rapazes estavam armados e fortes, e Xiang parecia ainda estar bem; respirei fundo e senti um calafrio. Tentei mover meus dedos um após o outro, mas o movimento saía vagaroso e empedrado; embainhei as Sais e sinalizei para que andássemos por uma área mais sombria, passando por outras casas.
Entramos em mais uma; sete fêmeas, sendo duas delas anciãs, estavam lá. Libertamos todas e pedimos a duas delas que escoltassem as mais velhas para fora de Chaochai.
— Ezza terra era de meuz ancestraizz… — Chorou uma das anciãs, inconformada. — Maldito seja ezze “Imperador”!
Uma das moças abraçou a idosa, sussurrando em seus canais palavras dóceis e confortantes antes de sair por uma falha nos muros e se embrenhar na mata. Depois disso, saímos correndo pelo centro da cidade, que estava um caos: Gao estava escoltando filhotes feridos para fora, contando com dois Sacerdotes para mantê-los todos aquecidos. As tropas dele agora somavam treze integrantes.
— Reforçozz! — Gritou ele, animado. — Xiao, traga-ozz para cá!
— A vila ezztá perdida! — Falei sem rodeios. — Az tropazz ezztão bem-alimentadaz e armadazz! Não temoz númerozz para rivalizzar com ezze contingente!
Gao fechou os olhos e piscou devagar; percebi que ele estava começando a sofrer com o frio. O homenzarrão não desistiu, sacolejou a cabeça e segurou o martelo com mais firmeza.
— Tem certeza?! — Indagou ele, um pouco trêmulo.
Reafirmei com um aceno de cabeça, no momento exato em que uma das casas explodiu com um forte estrondo, matando os Sacerdotes que estavam longe de nós.
— PAREM EM NOME DO IMPERADOR! — Ouvi uma voz etérea gritar ao longe, e senti calafrios ao longo da minha espinha.
— ESCOLHIDOZZ**! — Ouvi alguém gritar. — ZAOGUNZZ E ESCOLHIDOZZ EZZTÃO AQUI!
— Vamozz embora! — Gao Chai gritou. — Não temozz gente para aguentar maiz tempo!
— Ainda há maizz prizioneirozz! — Protestei.
— Vamozz libertar quantozz derem e sair daqui! Não seremozz úteiz à cauzza mortozz!
Dito isso, Gao foi à frente, em direção a uma cela próxima a nós; os demais nos seguiram, e logo começamos a ver os vultos dos Zaoguns e dos terríveis Escolhidos por detrás da cortina de fumaça dos escombros. Engoli em seco e guiei os mais fracos para fora da cidade, com Gao e os demais vindo logo atrás. Com o sangue cada vez mais frio em nossas veias, continuamos a correr. Frequentemente, olhei para trás para me certificar de que Gao e os demais estavam conosco; quatro Sacerdotes sopraram fogo atrás de nós para queimar a mata e impedir a aproximação do restante do batalhão.
A chuva estava diminuindo. A mata aberta estava próxima, e não havia nenhum lanterneiro perto. Os mais fracos e desarmados Lagartos já podiam ver o altar do Deus Cobra à frente, como um farol de salvação. Tudo estava indo bem. Poderíamos sair dessa vivos.
— AAAAARGH!
O grito de agonia de Gao retumbou na escuridão; virei-me para ver, e os Sacerdotes estavam tentando ampará-lo. Concentrei-me um pouco mais e vi sinais claros de magia negra: algumas das veias dele estavam escurecidas, queimadas, e suas escamas estavam mudando de cor.
Era Corrupção.
Havia uma chama violeta tremulando na escuridão. Meu coração parou.
— MING, VÁ! — Gritou Gao. — EU CUIDO DIZZO! Leve os feridoz para Zalamon! Eu alcançarei vocêzz! VÁ LOGO!
Engoli em seco e obedeci com relutância; ele sabia o que estava na escuridão. Mesmo sendo forte, eu não podia deixar de temer pela vida dele. Me embrenhei na mata, na esperança de que o guerreiro que um dia quase se tornara Zaogun tivesse alguma esperança de sobrevivência. Assim que o último dos guerreiros foi comigo, olhei para trás uma última vez.
Não ouvi nem vi nada mais. Coloquei minha língua para fora, e o cheiro característico das escamas de Gao Chai tornou-se azedo antes de se misturar ao sangue e à chuva.
*****
— Ming! Graçaz ao Deuzz Cobra você voltou!
O Sacerdote Zalamon recebeu a mim e aos refugiados com um abraço; ele acendeu uma fogueira e ofereceu chá e bolinhos aos recém chegados, bem como cobertas e ninhos novos para dormir. Eu ainda estava em choque, trêmula e com frio.
Xiang e os demais guerreiros tiraram as armaduras e se posicionaram perto das fogueiras. Ao fazerem isso, Zalamon veio em minha direção, com expectativa em seu olhar.
— Eu vejo que Gao Chai não voltou com você. — Falou o Sacerdote, preocupado. — O que houve? Ezzconda-me nada, criança.
Eu levantei a cabeça devagar, abatida e ainda pasma com o que acontecera.
— Chaochai caiu, Zalamon. — Falei, tentando segurar as lágrimas que queriam sair. — Elezz… Ezztão todos bem-armadozz… Bem-nutridoz… E em grande número…. Muitozz dozz nozzozz ezztão em celaz… Em condiçõezz terríveizz!
— Oh não! — Suspirou o Sacerdote, comovido e triste. Não era o que ele queria ouvir. — Izzo é pézzimo! E… Gao? Onde ele ezztá? Não me diga que…
— Elez… O Ezzcolheram, Zalamon. — As lágrimas começaram a cair sem freios. — Elezz… Foi uma embozzcada… Libertamozz algunz doz nozzozz, maz…
Zalamon, sentido e comovido com a nossa perda, abraçou-me.
— Oz Dragõez vão pagar por izzo, irmã. — Falou o Sacerdote, determinado. — A Reziztência vai ganhar maizz adeptozz… E nós vamozz vingar a morte de Gao e todoz oz outrozz!
Eu concordei com a cabeça; tentei me acalmar. Eu queria vingança. Eu precisava de vingança. Nós seríamos livres de novo por meio da Resistência. Nós tínhamos que ser livres novamente; no entanto, tudo que se passava pela minha cabeça era diferente.
Como contaria à esposa de Gao tudo o que havia acontecido?
FIM.
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(*) Canais: Como Lagartos não possuem ouvidos propriamente ditos, sua estrutura auditiva é interna e demonstrada por orifícios nas laterais de suas cabeças;
(**): Tradução livre para (Lizard) Chosen.
a votação começa agora e termina às 23h59 do dia 11/01!
abraços
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) maaas de uma próxima vai AHUEHUAEHUEHAUHAEUHAUE