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Tópico: A Cadeira de Cristal

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  1. #1
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    Eu lamento a demora, mas me foi difícil encontrar um modo de lapidar a rústica história de Angela. Devo dizer que o passado dela será uma incógnita provavelmente o tempo todo, mas que quando for revelado justificará tudo o que ela faz ou pensa. Como já disse, aproveitei seus comentários para preencher a tal brecha existente na lógica da personagem. Essa brecha era uma falta de lógica tremenda no porquê de ela ser tão fechada e insólita. Já costurei as pontas, e tudo deve ficar bem agora.

    Esse capítulo ficou longo e cansativo, com poucos diálogos. Narra a chegada dos dois até a brilhante terra de Ab'Dendriel e apresenta mais um personagem de interesse. Algo sobre o passado de Angela é revelado. Mais comentários a respeito ao fim do post (com spoilers).

    Capítulo Seis
    Ab'Dendriel

    Cada um seguia com seus fantasmas.
    Zoroast ia atrás, fitando o chão e andando mais lentamente do que o habitual. Ora ou outra voltava-se para as árvores e as pequenas criaturas passantes, observando-as com simplicidade e um interesse forçado. Frequentemente resmungava qualquer coisa sobre o dia nublado que era aquele ou sobre seus cascos estarem sujos de lama depois da fuga dos dois. Falavam muito menos agora, e ambos sabiam que um clima tenso se estabelecera ali. Mas nada faziam para reverter a situação.

    O minotauro sentia uma frustração enorme por não ter podido seguir para Carlin. Queria muito estar entre seus iguais mais uma vez e poder lutar contra aqueles que mataram sua tribo. Mas não era tolo. Sabia que jamais conseguiria chegar em segurança lá. As Tropas das Sombras estavam se aglomerando naquelas terras, principalmente naquele instante em que supostamente Catura, o grande rei do Condado do Norte, estaria retornando de uma longa temporada que passara em Ankrahmun. E estaria disposto a finalmente tomar sua porção da terra, fato que ainda não conseguira realizar. Seria burrice seguir sozinho até lá. Se tivesse sorte seria morto no caminho. Se tivesse azar, coisa pior poderia acontecer.

    Passou então a encarar Angela enquanto ambos se embrenhavam na floresta escura que viram da montanha onde foram aprisionados. A bruxa habilmente cortava galhos e abria passagens, como se já conhecesse aquelas terras muito bem. De vez em quando começava a cantarolar como sempre, mas seu tom de voz era vago e sem vida. Não havia mais a alegria costumeira nela. Parecia ás vezes falar sozinha ou com o além, como se estivesse buscando respostas ou pensando em coisas que não importavam naquele momento. Ele queria poder ajudar. De algum modo, sentia-se tão próximo dela quanto de um irmão minotauro.

    Já Angela evitava pensar no minotauro. Sabia que não tinha o direito de manipular o destino de alguém como estava fazendo, mesmo sem querer. Sabia que era insensatez levá-lo aos elfos, mas não tinha outra opção. Ou era isso ou ele morreria, e isso ela não poderia suportar. Desde que escaparam da sala irregular ela sentia uma bomba de sentimentos dentro dela, louca para explodir. Sua máscara de solidão e irresponsabilidade havia caído. Era agora alguém sem face. Esperava que Faluae pudesse a ajudar a encontrar seu eixo de novo.

    O regresso à cidade dos elfos lhe era perturbadoramente reconfortante. Estaria de novo entre amigos indiferentes assim como ela. Veria seres reservados e potencialmente insensíveis, que buscam a perfeição acima de tudo sempre que fazem qualquer coisa. Estaria novamente entre seus semelhantes. Ou talvez não.

    Queria poder voltar no tempo. Fugir de tudo aquilo. Do Pentágono, da guerra, das mortes, da confusão... Queria voltar aos tempos da calmaria. Voltar a viver no pântano. Um medo crescente e inexplicável, medo que ela nunca antes sentira, rondava-a, devorando lentamente sua lucidez. O medo se transformava em culpa, e então em fraqueza. Começou a reviver toda a crueldade que vira nos últimos dias, a perceber como evitara se importar. Pessoas estavam abandonando suas casas, deixando parentes para trás. Estavam abandonando histórias particulares e que podiam nada representar para ela, mas com certeza significavam muito em suas vidas. Pessoas comuns que nunca antes haviam lutado estavam agora morrendo e vendo a terra que achavam conhecer mudar, transformando-se em um antro de terror. Como pudera relevar tanta dor ao seu redor?

    As pessoas desesperadas fugindo de Venore aos prantos, tentando buscar uma calma naquela tempestade mortal. A falsa calmaria na face de Ahamed que acreditava fortemente que podia lutar e vencer, pois sabia que se não fosse capaz de fazê-lo iria perder tudo que tanto amava. A solidão torturante de Zoroast quando se conheceram, como ele sofria calado pela morte de todos os seus companheiros e como devia estar sofrendo ainda mais por ter de partir com ela. Ela já não sabia mais o que sentir.

    De repente, parou. A floresta fechada e verde que estavam percorrendo sumiu abruptamente em uma clareira plana e iluminada. Ela imediatamente reconheceu o lugar, enchendo-se de alegria. Da clareira erguia-se imponentemente um portão de madeira grosso e reforçado com diversos metais. Várias palavras estavam entalhadas em sua forma, todas elas em élfico. Raízes nodosas se enroscavam pelas toras que o formavam, brotando elas de uma grande e longa parede vegetal, que penetrava na floresta e desaparecia. Era rígida e verde como tudo por ali. Flores vermelhas e amarelas de várias pétalas e tamanhos enfeitavam a parede e o portão, exalando um aroma único e incontestavelmente calmante. Esporos amarelos rodopiavam naquele lugar de vento calmo e levemente gelado, varrendo as coisas ruins para longe. Angela foi sentindo-se invadida por memórias de sua infância passada ali, na cidade de Ab’Dendriel. A alegria e desejo de regresso aos tempos de ingenuidade eram fortes. Sua confusão cessou.

    Já não havia mais porque fingir. Não havia mais porque ser uma bruxa reservada e que busca a perfeição, uma marionete de uma entidade maior que vivia dentro do seu peito. Vivera indiferente a tudo e todos por muito tempo, e sentia que ficaria louca se não rompesse seu casulo de hipocrisia logo. Viviam nela agora duas Angelas: a bruxa do pântano, séria e sábia, mas que não liga para nada. E a verdadeira Angela, que não se deixa abater, que sente e erra. Essa era quem ela queria ser. E era quem ela se tornaria ali, perante o portão de Ab’Dendriel.

    - Me desculpe. – Disse ela virando-se para o companheiro que jazia quieto, encarando com certo desdém a parede viva. Ele não a encarou quando ouviu sua voz, mas ela insistiu em olhares até que ele retribuiu. Seus olhos negros estavam tempestuosos. – Não sabe como é difícil pra mim dizer essas coisas. Eu... Eu não costumo ser assim. Sabe, eu cresci aqui, no meio dos elfos. Não gosto de falar disso mas... Mas eu fui feliz aqui. Só que eu acho que... Sabe... Que um vazio cresceu comigo, mas dentro de mim. Eu nunca soube de verdade o que é viver, porque eu, humana, tentei por mais tempo do que posso contar viver como elfa.
    Ele encarou-a com silêncio. O som de grama sendo amassada veio do outro lado do portão. Alguém escalou alguma coisa. Uma sombra apareceu entra algumas das raízes que formavam a parede viva.

