Desculpa pela demora, mas semanas finais de aula, provas adoidadas, e livros paradidáticos para ler dificultam uma postagem mais regular...mas ta aí \o/
Capítulo 11 - Tão humano quanto eu.
Enquanto permanecíamos sem notícias do Rei Tibianus, eu comecei a execução de um audacioso plano, apoiado num único ideal: Ferumbras é um homem, e por isso, mortal.
Ele não sabia, mas sua segunda tentativa de tirar minha vida acabou por ser mais vantajosa para mim mesmo, pois confirmou a teoria de que Ferumbras e o monstro são o mesmo ser. Partindo desse princípio básico, eu supus que ele é, ou pelo menos já foi, um homem. Isso me permitiu afirmar que ele nasceu do modo humano, e por isso algum indício do seu nascimento teria que estar guardado em algum lugar. Novamente supondo que eu encontraria esse registro, eu poderia investigar o passado desse misterioso assassino.
O problema é que essa seria uma das mais difíceis tarefas na qual eu me daria ao trabalho de executar. Primeiro porque era completamente possível, e até altamente provável, que alguma, senão todas, das minhas suposições fossem falhas. Segundo, pois eu nem mesmo sabia o seu verdadeiro nome; que provavelmente não era Ferumbras.
Deixando de lado todas as adversidades, eu comuniquei o plano aos meus amigos, e informei que queria executá-lo sozinho.
- Tem certeza de que não precisa de ajuda? – perguntou Dragonslayer.
- Quem disse que não preciso? Pelo contrário, preciso de muita! O problema é que eu não quero.
- Você quem sabe... – disse Acanthurus.
- Vocês têm coisas importantes a fazer pela Valheru. Não percam seu tempo com isso.
- Sabe muito bem que a guilda não pode ser registrada sem o Rei. Podemos te ajudar até lá.
- Não, obrigado. Se quiserem ajudar alguém, ajudem o Hesperides.
O druida, sentado em um canto, ergueu as sobrancelhas:
- Me ajudar com o que? Com um punhado de papel? Obrigado, mas eles não vão fugir.
- Bom – eu insisti –, então fiquem aí conversando ou dormindo. Já estou de saída. Cuidem-se!
- Boa sorte! – me desejaram.
Assim que deixei o castelo, parti em direção ao local mais próximo onde poderia conseguir informações dos mais variados tipos, desde as falsas até as extremamente valiosas; o lugar onde sempre há pessoas das mais diversas origens, compartilhando seus conhecimentos e obtendo dados dos mais recentes assuntos abordados pela sociedade; e o melhor, bêbadas o suficiente para deixarem escapar detalhes sórdidos: o bar do Frodo.
Entrei no estabelecimento; estava lotado, como sempre. Dei uma olhada rápida para os tipos presentes, desde os encapuzados que sussurravam e faziam negociações ilegais, até os grupos de amigos que se divertiam. Dirigi-me ao balcão, onde Frodo, o dono do bar, me cumprimentou calorosamente:
- Velho Arieswar! Que bom tê-lo novamente em meu humilde bar! A que lhe devo a honra?
- Não sou trazido por bons ventos, infelizmente, velho amigo. Tempos difíceis esses no qual Banor e Uman nos enviaram...Bom, mas antes gostaria de um caprichado copo de rum.
- Seu pedido é uma ordem! – falou-me Frodo, um homem que já havia me fornecido valiosas indicações, já que estava sempre participativo em todos os assuntos – Aqui está! – entregou-me uma grande caneca após enchê-la com a bebida.
- Bem, Frodo, que outro motivo me traria uma feição tão preocupada senão Ferumbras? – ele me olhou assustado – Estamos com sérias dificuldades em achar alguma pista que nos leve ao seu paradeiro, ou quem sabe, ao seu passado. – ele me encarou firmemente – Você, um homem tão bem informado, quem sabe possa ter ouvido alguma coisa por entre conversas dos clientes.
- Sim, sim. – falou ele, alisando a barba – Já ouvi várias teorias, devo dizer...porém cada uma mais fantasiosa que a outra.
- Não haveria nenhuma informação que me fosse útil? – eu insisti.
- Se há, não está comigo. O que eu te aconselho é procurar os tripulantes do grande navio que há pouco aportou ao norte, na Costa Verde. Ouvi falar que eles traziam detalhes sobre a criatura que ainda desconhecíamos. Parece que já haviam avistado-a em suas viagens.
Eu refleti sobre aquilo por um bom tempo. A Costa Verde não era tão distante, e eu poderia chegar lá antes do anoitecer. Eu já havia me decidido; buscaria qualquer pista de Ferumbras, e aquele navio não ficava nem na metade do caminho que eu estava disposto a percorrer.
- Muito bem, Frodo. Com sua licença eu me retiro, pois tenho uma viagem até a Costa Verde para fazer.
- Volte sempre, Arieswar!
Rumo ao Noroeste; esse era meu lema naquele momento. Desde o incidente no Monte Sternum eu não me exercitava, por isso resolvi ir até o vilarejo andando. Cruzei o portão Norte e me dei de cara com as grandes terras, nas quais eu não podia deixar de apreciar suas dimensões; que mundo grande nós vivemos...
No caminho minha mente era violentamente atingida por um turbilhão de pensamentos. Onde andaria Pepelu naquela hora? E o Rei Tibianus? E Ferumbras?! Só sabia que onde quer que eles estivessem, estariam perguntando-se as mesmas coisas sobre mim.
