Bah, nem acredito que chegamos a esse capítulo. Muito importante no decorrer da trama, por sinal. Não garanto sua qualidade, fiz na pressa. Ficou curto, mas prometo que o próximo será maior. Não garanto também se consegui causar o BAQUE que eu queria, mas está ai:

Capítulo XXVIII
A Falha no Plano

As sombras monstruosas que se erguiam pelas tenebrosas paredes de pedra da misteriosa sala de torturam ocultavam a expressão acoada de Zivrid. Ele parecia um cão sarnento e amedrontado, oculto sob as sombras do canil, aguardando sua lenta e dolorosa morte. Sua aparência lembrava um velho lenço escarrado e repleto de impurezas fecais.

Suas vestes rasgadas e esfarrapadas caiam-lhe pelo corpo e ocultavam ferimentos ensangüentados produzidos por intermináveis golpes dos espinhos de uma estrela da manhã. O sangue quente escorria pelos seus membros e pingava pelo chão, como gotas d’água que sobravam no fim da garrafa. Os olhos de Zivrid começaram a pesar e um extremo cansaço tomou conta de seu ser. Se sua “cama” não estivesse em condições tão precárias, certamente ele iria adormecer nela.

Ele caiu no chão e rolou pela cobertura de pedras empoeiradas que ali havia, esfregando-se nas pontas para distrair a dor de seus ferimentos. Ele abria a boca para urrar, mas não tinha ar para projetar voz. Ele olhou para a enorme corrente de ferro que o prendia àquele maldito lugar sinistro, e teve vontade de amputar sua perna para ter a desejada liberdade. Passou as mãos pelos seus poucos cabelos marrons e limpou o suor que descia por sua testa, limpando o barro que a infestava.

Zivrid olhou na direção de um portão de aço repleto de limo, que ocultava a escadaria que levava para algum lugar, e a que levava para lugar algum. Por trás das grades de aço sujas, teve a impressão de ver um vulto enegrecido projetar-se, com algo ameaçador em suas mãos. Piscou demoradamente e esfregou os olhos. A imagem entrou em foco e ele reconheceu Druid, caminhando em sua direção empunhando uma adaga de prata.

- Achei que não precisaria disso – Ele falou secamente, afiando a adaga na parede de pedra suja de sangue seco – Mas já que recusa-se a prosseguir.
Zivrid engoliu em seco e recuou até um cantinho que continha sua própria urina.
- Eu lhe disse que não sei muita coisa – Zivrid disse-lhe tremendo, enquanto arrumava seus pés sobre a poça de urina.
- CALA-TE! – Disse Druid dando um forte tapa no rosto de Zivrid. Este caiu para trás, de cabeça em sua própria excreção – Não abra esta boca imunda se não for para proferir palavras contra teu mestre! Bastardo!
Zivrid sentiu seu corpo encolher-se mais e mais, e de uma vez por todas caiu em si. Esse era o preço que ele deveria pagar por sua ganância. Mas ele ergueu os olhos para Druid e riu. Riu de sua expressão enraivecida.
- Os fins justificam os meios meu caro – Ele disse ante de cuspir nos sapatos negros do druida.

***

Alia recuou para atrás da parede de madeira, na tentativa de ocultar sua presença involuntária naquela cena que se seguia no interior da sala compacta em nossa frente. Ele parecia estar entretido com um grupo de homens – entre eles Bruno – que discutiam animadamente o que parecia ser o “próximo passo de nosso plano diabólico incrivelmente surpreendente”.

Eu recuei para as sombras da parede que preenchia o outro lado da porta e fiz um sinal de silêncio para Alia. Se conseguíssemos escutar pelo menos uma parte dessa reunião nem tão secreta assim, certamente iríamos obter alguma vantagem – mesmo que mínima – perante a surpreendente força do Exército.

Eu enfiei-me em uma espécie de beco presente entre a tal sala e um prédio de apartamentos logo ao lado. Esgueirei-me pelo estreito e limitado espaço delimitado por duas paredes, uma de madeira e outra de pedra, para chegar ao que parecia um buraco na parede da sala. Deduzi que fosse uma janela. Ouvi um leve som de um farfalhar de folhas ao meu lado. Me virei pronto para revidar um ataque, com meu coração batendo rapidamente, mas o que vi foi Alia xingando um arbusto que envolvera seu sapato.

Ela esfregou-se pelo espaço até meu lado. Fiz um gesto obsceno para ela – talvez por “deserdar” de sua posição. Ela retrucou chutando minha canela e murmurando algo como “Foda-se”. Ela enfiou sua cabeça pelo buraco e reclamou da falta de espaço.
- Cala a boca – Eu sussurrei em seu ouvido – Não dá pra ouvir nada.
- Cala a boca você – Mas Alia se calou ao ouvir um leve som de cadeiras sendo arrastadas no interior da sala.

***

Não muito distante dali – mais precisamente no interior da sala – Bruno levantava-se de sua desconfortável cadeira de pedra, resultante de falta de mão de obra empregada. Mas para uma breve reunião, era mais que o essencial. Bruno ergueu os olhos para o buraco cavado na parede de madeira, e teve a impressão de ver um vulto esvair-se de lá. Piscou e ignorou a impressão.

- Mestre – Ele disse – Já visitei a sala da Nova Thais. Pode ter certeza de que está tudo perfeitamente arranjado.
- Perfeito – Ele disse. Quando ouvi aquela maldita voz, um arrepio percorreu minha espinha pairou em minha mente – Teremos de esperar que aqueles retardados encontrem. De acordo com o intelecto inferior daquele grupinho lá, vai demorar.

Gargalhadas altas tomaram conta da sala. Um dos homens que estava lá chegou a cair das cadeiras de tanto rir. Tive a impressão de que os homens da sala riam apenas por respeito. Ou talvez medo.

***

Eu expirei todo o ar de meus pulmões e passei as mãos pelos cabelos, aliviado. Por pouco Bruno não vira eu e Alia espionando a reunião do Exército das Sombras. Precisei de um tempo para acalmar meus batimentos cardíacos, e percebi que Alia também tentava se acalmar.
- Merda – Sussurrou Alia – Por um triz.
- Sim – Cochichei. Ouvi um som anormal no interior da sala e passei a tentar espioná-la indiscernivelmente.
- Mas afinal – Ouvi algum dos homens falar – Quando vamos agir?
- Não muito tarde, esperamos – Disse Bruno referindo-se a ele e seu mestre.
- Não responda por mim Bruno – Pronunciou-se Ele – Mas realmente pretendo não tardar a invasão.

Quando ouvi a menção da palavra “invasão”, um forte arrepio passou pela minha espinha, meus pêlos se arrepiaram e meu coração acelerou-se. Meus neurônios se agitaram e minha respiração passou a fluir pela boca. Aquilo significava basicamente que Druid estava certo. O Exército ia invadir Thais.

Alia estava boquiaberta e perdida em pensamentos. Tão perdida que não viu duas tábuas podres recostadas a parede. Ela recuou lentamente e estava em rota de colisão com elas.
- NÃO – Eu gritei. Ela parou abruptamente e foi só ai que percebi meu erro. Olhei para o interior da sala e vi aquele homem virar-se para o buraco. Por uma fração de segundo eu não o reconheci. Mas logo percebi a incrível verdade. Ele era Michelangelo Gitre.