    - Sabe, eu não consegui me afirmar. Não sou a mais carismática das criaturas, e muito pouco sociável. É complicado pra mim liberar meus sentimentos. Eu prefiro assim. Mas quero que saiba que fico muito feliz por você estar perto de mim e... Queria lhe agradecer por aceitar vir até aqui e por salvar minha vida. É um amigo de verdade.
    Ele resmungou e não disse mais nada, virando-se para examinar a trilha por onde haviam vindo. Angela suspirou e adiantou-se em direção ao portão. Confusa, examinou-o bem em busca de qualquer coisa que pudesse explicar sua existência. Isso não estava aqui no meu tempo. Passou os dedos carinhosamente pela madeira, exatamente onde estava escrito algo em élfico. Significa “Amigos são bem-vindos”. Ponderou por um tempo antes de se afastar da parede e olhar na direção da parede vegetal, confiante.

    - Eu sou Angela, uma antiga bruxa que vivia na quietude do Pântano da Pata Verde. Parti daquelas terras distantes enfrentando muitos perigos em busca de abrigo e afirmação. Sou uma antiga moradora da cidade e grande amiga de muitos elfos que já viveram aqui. Peço permissão para regressar ao seio da terra onde cresci uma vez mais. Juntamente com o minotauro Zoroast. Peço que relevem qualquer indiferença entre as raças que possa ter existido, pois devo minha vida a este ser aqui presente. Peço do fundo de minha alma que o deixem entrar nestas terras. – Seu tom foi o mais formal possível. Falava e apontava, mas jamais retirava seus olhos cinzentos da parede. Até que houve um farfalhar do outro lado e o portão rangeu levemente. Uma voz leve como uma pluma e musical falou em um tom alto e imponente, saindo sabe-se lá de onde:

    - Angela amiga-dos-elfos, sua presença nesta cidade é bem aceita por todos nós, mesmo nesses tempos difíceis e de desconfiança. Mas não podemos aceitar que o ser que traz consigo penetre em nossa floresta sagrada. Ele pode ficar nesta clareira, mas do portão não passará.
    Sem nem pensar, ela simplesmente ficou rígida. Pegou a varinha e virou-se, aproximando-se do minotauro. Cochichou alguma coisa e então se virou uma vez mais para a parede, gritando:
    - Então eu não quero ficar. Não irei dividir meu espaço com seres indiferentes e insensíveis como vocês. Prefiro ficar aqui e apodrecer.

    Prolongou-se um longo momento de silêncio. O farfalhar cessou e então nenhum outro ruído foi ouvido do outro lado do portão. Angela fez uma careta e Zoroast cutucou-a, encarando fixamente a entrada de Ab’Dendriel.
    - Não precisar isso. Poder ir, eu bem. Achar meu rumo. – Disse ele calmamente, em um tom mais carinhoso do que o habitual.
    - Não diga isso. Eu não o irei abandonar aqui fora, é muito perigoso. Agentes de Yöer podem aparecer e matá-lo, ou fazer coisa pior. Eu não vou deixá-lo aqui fora para morrer.

    Houve então uma movimentação anormal do outro lado. Não ouviram-se vozes, mas sons cortantes que interrompiam o vento. Houve então um grande rangido vindo do portão e este começou a dividir-se em dois, abrindo-se para o lado de fora. As recém-formadas portas de madeira ganhavam campo rapidamente, até que abriram-se ao máximo que podiam, deixando uma generosa abertura na parede vegetal. Angela e Zoroast afastaram-se um pouco e olharam fixamente para dentro da cidade no exato instante em que dela saía um elfo alto e de ombros largos, com braços e pernas compridos e uma cabeça triangular com um queixo redondo e orelhas pontudas. Seu nariz avançava imponentemente para frente até se dobrar minimamente para baixo. Tinha longos cabelos de cores adversas, sendo os fios ora dourados, ora prateados. Este estava transformado em uma longa trança presa com cipós que descia suavemente por suas costas. Tinha a pele muito branca e olhos verdes tal como são as árvores. Andava elegantemente com um suave balançar de ombros, como se dançasse interiormente em um ritmo calmo e eterno. Avançava com uma expressão de paciência tediosa pela clareira, até parar perante a bruxa de laranja. Ele usava vestes simples: uma túnica verde e longa que caía até os joelhos, calças de couro sem qualquer rasgo ou remendo, sandálias de madeira aparentemente desconfortáveis e que exibiam seus dedos. O que quebrava sua simplicidade era um monóculo com detalhes em ouro e extremamente limpo que cobria seu olho esquerdo. Angela reconheceu aquela peça de imediato.

    - Faluae! Não tem noção de como é bom vê-lo! – Disse ela partindo para cima dele, abraçando-o energeticamente. Sorria de orelha a orelha e balançava o amigo enquanto o envolvia em seus braços curtos. Ele limitou-se a soltar um risinho e examiná-la com seus olhos calmos como uma tempestade em alto-mar. Os olhos verdes faiscaram como fazem as esmeraldas ao serem lapidadas após certo tempo.
    - A alegria que tenho em mim é tão grande que mal posso narrá-la! – Disse o elfo em um tom contido e cortês, sem emoção evidente. Mas apesar disso, o modo musical com que falou e seu olhar denunciavam a sinceridade contida em suas palavras. Esse é o Faluae que eu conheço. Mestre nas palavras, nas entradas triunfais e na falta de emoção. Ela sorriu largamente e apresentou o minotauro ao amigo de longa data. Estes se cumprimentaram de modo frio e distante, como se pertencessem a mundos diferentes. Mas mesmo assim um grande avanço político ali foi dado, pois elfo algum ousaria dirigir a palavra a um minotauro. E Faluae o fez. Era um grande diplomata, vivendo isolado em sua casa na árvore com seus ideais revolucionários que só Angela sabia.

    - Peço desculpas pelo modo hostil com que foram gratuitamente tratados ao chegarem até essas terras outrora tão acolhedoras. Mas peço também alguma compreensão, pois vivemos tempos tempestuosos nos quais não sabemos onde depositar nossa confiança. – O elfo fitou longamente o horizonte como se buscasse uma esperança longínqua. Se sentiu alguma coisa forte pelo reencontro ou pela sua terra, nada demonstrou. Depois de um momento de comoção contida, virou-se para o minotauro. – Conversei com os guardas e os convenci a permitir sua passagem para a nossa cidade. Não serei hipócrita de fingir que tudo estará bem, mas não quero que sinta-se mal pelos olhares que receberá; és meu convidado para entrar, e deverá ser tratado como um igual. Não deves ser punido por erros de antepassados, da mesma forma com que espero que não insulte-nos por nossos antigos. E saiba ainda que se és amigo de Angela, és meu amigo, e amigo ainda de toda essa terra. O que precisar, peça, sem acanho. Será-lhe dado com louvor.

    Ele virou-se e passou a andar triunfantemente rumo ao interior da cidade. Os dois seguiram-no, Zoroast sentindo-se um pouco mais confortável, mas ainda desaprovando mentalmente a idéia de compartilhar do mesmo pedaço de terra que os elfos. Angela narrou detalhadamente tudo sobre os acontecimentos, desde que viu Wyda morta até a fuga dos dois do Monte Fêmur. Faluae ouvia tudo atentamente, ora ou outra fazendo alguma observação boba. Enquanto avançavam pelo território verde, enchiam-se com a graça e o esplendor da cidade-árvore: havia campos floridos, pastagens, pomares e plantações por todos os cantos. As casas eram esculpidas habilmente nos grossos troncos das árvores que ali cresciam, ou construídas sobre as menores. A grama era escura e alongada, curvando-se em seu auge. Pássaros brancos e insetos mínimos brincavam por ela, ora ou outra parando para observar os passantes, como se indagassem a si mesmos o porquê de toda aquela movimentação naquela terra de gigantes. Um doce aroma floral emanava-se de todos os cantos, e uma explosão de cores era detectada em cada paisagem.

