Capítulo 4 - Sangue no bar
Kruggel não acreditava em que seus olhos viam. O antes ladrãozinho de bolsas agora estava com uma adaga empunhada, cheia de sangue e chamando o nome de Kamilla.
Em um ímpeto, Kruggel levantou da cadeira onde sentara e abriu os dois braços, caminhando lentamente para trás e tentando, inutilmente, proteger Kamilla.
O assassino começou a andar calma e lentamente pelo bar, como se estivesse caminhando em um parque. Sua adaga fazia movimentos monótonos e certeiros, formando pequenos círculos ao redor de sua mão. Era óbvio que quem quer que fosse aquele homem, já tinha alguma experiência no manejo de armas brancas.
— Ora, ora, não seja tolo garoto. Apesar de você ter me causado alguns machucados, não é a você quem eu quero. Vamos, saia já da minha frente e fique fora disso, ou vai se machucar ! — O sujeito disse sorrindo sínicamente para Kruggel e girando sua adaga com os dedos.
— O que você quer Crowg ? Já te disse que não quero você perto de mim. — Kamilla balbuceou e deu mais três longos passos para trás.
No mesmo instante, a garçonete saiu da cozinha com alguns pratos em sua mão, e ao avistar o assassino, deu um berro, derrubou tudo e correu de volta para a cozinha do bar.
— Crowg ? Você me disse que não conhecia esse homem. — Kruggel se virou para Kamilla e semicerrou os olhos em um ar interrogativo.
— Depois conversamos sobre isso, Kruggel.
— Não Kamilla, não haverá um depois. Eu vou matar vocês dois. Se o molequinho ai não quer sair por bem, irá sair por mal. — Dito isso, Crowg começou a aumentar o passo, até estar a menos de quatro metros de Kamilla e Kruggel.
Esticando a cabeça, Kruggel não conseguiu ver mais nada além de cadeiras, mesas e velas. Nem mesmo uma faca de cozinha estava à vista.
Sem pensar duas vezes, o garoto catrafilou uma cadeira como se fosse sua única esperança. Levantou-a em um movimento circular na direção do homem e acertou a mão dele, que estava a menos de um metro de distância, pronta para golpeá-lo no fígado.
Mesmo o impacto da cadeira sendo forte, não causou muita dor e muito menos derrubou o facão da mão de Crowg. Do contrário, só fez ele ficar mais furioso e vingativo.
— Vai pagar pela sua insolência, seu menino desgraçado! — Crowg segurou sua faca com toda força e partiu para cima de Kruggel, mirando em sua jugular. Quando a adaga estava prestes a atingir o moçoilo, Kamilla agarrou em um prato qualquer e atirou na cabeça de Crowg, e por incrível que pareça, atingiu em cheio, abrindo um grande corte em sua bochecha direita, e fazendo-o apartar o golpe.
Kruggel não pensou duas vezes, correu na direção do malfeitor e o golpeou com uma joelhada na barriga. Mas seu estado físico não ajudou muito. Estava cansado, havia andado o dia inteiro e bastou apenas um empurrão por parte de Crowg para que Kruggel cambalear para trás.
Vindo com muita fúria, Crowg levantou seu terçado na altura do peito, pronto para golpear Kruggel no coração. Mas a astúcia do garoto o levou a pegar uma pequena bandeja de metal que jazia a sua direita, bloqueando o golpe fatal, mas destroçando o instrumento usado pelas garçonetes.
—Pegue, Kruggel! — Kamilla lançou para Kruggel uma espada até então oculta em sua cintura.
A espada veio rolando pelo chão e parou ao lado do garoto.
Kruggel apanhou a espada e viu que ela era leve no cabo mas pesada na lâmina, perfeita para ter maior controle sobre os golpes de Crowg. Apesar dele não saber manejá-la com precisão, ao menos teria uma luta mais justa.
— Com ou sem espada, vou acabar com você.
— Kruggel deu a volta na mesa redonda, de forma a deixar Crowg do outro lado. Os dois ficaram trocando passos em volta da mesa, de forma que Crowg sempre ficava do lado oposto de Kruggel.
— Idiota ! Está zombando da minha cara ? Vai pagar caro ! — Crowg tirou uma grande pedra de seu bolso esquerdo e atirou na cabeça de Kruggel, que caiu sem forças.
Rapidamente, Crowg se aproximou dele, e segurou Kruggel pelos braços.
— Seu inútil. Você não sabe nem mesmo manejar uma espada. Olhe isso, olhe isso, com isso aqui você conseguiria arrancar minha cabeça fora. Com uma lâmina dessas você conseguiria me matar com os pés atados. — Crowg pegou a espada jogada ao lado de Kruggel e ficou zombando de sua falta de habilidade com a arma. — Mas não, você é um lixo, não consegue nem mesmo segurar uma espada direito. Seu inútil ! — Crowg deu dois chutes violentos na barriga de Kruggel, fazendo-o vomitar sangue.
— Hahaha, depois eu cuido de você. — Crowg jogou a espada de Kruggel a uns dois metros de onde o garoto estava deitado e se virou para Kamilla.
— Meus assuntos são com você, sua vaca. — Crowg chegou perto de Kamilla e a agarrou pelo braços. — Por que fez aquilo comigo, por quê ? — Agora você vai ver, vou matar você na frente de seu defensorzinho patético.
Kruggel avistou a espada e começou a engatinhar devagarinho, passada por passada em direção a arma.
— Não, por favor Crowg, me largue, eu não quero nada com você. Me largue. Socorro !!! — Kamilla gritava e começou a soluçar e chorar.
No instante que Kruggel viu Crowg tentando levantar a saia de Kamilla, ele não se segurou. Rolou até a espada, agarrou-a e, com muita destreza mirou na cabeça de Crowg.
A lâmina era pesada e o cabo leve, feito de madeira. Kruggel nunca pensara que lançaria a arma com tanta habilidade. No ar, a espada produziu um pequeno zunido, para Crowg, O Zunido da Morte.