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Isac, um jovem comandante de Telo, após uma campanha bem-sucedida contra o líder dos orcs, Goark, retorna à sua cidade e ao falar com o rei se depara com uma nova tarefa. Agora junto de Eon, comandante da cavalaria e sob o comando de Balrez, conselheiro real, eles tem a missão de reconhecer uma cidade distante no continente de Eastora, e ajudá-los em sua guerra longíqua. Juntos os três telanos embarcam no Lork, um gigantesco navio.
Capítulo 6 - Engano
O balançar monótono das ondas estava causando enjôos em Isac, que não via a hora de pisar em terra firme, embora ainda tivesse que pegar uma nova embarcação em Vanor. "Mas que raios, porque será que não usam o mesmo navio?" pensou Isac. Apenas algumas horas haviam se passado desde que o Lork havia deixado Telo, mas para ele essas horas passavam tão lentamente quanto os dias de uma semana.
Balrez estava acostumado com os efeitos das ondas, antes de ser conselheiro do rei, foi um diplomata que passava a maior parte do tempo viajando pelos quatro cantos do mundo, conhecendo lugares, pessoas e novos costumes. Ele tinha um dom, ou talento que despertou a atenção de Askie, o rei. Sua forma de falar encantava a nobres e de certa forma conseguia persuadi-los a entender o que bem quisesse. Era um talento sem dúvida nenhuma, esplêndido.
Já Eon adorava ler, e se viu fascinado ao encontrar a biblioteca particular do Lork. Achou romances, crônicas e até clássicos que já havia lido na infância, entre eles um livro que contava os feitos dos primeiros homens que fundaram Telo.
Estava lendo-o quando a porta da sala se abriu e um homem velho de longa barba branca entrou e se sentou numa mesa distante.
- Está um belo dia lá fora, não é Kecyan? – perguntou Eon com um sorriso amigável.
- Está, mas não gosto de navios, prefiro ficar perto dos livros que são grandes amigos.
Eon concordou e voltou a ler.
Durante a noite, um homem baixinho e careca anunciou que na noite seguinte fariam uma pequena comemoração em homenagem à um nobre que estava à bordo e estaria completando seus oitenta anos. Ao descer do palanque improvisado no salão, o pequeno homem foi em direção à Balrez e com um sorriso de satisfação, perguntou:
- Você é o famoso Balrez, o Língua de Aço?
Balrez acentiu e bebeu um pequeno gole de sua taça de vinho - E você, presumo, que seja Jant o dono do Lork.
- Exato. Exato - pulou de excitação o pequeno homem - Normalmente não faria isso de convidar estranhos ao dono da festa, mas eu gostaria que você estivesse aqui na festa de amanhã a noite, claro, se você trouxer esse casaco de couro que você está vestindo.
Balrez olhou calmamente para as suas vestes e com um olhar de desprezo fitou Jant que continuava a sorrir sonhadoramente - E porque faria isso? - retrucou ele.
- Ora, eu gostei dele. E me parece que você adoraria ganhar uns bons trocados por ele.
- E se eu não quiser me desfazer dele?
- Isso não importa, apenas venha vestido com ele amanhâ e quem sabe mudará de idéia. Ah, e se quiser pode trazer os seus companheiros. Quanto mais gente famosa melhor - dito isso Jant deu as costas e, saltitando, se afastou para falar com um casal de nobres.
- Cara estranho, não?
Balrez se sobressaltou e olhando para o lado, encontrou um sorridente Eon.
- Se estava escutando - resmungou Balrez - contente-se em saber que está convidado para a festa, pois eu não me daria ao trabalho de avisá-lo - depois saiu a passos largos do salão.
Eon bebeu um gole de vinho e enxugou os lábios com a mão - E você também não é nada normal, cara.
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No segundo dia de viagem, avistaram um navio ao longe que vinha de encontro ao Lork, possuía a bandeira de Vanor, e pelo porte era apenas um navio mercante. Devido ao vento que soprava na direção contrária, navegava lentamente.
Balrez olhava para o mar quando uma mão tocou o seu ombro, virou-se rapidamente e ao reconhecer o homem, o cumprimentou com um aperto de mãos.
- Pensei que gostasse de ficar lendo, Kecyan
-Um ocorrido despertou a minha curiosidade – a voz de Kecyan era rouca e muito baixa tornando-se quase inaudível quando misturada ao som do mar – Preciso falar com você urgentemente.
-Sobre?
-Sobre aquilo que conversamos em Telo.
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A noite chegou depressa e os preparativos para a festa estavam quase concluídos, faltavam duas horas para que os convidados chegassem ao grandioso salão de festas. O navio de Vanor estava agora cada vez mais perto, as bandeiras estufadas mostrando que o vento agora estava favorável à ele.