    Por todos os lados da cidade, fosse cuidando de animais ou flores, arrumando lares ou simplesmente apreciando a leve brisa daquela tarde estavam os elfos. Eram todos perturbadoramente iguais: altos, elegantes e de cabelos longos e louros. Tinham sempre expressões ilegíveis cravadas na face como estacas no chão. Seus olhares frios e inflexíveis eram tenebrosamente aprisionadores, contendo uma silenciosa inquisição descuidadamente camuflada em uma aceitação imparcial, como se aquilo ora ou outra tivesse de acontecer. Felizmente eles não acompanhavam os viajantes com aqueles malditos olhos. Examinavam-nos lenta e completamente de modo a constatar tudo o que pudessem para dissertar sobre aquilo depois, colocando todas as suas críticas, opiniões e preconceitos na mesa. Mas logo voltavam aos seus afazeres, relevando a presença deles ali. Outrora Angela achara aquela frieza estranhamente acolhedora, alimentando dentro de si a esperança de um dia ser indiferente como eles. Mas agora via-os como estranhos sem alma, como marionetes de um perfeccionismo errôneo e infundado. Como pudera algum dia sentir-se tão integrada àquela cultura agora tão distante?

    Caminharam até chegar em um ponto próximo da irregular costa leste da cidade. Era uma pequena campina verdejante e clara com alguns arbustos cercando-a. Não havia flores sobre ela, nem insetos, nem aves. O que havia era o que outrora fora um fogueira, bem no centro, e algumas esteiras de bambu seco, semelhantes a que Angela usara na casa de Zoroast, espalhadas ao seu redor. Existiam ainda algumas caixas e pacotes grandes e amarelados empilhados perto de alguns arbustos verdes e cheios de frutinhas azuis. Não havia elfos por ali.

    Os três pegaram cada um uma esteira e sentaram-se nela, aproximando-se do que fora a fogueira. Faluae escolhera uma ao lado dos pacotes, bem em frente à Angela. Zoroast pegara uma e se afastara um pouco, ficando mais perto de alguns arbustos. Após acomodarem-se, Faluae iniciou a curta conversação que se manteria:
    - Fico feliz que tenham conseguido escapar da mão negra do Pentágono. Escolheram sabiamente quando decidiram vir até aqui. Estarão seguros. Os elfos os protegerão mesmo sendo contrários à estada de Zoroast nestas terras.
    - Obrigado por persuadir os guardas. Nunca teríamos entrado sem sua ajudinha. – Disse Angela sorrindo em seguida. Depois disso percorreu os locais próximos com os olhos e foi sentindo-se invadida por lembranças acolhedoras da infância passada ali. – Parece que foi ontem que vivi aqui. Mas já faz mais de duzentos anos...
    Faluae sorriu complacentemente.
    - No entanto pareces apenas ter quarenta. Decididamente a magia é uma coisa muito, muito estranha. Mas pelo menos temos a ela para nos auxiliar nesses tempos de necessidade. Precisaremos fazer muitas preces ao primeiro dos magos quando tudo isso acabar.

    - Bem, como já lhe disse, eu já não conto com essa magia... Pelo menos não até fazer um antídoto que recupere minha energia mágica. Eu vou precisar de...
    O elfo encarou-a secamente, fazendo-a calar-se.
    - Não pense em problemas agora. Descanse. Despertaremos cedo amanhã para partirmos uma vez mais.
    - O que...? Mas... Levamos dias para chegar aqui! Como assim? – Angela balbuciava as indagações atropelando as sentenças frequentemente. Faluae nada disse, apenas indicando as caixas e o que todos os elfos estavam fazendo: organizando-se para uma ida sabe-se lá para onde. Espero que eu não tenha cometido um erro. Aprendera a confiar nos elfos, o que de certo modo a deixou mais calma em saber que fizera uma longa e perigosa viagem para nada.

    - Só lamento ter arrastado Zoroast para cá. Ele teria encontrado seu caminho para os minotauros mais rapidamente sem mim. – Disse ela por fim, deitando-se na esteira para encarar o céu cinzento e escuro daquela tarde tenebrosa. Logo irá entardecer. Prolongou-se um momento de silêncio em que nada se ouvia. A bruxa virou a face para encarar o local onde estava o minotauro e constatou que ele havia sumido.
    - Foi andar pela floresta enquanto falávamos. – Disse Faluae então. Angela agora voltou-se para ele, encarando-o nos olhos misteriosos. – Quanto ao que disse agora a pouco, não creia nisso. Chegou até essas terras há uma noite a notícia de que os minotauros sumiram dos Campos do Norte, onde estavam escondidos. Rumores dizem que foram vistos aglomerando-se naquele lugar horroroso a leste daqui, a Pedra de Ulderek, aonde vivem os orcs. Talvez estejam formando uma aliança ou simplesmente buscando um refúgio. Ouvi alguns elfos comentarem que acham que os minotauros estão pegando barcos de lá para o continente de Darama. Eu acredito fortemente nisso... Há muitos minotauros vivendo naquelas terras, especialmente no norte do deserto. Deve ser o lugar mais seguro para eles agora. Não se preocupe. Conversarei com ele depois.

    Após esta brecha da conversa, Angela fechou os olhos e procurou acalmar a mente em turbilhão. Tudo que ela se empenhara para realizar e evitar nos últimos tempos não existia mais. Ela mergulhara em um oceano profundo que um dia já conhecera, mas que agora era um mistério para ela. Não sabia dizer o que aconteceria em seguida, apenas que seria algo grande e inesperado. Deixou-se levar pelos espectros do cansaço até chegar ao reino dos sonhos, onde reviveu toda sua dor dos últimos tempos. O céu estava caindo bem em cima de sua cabeça, e não havia para onde correr ou se esconder. Talvez uma força maior estivesse comandando todo aquele jogo, manipulando cada um como se fosse um peão em um tabuleiro de xadrez. Angela chorou. Deixou as lágrimas descerem pelos dois lados de sua face como uma enxurrada enlouquecida. E enquanto isso acontecia e sua mente mergulhava no sono profundo e inconsciente, a bruxa lembrou-se de sua antiga amiga. E a última coisa que se passou em sua mente antes de o sono dominá-la de vez deixou-a mais humana.

    Oh Wyda, será que é muito tarde para chorar por você?
    Notinha: "Faluae" lê-se como "Falue"

    --
    Bom, só quero pedir que não se façam comentários sobre o fato de Angela ter tal idade ou de ter vivido entre os elfos. Isso será sim explicado algum dia, e eu não creio que crie uma situação insólita com isso, afinal falamos de Tibia. E devemos considerar que os elfos são muito mais propensos a se socializar no Tibia. E que a magia é de fato uma coisa muito estranha.

    Espero que gostem.
    Manteiga.

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    Dezesseis anos depois, estamos em paz.

  2. #2
    Avatar de Ldm
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    Parabéns pela história, Margarin...ops, Manteiga.
    Brincadeiras à parte, gostei muito da narrativa.Porém, acho que você deveria evitar a repetição de palavras.Por exemplo:

    tudo atentamente, ora ou outra fazendo alguma
    Ora ou outra voltava-se para
    Pássaros brancos e insetos mínimos brincavam por ela, ora ou outra parando para observar
    uma aceitação imparcial, como se aquilo ora ou outra tivesse de acontecer.

    Seu nariz avançava imponentemente para frente até se dobrar minimamente para baixo.
    Essa descrição me pareceu estranha, talvez redundante.


    Por favor, não abandone a história !
    Aguardando o próximo capítulo.
    Última edição por Ldm; 22-08-2009 às 16:22.

