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Tópico: Oferendas

  1. #1
    Avatar de Scholles
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    Antes de começar, gostaria de pedir desculpas pela minha ausência no fórum, meu pc bateu as botas e estou usando o do meu irmão. Não que eu estivesse muito presente no fórum antes, mas enfim...

    Se alguém aqui presente leu Contos de Fanor, devo dizer que, se sair a continuação, vai demorar. Perdi o que já tinha escrito, uma puta de uma introdução feita pelo Fanor, de umas 2 páginas, e o começo do meio da história. É foda ter que reescrever tudo.


    É um tipo de texto que é raro eu escrever, portanto também gostaria de críticas.


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    Lamir batia suas mãos morenas e calejadas no tambor, que ecoava lamentos aos tapas do índio. Ele usava uma grande máscara branca e azul, com dois pequenos buracos para os olhos e um imenso para a boca, onde grandes dentes de ursos haviam sido presos e colados por uma mistura de substâncias retiradas das árvores.

    O homem havia rezado para o deus das florestas antes de pegar o precioso sangue das árvores, assim sua tribo permaneceria protegida da fúria dos deuses. E agora, a máscara que fizera o protegeria dos maus espíritos e chamaria a atenção de Razu, o Grande Deus, que protegia a todos da tribo de Gaiask.

    E então, um suave aroma de frutas tropicais invadiu as suas narinas, e motivado pela fome, começou a mudar o ritmo do tambor, indo cada vez com mais potência e rapidez.
    Outro homem, dessa vez nu, entrou na pequena cabana circular, com toras escavadas no chão apoiando o teto de pedra que espelhava o chão. Seu rosto estava banhado de gordura de javali e haviam dois riscos vermelhos nas suas bochechas, simbolizando que era o sacerdote principal. Seu longo cabelo negro estava preso em um rabo-de-cavalo, e de seus grossos lábios vermelhos saía um cântico grotesco, pitoresco. Lamir já não mais controlava suas mãos, que batiam cada vez mais velozmente, até que pararam bruscamente do mesmo modo que a voz.

    - Podem me ouvir? - falou Joíha, o sacerdote, com a voz trêmula. Um longo silêncio começou, até que rispidamente gritou um comando na Língua Antiga, que Lamir não entendeu. Um jovem entrou correndo na sala, segurando em uma bandeja de pedra lisa um monte de morangos cuidadosamente esmagados, mergulhados em sangue de ovelha, simbolizando prosperidade. - Não. - acrescentou com tristeza.

    O pequeno guerreiro largou as frutas no chão, e então disparou a correr e passar pelas cortinas de pele de lobo da cabana que deixavam o sacerdote e o homem sozinhos. Então, o tambor voltou a ser tocado com brutalidade, enquanto ordens eram gritadas.
    Sob um som nem um pouco agradável, foi lá jogado um homem branco. Sob seus olhos foram tatuadas duas chamas, logo após ter os olhos arrancados. Seu rosto expressava uma agonia sobre-humana, e suas costas estavam vermelhas. O mesmo jovem voltou a passar pelas cortinas franzidas e entregar um pedaço de cipó para Joíha. Ao segurá-lo, chutou o escravo até cair e brandiu o chicote, açoitando o infeliz, que gritou de dor e a pele, já sensível, começou a soltar um repugnante pus misturado com sangue.

    Ao brandir o chicote pela segunda vez, Joíha parou. Havia um sibilo, um eco que o tambor não estava produzindo, porém estava ali.

    - Pare - sussurrou. Dito e feito, mas o eco continuava. E então, na Língua Antiga, continuou: - Razu, está entre nós?
    - Não. - sibilou simplesmente a cabana.
    - Quem está aqui?

    E então, subitamente, Lamir voltou a tocar o tambor. O sacerdote mandou-o parar, mas ao olhar em seus olhos, havia somente o vazio, tão profundo e aterrorizante quanto o branco aos seus pés, com órbitas vazias.

    - Demônio, saia deste corpo! - apontou o dedo anular para o guerreiro tocando tambor. Seu dedo, inesperadamente, começou a arder. Ao gritar e tocar na parede da cabana para esfriar o dedo, a cabana inteira começou a queimar. Com o corpo tremendo, o sumo sacerdote falhara em sua missão. Envergonhado, sabendo de seu terrível destino, correu para fora da cabana, abandonando não só Lamir e o homem branco. Lá fora, uma pequena multidão se reunia, e todos lançaram olhares desconfiados para Joíha, quando ele corria.

    O fogo ainda não havia se demonstrado para fora da cabana. Os demônios talvez não quisessem ir para fora. A previsão se mostrou errada quando uma labareda perpassou a gigantesca pedra, que caiu após ter suas toras de apoio queimadas. E então, Joíha correu. Correu, movendo seu corpo nu através das casas, e logo depois, das árvores. As ovelhas não gostavam mais dele. Ao se aproximar, elas corriam, aterrorizadas.
    Porque, naquela noite, os deuses e os demônios não quiseram um homem branco.
    Quiseram um índio.

    E, agora, o fogo se espalhava, as cabras morriam, as pessoas fugiam desesperadas.
    Porque, naquele dia, os deuses quiseram toda Gaiask.

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  2. #2
    Avatar de Tuelho
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    Interessante... MUITO interessante...

    Eu gostei, e espero que tenha continuação. Porque me deixou bastante curioso.

    Não achei nada gramaticalmente incorreto... e minha única crítica é que você conseguiu fazer um prólogo (?) envolvente.

