
Postado originalmente por
Rocko
Eu li, mas mano, eu sou muito burro porque não to entendendo até agora no que tá se baseando o que você tá apresentando. Quem dá o valor? O meio inserido? Quem lhe assegura a propriedade? Você mesmo? Um PNA entre os indivíduos? Isso me soa utópico, até anarcocapitalista. No caso da propriedade de terras, como que você aplica essas regras? Você vai comprar de outro, mas que obteve essa terra como? E sobre o uso dessa terra? Como equacionar impactos, que somados a de outros, geram consequências globais sem ferir esse individualismo?
A definição de propriedade como extensão da individualidade não exime a mesma de conflitos no âmbito social. A mesma coisa acontece com você, indivíduo. Acho que é inquestionável que você (seu corpo, seu pensamento) pertence a você mesmo. Se assim não fosse, nem estaríamos aqui discutindo. Mas quem é você em meio ao nada? Quem te dá valor, quem reconhece suas qualidades, quem te recompensa por gerar valor? O individualismo como visão filosófica não é a exclusão total da sociedade, não é tornar o indivíduo uma ilha. Nós somos geneticamente preparados para nos conectar e necessitar de outros seres humanos e isso não vai mudar.
Que a sociedade e o entorno social do indivíduo é importante, não tenho dúvidas. A família (com ou sem laços sanguíneos), por exemplo, é o maior e mais importante núcleo de uma sociedade. Só que isso é diferente de dizer que, a partir do momento em que a sociedade é importante ao ser humano, os interesses coletivos tem que sempre serem colocados acima do interesse do indivíduo.
Veja, eu não compro caixinhas ideológicas, não acredito em perfeição utópica de sociedade. Tenho na individualidade uma visão filosófica e moral, um guia para avaliar decisões sociais. E acredito que o lado do individualismo, representado pelo liberalismo em um sistema capitalista, é o que gera mais bem-estar e menos sofrimento ao indivíduo, apesar de exigir algumas responsabilidades. Confesso que nem todas as questões são triviais, muitas vezes o pragmatismo acaba se mostrando uma saída mais simples e relativamente satisfatória do que uma intervenção cultural, que pode nunca acontecer ou demorar décadas. Mas acredito também que sucessivas decisões coletivistas e o império desse tipo de pensamento na cultura de uma sociedade é sintoma inicial de ordens totalitárias. É por isso que entre o capitalismo liberal e o socialismo, defendo o primeiro.
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Que fique claro que tudo que coloco aqui extrapola política, extrapola governo e Estado. Acredito que, mais importante que um político de ideologia liberal dando canetadas que podem ser desfeitas com outras canetadas, é uma cultura popular liberal. São as pessoas entenderem que, uma vez que não existem coletivos para se responsabilizarem por suas vidas, essa responsabilidade retorna a elas. Por isso bato tanto no Bolsonaro, apesar do cara ter um ministro economicamente liberal e prometer diminuir o Estado. Ao meu ver, culturalmente, a eleição de um cara como o Bolsonaro é uma demonstração que nossa sociedade só está substituindo uma ordem coletivista por outra, baseada me personalismos, forças religiosas, nacionalismo e militarismo. E, pessoalmente, esses outros coletivismos me irritam muito mais que os da esquerda liberal/progressista.
Uma coisa que gosto sempre de anotar e observar para meus amigos mais de esquerda é que
respeitar as diversidades não é só respeitar as minorias. É respeitar também o fato de que certas pessoas nascem com "talentos", tem mais sorte ou acabam tomando decisões que geram mais valor à sociedade. As vezes eu penso que muitos segmentos de ideologia da esquerda são um culto à inveja. É como o exemplo da discussão sobre "Salário do Neymar vs. Salário dos Professores". O discurso é sempre o mesmo: "como pode um jogador de futebol favelado ganhar mais que um professor com doutorado só por chutar uma bola? EU não acho isso certo". A pessoa é incapaz de perceber que o valor gerado pelo Neymar é como um voto do resto da sociedade de que aquilo que ele faz é objetivamente mais valoroso do que o que um professor faz, independente da opinião dela. Dessa falta de percepção nascem os pequenos ditadores.