  3. #3
    Avatar de Emanoel
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    Antes de mais nada, peço que deixe todos os comentários sobre o capítulo para o final do post. Algumas considerações adiantam informações sobre a história e até mexem com o subconsciente e prejudicam o julgamento do leitor.


    As passagens com potencial dramático soaram insossas, simplesmente porque pareceram justificativas inadequadas para o comportamento da personagem.

    De qualquer maneira, espero que você não se preocupe tanto com o nível de agradabilidade da protagonista. Forçar aproximação entre personagens e leitores é um erro, apenas esforce-se para criar alguém verossímil e interessante – o suficiente para que não cause aversão aos leitores e consiga sustentar a história que está sendo narrada. (Assim como você, também não gosto do Frodo, mas esse detalhe é irrelevante quando comparado a grandiosidade da aventura que foi protagonizada pelo mesmo.)

    Sinceramente, o capítulo não foi tão animador quanto os quatro primeiros, mas superou bastante o quinto e apresentou ótimas descrições – ficou fácil imaginar a cidade élfica e os próprios elfos. Sinto que a narrativa ainda está fora dos trilhos, mas você possui base para mudar esse quadro em dois tempos.

    Só para comentar: logo no início do capítulo, fiquei me perguntando quais eram as "criaturas passantes". No nosso mundo, seria uma curiosidade ilógica, porém estamos tratando com um universo desconhecido e essa questão acaba ganhando certa relevância.

    Gosto das expressões metáforicas que utiliza, por exemplo: "os olhos verdes faiscaram como fazem as esmeraldas ao serem lapidadas após certo tempo"; "expressões ilegíveis cravadas na face como estacas no chão". Por outro lado, algumas descrições como "deixou-se levar pelos espectros do cansaço" requerem cuidado, pois inspiram sensações perceptíveis, mas, levando definições formais em consideração, não fazem total sentido.


    Infelizmente, repetições que desembelezam a obra apresentaram-se de maneira constante:

    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Ponderou por um tempo antes de se afastar da parede e olhar na direção da parede vegetal, confiante.
    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    o portão rangeu levemente. Uma voz leve como uma pluma
    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    até que abriram-se ao máximo que podiam, deixando uma generosa abertura na parede vegetal.

    E dois (possíveis) erros que encontrei:

    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Uma sombra apareceu entra algumas das raízes que formavam a parede viva.

    entre
    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    - Então eu não quero ficar. Não irei dividir meu espaço com seres indiferentes e insensíveis como vocês. Prefiro ficar aqui e apodrecer.

    ficar nessa cidade / entrar / (?)


    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Era uma pequena campina verdejante e clara com alguns arbustos cercando-a.
    Todas as fontes que consultei definem "campina" como planície/terreno extenso ("com vegetação herbácea"). Mesmo a palavra sendo considerada um sinônimo para planície (que permite definição mais abrangente), devo dizer que escrever sobre uma "pequena campina" é comprometedor.


    Até o próximo.

  4. #4
    Avatar de Manteiga
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    Capítulo Sete
    Atormentação


    Dançava pelo ar fresco da manhã recém-chegada um aroma fétido carregado de morte. Trazia a perturbadora sensação de perigo inevitável, como se as Tropas das Sombras fossem saltar do meio da floresta a qualquer momento e invadir a cidade. Os moradores de Ab’Dendriel andavam pouco pelos campos e ruelas locais, olhando desconfiados para tudo que se movia ou respirava. Qualquer som ou vulto na escuridão podia ser uma ameaça, o que fez florescer entre os elfos o péssimo hábito de se preparar para atacar antes de perguntar.

    Estavam todos reunindo-se perante o portão gigantesco. Eram meados das cinco horas da manhã. O sol pouco levantava-se no horizonte, mas mesmo assim sua presença era festejada com largos sorrisos, afinal ele não surgira no dia anterior. O vento frio começava a acalmar-se lentamente, e todas as nuvens que outrora habitaram o céu agora já haviam se dissipado. Havia um clima de esperança e de uma ânsia colossal entre todos os presentes. Em questão de pouco tempo abandonariam sua terra por um período de tempo que ninguém sabia dizer se seria curto ou longo.

    Todos ali possuíam caixas e mais caixas que continham desde simples utensílios de cozinha básicos até extravagantes peças de vestuário. Os elfos não estavam deixando nada para trás. Havia algumas carroças de madeira com aparência impecável próximas à saída da cidade, sendo carregadas com os bens rapidamente pelos guardas. Todas as bagagens pesadas eram etiquetadas de acordo com os donos.

    Sentada em um toco ralo e levemente putrefato, Angela observava toda a movimentação que era feita para aquela travessia continental com uma confusão mental já costumeira. Não sabia se admirava-os pelo ato insano ou se lhes desejava os pêsames. Apesar de a concentração da maioria dos exércitos do Condado do Norte estar se dando em Carlin, viajar pelas estradas comandadas pelas trevas ainda era perigoso. Ela sabia bem disso. Mas felizmente agora tudo está bem. Acordara já há quase duas horas e empenhara-se ao máximo para fazer sua poção. Como ela esperava, Faluae tinha todos os ingredientes para fazê-la, o que resultou em um rápido e eficaz trabalho em equipe. Dois elfos feiticeiros amigos de Faluae a ajudaram nas partes mais complicadas, embora ela soubesse que poderia fazer tudo sozinha. Só precisava misturar umas ervas com um pouco de água... Não havia mistério! O antídoto funcionara como o esperado, e ela já podia sentir sua energia mágica por todo o corpo.

    E agora ela estava ali, parada melancolicamente observando toda aquela movimentação que lhe lembrava tanto o que vira em Venore alguns dias atrás. No dia em que perdera sua vida. Ouviu então o som de alguns passos serem dados na grama fofa perto dela. Ergueu a face e viu seu amigo elfo sentando-se no colchão verde ao seu lado. Ele sorria.

    - É triste abandonar essa terra, mas sei que se não formos embora o Pentágono a destruirá. Prefiro vê-la triste e vazia do que cinza e mortuária. E sei que um dia voltarei a viver aqui como se nada tivesse acontecido.
    - É, pode ser. – Disse ela emburrada. Brincou com a varinha que estava em seu colo e desviou levemente o olhar para sua mochila velha. – Onde está Zoroast?
    - Na clareira. Quando lhe falei que os minotauros haviam partido ele ficou muito abalado mesmo... Acabou aceitando e creio que até preferiu assim, pois de outro modo teria vindo inutilmente até aqui, expondo-se ao ridículo. Deixei-o lá para pensar um pouco... Pobre coitado. – Ele fez um silêncio acolhedor que indicava claramente que não havia mais nada a ser dito sobre o assunto. Depois encarou-a com seus olhos verdes espectrais. – E você? Está taciturna demais. Duvido muito já a ter visto de modo tão depressivo.
    - Não estou de bom humor hoje.
    - Isso eu reparei. Aliás acredito que todo mundo já reparou. – Como se adivinhasse no que ela pensava, disse em seguida: - Não vai adiantar se culpar pelo que aconteceu a Wyda e muito menos ficar olhando o chão como se o mundo não estivesse desabando ao seu redor. Vai acabar cavando um fosso sombrio e se atirando dentro dele.

