Eu lamento a demora, mas me foi difícil encontrar um modo de lapidar a rústica história de Angela. Devo dizer que o passado dela será uma incógnita provavelmente o tempo todo, mas que quando for revelado justificará tudo o que ela faz ou pensa. Como já disse, aproveitei seus comentários para preencher a tal brecha existente na lógica da personagem. Essa brecha era uma falta de lógica tremenda no porquê de ela ser tão fechada e insólita. Já costurei as pontas, e tudo deve ficar bem agora.
Esse capítulo ficou longo e cansativo, com poucos diálogos. Narra a chegada dos dois até a brilhante terra de Ab'Dendriel e apresenta mais um personagem de interesse. Algo sobre o passado de Angela é revelado. Mais comentários a respeito ao fim do post (com spoilers).
Notinha: "Faluae" lê-se como "Falue"Capítulo Seis
Ab'Dendriel
Cada um seguia com seus fantasmas.
Zoroast ia atrás, fitando o chão e andando mais lentamente do que o habitual. Ora ou outra voltava-se para as árvores e as pequenas criaturas passantes, observando-as com simplicidade e um interesse forçado. Frequentemente resmungava qualquer coisa sobre o dia nublado que era aquele ou sobre seus cascos estarem sujos de lama depois da fuga dos dois. Falavam muito menos agora, e ambos sabiam que um clima tenso se estabelecera ali. Mas nada faziam para reverter a situação.
O minotauro sentia uma frustração enorme por não ter podido seguir para Carlin. Queria muito estar entre seus iguais mais uma vez e poder lutar contra aqueles que mataram sua tribo. Mas não era tolo. Sabia que jamais conseguiria chegar em segurança lá. As Tropas das Sombras estavam se aglomerando naquelas terras, principalmente naquele instante em que supostamente Catura, o grande rei do Condado do Norte, estaria retornando de uma longa temporada que passara em Ankrahmun. E estaria disposto a finalmente tomar sua porção da terra, fato que ainda não conseguira realizar. Seria burrice seguir sozinho até lá. Se tivesse sorte seria morto no caminho. Se tivesse azar, coisa pior poderia acontecer.
Passou então a encarar Angela enquanto ambos se embrenhavam na floresta escura que viram da montanha onde foram aprisionados. A bruxa habilmente cortava galhos e abria passagens, como se já conhecesse aquelas terras muito bem. De vez em quando começava a cantarolar como sempre, mas seu tom de voz era vago e sem vida. Não havia mais a alegria costumeira nela. Parecia ás vezes falar sozinha ou com o além, como se estivesse buscando respostas ou pensando em coisas que não importavam naquele momento. Ele queria poder ajudar. De algum modo, sentia-se tão próximo dela quanto de um irmão minotauro.
Já Angela evitava pensar no minotauro. Sabia que não tinha o direito de manipular o destino de alguém como estava fazendo, mesmo sem querer. Sabia que era insensatez levá-lo aos elfos, mas não tinha outra opção. Ou era isso ou ele morreria, e isso ela não poderia suportar. Desde que escaparam da sala irregular ela sentia uma bomba de sentimentos dentro dela, louca para explodir. Sua máscara de solidão e irresponsabilidade havia caído. Era agora alguém sem face. Esperava que Faluae pudesse a ajudar a encontrar seu eixo de novo.
O regresso à cidade dos elfos lhe era perturbadoramente reconfortante. Estaria de novo entre amigos indiferentes assim como ela. Veria seres reservados e potencialmente insensíveis, que buscam a perfeição acima de tudo sempre que fazem qualquer coisa. Estaria novamente entre seus semelhantes. Ou talvez não.
Queria poder voltar no tempo. Fugir de tudo aquilo. Do Pentágono, da guerra, das mortes, da confusão... Queria voltar aos tempos da calmaria. Voltar a viver no pântano. Um medo crescente e inexplicável, medo que ela nunca antes sentira, rondava-a, devorando lentamente sua lucidez. O medo se transformava em culpa, e então em fraqueza. Começou a reviver toda a crueldade que vira nos últimos dias, a perceber como evitara se importar. Pessoas estavam abandonando suas casas, deixando parentes para trás. Estavam abandonando histórias particulares e que podiam nada representar para ela, mas com certeza significavam muito em suas vidas. Pessoas comuns que nunca antes haviam lutado estavam agora morrendo e vendo a terra que achavam conhecer mudar, transformando-se em um antro de terror. Como pudera relevar tanta dor ao seu redor?
