Boa tarde, escritores. Vamos andando, que está para começar mais uma épica batalha:
Martiny:
Meltoh:Caveira
- Vai hoje?
- Hoje num vô não senhô, aguento mais um ou dois dia.
- Tá bom, quando minha mulher chegar, cuide dela.
Hoje era dia de roubo. Caveira estava com seu saco vazio em mãos, pronto para entrar na casa de seu Senhor e procurar por comida. Gostaria de comer um belo pedaço de charque, talvez até com um pouco de azeite-de-dendê, mas se contentaria com qualquer tipo de comida. Não era porque sua comida era ruim – às vezes tinha deliciosas melancias e bananas para comer -, mas escassa. Aguentar o trabalho exaustante que as canas o fazia enfrentar era impossível com apenas poucas mordidas por dia.
Caveira entendia o porquê de não receber comida. Ele era inferior, ponto. Não sentia nenhuma espécie de repudio a seus Senhores; eles eram divinos. Eram brancos, e ele negro. Eram a luz, e ele suas negras sombras. Gostava sempre de fazer um trabalho perfeito e pontual, a fim de agradar seus superiores. Sentia vergonha de ter que roubar alimentos, pois, caso realmente o merecesse, já o teria ganho; mas não havia escolha, quando a fome fala, ela vence.
Fazia o caminho para a casa de seu Senhor tranquilamente. Sabia que o perigo era mínimo, pois sua mulher estava tendo casos com o Capitão do Mato, o único guardião das noites. Sua mulher o negava sexo, sempre lhe explicando que não gostaria de ter outro filho preto, e vê-lo sofrer na mão dos carrascos novamente. Queria um filho branco, saudável, que pudesse ter certeza de que estava seguro, garantindo assim noites tranquilas de sono. Caveira compreendia seus motivos e a apoiava, mas a falta de sexo já estava o fazendo mal. As vezes pensava em estuprá-la durante a noite, como as vezes os filhos dos Senhores faziam com as esposas dos negros, mas sempre era impedido com medo da possibilidade de engravidá-la.
A casa de que iria furtar não era a mesma em que os Senhores dormiam. Seria estupidez correr o risco de ser visto por uma Divindade naquela hora da noite, o que seria certeza de morte. Seu plano era roubar uma das casas onde a comida era preparada, uma espécie de depósito. A comida era má conservada e muitas vezes podiam se ver insetos dividindo os alimentos, mas haveria opção melhor?
Entrou pela janela e começou a procurar. Havia frutas, que era o que mais estavam comendo ultimamente – pois era época -, farinha e algumas folhas de chá. Não havia charque nem azeite, os dois únicos alimentos de que Caveira sentia saudade. Só os comiam quando os havia restado dos jantares dos Senhores, mas com a vinda de parentes distantes dos mesmos há alguns meses atrás, eles tiveram que reduzir o alimento de seus escravos pela metade a fim de manter a fartura de suas mesas.
Voltava para casa com um cacho de bananas na mão. Não podia trazer muito, pois iria levantar suspeitas – e suspeitas faziam as costas sangrarem, coisa que não queria. Uma fruta não era notada, e, caso fosse, ratos seriam os culpados. Voltava pelo mesmo caminho, agüentando a mesma caminhada de quarenta minutos, mas agora comendo bananas. Chegou a sua “casa comunitária onde se viviam dezenas de escravos deitados no chão” já sem bananas nas mãos, dizendo que não conseguira roubar nada para seus colegas, pois haviam muitos insetos e alguém poderia se contaminar e morrer, como já havia acontecido com três crianças na semana passada.
- Minha mulher já chegô, José?
- Chegô não senhô.
Esperava ansiosamente pelo dia em que sua mulher chegue em casa com uma barriga avantajada, para assim conseguir desfrutá-la. Quem sabe amanhã consiga sua carne.
Os votos serão válidos até dia 17 deste mês.Escravatura
Igor olhou para o relógio pela terceira vez naquele mesmo quarto de hora. Estava apreensivo o suficiente para descobrir só agora que havia esquecido de trazer o seu casaco. E fazia frio! Muito frio!
