"... - Ai irmão, tem fogo? - Disse o rapaz que passara ao meu lado com sua bicicleta pela avenida.
- Tá ai, 'brother'.
- Valeu, cara!
Continuando a caminhada noturna, o sujeito volta lentamente, segurando em sua mão direita uma pistola 765 cromada, parecendo gasta pela velhice. Sem muita paciência gritou:
-PASSA O CELULAR AI, IRMÃO! VAMOS, RAPIDINHO! RAPIDINHO!
Não demorei muito para esvaziar meus bolsos, vendo que meu colega fazia o mesmo, e a aflição ao ver e pensar que a qualquer momento, naquela rua abandonada, poderia sentir uma bala perfurando o intestino, ou latejando na perna, até mesmo cravando na cabeça... Você não pensa direito, apenas sabe que deve entregar e tem que aguardar seu 'julgamento'. Os céticos diriam apenas que coisas assim acontecem, devido a situação de nosso país e dos filhos da pátria. Alguns previlegiados, outros ganhando a vida por meio alternativo. Já os crentes, agradeceriam a deus, por ter apenas alertado sobre o risco que corre ao caminhar a noite.
-TÁ MENTINDO PRA MIM, IRMÃO? TÁ MENTINDO, AHN?
Gritava o sujeito tentando pressionar. O brilho do revólver refletindo em intervalos devido a agitação do assaltante. Levou minha harmônica, meu cigarro, o dinheiro do meu amigo e seguiu rumo a outra vítima ou sustentar seu vício. Tirou meu sono, minha paciência, meu vício (cigarro) e meu blues (harmônica)... Mas não trouxe a tristeza, a angustia, a ira para minha família, amigos, parentes, pois não tirou minha vida."
Relato do que presenciei no dia 08/12/2007 ás 03:32h da madrugada. Fui vítima.
Quem acusar? O ladrão ou o país?
Entra uma antítese sobre este assunto. Ficamos no meio termo por alguns motivos.
Não podemos diretamente julgar o ladrão, mas não somos hipócritas para negar que na hora da ira, só queremos vê-lo na pior de alguma forma. Julgamos no ato seu destino sem fazer nada, assim como o próprio assaltante tem em suas mãos o julgamento de nossos passos.
Sabemos que parcialmente ele tem culpa nisso. Reconhecemos isso após nosso susto, nossa raiva. Sabemos que por falta de uma mão estendida, de um sorriso amigo, o bandido vira de fato um bandido por desejar o que não tem.
Podemos pensar em um volume de um aparelho som, utilizá-lo como gráfico apenas imaginando que fontes levam a outras. Começando pelo volume mais baixo, que é a falta de organização, recursos e planejamento da segurança. Da falta de vontade, competência e atitude dos 'senhores' éleitos para representar o brasil. Passando em seguida pelo caos que leva a desigualdade, a inimizade e a desunião. Aumentando um pouco mais para a divisão de classes, vendo os bem sucedidos com boas condições, e outros com seu método alternativo de ganhar a vida. Abaixando novamente esse volume para o 'zero'... Onde leva o rico a trancafiar-se em locais de lazer como shoppings, onde tem segurança, onde tem com o que gastar... Levando ao pobre, o sujeito que o rico mantém ali, nas piores condições, sendo forçado a aceitar sem escolha sua posição na sociedade: Um nada, alguém sem voz ativa, sem som... Levando mesmo, a querer seguir os passos do sujeito bem sucedido, tomando o que ele tem de melhor da pior forma. O 'volume' é um gráfico representando o caos, alternando sua intensidade de acordo com os acontecimentos do cotidiano. O pobre não tem a intensão de roubar, mas rouba porque precisa. Assim como o rico não precisa ter todo seu dinheiro para esbanjar, mas esbanja porque pode e porque quer. Não pensa na igualdade.
Mas o rico não sabe que o pobre que ele ajuda a existir é tão ignorante que rouba outro pobre. Assim como o pobre não sabe que o rico é inútil o suficiente em acreditar que não é roubado por outros ricos. Perde fortunas enriquecendo o bolso de outros. Perde muito dinheiro, esbanjando. Mas ambos nem preocupam-se com isso. Estão acostumados a viver desta forma.
O pobre tem a mesma finalidade que o rico quando tem dinheiro, a diferença é a quantidade e com o que gasta.
O rico rouba do pobre e o pobre do rico. O pobre do pobre e o rico do rico. É irônico!
Esse volume de um aparelho de som, como gráfico, mostrará por tempos ainda essa desigualdade, onde um pobre qualquer começando do zero fica bem sucedido, levando seus irmãos a caminhos distintos com sua forma de sobreviver.
Relato aqui, não só minha revolta, mas uma reflexão sobre o que é engraçado pensar quando se é assaltado. Como foi a sensação.
Vocês, já foram roubados? O que sentiram na hora? O que pensam sobre isso?
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