    ;]~
    Última edição por Tuelho; 22-02-2009 às 18:59.
    Tuelho~


    ---------------------------------------------------------

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    Comigo agora:
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    Mão no saco!
    Mão na xoxota!"

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  3. #3
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    Eu costumo ter muita pouca paciência para ler textos pelo computador; mas, desta vez, tive uma súbita vontade de ler esse aqui minuciosamente.



    Outro homem, dessa vez nu, entrou na pequena cabana circular, com toras escavadas no chão apoiando o teto de pedra que espelhava o chão.
    Chão, chão, chão... Não, não é aquele funk. É repetição de palavras.

    Seu longo cabelo negro estava preso em um rabo-de-cavalo, e de seus grossos lábios vermelhos saía um cântico grotesco, pitoresco.
    Você usou o plural em lábios e o singular em cabelo... Não sei se é exatamente um erro, mas isso me soou estranho.

    Lamir já não mais controlava suas mãos, que batiam cada vez mais velozmente
    Isso é uma questão total de opinião, mas eu acho que ficaria melhor "já não controlava mais". O que você usou, ao meu ver, se encaixa bem somente em textos pomposos demais. O que não é o caso.

    E então, subitamente, Lamir voltou a tocar o tambor. O sacerdote mandou-o parar, mas ao olhar em seus olhos, havia somente o vazio, tão profundo e aterrorizante quanto o branco aos seus pés, com órbitas vazias.
    Perfeito. Essa é aquela parte que, por mais que você tente melhorar e dar um toque pessoal, não consegue. Perfeito.

    - Demônio, saia deste corpo! - apontou o dedo anular para o guerreiro tocando tambor. Seu dedo, inesperadamente, começou a arder. Ao gritar e tocar na parede da cabana para esfriar o dedo, a cabana inteira começou a queimar.
    Primeiro, não faço a mínima idéia de qual dedo seja o "anular", se é que foi isso que você quis dizer.

    Segundo, não precisa nem falar. Repetição. Dedo e cabana.

    Porque, naquela noite, os deuses e os demônios não quiseram um homem branco.
    Quiseram um índio.

    E, agora, o fogo se espalhava, as cabras morriam, as pessoas fugiam desesperadas.
    Porque, naquele dia, os deuses quiseram toda Gaiask.
    Novamente, perfeito.



    Eu não lembro muito de seus outros textos, Elementals, mas acho que não eram tão bons assim (pelo menos os que eu li). Pelo visto, você teve um baita progresso.

    Parabéns pelo prólogo (??) envolvente, e continua isso aí! :happy:

  4. #4
    Avatar de Thomazml
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    Gostei bastante do texto, os detalhes foram bem descrevidos. Fiquei surpreso, pois não me lembro de ter lido algo parecido assim feito por você. Digo, seus textos são sempre bons, mas de caráter diferente.

    O último parágrafo foi o melhor para mim. Me deixou com vontade de ler o texto todo de novo, coisa que eu fiz. Tomara que tenha continuação, se tiver, vou acompanhar.
    Quer participar de uma alta aventura com essa turma do barulho? Quer escrever sobre Tibia, ser enganado por um monge pra lá de pestinha? Achas que tens o que é preciso para esma... digo, para entrar no Hall da fama? Passa lá na Biblioteca-imensa-cheia-de-coisa-e-mundialmente-conhecida!

    Escritos no TebeaBeerre

    -=R.I.P =-
    Aqui já Lucius Cath
    Eterno troll

  5. #5
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    Citação Postado originalmente por Tuelho Ver Post
    Interessante... MUITO interessante...

    Eu gostei, e espero que tenha continuação. Porque me deixou bastante curioso.

    Não achei nada gramaticalmente incorreto... e minha única crítica é que você conseguiu fazer um prólogo (?) envolvente.

    ;]~
    Valeu, cara. Anima muito esse tipo de comentário =D


    @Steve, valeu pelo toque dos erros. E obrigado pelos elogios também. Eu comecei a escrever melhor em 2008, mesmo.

    Citação Postado originalmente por Thomazml Ver Post
    Gostei bastante do texto, os detalhes foram bem descrevidos. Fiquei surpreso, pois não me lembro de ter lido algo parecido assim feito por você. Digo, seus textos são sempre bons, mas de caráter diferente.

    O último parágrafo foi o melhor para mim. Me deixou com vontade de ler o texto todo de novo, coisa que eu fiz. Tomara que tenha continuação, se tiver, vou acompanhar.
    Valeu pelos elogios, cara.

    Sobre a continuação. Sim, vai ter, mas talvez esteja longe de acontecer. É o prólogo de um romance, na verdade. Um longo romance, porém já estou escrevendo um. Talvez eu o poste aqui, estou com umas 17 páginas de word, mas não quero receber nenhuma crítica desanimadora antes de ter bastante história.

    Abraços, pessoal, e obrigado pelos comments.




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  6. #6
    Banido Avatar de Hovelst
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    Puts, cara.

    Esse, na minha opinião foi teu melhor texto. Sem dúvida alguma.

    Ficou muito bom e não tenho muito do que reclamar. Só acho que se tu futuramente publicar isso, eu tenho uma idéia para ti. Não sei como vai funcionar, mas se isso ficar entre os índios, tu poderia muito bem adaptar a história para se passar entre os maias, dando um final alternativo para como eles acabaram. Mas aí é contigo porque não sei o rumo da história.

    De qualquer forma, foi um texto bem agradável e que me surpreendeu, pelo fato de ser totalmente o contrário de suas temáticas.



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