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Tópico: Jason Walker e os Poços do Inferno

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    CAPÍTULO 11 – STAIRWAY TO HEAVEN


    John, Leonard e Jason estavam reunidos em frente à guilda dos druidas de Carlin, em silêncio. Uma pequena multidão se acumulava próximo deles, mas ninguém lhes dirigia a palavra. Por algum motivo, todos pareciam suficientemente convencidos de que Heloise e os três amigos não eram o que fora dito a respeito deles, e a sensação de incapacidade deixara a cidade poucas horas antes.

    Jason já tinha olhado para John diversas vezes, decidido a interpelá-lo, quando mudou de ideia na última hora. Tivera uma ideia bastante boa a respeito de como realizar uma verdadeira leitura do incandescente, mas decidira deixar isso para depois.

    Heloise saiu, segundos depois, e a multidão ameaçou avançar, sendo contida por confusos soldados do exército de Carlin, que pareciam tentar entender como acordaram ali, sendo que a última lembrança que tinham era de uma reunião com Svan e com um feiticeiro chamado Lancaster dias antes.

    — Ele vai se recuperar – disse ela, olhando para as mãos. – Jason, John, Leonard, não sei como agradecê-los. Prometo pensar em algo.
    — Esta é nossa cidade também – Jason respondeu, mas a Rainha não lhe prestava atenção.

    Os agradecimentos especiais da mulher pareciam ter sido direcionados mais a Leonard do que aos demais. Certamente, o comportamento adotado pelo arqueiro ao expulsar Bazir do corpo de Svan rendera a ele alguns pontos junto à Rainha, que já o tinha em grande estima, porque o resgatara quase mortalmente ferido muitos anos antes.

    Por um instante, Heloise retornou ao passado.

    A noite de inverno era suave, a temperatura, agradável. Tinha acabado de repassar detalhes de eventuais proteções externas contra uma possível invasão de Thais a Carlin com seu capitão, Svan. Do terraço da torre mais alta do castelo, ela notou que algo se arrastava nas sombras, pela entrada leste do portão da cidade.

    Era a hora da troca de turnos das guerreiras e, então, Heloise deixou o castelo e se dirigiu até lá.

    A poucos metros da entrada de Carlin, ao norte do cemitério, encontrou algo que se parecia alarmantemente com um zumbi, um morto-vivo. Sacou sua varinha imediatamente. Que estranho. Nunca vi mortos-vivos na superfície, tampouco próximos de cidades.

    Ansiosa, ela aguardou. A coisa rastejou em sua direção e, em tempo, ela percebeu que se tratava de um menino, com não mais de oito anos completos. Ela baixou ligeiramente a varinha e se aproximou devagar, temerosa.

    No instante seguinte, já gritava ordens às guerreiras que assumiram seu posto na vigia noturna. Em menos de dez minutos, o garoto de pele morena queimada pelo sol, cabelos finos e porte físico avantajado para a idade já estava removido à guilda dos druidas, no sudoeste da cidade.

    A Rainha não sabia explicar o motivo, mas foi dominada pelo sentimento de preocupação nos dias subsequentes. Não tinha sido o primeiro forasteiro que resgatara, porém, as demais cidades do continente tinham a política de não acolher homens naquela condição. Lumelia fora traída em Edron naquela situação, e os heróis, encampados e em campo de batalha, jamais conseguiram resgatá-la. Até aqueles dias, o paradeiro da princesa de uma das maiores potências do mundo ainda era incerto, apesar de alguns já terem sua morte em conta.

    Quando, finalmente, a Rainha fora informada que o garoto melhorara e que sua condição era boa, ela o visitou na enfermaria. Realmente, o forasteiro já parecia bem mais corado e vinha sendo tratado muito bem pelas druidas da cidade.

    — Como é o seu nome? – perguntou ela, cautelosamente, sentando-se ao pé da cama do garoto.

    Ele sacudiu a cabeça em sinal negativo, os olhos estalados ligeiramente grandes para o tamanho da cabeça.

    — De onde você vem?

    Novamente, o garoto fez que não. Pobre coitado.

