E vai começar mais uma justa literária! O Desafiante, o cavaleiro cinéfilo Drasty enfrentará o caridoso cavaleiro Martiny, o intrépido!
O tema era: Pedofilia. A votação ocorrerá até sexta feira, dia 5/07!
Lembrando que votos não justificados não serão computados!
A Marca do lobo
- Maria, não sei mais o que fazer.
A voz do outro lado da linha hesitava – devia estar chorando ou segurando as lágrimas com a garganta.
- Minha irmã, você não sabe o tipo de pensamento que eu tenho.
Com a mão esquerda segurava o telefone enquanto a direita ia enrolando o fio estendido. Ansiedade. Ânsia de vômito. De repente, ele largou o cabo e tentou pegar um cigarro na mesa do abajur. As mãos tremiam, frágeis.
- Cante alguma coisa para mim, Maria.
A respiração da irmã tornou-se então ofegante - como quem enfim havia soltado toda a adrenalina. Ele foi ouvindo um zumbido frouxo que, aos poucos, foi tomando forma, tornando-se uma canção.
- Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava, ladrilhar... – cantarolava o fone, quase sufocando.
- Essa não, Maria. Essa me lembra daquele dia.
Agora ele fumava aos tremeliques. Havia um copo de uísque sobre a mesa – mais gelo do que álcool.
- Posso te contar um sonho que tive?
Só conseguia ouvir soluços e os sons de um apartamento assombrado pela marca do lobo. Em seguida, a confirmação, baixinha, quase inaudível.
- Quase toda noite eu lembro daquele dia. Nós dois novamente presos naquela casa escura, os fantasmas perambulando pela noite, engolindo nossos desejos e sonhos. E assim, sem nenhum desejo que me sinto hoje, minha irmã. No meu sonho estou atado à cama. É aí que ouço o som de uma risada. Na escuridão da noite só consigo ver dois olhos vermelhos observando meus movimentos, se deliciando com a minha batalha contra meu próprio corpo. Em seguida sinto seus braços tentando me engolir. E aí, quando desisto do combate, o monstro me engole. Me devora, me dilacera, me consome. Fico assim sem carne, só restam ossos frios na cama quente.
- Chega João, eu não quero me lembrar. Você precisa superar isso, se tornar maior do que a sua própria lembrança. Se eu encontrei a felicidade no meu marido e no meu filho, você há de encontrar em algum lugar.
Ele já havia desligado quando ela terminou. João não sabia esquecer. João não podia esquecer. João ainda era violentado pelo lobo. Ainda podia ouvir seu uivo durante as noites de lua cheia. Ainda podia observar seus olhos nas sombras. O fantasma sempre surgia na margem do espelho, imóvel.
Levantou-se do sofá, decidido a encontrar uma saída. Caminhando pelo corredor escuro, ele tropeçou no último resquício da última namorada: um chinelo. No chão, sentado, tomou o calçado nas mãos. Como um verme, João se arrastou pelo chão do apartamento e entrou no banheiro. Não demorou para se sentar na privada, os olhos parados - cansados – fuzilando o chinelo rosa. Pequeno como de um anão, frágil como uma criança.
Sem pesar algum, ele abriu a boca e enfim, teve sua primeira refeição.Princesa
Era um porão escuro, empoeirado. Após os olhos estarem acostumados com a ausência de luz, os brinquedos, os caixotes velhos e os colchões no chão eram visíveis. Ali vivia Cintia; uma bela criança de cabelos dourados. Possuía traços fortes e bonitos no rosto e um corpo magro. Vivia suja, apenas tinha oportunidade de tomar banho quando seu pai trazia um balde de água quente e um sabão uma vez por semana. Ali era seu mundo, seu habitat. Apenas havia saído de seu palácio – era assim que se chamava – uma vez quando estava faminta procurando por comida, mas foi logo encontrada pelo pai, que dizia que o mundo exterior era perigoso e impuro. Após tal incidente, as refeições começaram a ser distribuídas diariamente, e com quantidade farta, para prevenir futuras fugas.
Não era triste. Pelo contrário, vivia sendo contada que tudo o que tinha era digno de rainha; brinquedos eram coisas raras fora dali. Banhos? Não havia esse luxo para pessoas fora do palácio. Ela sabia que era especial, sabia que era Princesa. Não queria sair, nunca. O mundo lá fora havia guerras, maldade, ganância, impureza. Era grata por seu pai, que a privara de toda a imundice exterior e a mantivera protegida e feliz.
A porta rangia. Cintia esperava ansiosamente pelo pai, hoje era dia de ouvir histórias e comer biscoitos. Ouvia com animação o barulho dos pés nos degraus, pronta para correr e dar um abraço.
- Papai! Trouxe o livro e os biscoitos?
- Claro, princesa.
Houve um grito animado quando a resposta foi positiva. Amava histórias, era a sua diversão favorita. As maiorias delas eram de quando o mundo ainda era puro, com duendes, elfos, fadas e unicórnios. Não conseguia controlar o riso de criança quando os personagens entravam em enrascadas, nem os olhos assustados quando os mesmos eram capturados pelos vilões. Suas preferidas eram sobre as belas princesas – todas com o nome Cintia -, seus palácios solitários e seus príncipes. Um dia perguntara a seu pai se ele era seu príncipe, e a resposta foi sim. Eram casais, felizes para sempre.
Os biscoitos acabaram, e as histórias chegaram ao fim.
- Vamos brincar da nossa brincadeira agora, querida?
Suas pernas se fecharam como reflexo.
- Não, ainda está doendo. – não gostava de decepcionar seu herói. Era o mínimo que poderia fazer, não? Era uma mera recompensa por tudo o que ele havia feito por ela. – Mas, eu posso fazer aquilo com a boca que você me ensinou, sabe? Acho que estou ficando boa.
- Acho melhor não, vamos fazer o de sempre. – e abriu o zíper. Ela já sabia o caminho, era apenas colocar a mão dentro da calça, puxar a roupa de baixo e agarrá-lo. O movimento era simples, repetitivo. O ritmo, constante, com leve aceleração, suave, até receber o sinal para parar. Era o jeito que o satisfazia, e satisfazê-lo era tudo o que ela queria. “Que mãozinha fria Cintia, vai”.
Ele a abraçava e dava leves beijos, e logo também começou a tocá-la. Antes, sentia nojo, medo. Hoje, anos depois, aprendera a gostar, sentia prazer. Quando a visita demorava muito a chegar, ela se tocava, pelo puro desejo de se satisfazer.
O toque já não era mais dor, desgosto. Era vício, prazer. Gostava e esperava ansiosa, assim como os biscoitos e histórias.
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