Obrigada pelos comentários \o
Terminei agora o capítulo 4. Ei-lo:
Bela~Capítulo 4 - Donzelinha
Tempo? Não sabia o quanto, mas muito havia se passado desde que saíra abruptamente de sua querida Pan. As duas vozes invisíveis dialogavam a murmúrios:
-Vai levando ela. Terceira à esquerda. São três toques, uma pausa e outro toque.
Não houve resposta verbal. Iniciou-se o balanço ondeante que dominava o interior da saca outra vez. Victora parou para escutar sons que lhe revelassem algo. Havia um farfalhar leve de mato e cricrilados pelos cantos. Era noite.
Toc, toc, toc... toc.
Ouviu-se o estalo de um fecho sendo aberto. Com um rangido macabro, alguma porta se entreabriu. Não havia mais grama, mas uma superfície de lajotas que fazia ecoarem os passos de qualquer um.
-Muito bem, muito bem... onde está Berin? - a indagação foi feita num tom austero, diferente do dos sujeitos anteriores. Quase no mesmo instante a pergunta foi respondida: seguidos toques e pausas na entrada. Após a repetição do rangido, surgiu a voz de Berin, a mais grossa de todas:
-Hein, hein, Kraos. Lhe agrada?
Reticente, o outro falou:
-É o que vamos ver agora.
Alguém abria o surrão com certa dificultade, tantos eram os nós. Finalmente, o ar tornou-se mais fresco para Victora e Kraos murmurou, satisfeito:
-Olá, mocinha.
Alguns pares de mãos a retiraram dali. Posta sobre uma mesa de madeira clara, a menina piscava, atordoada. O cômodo circular parecia ser o único da instalação em que estavam. A um canto, o fogo da lareira rústica crepitava e afugentava as trevas para os recantos. Um pouco à frente da entrada, estavam seus dois raptores. O primeiro, atarracado, pele rosada. O segundo, esguio, moreno e jovem.
-Calma, calma. Me deixe aliviá-la um pouco.
Dirigindo-se para perto da garota, Kraos retirou a mordaça apertada. No entanto não afrouxou as cordas que prendiam fortemente seus pés e pulsos.
Deu um passo para trás e ficou a avaliá-la. Era uma figura alta, severa. Seus olhos cinzentos encontraram os de Victora.
-Sou Kraos. E você, garota, Victora. Estou certo?
Ela limitou-se a sacodir a cabeça afirmativamente.
-Não vai me perguntar onde está, nem por quê?
A menina simplesmente baixou o olhar e fungou alto. Intrigado, Kraos pôs-se a acariciar o queixo aquilino. No instante seguinte, sinalizou com os dedos finos para as duas sombras estáticas que a haviam trazido.
-Cuidem bem dela - o sarcasmo em sua voz era notável. Sem demora, Berin agarrou Victora pelas pernas e equilibrou seu corpo sobre os ombros musculosos. O odor azedo de suor invadiu as narinas da garota, nauseando-a.
Sem demonstrar esforço, o anão se abaixou e levantou uma das lajotas.
Revelava-se um alçapão!
-Vem logo, Ranand - ralhando para o rapaz moreno, Berin já se precipitava pelas escadas mal-acabadas. Na sala atrás deles, Kraos desaparecera.
Seguiram-se uns oito degraus de pedra e a descida tornou-se uma rampa moldada na terra rubra. O terreno era totalmente disforme: ora ficava mais íngreme, ora parecia subir levemente. Archotes de luz fraca e oscilante se distribuíam sem método algum pelas paredes de barro. Aos poucos, o corredor tornou-se cada vez mais largo, de modo que a fila indiana pudesse ser desfeita.
O corpo de Victora já estava entorpecido. Durante toda a caminhada, permanecera na mesma posição sobre o dorso de Berin. Finalmente, o caminho se abriu numa pequena galeria, um pouco maior do que a casa que havia lá em cima.
-Cá estamos, princesinha! - o homem que a carregava jogou-a num monte de palha - espero que as acomodações sejam de seu agrado - dito isso, soltou uma risada gutural.
O fedor que pairava no ambiente era insuportável: uma mistura de decomposição e mofo. Tochas fincadas no chão arenoso impediam - por pouco - que não fossem mergulhados em escuridão. Ao centro da câmara, um balcão de pedra esverdeada. Vendo as manchas avermelhadas espalhadas pela peça, Victora duvidou que servisse como uma simples mesa de refeição. Tremeu.
-Tome - Berin atirou-lhe uma garrafa de rum e um pedaço de pão. Depois, retirou-se para o extremo da galeria, indo se juntar ao companheiro.
Mastigando a massa dura, Victora tentou parecer distraída, mas ouvia a conversa dos dois com atenção.
-E aí? Como vamos nos reversar?
Frente à pergunta de Ranand, o outro retrucou.
-Acha mesmo que temos de montar guarda por causa dessa donzelinha?! - após uma pausa e um pigarro, Berin completou - E, de qualquer forma, se tentar fazer alguma coisa, vai ver o que acontece com criaturinhas atrevidas.
Outro espasmo invadiu o corpo da Donzelinha. Seu cansaço era tanto, que, assim que se deitou, adormeceu.
Seria dia? Ou a noite já caíra outra vez lá na superfície? O ambiente parecia bem mais escuro do que na véspera. Os horríveis roncos de Berin ecoavam por ali. Mas... havia uma movimentação pela sala.
-Q-quem está...
-Shhh... calminha.
Logo reconheceu a voz de Ranand. Sua sombra se tornava cada vez mais próxima. Abaixando-se, ele se deitou ao lado da garota.
Beijou-a. Os cabelos do jovem eram macios. Roçaram seu pescoço. Tentou gritar, mas o bom aroma de cravos irrompeu para dentro de si, anestesiando seus sentidos. Quanto aos momentos seguintes, Victora preferiria esquecê-los para sempre.
Publicidade:
Jogue Tibia sem mensalidades!
Taleon Online - Otserv apoiado pelo TibiaBR.
https://taleon.online







Curtir: 





Responder com Citação