    — O que houve? Como você ficou naquele estado?

    O menino olhou através da janela na parede oposta, um pouco perdido em pensamentos. Quando Heloise decidiu que aquela entrevista seria em vão, ele finalmente decidiu falar.

    — Desculpe, senhora – disse, a voz muito infantil, criando um nó indesejado na garganta da Rainha. – Não sei meu nome, nunca soube. Costumavam me chamar de dagabunda, ou algo do gênero.
    — Vagabundo?

    Ele fez que sim, sua inocência acentuando o sentimento de pena de Heloise. Ela notou que lhe faltavam alguns dentes, mas não haviam sido arrancados. Ele estava em fase de troca, embora tardia.

    — Venho de Venore, mas não sei onde nasci. Acho que foi lá, mesmo.

    Heloise se sentou novamente, as mãos cruzadas sobre o colo.

    — Ouvi dizer que Ab’Dendriel treinava arqueiros, então decidi ir até lá para saber se os elfos poderiam me treinar – ele prosseguiu, parecendo cada vez mais frágil, cada vez menos autossuficiente. – Acho que tomei o caminho errado.
    — Quem atacou você?

    Ele pensou por um instante, a testa franzida.

    — Mercenários – disse, por fim. – Estavam bêbados, mas se divertiram. Não posso culpá-los. Creio que tenham parado porque acharam que eu estava morto.

    Heloise desviou o olhar, constrangida. Era comum que a rota entre Carlin e Venore fosse dominada por mercenários, alguns contratados, outros por conta própria. Era um problema recorrente que todas as cidades acabavam por enfrentar, cedo ou tarde, mas nunca achou que fossem capazes de atacar um garoto de menos de dez anos de idade.

    — Você gosta de atirar? – ela perguntou, tentando mudar o rumo da conversa.

    Ele fez que sim, um sorriso infantil perpassando seu rosto magoado.

    — Sou muito bom nisso, aliás.

    Heloise chamou a curandeira e emitiu uma ordem. Cinco minutos depois, uma mulher de cabelos roxos, carregando uma lança mágica, apareceu, fazendo uma curta reverência à Rainha.

    — Legola, assim que este menino terminar, quero que treine sua pontaria – ordenou, os olhos fixos no garoto a uma distância razoável, onde eles não podiam ser ouvidos. – É um forasteiro, chegou quase morto, mas é muito inocente.
    — Será um prazer, Rainha – Legola respondeu, olhando para o garoto.

    Quando a líder da guilda dos arqueiros da cidade deixou a enfermaria, Heloise se aproximou do garoto novamente.

    — De que nome gosta?

    Ele olhou para ela e pensou por um instante.

    — Saint – disse, como quem pedisse desculpas. – É o nome de um moço que me ajudava em Venore. Nunca roubei nada, senhora. Juro. Mas ele tomava algumas coisas de uns comerciantes e me fornecia, para que eu não morresse de fome.

    A Rainha fez que sim, aprovando.

    — Qual mais?

    Ele pensou novamente, aparentemente se divertindo.

    — Tem um homem em Venore que canta muito bem e se chama Leonard.
    — Leonard Saint será o seu nome. De acordo?

    Ele fez que sim imediatamente, feliz.

    — Descanse. Amanhã, venho vê-lo novamente.

    De volta ao presente, Heloise mal reparou que Jason falava algo sobre verificar o estado atual da propriedade que detinha com Leonard. Ela assentiu uma vez, e eles saíram, ficando apenas John.

    O incandescente olhou para a Rainha longamente, sem dizer palavra. Ela retribuiu o seu olhar, achando que, como os demais, ele se expusera a um extremo risco em prol da realização da missão. Carlin, agora, parecia totalmente livre das influências de Zathroth e Lancaster, e todos poderiam passar por um período de paz novamente.

    Finalmente, pensou, sentindo-se mais cansada do que nunca.

    *

    A casa de Jason e Leonard estava surpreendentemente intacta. Nem um tijolo sequer fora do lugar. Aparentemente, os dragões foram à desforra somente na parte norte da cidade, já que boa parte da porção sul preservava suas características mais marcantes.