As pessoas desesperadas fugindo de Venore aos prantos, tentando buscar uma calma naquela tempestade mortal. A falsa calmaria na face de Ahamed que acreditava fortemente que podia lutar e vencer, pois sabia que se não fosse capaz de fazê-lo iria perder tudo que tanto amava. A solidão torturante de Zoroast quando se conheceram, como ele sofria calado pela morte de todos os seus companheiros e como devia estar sofrendo ainda mais por ter de partir com ela. Ela já não sabia mais o que sentir.
De repente, parou. A floresta fechada e verde que estavam percorrendo sumiu abruptamente em uma clareira plana e iluminada. Ela imediatamente reconheceu o lugar, enchendo-se de alegria. Da clareira erguia-se imponentemente um portão de madeira grosso e reforçado com diversos metais. Várias palavras estavam entalhadas em sua forma, todas elas em élfico. Raízes nodosas se enroscavam pelas toras que o formavam, brotando elas de uma grande e longa parede vegetal, que penetrava na floresta e desaparecia. Era rígida e verde como tudo por ali. Flores vermelhas e amarelas de várias pétalas e tamanhos enfeitavam a parede e o portão, exalando um aroma único e incontestavelmente calmante. Esporos amarelos rodopiavam naquele lugar de vento calmo e levemente gelado, varrendo as coisas ruins para longe. Angela foi sentindo-se invadida por memórias de sua infância passada ali, na cidade de Ab’Dendriel. A alegria e desejo de regresso aos tempos de ingenuidade eram fortes. Sua confusão cessou.
Já não havia mais porque fingir. Não havia mais porque ser uma bruxa reservada e que busca a perfeição, uma marionete de uma entidade maior que vivia dentro do seu peito. Vivera indiferente a tudo e todos por muito tempo, e sentia que ficaria louca se não rompesse seu casulo de hipocrisia logo. Viviam nela agora duas Angelas: a bruxa do pântano, séria e sábia, mas que não liga para nada. E a verdadeira Angela, que não se deixa abater, que sente e erra. Essa era quem ela queria ser. E era quem ela se tornaria ali, perante o portão de Ab’Dendriel.
- Me desculpe. – Disse ela virando-se para o companheiro que jazia quieto, encarando com certo desdém a parede viva. Ele não a encarou quando ouviu sua voz, mas ela insistiu em olhares até que ele retribuiu. Seus olhos negros estavam tempestuosos. – Não sabe como é difícil pra mim dizer essas coisas. Eu... Eu não costumo ser assim. Sabe, eu cresci aqui, no meio dos elfos. Não gosto de falar disso mas... Mas eu fui feliz aqui. Só que eu acho que... Sabe... Que um vazio cresceu comigo, mas dentro de mim. Eu nunca soube de verdade o que é viver, porque eu, humana, tentei por mais tempo do que posso contar viver como elfa.
Ele encarou-a com silêncio. O som de grama sendo amassada veio do outro lado do portão. Alguém escalou alguma coisa. Uma sombra apareceu entra algumas das raízes que formavam a parede viva.
- Sabe, eu não consegui me afirmar. Não sou a mais carismática das criaturas, e muito pouco sociável. É complicado pra mim liberar meus sentimentos. Eu prefiro assim. Mas quero que saiba que fico muito feliz por você estar perto de mim e... Queria lhe agradecer por aceitar vir até aqui e por salvar minha vida. É um amigo de verdade.
Ele resmungou e não disse mais nada, virando-se para examinar a trilha por onde haviam vindo. Angela suspirou e adiantou-se em direção ao portão. Confusa, examinou-o bem em busca de qualquer coisa que pudesse explicar sua existência. Isso não estava aqui no meu tempo. Passou os dedos carinhosamente pela madeira, exatamente onde estava escrito algo em élfico. Significa “Amigos são bem-vindos”. Ponderou por um tempo antes de se afastar da parede e olhar na direção da parede vegetal, confiante.