Finalmente os convidados começaram a chegar ao salão com o vento castigando as vestes e despenteando os cabelos dos presentes. Isac estava com um manto branco bordado com detalhes prateados, uma de suas melhores roupas inclusive, e também a única roupa de cerimônias que levava consigo.
Balrez estava vestindo seu casaco de couro, na sua mão, segurava uma taça de cristal contendo vinho. Tinha um olhar preocupado e longínquo. As palavras de Kecyan ainda ecoavam em sua cabeça.
Eon estava sentado a um canto, com o antigo livro da biblioteca, escondendo seu rosto, usava um manto listrado de preto e azul e estava distraído na leitura.
Os músicos começaram a tocar uma serenata fazendo os casais de nobres começarem a dançar. Isac suspirou e lembrou-se de Roy. O que ela estaria fazendo agora? A lua ainda estava do mesmo jeito de quando a deixou em Telo, estaria sua amada assim também?
- Isac, eu gostaria de... – uma voz interrompeu os pensamentos e ele se virou abruptamente, sentiu um líquido gelado derramando-se em suas vestes, seguido do barulho de vidro se quebrando. Levantou a cabeça e olhou para o dono da voz, não gostando nada do que viu.
- Balrez – sussurou Isac enquanto tentava limpar a enorme mancha de vinho que tinha sido deixada na requintada roupa. Aos seus pés, estavam os restos da taça quebrada.
- Não foi intencional, você bateu no meu braço e...
- Esta era a única roupa formal que eu havia trazido.
- Pegue isso – Balrez retirou o casaco de couro e estendeu-o à Isac.
Incrédulo este olhou para o valioso tecido que balançava diante de seus olhos – Mas você sempre gostou muito desse traje.
- È o mínimo que posso fazer, trouxe outras roupas comigo - suspirou Balrez - não se preocupe.
- O que queria falar comigo? – perguntou Isac desconfiadamente, após alguns segundos.
- Oh, era a respeito de nossas diferenças e também dessa rivalidade absurda - Balrez tossiu, e desviando o olhar continuou - seria bom se deixássemos de lado isso...
- E quem falou em rivalidade? – perguntou Isac sem acreditar no que estava ouvindo e começando a achar toda aquela conversa estranha.
Balrez fez menção de responder quando ouviu-se uma voz chamando pelo seu nome, virou-se e avistou Kecyan que estava na escada acenando.
- Desculpe... - disse Balrez virando-se rapidamente para sair, deixando Isac sozinho.
Eon se levantou e veio ao encontro do amigo – O que houve aqui? - perguntou ele.
- Espere aqui - Isac se apressou em direção à escada do salão que levava para as cabines individuais.
Eon ficou a observar a grande embarcação, que trazia a bandeira de Varon, começar a se alinhar paralelamente ao Lork.
"Estranho... Onde está a tripulação?" pensou ele.
Uma flecha atirada do navio fincou a alguns centímetros do pé de um homem, o que foi seguido de gritos de mulheres.
- Merda, eu sabia que tinha algo de errado – Eon puxou uma espada da bainha que estava escondida sob seu manto e pulou para trás, vários homens apareceram subitamente no navio e começaram a mover um pedaço de madeira com o objetivo de formar uma pequena ponte improvisada entre os navios. Arqueiros apareciam de vários lugares da embarcação e a vela começava a ser abaixada.
Balrez e Isac apareceram quase ao mesmo tempo perto da escada e já com espadas em punho. Mais pontes começaram a ser improvisadas pela extensão entre os dois navios enquanto alguns homens usavam ganchos para terem um acesso mais rápido ao Lork. Vários nobres puxavam suas armas e começavam a defender suas esposas.
- São piratas? – gritou Isac.
- Não – disse Balrez que investia contra um grupo de dois homens que tinham atacado uma mulher – são mercenários.
Isac desviou-se de duas flechas e bloqueando um ataque, jogou para longe a arma do combatente e derrubou-lhe no chão com um chute.
Eon lutava mais distante encostado contra a parede. Um mercenário veio com toda velocidade ao seu encontro, ele esquivou-se e com destreza girou e perfurou o ombro do homem. Mais dois homens se aproximaram, o primeiro tentou estocar com o sabre, mas Eon desviou e se abaixando derrubou-o com as pernas. Lembrou-se de agradecer depois por não estar usando uma armadura. O segundo homem veio com uma espada curta, seus movimentos eram muito mais velozes que o outro. Eon começou a duelar com ele. O contato entre suas espadas produzia faíscas e nenhum dos lados parecia disposto a desistir. Porém ele não era o seu único inimigo. Por pouco uma flecha não acertou sua cabeça, passando zunindo muito perto de seu ouvido. Desarmou o adversário e estocou a espada contra o seu peito. Mais flechas começaram a se fincar na parede às suas costas. Correndo, ele se apressou a se esconder atrás de um mastro largo, para evitar ser atingido pelos arcos.