    Não tardou para que Leonard aparecesse com aquele cachimbo aceso novamente, e os dois foram até a sacada, onde costumavam se reunir com frequência. Das duas, uma: ou Svan não se interessara por sua casa, ou algo o impedira firmemente de passar pela porta. Fato é que tudo estava cirurgicamente irretocado, exceção feita à poeira que se acumulava aqui e ali.

    Jason e Leonard se sentaram naqueles familiares bancos de madeira, sentindo que o jardim suspenso dependia de uma aparação leve, nada muito fora do comum. Por um instante, nenhum dos dois disse nada, somente saborearam o gosto do tabaco moído com frutas secas.

    — Sabe que nossa missão não acabou, não é?
    — Que cortês é você. Sequer me permite um minuto de descanso.

    Os dois riram por um segundo, mas Leonard logo assentiu.

    — Cara, sei no que você está pensando – disse. – John tem que ser um excelente ator para estar nos traindo, sinceramente. Minha desconfiança ao seu respeito se dissolveu no instante em que ele espancou Bazir. Creio que nem mesmo tenha deixado de ser um incandescente. Acho que ainda compõe as fileiras de Crunor.
    — É uma possibilidade – Jason respirou fundo e esfregou os olhos, cansado. – Mas não posso evitar, preciso interrogá-lo com um pouco mais de tranquilidade.
    — Pode fazê-lo já - disse uma terceira voz.

    John subiu as escadas e sentou-se ao lado de Jason, os olhos fixos no amigo. Ele levantou o braço esquerdo e revelou a pele nua, onde não havia qualquer tatuagem que o vinculasse aos Gatunos da Meia-Noite.

    Jason arqueou as sobrancelhas e Leonard abriu a boca em um “O” perfeito.

    — Sinto muito pelo sofrimento que fiz com que passassem nos últimos dias, amigos. Realmente, não pude revelar nada a respeito da minha missão.

    “Como vocês já devem saber a essa altura, é claro, nunca deixei de ser um incandescente. Precisei tomar decisões heterodoxas pelo caminho, tirar a vida de inocentes, mas o sacrifício de poucos justifica a sobrevivência de muitos. É um aspecto enraizado em nossa cultura do qual não podemos nos dissociar.

    “Crunor recebeu as almas do carcereiro de Carlin, dos elfos de Ab’Dendriel, do capitão do navio, enfim. Todos receberão suas honrarias e passarão a eternidade nos Campos Elísios. Seu sacrifício não foi o motivo, mas foi o reflexo da nossa missão. Foi necessário”.

    O espadachim baixou os olhos, pensando a respeito. Afinal de contas, não havia apenas uma vida terrena, obviamente. Crunor era o responsável pela passagem, e acolhia as almas daqueles que atuaram em seu nome, mataram por ele, morreram por ele, lutaram por ele, ainda que indiretamente. Sentiu-se momentaneamente estúpido por não ter considerado aquelas possibilidades em tempo hábil.

    — Desta vez, Zathroth tomou Svan – continuou John. – Da próxima, poderá tomar Arthur, Yalahari, Palimuth, ou mesmo Lancaster. E nossos problemas serão ainda maiores.
    — O que sugere? – Leonard puxou fumaça pelo cachimbo.
    — Precisamos invadir os Poços do Inferno e dizimar os soldados de Zathroth, imediatamente. Enfraquecido do lado de fora, ficará vulnerável do lado de dentro.

    Jason refletia sobre uma eventual quebra de equilíbrio quando John o interrompeu.

    — Existe carne nova no pedaço, Jason. Alguém que achávamos que não existia, mas que disputará o trono palmo a palmo com Zathroth. Alguém que não conseguirá se manter neutro, e que tentará ocupar seu lugar. E conseguirá, e a guerra continuará.

    Jason sentiu seus pelos se eriçarem.

    — E quem é?

    John respirou fundo.

    — Os cristãos o chamam de O Anjo Caído.

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    Última edição por Neal Caffrey; 19-02-2017 às 23:27.
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