- Eu sou Angela, uma antiga bruxa que vivia na quietude do Pântano da Pata Verde. Parti daquelas terras distantes enfrentando muitos perigos em busca de abrigo e afirmação. Sou uma antiga moradora da cidade e grande amiga de muitos elfos que já viveram aqui. Peço permissão para regressar ao seio da terra onde cresci uma vez mais. Juntamente com o minotauro Zoroast. Peço que relevem qualquer indiferença entre as raças que possa ter existido, pois devo minha vida a este ser aqui presente. Peço do fundo de minha alma que o deixem entrar nestas terras. – Seu tom foi o mais formal possível. Falava e apontava, mas jamais retirava seus olhos cinzentos da parede. Até que houve um farfalhar do outro lado e o portão rangeu levemente. Uma voz leve como uma pluma e musical falou em um tom alto e imponente, saindo sabe-se lá de onde:
- Angela amiga-dos-elfos, sua presença nesta cidade é bem aceita por todos nós, mesmo nesses tempos difíceis e de desconfiança. Mas não podemos aceitar que o ser que traz consigo penetre em nossa floresta sagrada. Ele pode ficar nesta clareira, mas do portão não passará.
Sem nem pensar, ela simplesmente ficou rígida. Pegou a varinha e virou-se, aproximando-se do minotauro. Cochichou alguma coisa e então se virou uma vez mais para a parede, gritando:
- Então eu não quero ficar. Não irei dividir meu espaço com seres indiferentes e insensíveis como vocês. Prefiro ficar aqui e apodrecer.
Prolongou-se um longo momento de silêncio. O farfalhar cessou e então nenhum outro ruído foi ouvido do outro lado do portão. Angela fez uma careta e Zoroast cutucou-a, encarando fixamente a entrada de Ab’Dendriel.
- Não precisar isso. Poder ir, eu bem. Achar meu rumo. – Disse ele calmamente, em um tom mais carinhoso do que o habitual.
- Não diga isso. Eu não o irei abandonar aqui fora, é muito perigoso. Agentes de Yöer podem aparecer e matá-lo, ou fazer coisa pior. Eu não vou deixá-lo aqui fora para morrer.
Houve então uma movimentação anormal do outro lado. Não ouviram-se vozes, mas sons cortantes que interrompiam o vento. Houve então um grande rangido vindo do portão e este começou a dividir-se em dois, abrindo-se para o lado de fora. As recém-formadas portas de madeira ganhavam campo rapidamente, até que abriram-se ao máximo que podiam, deixando uma generosa abertura na parede vegetal. Angela e Zoroast afastaram-se um pouco e olharam fixamente para dentro da cidade no exato instante em que dela saía um elfo alto e de ombros largos, com braços e pernas compridos e uma cabeça triangular com um queixo redondo e orelhas pontudas. Seu nariz avançava imponentemente para frente até se dobrar minimamente para baixo. Tinha longos cabelos de cores adversas, sendo os fios ora dourados, ora prateados. Este estava transformado em uma longa trança presa com cipós que descia suavemente por suas costas. Tinha a pele muito branca e olhos verdes tal como são as árvores. Andava elegantemente com um suave balançar de ombros, como se dançasse interiormente em um ritmo calmo e eterno. Avançava com uma expressão de paciência tediosa pela clareira, até parar perante a bruxa de laranja. Ele usava vestes simples: uma túnica verde e longa que caía até os joelhos, calças de couro sem qualquer rasgo ou remendo, sandálias de madeira aparentemente desconfortáveis e que exibiam seus dedos. O que quebrava sua simplicidade era um monóculo com detalhes em ouro e extremamente limpo que cobria seu olho esquerdo. Angela reconheceu aquela peça de imediato.
- Faluae! Não tem noção de como é bom vê-lo! – Disse ela partindo para cima dele, abraçando-o energeticamente. Sorria de orelha a orelha e balançava o amigo enquanto o envolvia em seus braços curtos. Ele limitou-se a soltar um risinho e examiná-la com seus olhos calmos como uma tempestade em alto-mar. Os olhos verdes faiscaram como fazem as esmeraldas ao serem lapidadas após certo tempo.
- A alegria que tenho em mim é tão grande que mal posso narrá-la! – Disse o elfo em um tom contido e cortês, sem emoção evidente. Mas apesar disso, o modo musical com que falou e seu olhar denunciavam a sinceridade contida em suas palavras. Esse é o Faluae que eu conheço. Mestre nas palavras, nas entradas triunfais e na falta de emoção. Ela sorriu largamente e apresentou o minotauro ao amigo de longa data. Estes se cumprimentaram de modo frio e distante, como se pertencessem a mundos diferentes. Mas mesmo assim um grande avanço político ali foi dado, pois elfo algum ousaria dirigir a palavra a um minotauro. E Faluae o fez. Era um grande diplomata, vivendo isolado em sua casa na árvore com seus ideais revolucionários que só Angela sabia.
