Prólogo
Ele estava completamente aturdido, com a mente infestada por incessantes murmúrios; uns sussurrando isto, outros aquilo. Familiares, amigos, noticiários, padres... Nada o deixava em paz. Seu olhar atônito mirava aquele que havia sido o seu objetivo durante cerca de trinta longos e deprimentes anos, e agora ele se encontrava simplesmente imóvel, tomado pelo medo, pela confusão, suando frio. Dentre tantas vozes, a de seu já falecido pai sobressaiu-se: “Na vida, ou você é a caça ou é o caçador, filho.” Agora, ele vivia aquela situação à flor da pele, e estava decidido a não ser a caça, embora algo ainda o impedisse.
O barulho rítmico e deprimente das gotas d’água, provenientes da forte chuva do lado de fora, ditava a atmosfera sombria daquele velho armazém. Não sabia se aquilo era de fato real, ou se era coisa de sua imaginação, mas jurava estar ouvindo também gemidos de outro mundo, como se os espíritos estivessem acompanhando aquela dramática cena, apreensivos com o seu desfecho. Mas, àquela altura, não precisava ter tomado droga alguma para ter começado a delirar. Já não era mais a sua mente que comandava o seu corpo. Na verdade, ele não sabia como fazer seu corpo voltar a mover-se.
Estava louco para acabar logo com aquilo tudo, mas havia também tornado-se um mero espectador daquele macabro espetáculo. Lembrou-se de Jesus Cristo, o grande herói. Ele, naquela situação, sem conseguir mexer um dedo de seu corpo, sentiu como se fosse Jesus Cristo. Havia, contudo, uma diferença crucial. Ele não estava disposto a morrer para salvar o mundo, mas sim a matar. E só de um único dedo para tal. Naquele exato instante, como se fosse um milagre, seu corpo voltou a mover-se. Deu dois passos para a frente, cambaleante, e moveu a sua mão direita, trêmula, na direção do rosto de sua caça, que jazia no chão do armazém, com o olhar apavorado, e o corpo tão imóvel quanto o seu a instantes atrás. Não se ouvia nem mesmo a sua respiração.
- Agora, você vai pagar por tudo o que fez a mim e a humanidade. – disse ofegante, e ordenou que seu dedo puxasse o gatilho, acabando com todo aquele sofrimento.
E o dedo o obedeceu.
...
Não se ouviu mais gemido algum no local, os espíritos já haviam visto tudo o que tinha a ser visto. Até a chuva havia cessado. Agora, um silêncio celestial se abatera sob aquele velho armazém.
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