    - E se for isso mesmo que eu estiver procurando? – Ela encarou-o longamente, tentando forçar um olhar triste e sem vida ao máximo, mesmo sabendo que não adiantaria.
    - Eu a conheço a mais de um século, acho que tenho autoridade para falar. Você não é nem nunca foi assim Angela.
    Ela soltou um risinho debochado e largou a varinha, que rolou do seu colo para o gramado.
    - Então como é que eu sou? Estou tentando descobrir isso desde que saí de Venore, e até hoje não achei a resposta! Não sei se sou brava, se sou burra, feliz, imbecil, insensível ou fraca! Me diga Faluae, o todo-poderoso, quem eu sou?
    As últimas palavras foram ditas tão alto que chamaram a atenção de alguns elfos próximos. Faluae pensou por algum tempo e encarou-a bem, como se a analisasse profundamente. Então falou com o mesmo tom calmo de sempre.

    - Você é como um labirinto, no qual todas as paredes estão constantemente mudando. Você é um quebra-cabeça sem solução, onde sempre sobra uma peça sem encaixe. Você é como os camaleões que mudam sua cor para se adaptar ao ambiente ao seu redor. Você é a entidade mais misteriosa que eu já conheci. Acho mais fácil compreender a morte do que sua personalidade. – Ela fez silêncio e encarou-o de modo vazio. – E eu gosto de você assim. Eu quando falo com você nunca sei o que você está pensando, o que pretende fazer. Estar contigo é sempre uma aventura nova, na qual eu nunca sei se vou sair rindo ou chorando. Quando encontro-te não sei se vai cantarolar e saltitar por aí ou se vai traduzir um livro de setecentas páginas em uma tarde.

    Os olhos dela começaram a marejar.
    - Você é o apoio que toda construção precisa. Se estou necessitado de risos você os dá, se quero conselhos, idem. Se faço algo errado você habilmente me dá uma bronca, se eu acerto é a primeira a me dar os parabéns. És uma incógnita maravilhosa, um livro de páginas inacabadas. Quando leio você, nunca sei o que virá na linha seguinte. Mas acima de tudo isso, Angela, você é uma bruxa habilidosa, sábia, divertida e que nunca desanima ou deixa transparecer o que sente.
    A essa altura ela já estava fungando, tentando disfarçar os olhos molhados com os cabelos ralos. Faluae ficou encarando-a até que ela secou as lágrimas.
    - Eu... Eu tenho uma tempestade na cabeça! Não sei se devo me comportar como uma elfa ou como uma humana. Não sei o que fazer, o que dizer... Faluae, eu estou confusa como nunca estive antes. Eu estou com medo.

    O elfo ficou em pé.
    - Pois livre-se das amarras que te prendem. Solte-se dessa teia confusa imbecil que você mesma criou. Wyda está morta, está. Mas isso é passado. Não pode mudar isso. – Ele fez uma pausa. – O que você pode fazer é lutar para impedir que outras pessoas sintam o que você está sentindo agora. Evitar que os demais se metam no buraco onde você se meteu. E sabe como você faz isso? Se aliando à Unie.
    O vento soprou forte, fazendo algumas árvores em um morro próximo dançaram e gritarem de dor. O sol começou a invadir os campos com sua imponência dourada.
    - Que... Que é isso?
    - A única esperança. É a união de todas as forças revolucionárias que combatem o Pentágono. Faz uns seis meses que se uniram de vez, criando uma sede secreta em Venore. E é justamente pra lá que estamos indo agora. Os elfos decidiram se unir de uma vez por todas à Causa. Temos um bom número de soldados, sendo eles humanos, elfos, trasgos e até minotauros. Toda manifestação de vida capaz de lutar está se unindo a nós. Mas precisamos de ajuda. Precisamos de gente capaz de destruir exércitos inteiros com apenas algumas palavras, ou nunca seremos capazes de vencer essa guerra. Angela, você é uma grande bruxa. Pode vingar-se pelo que fizeram a Wyda. Eu a ajudaria. Sou o diplomata mais conceituado da Unie.

    - Pare de tentar me controlar com suas palavras afiadas como facas. Não vai me pegar nesse joguinho de versos. – Ela ficou em pé e ajuntou a varinha, parando então para encará-lo da mesma altura. – E eu detesto lutar. Não quero me engajar ainda mais nesse combate que só vai resultar em mais morte! Faluae, o Pentágono precisa de tudo que é mal. E lutar é mal. Só iremos os fortalecer mais.
    - Lutar pela justiça não é um pecado. E de qualquer modo, irá acabar se metendo nessa luta, cedo ou tarde. Raven não irá desistir até que tenha você em suas mãos. Esteja você aqui, em Thais ou no inferno, ele irá atrás de você para cumprir as ordens que recebeu.
    Ela arregalou os olhos. Deu alguns passos para trás e olhou o chão desnorteada, como se tivesse levado uma bofetada na cara.
    - O que foi que você disse? – Disse ela em um tom engasgado. A menção daquele nome estranho lhe era perturbadoramente familiar, causando um arrepio em sua espinha.

    - A criatura que lhe atacou. Chama-se Raven. É o mais importante dos membros da Mão da Morte, a guarda pessoal de Konar, líder do Condado do Sul. É leal até o fim e nunca falha em suas missões. Dizem inclusive que ele participou do assassinato de Tibianus III, seja lá como foi que se deu. Ele nunca faz nada sem ter sido ordenado diretamente por Konar. Angela, se ele realmente mandou Raven ir atrás de você, pode estar certa que ele não vai parar até completar seu objetivo. E não adianta suplicar ou falar. Só poderá detê-lo se o matar.
    - Mas... Faluae, isso é incabível! O que eu poderia fazer para que o Pentágono tivesse tanto interesse assim em mim?
    - Isso não importa. Enquanto você estiver a solta, será procurada. Pessoas morrerão e cidades serão destruídas enquanto a procuram. E não adianta acreditar cegamente que pode com Raven. Aquela coisa transpira maldade. Você pode sentir ele antes mesmo de o ver, e tudo por que ele faz o ar ficar pesado e tudo que há de ruim dentro de você aflorar de repente. Enquanto estiver sozinha e confusa como está, não terá chances.

    - Oh Faluae... Eu não desejei carregar esse maldito fardo em momento algum! O que eu fiz para merecer essa perseguição insensata? – Sua voz estava espremida e ás vezes reduzia-se a um quase silêncio involuntário. As coisas ditas pelo amigo caíam como bombas em seu ânimo, mas de um jeito ou de outro ela sabia que tudo era uma verdade tenebrosa. Eu sou a caça.
    - Eu acredito no destino. Talvez tudo isso seja apenas para você entrar na Unie. Talvez os deuses estejam jogando com seu futuro. Talvez você esteja destinada a destruir o Pentágono e vingar-se de Raven. Ou talvez tudo não passe de uma coincidência ou obra de um plano maior de Konar. Provavelmente nunca saberemos. Mas... O que me diz, afinal? Irá ficar sozinha e fugir até morrer ou irá se unir a nós e partir para Venore?

    E ela pensou. Relembrou mais uma vez toda a sua trajetória desafortunada desde que abandonou os pântanos até o momento em que chegou ao antigo lar. Acabou lembrando-se de como achara Wyda morta, caída perto da casa, com a garganta cortada e uma expressão de serenidade absurda cravada no rosto. Ela morreu para me salvar. Deve ter tentando enganar Raven... Pensou em como Zoroast se expôs para destruir uma caveira que a ameaçava, sendo que ele era um minotauro e eles nunca antes haviam se visto. E por fim reviveu o momento em que viu Faluae novamente após tanto tempo. Ele fez de tudo para me deixar entrar porque sabia que eu corria perigo. Todos ao seu redor haviam lutado por ela. E agora era chegada sua vez de decidir se ia ou se fraquejava. Era difícil, pois ela teria de lutar não só contra a morte, mas ainda contra todos os seus princípios. Mas nada disso importava mais. Sua confusão definitivamente morreu no momento em que seus lábios se moveram para recitar duas palavras que rodopiaram pelo campo em um tom decidido.
    - Eu irei.
    "Unie" é "união" em holandês. Lê-se como "Uni". Espero que tenha ficado um nome apropriado, pois demorei semanas para escolher.

