Antes de colocar o texto, uma coisinha. O título está errado, o nome do conto é o que eu coloquei mesmo. Mas eu não consegui postar com o título certo porque dava um bug com os tópicos similares e eu não conseguia postar. Optei por deixar o título original em inglês do que mudar...
O Xerife não tem medo de morrer
Farrow sentava-se na cadeira de balanço, fitando o céu sem nuvens, de um azul claríssimo. Bebia uma cerveja.
Estava ansioso. Os rumores espalhavam-se rápido e as folhas amareladas penduradas em todos os postes ao redor do Texas chamavam alguma atenção. Neles continha a seguinte frase: “Procura-se por este homem: Recompensa em ouro”. E a foto do desgraçado.
O xerife deixou-se balançar por alguns minutos, bebericando alguns goles vez ou outra. Beberia mais, porém sabia que só tinha outras duas garrafas na despensa. Era tarde de sábado e o bar ia começar a vender pelo dobro do preço habitual; praticamente um roubo á mão armada, mas sem evidências para colocar o maldito dono daquele recinto imundo na cadeia.
Os dias passavam rápido. Parecia ontem que ele virara xerife, com o cabelo ainda moreno, diferente do grisalho atual. Parecia ontem que ele atirara no primeiro bandido e descobrira que a arma feria o corpo e a alma.
Segurara o cabo de uma arma pela primeira vez com cinco anos, junto com seu pai. Depois, aos sete, errou pelo menos quatro tiros tentando acertar os passarinhos junto ao seu pai. Foram para casa dormir, mas o pequeno não quis esperar pelo próximo dia e surrupiou o revólver.
Sempre que se lembrava disso, tinha arrepios. Podia ter atirado em si próprio acidentalmente. Talvez acertasse algum viajante e manchasse a reputação do pai – de homem honesto - para o resto da vida. Mas não. Acertou um passarinho. E outro. E iria acertar mais um, mas haviam acabado as balas. Voltou para o casebre, onde sua mãe e pai estavam acordados e preocupados, procurando-o. É claro, havia se distanciado mais de cem metros para que seus pais não acordassem com o barulho. Já era esperto desde criança.
Foi castigado pela mãe. Distanciou-se do que viria a ser sua paixão até os quinze anos, quando se embebedou pela primeira vez e acabou envolvendo-se em um duelo.
Como um homem honrado, pegou o revólver do pai. Encontrou-se com o inimigo, no meio do deserto. Os dois puxaram a arma do coldre no mesmo instante. Os dois erraram. Farrow, porque era inexperiente. Seu oponente, pois estava extremamente bêbado. Morreu de coma alcoólico antes que pudesse mirar outra vez. Não iria acertar o alvo de qualquer maneira, pois sua visão deveria estar, no mínimo, triplicada.
As histórias espalham-se. O pai de Farrow descobriu. Ao invés de puni-lo, disse as mais sábias palavras que o filho já escutou:
- É melhor você melhorar essa mira antes que você arranje um inimigo de verdade.
Por dois anos, ele e seu pai pararam pela primeira vez na vida de se preocupar exclusivamente com as plantações que iam além da colina; ele passou esse tempo treinando o filho. Com dezoito anos, não havia melhor atirador que Farrow em todo o Oeste. Ele desafiava a todos que criavam confusão na cidade, principalmente os forasteiros desordeiros. Por muitas vezes quase morreu.
Em um de seus duelos, escorregou em uma pedra no momento do puxar as armas e escapou por um triz do que viria a ser sua ruína. Agradeceu por esse acontecimento, pois o homem que desafiara, viera a descobrir depois, era imbatível. Era o melhor dos melhores. Seu nome era Dareen. Após resolverem seu desentendimento com diplomacia, descobriram muito em comum. Lá pelos vinte e cinco, Farrow era parte de um grupo de amigos muito influentes no Texas. Todos os respeitavam. Corria o nome de Polícia para denominar a sua organização.
Gostaram do nome. Os vinte – eram vinte, na época - se auto-proclamaram defensores da Lei. Porque criaram uma lei. Não era a lei do mais forte, e sim a lei da justiça. Muitos não concordaram com eles. Resolveram suas diferenças com duelos. Tudo por uma causa justa. Tinham que haver mortes para que parassem as mortes.
Aumentaram seu número para que não fossem dizimados. De vinte passaram para cem e para vinte de novo. Poucos duravam. O Texas não queria uma revolução. Queria era cerveja grátis.