- Peço desculpas pelo modo hostil com que foram gratuitamente tratados ao chegarem até essas terras outrora tão acolhedoras. Mas peço também alguma compreensão, pois vivemos tempos tempestuosos nos quais não sabemos onde depositar nossa confiança. – O elfo fitou longamente o horizonte como se buscasse uma esperança longínqua. Se sentiu alguma coisa forte pelo reencontro ou pela sua terra, nada demonstrou. Depois de um momento de comoção contida, virou-se para o minotauro. – Conversei com os guardas e os convenci a permitir sua passagem para a nossa cidade. Não serei hipócrita de fingir que tudo estará bem, mas não quero que sinta-se mal pelos olhares que receberá; és meu convidado para entrar, e deverá ser tratado como um igual. Não deves ser punido por erros de antepassados, da mesma forma com que espero que não insulte-nos por nossos antigos. E saiba ainda que se és amigo de Angela, és meu amigo, e amigo ainda de toda essa terra. O que precisar, peça, sem acanho. Será-lhe dado com louvor.
Ele virou-se e passou a andar triunfantemente rumo ao interior da cidade. Os dois seguiram-no, Zoroast sentindo-se um pouco mais confortável, mas ainda desaprovando mentalmente a idéia de compartilhar do mesmo pedaço de terra que os elfos. Angela narrou detalhadamente tudo sobre os acontecimentos, desde que viu Wyda morta até a fuga dos dois do Monte Fêmur. Faluae ouvia tudo atentamente, ora ou outra fazendo alguma observação boba. Enquanto avançavam pelo território verde, enchiam-se com a graça e o esplendor da cidade-árvore: havia campos floridos, pastagens, pomares e plantações por todos os cantos. As casas eram esculpidas habilmente nos grossos troncos das árvores que ali cresciam, ou construídas sobre as menores. A grama era escura e alongada, curvando-se em seu auge. Pássaros brancos e insetos mínimos brincavam por ela, ora ou outra parando para observar os passantes, como se indagassem a si mesmos o porquê de toda aquela movimentação naquela terra de gigantes. Um doce aroma floral emanava-se de todos os cantos, e uma explosão de cores era detectada em cada paisagem.
Por todos os lados da cidade, fosse cuidando de animais ou flores, arrumando lares ou simplesmente apreciando a leve brisa daquela tarde estavam os elfos. Eram todos perturbadoramente iguais: altos, elegantes e de cabelos longos e louros. Tinham sempre expressões ilegíveis cravadas na face como estacas no chão. Seus olhares frios e inflexíveis eram tenebrosamente aprisionadores, contendo uma silenciosa inquisição descuidadamente camuflada em uma aceitação imparcial, como se aquilo ora ou outra tivesse de acontecer. Felizmente eles não acompanhavam os viajantes com aqueles malditos olhos. Examinavam-nos lenta e completamente de modo a constatar tudo o que pudessem para dissertar sobre aquilo depois, colocando todas as suas críticas, opiniões e preconceitos na mesa. Mas logo voltavam aos seus afazeres, relevando a presença deles ali. Outrora Angela achara aquela frieza estranhamente acolhedora, alimentando dentro de si a esperança de um dia ser indiferente como eles. Mas agora via-os como estranhos sem alma, como marionetes de um perfeccionismo errôneo e infundado. Como pudera algum dia sentir-se tão integrada àquela cultura agora tão distante?
Caminharam até chegar em um ponto próximo da irregular costa leste da cidade. Era uma pequena campina verdejante e clara com alguns arbustos cercando-a. Não havia flores sobre ela, nem insetos, nem aves. O que havia era o que outrora fora um fogueira, bem no centro, e algumas esteiras de bambu seco, semelhantes a que Angela usara na casa de Zoroast, espalhadas ao seu redor. Existiam ainda algumas caixas e pacotes grandes e amarelados empilhados perto de alguns arbustos verdes e cheios de frutinhas azuis. Não havia elfos por ali.
Os três pegaram cada um uma esteira e sentaram-se nela, aproximando-se do que fora a fogueira. Faluae escolhera uma ao lado dos pacotes, bem em frente à Angela. Zoroast pegara uma e se afastara um pouco, ficando mais perto de alguns arbustos. Após acomodarem-se, Faluae iniciou a curta conversação que se manteria:
- Fico feliz que tenham conseguido escapar da mão negra do Pentágono. Escolheram sabiamente quando decidiram vir até aqui. Estarão seguros. Os elfos os protegerão mesmo sendo contrários à estada de Zoroast nestas terras.