    --
    Bem, nada de muito novo ou inesperado. Capítulo singelo com diálogos bme superficiais e diretos, apenas para não adiar o inevitável. Terminamos aqui o épico "Angela confusa" para entrar agora nos rumos da hitória (e já não era sem tempo). Criamos mais algumas situações aqui e veremos aonde vai dar tudo isso. Não quero que pensem que Angela é uma sem opinião por ter decidido tudo tão rápido. Devemos sempre lembrar que Faluae é muito convincente e que ela encontrava-se fragilizada devido aos últimos acontecimentos. E Angela não é uma pamonha: reconheceu que não havia outra saída. É, fiz uma boa armadilha para nossa amiga.

    Anotei os comentários feitos, principalmente sobre repetições. Acho que não ficou muita coisa nesse estilo no capítulo, eu pelo menos cuidei muito para que não ocorresse. Por fim, sei que não ficou muito empolgador, mas era um capítulo simples para se introduzir o resto da história. Se eu colocasse essa parte em qualquer outro capítulo ficaria ruim e se eu criasse mais situações nele eu estaria enchendo linguiça.

    Manteiga.
    Dezesseis anos depois, estamos em paz.

  5. #5
    Avatar de Emanoel
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    Capítulo de transição bastante monótono, praticamente um excerto do sexto. Admiro o potencial dramático que a história possui, mas explorar insistentemente uma tragédia desinteressante não foi boa ideia, principalmente quando o clima é de justificativa. De qualquer maneira, tudo indica que você está ciente disso e apenas quis finalizar esse arco; amém.

    O enredo andou desagradando pelo excesso de enrolação e inconsistência, mas Atormentação abriu espaço para um caminho mais interessante e definitivo: a história parece estar ganhando forma. Meu conselho é que você não force nas personalidades ou situações esdrúxulas; deixe fluir, com coerência e naturalidade.

    Só agora percebi que tinha gostado da "poção de anulação mágica", mas sou suspeito, pois nunca simpatizei com feitiçaria. Fiquei decepcionado com a solução simples. Entretanto, não se incomode, pois isso é totalmente pessoal.


    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    O vento soprou forte, fazendo algumas árvores em um morro próximo dançaram e gritarem de dor.

    dançarem
    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Anotei os comentários feitos, principalmente sobre repetições. Acho que não ficou muita coisa nesse estilo no capítulo, eu pelo menos cuidei muito para que não ocorresse.
    Última frase do segundo parágrafo. Todavia, é um detalhe irrelevante.


    Até o próximo.




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  6. #6
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    Finalmente estamos chegando ao desfecho da história: a guerra entre o Pentágono e a Unie, que exprimem os "supostos" bem e mal.Acredito que ainda possa haver reviravoltas, não gostei muito do Faluae.

    estava espremida e ás vezes reduzia-se a um quase silêncio
    Acredito que a expressão destacada seria craseada, não?



    No mais, parabéns.Só não force muito diálogos e ações.
    Aguardando o próximo.


    "Este tem sido o problema dos místicos. Alcançam o Definitivo, mas não podem relatar aos que lhes vêm após. Não podem relatá-lo a outros, que gostariam de ter essa compreensão intelectual. Tornaram-se um com o Definitivo. Todo o seu ser o relata, mas a comunicação intelectual é impossível. Poderão dá-lo a ti, se estiveres pronto para recebê-lo, poderão permitir que o alcances, se também o permitires, se fores receptivo e aberto. Mas as palavras não farão isso, os símbolos não ajudarão, teorias e doutrinas não serão de uso algum."

  7. #7
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    @Emanoel
    Haha, eu ri quando vi a última linha do segundo parágrafo depois do que eu disse. Isso que eu reli umas duas vezes o capítulo. Preciso ter mais atenção. E você está correto, foi para fechar esse ciclo confuso. Mas eu seria hipócrita se dissesse que a história vai dar uma guinada grandiosa pelos próximos capítulos. Temos mais o que fazer, enrolar e enrolar muito esse fio até tecer a história.

    @Ldm
    Eu não teria tanta certeza disso. Muita água ainda há de passar por debaixo dessa ponte. Talvez a guerra demore muito, talvez não. Só acompanhando pra saber :x Faluae de fato não é uma das pessoas mais simpáticas do mundo, mas acho que aprenderão a gostar dele. Ou odiar de vez.

    E sobre a crase, me pegou mesmo nessa. Sou péssimo com crases e afins. Se souber me dizer qual o correto, por favor o faça. Embora eu acredite ser desse jeito mesmo ô.o

    @All
    Podem comentar viu :x Não me façam doublepostar sábado que vem.
    Manteiga.
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  8. #8
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    Quem é vivo sempre (re) aparece

    Capítulo Oito
    Você tem medo de escuro?


    O pesado portão rangeu alto antes de se abrir. Os elfos viraram-se categoricamente para encarar o espaço criado na parede vegetal, avistando o outro lado pela primeira vez em meses. Havia um misto de espanto e ansiedade estampado em suas faces iluminadas. Uma nova era estava iniciando-se ali. Muitos teriam aquilo como um sinal que algo muito grande estaria para acontecer. Os elfos estão abandonando sua terra.

    A morte estava próxima. Seu cheiro era perceptível no ar que envolvia a todos no campo. As Tropas das Sombras estavam mais perto do que se imaginava. Era preciso viajar rápido e sem descanso. Todos parecem dividir dessa idéia, pois as carroças puxadas por belos cavalos brancos começaram a avançar pelo verde, em direção ao campo recém-aberto. A multidão começou a imitar o gesto e a seguir em frente. Pouco a pouco todos foram partindo, deixando para trás um vazio que provavelmente Ab’Dendriel nunca antes experimentara.

    O pombo cinzento alçou seu vôo no instante em que todos saíram. Suas asas batiam em fervor e seu bico empinava-se para frente enquanto ele lutava bravamente contra a carga de vento que vinha contra seu minúsculo corpo. Jazia amarrado a uma de suas patas um pequeno bilhete branco.
    - Não se preocupe – Disse Faluae protegendo os olhos do sol forte que surgira enquanto vigiava o pombo. – Ele já viajou até Venore diversas vezes, vai saber o que fazer. No bilhete estou comunicando nossa partida, da perspectiva de chegada, sobre Raven, Zoroast e você.
    - Ele pode ser interceptado? – Indagou Angela acompanhando o pombo com os olhos até o instante em que sumiu no céu.
    - Improvável. No tempo em que essa rota era vigiada constantemente por caveiras ele nunca foi visto, porque agora que está vazia ele seria? – Ele fez uma pausa e olhou ao redor, constatando que todos já haviam ido. Só restavam alguns guardas armados perto do portão. Faluae abaixou-se e pegou sua mochila avermelhada e larga que deixara no chão. Passou uma alça pelo torso e virou na direção da clareira distante. – Fico feliz que tenha decidido vir conosco.
    - Você praticamente não me deu outra opção. – Ela retrucou, indiferente.
    - Por isso eu sou diplomata. – Ele sorriu de leve, da forma tola e breve que os elfos têm o péssimo hábito de fazer. – Onde raios está Zoroast? Tive muito trabalho para fazê-lo aceitar meu convite de se juntar à Unie. O que me falta é ele ter desistido!