Dareen levava nas costas o peso de todas suas matanças. Na maioria das vezes, antes que Farrow pudesse tirar a arma do coldre, o melhor atirador que já vira na vida já estava apertando o gatilho. Dareen nunca errava um tiro. Graças a ele, os policiais conseguiam se manter vivos. Os inimigos eram muitos, e o povo não via a melhoria de uma sociedade justa, onde um fora-da-lei não seria alguém que pudesse exigir todo o seu dinheiro sem nenhum esforço, e sim um infeliz jazendo na cadeia.
E Farrow percebeu, aos trinta e poucos, que, com o apoio do povo, oprimiriam os tiranos. Deu uma festa. Com entrada franca e bebida à vontade, com o requerimento de que apoiassem a causa da polícia. Vários solitários que nunca pensariam em sobreviver de outro jeito a não ser roubando, compareceram. Whisky grátis era uma tentação. Executou todos os fora-da-lei que compareceram à festa. Deixou claro sua opinião e o que eles – a polícia - faziam. E subiu no palanque onde o violeiro tocava e disse:
- Eu sou, de agora em diante, o xerife dessa cidade! – vivas e aplausos. Ninguém sabia o motivo da alegria, mas estavam todos caindo de tanto beber.
Todos os policiais estavam reunidos em um salão, depois da festa. Voltariam para suas casas no dia seguinte, quando estivessem menos bêbados e mais certos de que poderiam lidar com bandidos.
Começava a estiar. A chuvinha fina caía devagar, como que provocando o furioso Dareen. Chamou o xerife para um canto.
- Nós dois sabemos quem que sabe atirar melhor! Eu deveria ser o xerife, eu! – berrou ele.
- Acalme-se, homem. Vamos então fazer desta cidade uma cidade com dois xerifes! E então toda a Polícia será condecorada! – falou o animado Farrow.
- Você não entende. Isso não é questão de um título bonito.
- Então para que você o quer?!
- Para cuidar do que é meu! Tudo o que eu conquistei, você veio e tirou. E o meu mérito? Por que quando se pensa nos heróis que estão fazendo do Texas um lugar onde não precisa se ter medo dos bandidos, pensa-se em você e não em mim? – suplicou com últimas palavras. Não é como se ele tivesse dado a Farrow alguma escolha.
Ele deu as costas para o xerife e saiu andando. Ele deve ter ido para o saloon, ou percorrido alguma distância inútil para preencher seu vazio. Mas, à noite, enquanto Farrow estava deitado, escutou um forte estampido. Todos os policiais, dormindo no mesmo salão, pularam de suas camas com o revólver na mão. Dezenove pessoas se levantaram, pois o que faltava já estava em pé.
Dareen esquivava-se das balas incertas e trôpegas enquanto assassinava os companheiros, com o sorriso rebelde a olhar para Farrow. Puxava o gatilho se protegendo com uma mesa virada, mas a maioria dos tiros nem chegava perto de acertá-lo.
Quando a pólvora baixava e Farrow caía, com uma bala não-letal na sua perna e seu revólver sem munição caído no chão, os dois últimos policiais se entreolharam e Dareen deu as costas para Farrow uma última vez, enquanto lágrimas escorriam da face do que perdera todos os amigos que possuía.
E Farrow, dez anos depois, bebia sua cerveja olhando para o céu e pensando no filho-da-p*** do Dareen, que estava agora sendo procurado pela Polícia, que crescera e agora agia mais discretamente, mas não menos eficientemente. Os fora-da-lei continuavam existindo, e isso não era um grande problema. Existiam poucos e agora não eram mais vistos com bons olhos.
Ao anoitecer, um oficial chegou junto a dois soldados e um homem algemado entre eles. Dareen continuava magro, baixo, mas agora não era tão cabeludo. Seus olhos pareciam mais acinzentados e a barba havia crescido.
- O que fazemos com ele agora, xerife? – perguntou o oficial.
- Dê a ele um revólver. Ele ficará a quatrocentos metros de mim. Se acertar o tiro e me matar, ele está livre.
Os policiais estavam pasmos com a ousadia do xerife. Mas afinal, quem é que conseguia acertar de quatrocentos metros de distância com um revólver?
Houve contato ocular. Dareen ousou dizer.
- Você sabe que eu nunca erro.
- É bom que isso seja verdade. – replicou o penúltimo dos verdadeiros policiais a morrer.
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