Isac lutava contra outros dois, e assim como Eon, se movia com tamanha destreza por não estar portando nenhuma armadura, derrubou os homens e correu para um lugar isolado do salão.
Balrez estava cercado por quatro mercenários, todos usavam longos e afiados sabres. Um deles tomou a iniciativa do ataque, seguido por um outro. Balrez esquivou-se e decepou o braço do primeiro, e desarmando o segundo, jogou-se no chão, apanhando o sabre em seguida e erguendo-o à tempo para bloquear o ataque do terceiro homem, mas não teve a mesma sorte com o quarto que havia enfiado o sabre no braço esquerdo de Balrez, fazendo-o soltar involuntariamente a espada. Balrez urrou e tirando forças do ódio, levantou-se com ferocidade. Com grande destreza, conseguiu desferir um soco certeiro no rosto do mercenário. Apanhou a espada e investiu-a contra o homem fazendo com que um jato de sangue jorra-se sujando suas vestes. Olhou para o terceiro mercenário que ainda estava de pé, mas este saiu correndo, aterrorizado.
- Falta você – Balrez olhou para trás e bloqueou um ataque a tempo, do homem que tinha desarmado anteriormente, depois contra-atacou enfiando o sabre em sua barriga.
Isac tinha derrubado outros três quando foi surpreendido por um homem diferente dos demais, vestia uma cota de malha, tinha o rosto coberto de cicatrizes e portava uma longa espada feita de prata. Do seu lado outros cinco homens brandiam seus sabres anciosamente prontos para atacar. O homem de cicatrizes avançou com espada em punho. Isac chegou a erguer a espada para se defender, mas sentiu uma imensa dor na nuca e caiu no chão desacordado.
Aqui e ali vários duelos iam sendo travados, por um momento a horda de mercenários parecia infinita, saíam mais e mais homens do navio, até que o inesperado aconteceu: Todos começaram a recuar ao som de uma trombeta, que tocava insistentemente.
Eon, que estava com um grande corte na barriga, olhou o navio que estava a ponto de deixar o local, as pontes começavam a ser puxadas, e as velas começavam a ser levantadas novamente dessa vez com o símbolo dos Mercenários de Estrin.
Olhou ao redor, só conseguiu ver vários corpos estendidos, espadas jogadas, sangue derramado. "Porque isso? O que eles queriam?" Começou a se sentir tonto pela perda de sangue, colocou a mão no mastro, encostou-se e começou a escorregar lentamente. Fechou os olhos e desmaiou.
Balrez, com as vestes encharcadas de sangue, olhou para o navio que rapidamente se distanciava. Depois desabou no chão, e sorrindo, sussurrou algo inaudível.
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"Quanto tempo havia se passado? Meses? Dias?" Provavelmente dias, pois ainda podia sentir o incômodo balançar das ondas. O enjôo causava náuseas, e sentia o gosto de sangue. "Sangue?"
Isac abriu os olhos lentamente, tentando acostuma-los com a luz do sol, que entrava timidamente pela pequena janela de não mais que trinta centímetros, iluminando o aposento que lembrava um quarto. Tentou se levantar mas não conseguiu, percebeu que suas pernas e braços estavam amarrados à uma corrente de ferro presa à parede. Na sua frente se encontrava uma porta pequena com uma escotilha, e... "Olhos?" Alguém o estava observando. Isac tentou falar algo, mas o som não saiu.
- Ele acordou – disse uma voz animada do outro lado da porta – Balrez acordou.
"O què?" "Balrez também foi pego?" Alguém destrancou a porta e três homens entraram, um deles Isac reconheceu imediatamente como o homem que tinha o rosto coberto de cicatrizes
- Chame o chefe imediatamente – ordenou ele para um dos outros homens.
- Não será preciso Adam - Isac ouviu a voz de uma quarta pessoa por trás dos outros. Então o viu. Era um homem alto com porte nobre, cabelos dourados e olhos azuis, ao ver Isac ele arregalou os olhos e disse – Seus idiotas, vocês se enganaram, pegaram o homem errado!
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Gostei. Apesar de uns erros gramaticais e de ortografia ali ou aqui, não houveram grandes falhas que me doessem os olhos. O enredo é legal, apesar de um pouco previsível e clichê, mas o mais importante: a história me prendeu a atenção e posso dizer que espero ansioso os novos capítulos.
Parabéns e boa sorte.
Obrigado pelos elogios, e que bom que você conseguiu se prender a história. Espero que goste desse novo capítulo.