    Como se estivesse ouvindo tudo e só esperando ser citado para dar as caras, o minotauro surgiu do alto da elevação onde ficava o campo onde haviam dormido na noite anterior. Trazia seu saco bege e sujo e sua maça negra e pronta para o ataque, manchada de sangue seco. Trazia ainda uma expressão cansada na face, olhando fixamente para frente e arrastando os cascos no chão, com as costas levemente curvadas para frente. Bufava a cada passos dado e passou por Angela sem a cumprimentar. Depois falou alguma coisa em sua língua-mãe com Faluae e se aproximou do mesmo modo sem-vida dos portões, olhando feio para os guardas antes de seguir a multidão.

    - Que deu nele? Está certo que nunca foi a criatura mais sociável do mundo, mas ele pelo menos costumava me cumprimentar! – Disse a bruxa erguendo uma sobrancelha e coçando o queixo.
    - Está emburrado por que queira estar em Darashia, com os outros minotauros. Deixe-o, vai acabar se acostumando à idéia de que sobrou. Mas não se preocupe com ele; temos minotauros na Unie. Ele logo vai se integrar. Teoricamente falando, é claro. – Disse o elfo em um tom alegre enquanto analisava a posição do sol. – Vamos antes que nos deixem pra trás.

    Começou então a avançar decididamente para fora da cidade. Angela seguia-o correndo para tentar acompanhar sue ritmo frenético. Em pouco tempo estavam cruzando a floresta escura que precedia a parede vegetal. A multidão em fervura estava logo à frente deles. Já não se podia mais ouvir as carroças. Angela podia observar que os elfos andavam com certa relutância, ora ou outra virando suas cabeças para tentar buscar um pedacinho da cidade. De longe, ouviu-se fechar o pesado portão. Um novo ciclo começa.

    O tempo corria e os elfos não diminuíam seu ritmo empolgado. Pareciam determinados a chegar a Venore o mais rápido que fosse possível. Conversavam sem perder o fôlego sobre a natureza e sobre como seria aquela nova experiência tão “rica e culturalmente benéfica para todos”. Faluae já havia se integrado com um grupinho de elfos que andavam mais a frente e deixara Angela no vácuo, andando sozinha para fechar o cortejo. Zoroast estava enfiado no meio da multidão, e a bruxa se perguntava se os elfos estariam o encarando feio. Espero que ele volte a falar comigo logo. Cabeça-dura. Não pôde deixar de sorrir. Estava começando mais um capítulo de sua vida. E era bem neste que ela obteria sua vingança. Pagarão pelo que estão causando a todos nós. E isso era uma promessa.

    Foi quando colocou um pé para fora da floresta que ela travou. Simplesmente ficou paralisada com um pé sobre uma raiz retorcida e outro cravado no chão, apoiada a um tronco meio putrefato e coberto de musgo. Seus olhos vidraram no além, acompanhando vaziamente a multidão ir lentamente desaparecendo no horizonte. Suas pupilas estavam se comprimindo em uma súplica para que Faluae se virasse e a visse naquele estado misterioso. Sentiu um vento anormal perpassar seu corpo e agitar suas vestes. Era um vento que trazia presságios malditos. Um forte arrepio congelou todos os ossos de seu corpo e a fez cair de joelhos. Começou a bater os dentes e a tremer de frio, mesmo estando com o sol diretamente sobre sua cabeça. Pode sentir então um rancor e uma tristeza profundos brotarem do fundo do seu coração e irem contaminando cada gota de seu sangue como o veneno faz. Pensamentos raivosos e obsessivos foram tomando sua mente aos poucos, enquanto ela largava a varinha e a deixava rolar para longe. Distante, uma voz desesperada chamou-a bem quando tudo ao seu redor sumiu. Piscou. O campo sumira. Só existia sombra. Estava tudo escuro ao seu redor. Não conseguia sequer ver suas mãos. Sentia-se dentro de um vazio que a consumia rápida e satisfatoriamente. Seus medos foram aflorando e fazendo-a perder a capacidade de pensar. Ela não precisava ver nada para saber exatamente o que estava acontecendo ali. Raven. Sua alma dizia que era isso. O medo que sentia dentro de si era igual ao que sentira quando o vira pela primeira vez.

    - Você tem medo de escuro? – Sibilou uma voz cruel e fria em algum lugar da escuridão. Ouviu-se o som leve do farfalhar de penas e um grunhido alto. Uma gargalhada que agia exatamente como o fio de uma navalha. – Aposto que sim.
    - Revele-se seu covarde! Vamos! Mostre essa sua cara nojenta para que eu possa queimá-la! – Bradou a bruxa com todas as suas forças. Mas não saiu voz alguma de sua garganta, deixando-a fortemente assustada. Começou a olhar para todos os lados, pronta para atacar, mesmo sabendo que era impossível acertar qualquer coisa naquela escuridão assombrosa. Estou ficando louca ou o que? Começaram então a surgir em sua mente dúvidas bobas sobre o que era verdade e o que não era. A incerteza se estava fazendo o que era certo começava a crescer, junto com uma melancolia profunda por não ter estado em sua casa apara salvar Wyda. Mas nada disso era comandado por ela. Era como se uma força maior estivesse manipulando seus sentimentos ruins.

    - Hm... Onde será que eu estou? – Disse a mesma voz de antes, desta vez debochando. – Eu posso estar aqui... Ou posso estar acolá. Quem sabe eu esteja bem atrás de você... Ou posso estar flutuando sobre sua cabeça. – Ao terminar de falar a criatura sempre gargalhava alto, provocando mais e mais arrepios, cada vez mais fortes, tomarem todo o corpo da bruxa. Estou sendo vencida por uma ilusão. Não. De algum modo estranho ela sentia que Raven estava por ali, por perto, apenas esperando ela ficar completamente fora de si. Ela estava tão trêmula que mal conseguia sustentar seu corpo. Ela só não sabia se estava tremendo de medo ou de ódio. Rangia os dentes e sentia um fogo imponente queimar em seus olhos. Seu maior desejo naquele momento era destruir o maldito homem-corvo. E isso atropelava o bom-senso e a racionalidade. Não importava o que iria acontecer com ela depois. O que importava era que ela precisava matá-lo. Sentia como se fosse morrer caso não conseguisse destruir seu inimigo. E isso tomou-a por inteiro, dando-lhe forças para ficar em pé.

    - Eu vou te matar seu desgraçado, eu juro pela minha alma que irei! – Ergueu os braços, apontando a palma de cada mão para um lado diferente. Concentrou-se em sua energia mágica, que agora fluía enlouquecida por suas veias, e gritou: - Exori Flam!
    Suas conhecidas bolas de fogo foram disparadas, indo na direção do nada e sumindo sem causar danos. Mas ela não se importava. Começou a apontar e atirar para todos os lados, na vã tentativa de atingir seu objetivo. Cada erro lhe dava mais vontade de sentir o cheiro de penas carbonizadas.
    - Talvez você deva praticar um pouco mais... Opa! Essa passou perto. Quer dizer, mais perto que as outras. – Raven devia estar se divertindo vendo aquela cena. Uma pontada de razão brotou na mente de Angela naquele instante, fazendo-a refletir sobre a possibilidade de ser justamente aquilo que Raven estava desejando: esgotar sua energia. Então parou de atacar. Houve então um prolongado silêncio assassino no qual tudo pareceu mergulhar em um quartinho sem ar. Angela sentiu sua vida ser sugada pela proximidade perturbadora de alguma coisa muito má. A morte estava chegando para buscá-la e a levar junto de Wyda. Foi fechando os olhos e se entregando ao espírito das trevas que consumia-a por inteiro. Leve-me, por favor! Tire-me deste universo tão mundano!

