Capítulo 5
Revistar ratos tornara-se rotina na vida dos gêmeos, apesar de isso não fazer a operação menos nojenta e grotesca para ambos. Já estavam tão experientes em caçar ratos que passaram a ir aos esgotos sozinhos. Não mais tinham medo.
Houve um dia em que o pai os levara até uma caverna repleta daquelas criaturas, cuja entrada situava-se na loja do bom homem Al’Dee. Ao ver o trio entrando rapidamente em sua loja, animou-se, mas logo ficou decepcionado quando percebeu que pai e filhos dirigiam-se para o buraco no interior de suas instalações.
Sem prestar atenção na expressão de desgosto do vendedor, eles desceram até a caverna. Era um local amplo, cheio de passagens e entradas. Porém, os jovens não tiveram dificuldade maior em explorá-lo. Como nos esgotos, passaram a frequentar a caverna sozinhos.
Uma bela manhã, enquanto a família estava deitada na grama contemplando o lindo céu azul e tratando de assuntos banais, Herman falou, displicentemente:
-Vocês estão se saindo muito bem. Eu diria que já estão bem preparados para enfrentar – fez–se um silêncio mortífero no local – os trolls.
Taura falou, um pouco atordoada:
-Eu... acho que não estamos, pai.
-É claro que estão! - tom forte de Herman os assustou.
Novo silêncio no ar. Herman percebera que não conseguiria convencer os filhos. Iluminista fala, pela primeira vez:
-Iremos, após nosso aniversário.
Ao ver a imposição do filho, Herman pareceu ficar satisfeito com a data do evento:
-Tudo bem, pelo menos poderemos nos preparar para procurar o tesouro do clã dos trolls...
Com a menção da palavra “tesouro”, os gêmeos arregalaram os olhos para o pai, cujo semblante estava visivelmente satisfeito com o repentino interesse de ambos. Olga falou, com aquele sua voz suave:
-Há muitas décadas atrás, houve um rumor do surgimento de um grande troll, líder de todos os outros. Ele era mais forte que os demais, além de mais sábio. Muitos guerreiros astuciosos tentaram matá-lo, mas não tiveram tanta sorte quanto pretendiam. Ele era invencível e destrutivo. Diziam que guardava um grande tesouro nas profundezas de sua caverna. Alguns aventureiros já voltaram de lá com sacas cheias de ouro. E as riquezas pareciam ser infinitas, pois sempre havia um felizardo que trazia algo valioso de lá. Antigamente as crenças eram mais fortes, porém, hoje, ninguém mais acredita nessa lenda. Exceto nossa família, que sempre conservou um pergaminho antigo sobre as muitas civilizações milenares de trolls. Esse artigo conta que, há muito tempo atrás, nasceu um filhote, contemplado com a liderança e sabedoria. Isto, enfim, prova a veracidade da lenda.
Temerosos, porém encorajados pelas possíveis riquezas, Taura e Iluminista viam as semanas se passarem, e o dia da caça ao tesouro se aproximava. No aniversário, os presentes de ambos foram magníficos: seu pai e sua mãe deram-lhe uma linda capa de viajem, tecida com macios fios dourados. O irmão a presenteou com o livro: As criaturas de Tibia e seus mistérios. Ela ficou encantada com o presente dado pelo irmão, que por sua vez ganhou um arco e flecha dos pais e botas novas da irmã.
O jantar fora feito com muito carinho pela mãe, com frutas silvestres, manga, arroz e carne. Enquanto comia, o pai falava:
-Vocês sabem o que os espera amanhã bem cedo. – ao ver que a filha soltara um longo suspiro, ele continuou, com a voz mais branda – não se preocupem. Haverá duas pessoas para protegerem vocês.
De repente os irmãos olharam para a mãe, que até agora não se manifestara em momento algum. Ela sorria abertamente para os dois. Após o rico jantar, a família todo foi para a cama. Iluminista, animado, disse à irmã:
-Grande dia será amanhã, hein?
Ele deitou-se na cama e caiu rapidamente num sono profundo. O mesmo não poderia ser dito para Taura, que ficara em pé, no quarto escuro por algum tempo. Deitou –se em sua cama. O sono não vinha, por mais que ela tentasse. Quanto tempo havia se passado? Horas? Minutos? Ela não sabia dizer. Levantou e caminhou lentamente, sem rumo certo. Chegou ao jardim de casa, sendo banhado pelo brilho do luar.
Deitou-se na grama macia e ligeiramente molhada e fechou os olhos. Eles arderam sob as pálpebras fechadas. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto, e a menina censurou a si mesma. Era bobagem ficar assim.
Tentou relaxar, mas não teve sucesso. Lera em seu livro sobre os trolls. Eram criaturas peludas, que se espalhavam por todo o continente de Tibia. Ferozes, violentas.
Agora o céu já ia, aos poucos, assumindo alguns tons de azul turquesa e lilás, revelando um sublime espetáculo. Taura fechou os olhos e finalmente adormeceu.







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