Não havia me decidido quanto à denúncia de Pepelu, mas, como sempre, preferi adiar aquela decisão; algo que eu realmente não deveria ter feito. E se o Rei estivesse atrás de alguém com as características que acha que são verdadeiras? Todo seu trabalho seria em vão, e eu, de certa forma, teria sido conivente.
Pouco antes do cair do sol cheguei à Costa. Parei em um pequeno bar apenas para me alimentar rapidamente e cumprimentar um velho amigo. O que me espantava, é que de qualquer lugar do vilarejo, lá estava ele: o imenso navio, com velas abrumadas e madeira reluzente; com imponência ele descansava nas calmas águas costeiras, como um monstro que hiberna em sua caverna.
- E quem são os tripulantes? – eu perguntei ao meu amigo, um empregado do bar – Posso arriscar tranquilamente um contato?
- À vontade. – falou ele enquanto lavava alguns copos – São, aparentemente, boas pessoas. De vez em quando vem aqui no bar e tomam um ou dois goles de vinho. Sempre foram simpáticos.
- Quem é o capitão?
- Seu nome é Taghor. Ele se apresentou como o diplomata da tripulação, e também como seu capitão.
- Pois bem. – eu levantei-me – É hora de tirar algumas coisas a limpo.
Despedi-me do meu companheiro e rumei à entrada do navio. Não precisei esperar muito na porta antes que alguém aparecesse.
- Pois não? – perguntou um jovem rapaz a bordo do navio – Em quer posso ajudá-lo?
- Gostaria de falar com Taghor! Eu sou Arieswar, um dos quatro guerreiros da corte thaiense.
Pouco depois abriram as portas para mim. O mesmo rapaz, que se identificou como Ignazius, me levou até uma grande sala, onde pediu que eu esperasse. Sentei-me em uma das cadeiras, mas já preparava a espada para qualquer inconveniente. Por sorte ele não veio; quem chegara foi um gentil homem que se apresentou como Taghor. Sentou-se comigo e conversamos um pouco. Só depois de fazer-me sentir à vontade ele resolveu perguntar:
- Pois então, Arieswar. – disse ele com sua pose de cavalheiro, estranha aos homens do mar – Em que lhe posso ser útil?
- Em algo muito importante, acredite. – ajeitei minha postura e olhei fixamente em seus olhos – O que você sabe sobre Ferumbras?
Ele deu uma leve risada.
- Eu já desconfiava...Vou contar-lhe o que sei, Arieswar, mas peço que não me interrompa.
“O que posso lhe dizer é que em uma das minhas muitas viagens conheci um grande acampamento ao sul das Planícies de Havoc, onde eu não imaginava que colônias humanas se postassem. Foi uma sorte, pois nossos mantimentos já haviam acabado, e eles nos receberam bem. Contaram que formaram o acampamento depois de terem sua vila destruída por uma grande inundação.”
“Ficamos lá por algum tempo, e conhecemos vários dos moradores, senão todos. Entre eles estava um garoto extremamente habilidoso, que sabia truques dos quais eu nunca havia visto antes.”
“Eu quis conhecer os pais do garoto, mas parece que eles haviam morrido desde que ele era bebê, sendo assim criado por um outro habitante da vila, que fora assassinado há pouco tempo, agora ele vivia solitariamente. Lembro-me que até pensei em levar o garoto comigo, mas logo algo ocorreu...”
“Enquanto dormíamos no nosso navio, fomos atacados pelos moradores, que na verdade eram foras-da-lei foragidos, que se esconderam naquelas terras de difícil acesso para não serem capturados. Escapamos por pouco, graças ao nosso senso de desconfiança, que mandou-nos deixar os canhões preparados...mas foi uma bela surpresa ver aquelas pessoas tão atenciosas querendo nos matar para roubar nossos pertences.”
“É bem provável que eles continuem por lá até hoje, mas não é do nosso interesse destruir suas vidas, pois de qualquer forma eles salvaram a nossa, dando-nos comida e bebida, cuja falta poderia nos ser até fatal no caminho para Thais.”
- E como chamavam o garoto? – eu perguntei interessadíssimo na história.
- Não se chamava nada menos do que: Ferumbras.
Senti um frio na barriga; é ele mesmo; ele tem um passado; eu posso encontrá-lo...ele é tão humano quanto eu.
- Se pretende ir atrás dele eu devo adverti-lo sobre o seu poder. – falou Taghor sombrio – Eu sou um dos poucos que vi Ferumbras antes de sua criatura atacar a cidade. Desde criança esse rapaz é fora do comum. Acho que o mais recomendável é ficar o mais longe possível.
Eu não resisti e contei para Taghor a teoria de Pepelu, logicamente sem citar o nome do paladino. Ele precisou de uns momentos para refletir, e depois de pensar bastante pôde concluir:
- É intrigante. E pode estar certo. Daquele garoto eu não duvido de nada. Minhas recomendações valem o dobro, então.
Eu me levantei, o cumprimentei e fiz menção de sair. Antes de deixar o navio, porém, eu tive que fazer mais uma pergunta:
- Taghor, qual característica física que mais marcava esse garoto?
- Os olhos. – e eu senti até medo em sua voz – Eu nunca vi um olhar tão profundo. Eu senti algo como se ele não tivesse vida; como se fosse uma marionete do mal.
- E mesmo assim você queria levá-lo?
- Isso foi antes deles se revelarem, Arieswar. Ferumbras tentou me matar a bordo deste mesmo navio. Ele tem o mal correndo nas suas veias. Veias que quero que fiquem bem longe de mim.
Já de saída, eu só arrematei:
- Sangue por sangue, eu confio mais no meu.
··Hail the prince of Saiyans··