    Lágrimas foram aflorando de seus olhos com força inominável, rolando por sue corpo. Mas tais gotas de água, tão puras e inocentes, congelavam antes de chegar ao seu busto. E depois caíam ao chão, como granizo. Suas pernas estabeleceram um ritmo de tremedeiras constantes que pareciam dispostas a jogá-la ao chão. O escuro ia a envolvendo cada vez mais, penetrando em sua pele e rasgando suas entranhas. A agonia foi crescendo até existir somente ela em sua mente. O fim chegara. Mas toda aquela malevolência concentrada fazia Angela perceber a proximidade de Raven. Sabia que ele estava ali, ao sue lado, encarando-a como o leão que afugentou sua presa no deserto. Ela podia sentir em seu cangote o ar nojento que saía do corpo transfigurado daquela coisa. E isso foi sua salvação.

    - Não... Deixarei... – Murmurou ela com o peito em brasa. Cada sopro de ar que saía de sua garganta queimava-a.
    - Sua longa jornada termina aqui. – E dizendo isso, o corvo pousou sua mão podre no na dela. E então aconteceu. Fora tudo muito rápido. No instante em que os membros se encostaram, uma energia púrpura anormal brotou dos dedos da bruxa e penetrou no corpo do ser, fazendo-o urrar de dor. Era como se milhões de raios convergissem dentro de sua boca. Fechou os olhos e grasnou alto, como nunca antes fizera, caindo de joelhos e implorando que Zathroth tivesse piedade dele. Então deitou-se de lado, tendo espasmos e vendo seus membros moverem-se involuntariamente de um modo débil. Começou a cuspir sangue.

    Angela, por sua vez, nada sentira ao toque de Raven. Simplesmente foi sentindo tudo que a havia infestado nos últimos minutos – que confundiam-se com eternidades – esvair-se rapidamente. A agonia, a tristeza e a dor foram evaporando junto com a escuridão eterna, que vacilou até desaparecer por completo. Sentiu o ar voltar com força aos seus pulmões e o sol tomar seu corpo, fazendo o sangue correr de novo. Ela endireitou-se e sorriu de leve ao deixar a ilusão criada pela criatura.
    - Jamais permitirei que toque em mim, infeliz. – Ela falava para o alto, em direção ao céu, pois não se via corvo algum ali. A única evidência da passagem, mesmo que momentânea, de Raven por ali, era um punhado de penas negras e familiares dispersas na grama amassada e infestada com algumas gotículas de sangue.

    O que de fato acontecera, ela não sabia explicar. Raven simplesmente estivera ali, e ela sabia que era verdade. Ele fizera o possível para destruí-la. Mas falhara miseravelmente quando tocou em sua pele. Wyda me salvou. De algum modo, ela intercedeu por mim. Levou alguns segundos para recuperar sua total capacidade motora e mental. Então seguiu lentamente até o local onde estava sua varinha, deitada, inerte. Agarrou-a e arrumou o chapéu na cabeça. Lançou um último olhar para as penas negras jogadas ali e cuspiu sobre elas imediatamente. Restos de lixo. Agradeceu uma última vez pela proteção que Wyda supostamente lhe concedera e virou-se para o sul, para recomeçar a sua caminhada.

    Foi só então que percebeu que era de noite e que ela estava completamente sozinha ali.
    Acho que falar "eu lamento por não ter postado no último mês inteiro nessa seção" não resolve muita coisa. Não que eu ache que deva explicações, até porque isso é um forum de internet, mas eu queria salientar apenas que foi por causa deste tópico. Perid simplesmente o fio da meada da minha história, me perdi nas idéias e fiquei sem ânimo. Setembro foi um mês horrível pra mim. Não que Outubro esteja melhor. Mas enfim, antes tarde do que nunca. Este capítulo finaliza o primeiro ciclo da história (Livro Um).

    Fiz mudanças importantes. Encurtei muito A Cadeira de Cristal de modo que eu ainda possa ter alguma motivação para escrever a segunda das cinco partes que A Espinha terá. Nesse ritmo até 2012 terminamos, haha.

    Bom, sobre o capítulo, simlpes e bobinho, sme muita coisa para falar. Ainda estou temeroso sobre escrever capítulos muito grandes como o Kamus faz em Ferumbras, isso pode ter deixado a cena narrada insossa e aparentemente inútil. Mas ela determina os rumos da história daqui para frente. A próxima atualização virá quando eu sentir que estou pronto. Pode ser semana que vem, pode ser mês que vem. Pode ser nunca mais.

    Pra terminar esse momento agonia, DESDE QUANDO EMANOEL É SUB-MODERA? Não me chamaram pra festenha per quê? Não gostam mais de mim (algum dia gostaram?)? Tem algo contra meu nick, minha família e minha casa? Anyway, gratz tio Papis Noélis. Agora a seção se salvará o/ Ou irá pro poço de vez :*

    PS: Revivi o tópico, mas como atualizei isso não é flood neah? :x
    Manteiga.
    Dezesseis anos depois, estamos em paz.

  9. #9
    Avatar de Lucas CS
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    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Pra terminar esse momento agonia, DESDE QUANDO EMANOEL É SUB-MODERA? Não me chamaram pra festenha per quê? Não gostam mais de mim (algum dia gostaram?)? Tem algo contra meu nick, minha família e minha casa? Anyway, gratz tio Papis Noélis. Agora a seção se salvará o/ Ou irá pro poço de vez :*

    PS: Revivi o tópico, mas como atualizei isso não é flood neah? :x
    Manteiga.

    Ele, eu, Professor Girafales, Edu Apocalypse e Onigiri nos tornamos sub-modereas já há alguns dias atrás ^^

    Eu sou o que vai tomar as rédeas daqui rairiaiar.
    Ema vai tomar conta do board das cidades ^^

    Nem é flood, não se preocupe.

    @~

    Maravilhoso, cara, essa foi uma das melhores histórias que já ví na seção. Suas descrições são geniais. Espero por continuações :o

  10. #10
    Avatar de Emanoel
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    Receava por sua desistência! Como é de costume, os comentários são escassos... mas peço que não desanime. E torço para que o pessoal tome coragem para comentar.

    Eu gostei, apesar da situação apresentada ter sido bastante obscura. Após alguns parágrafos, achei que seria um capítulo típico, mas tomou um rumo estranho e imprevisível. Ótimas descrições; aquele "conflito" na escuridão ficou excelente.


    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Lágrimas foram aflorando de seus olhos com força inominável, rolando por sue corpo. Mas tais gotas de água, tão puras e inocentes, congelavam antes de chegar ao seu busto.
    Provavelmente estou sendo chato, mas lágrima não é água!

    E alguns outros (possíveis) erros:

    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Bufava a cada passos dado e passou por Angela sem a cumprimentar.

    passo
    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Angela seguia-o correndo para tentar acompanhar sue ritmo frenético.

    seu
    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Pode sentir então um rancor e uma tristeza profundos brotarem do fundo do seu coração e irem contaminando cada gota de seu sangue como o veneno faz.

    Pôde / profunda
    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Estou ficando louca ou o que?

    quê
    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    A incerteza se estava fazendo o que era certo começava a crescer, junto com uma melancolia profunda por não ter estado em sua casa apara salvar Wyda.

    para
    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Ao terminar de falar a criatura sempre gargalhava alto, provocando mais e mais arrepios, cada vez mais fortes, tomarem todo o corpo da bruxa.

    <confuso>
    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Lágrimas foram aflorando de seus olhos com força inominável, rolando por sue corpo.

    seu
    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Sabia que ele estava ali, ao sue lado, encarando-a como o leão que afugentou sua presa no deserto.

    seu




    Citação Postado originalmente por Manteiga Ver Post
    Agora a seção se salvará o/
    O fórum está passando por mudanças...

    In Lucas we trust! :riso:


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