Havia marcado um encontro com o parceiro do seu chefe de trabalho, um tal de Jefferson. Uma importante reunião que poderia lhe valer uma promoção.
Rangeu os dentes e tateou o bolso à procura de um pedaço de papel. Ergueu a folha a altura da vista e lembrou que havia esquecido os óculos também. Xingou a si próprio e tentou ler as letra miúdas.
Estação 4 - Linha 2
Estava no lugar certo!
Esperou cinco minutos, dez, quinze... Quando o ponteiro maior apontou novamente para o 12 ele se sentiu mais apreensivo. Faltavam apenas trinta minutos para a chegada do homem. Foi aí que lembrou que havia esquecido o notebook, o principal!
Foi o cúmulo, afinal o motivo de estar ali se devia principalmente ao computador. Olhou pro relógio, abriu a boca para xingar um palavrão sonoro, mas depois desistiu e saiu correndo em direção ao seu carro. Se desse sorte, chegaria em sua casa em 10 minutos. Pegou a chave e tentou ligar o carro. O tanque estava quase vazio. "É suficiente!" pensou ele.
Dirigiu o mais rápido que pôde até seu carro começar a tossir e parar do lado de um velho antiquário. Desceu do veículo e abriu o capô e dessa vez xingou ao ver o estado lamentável do motor.
Sua sorte estava brincando com ele, pois quando olhou para o outro lado da rua, parado à sua frente estava um posto de combustível e uma garagem de manutenção para veículos.
Correu até o outro lado, e pediu para que o mecânico, Zé, fosse dar um olhada no seu motor.
Zé olhou, olhou e disse que levaria um dia para limpar a graxa que havia entrado na parte interna. Mas Igor estava apressado e disse que queria um motor novo. Argumentou por um minuto até dizer que pagaria à vista o motor com o seu cartão de crédito.
Cinco minutos depois, o motor estava em seu devido lugar. Brilhando de novo. Igor colocou a mão para trás e gelou. A carteira estava dentro do casaco. Tentou argumentar mais uma vez com seu Zé, mas estava difícil. Por fim deixou o carro com ele como garantia e correu para o ponto de ônibus mais próximo. Tinha uns trocados suficientes.
Sua sorte lhe sorriu novamente, achou o ônibus certo após esperar uns três minutos. Subiu à bordo e esperou que o motorista lhe levasse ao destino certo. Na primeira parada, as portas elétricas emperraram, e o ônibus parou. O motorista disse que chamaria a manutenção, e pediu a calma dos passageiros.
E o que ele sabia de calma? Zangado, olhou pela janela, e viu a alavanca de emergência. Tentou pressionar ela, usou tanta força que acabou quebrando o vidro. Pulou para fora e saiu correndo pela calçada.
Enquanto corria percebeu o quanto era escravo da tecnologia humana, teria poupado dinheiro, tempo e principalmente, paciência se simplesmente tivesse ido andando como um simples Homo Sapiens.
Sim, ainda era um Homo Sapiens, mas escravo de toda aquela parafernália. Irônico que ele havia voltado só para pegar o notebook e...
MERDA!
As chaves de sua casa estavam no banco traseiro do carro!
Sentou na soleira da porta, e olhou para o relógio. O homem já deveria estar chegando. Puxou o celular para ligar para ela, mas viu que estava descarregado. Juntando o pouco de energia que lhe restava, pegou um pedaço de pau e quebrou a janela da sua própria casa, afim de entrar por ela. O alarme soou na mesma hora. Desesperado procurou pelos quatro cantos da casa pelo notebook, depois pelo carregador do telefone. Quando ia saindo pela janela novamente, uma viatura da polícia o esperava do lado de fora.
Foi o seu próprio chefe que fora visitá-lo na cadeia. Tentou explicar toda a história, e o velho homem somente riu e disse que ele havia arruinado um grande negócio para empresa e que mesmo assim ainda continuaria empregado, só que ele deveria pagar pelo prejuízo, até que arrumasse outra oportunidade daquelas.
E Igor foi deixado ali na cadeia. Sem negócio, sem carro... Ironicamente pensou, que pelo menos ali, estava liberto da tecnologia...
Um abraço (:
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