- Obrigado por persuadir os guardas. Nunca teríamos entrado sem sua ajudinha. – Disse Angela sorrindo em seguida. Depois disso percorreu os locais próximos com os olhos e foi sentindo-se invadida por lembranças acolhedoras da infância passada ali. – Parece que foi ontem que vivi aqui. Mas já faz mais de duzentos anos...
Faluae sorriu complacentemente.
- No entanto pareces apenas ter quarenta. Decididamente a magia é uma coisa muito, muito estranha. Mas pelo menos temos a ela para nos auxiliar nesses tempos de necessidade. Precisaremos fazer muitas preces ao primeiro dos magos quando tudo isso acabar.
- Bem, como já lhe disse, eu já não conto com essa magia... Pelo menos não até fazer um antídoto que recupere minha energia mágica. Eu vou precisar de...
O elfo encarou-a secamente, fazendo-a calar-se.
- Não pense em problemas agora. Descanse. Despertaremos cedo amanhã para partirmos uma vez mais.
- O que...? Mas... Levamos dias para chegar aqui! Como assim? – Angela balbuciava as indagações atropelando as sentenças frequentemente. Faluae nada disse, apenas indicando as caixas e o que todos os elfos estavam fazendo: organizando-se para uma ida sabe-se lá para onde. Espero que eu não tenha cometido um erro. Aprendera a confiar nos elfos, o que de certo modo a deixou mais calma em saber que fizera uma longa e perigosa viagem para nada.
- Só lamento ter arrastado Zoroast para cá. Ele teria encontrado seu caminho para os minotauros mais rapidamente sem mim. – Disse ela por fim, deitando-se na esteira para encarar o céu cinzento e escuro daquela tarde tenebrosa. Logo irá entardecer. Prolongou-se um momento de silêncio em que nada se ouvia. A bruxa virou a face para encarar o local onde estava o minotauro e constatou que ele havia sumido.
- Foi andar pela floresta enquanto falávamos. – Disse Faluae então. Angela agora voltou-se para ele, encarando-o nos olhos misteriosos. – Quanto ao que disse agora a pouco, não creia nisso. Chegou até essas terras há uma noite a notícia de que os minotauros sumiram dos Campos do Norte, onde estavam escondidos. Rumores dizem que foram vistos aglomerando-se naquele lugar horroroso a leste daqui, a Pedra de Ulderek, aonde vivem os orcs. Talvez estejam formando uma aliança ou simplesmente buscando um refúgio. Ouvi alguns elfos comentarem que acham que os minotauros estão pegando barcos de lá para o continente de Darama. Eu acredito fortemente nisso... Há muitos minotauros vivendo naquelas terras, especialmente no norte do deserto. Deve ser o lugar mais seguro para eles agora. Não se preocupe. Conversarei com ele depois.
Após esta brecha da conversa, Angela fechou os olhos e procurou acalmar a mente em turbilhão. Tudo que ela se empenhara para realizar e evitar nos últimos tempos não existia mais. Ela mergulhara em um oceano profundo que um dia já conhecera, mas que agora era um mistério para ela. Não sabia dizer o que aconteceria em seguida, apenas que seria algo grande e inesperado. Deixou-se levar pelos espectros do cansaço até chegar ao reino dos sonhos, onde reviveu toda sua dor dos últimos tempos. O céu estava caindo bem em cima de sua cabeça, e não havia para onde correr ou se esconder. Talvez uma força maior estivesse comandando todo aquele jogo, manipulando cada um como se fosse um peão em um tabuleiro de xadrez. Angela chorou. Deixou as lágrimas descerem pelos dois lados de sua face como uma enxurrada enlouquecida. E enquanto isso acontecia e sua mente mergulhava no sono profundo e inconsciente, a bruxa lembrou-se de sua antiga amiga. E a última coisa que se passou em sua mente antes de o sono dominá-la de vez deixou-a mais humana.
Oh Wyda, será que é muito tarde para chorar por você?
--
Bom, só quero pedir que não se façam comentários sobre o fato de Angela ter tal idade ou de ter vivido entre os elfos. Isso será sim explicado algum dia, e eu não creio que crie uma situação insólita com isso, afinal falamos de Tibia. E devemos considerar que os elfos são muito mais propensos a se socializar no Tibia. E que a magia é de fato uma coisa muito estranha.
Espero que gostem.
Manteiga.
Publicidade:
Jogue Tibia sem mensalidades!
Taleon Online - Otserv apoiado pelo TibiaBR.
https://taleon.online







Curtir: 





Responder com Citação





