Plac…Plac…Plac…Já havia perdido a noção de onde estava há muito tempo. Aquela caverna era enorme, por todos os lados estalagmites e estalagtites se uniam pelas pontas, formando grandes colunas do chão ao teto da caverna. Por toda sua extenção correntes d´água nasciam por entre as rachaduras das paderes rochosas. O medo do desconhecido fazia de uma simples caminhada um angústia. Tentavamos fazer o mínimo de barulho possível, porém o chão irregular acumulava pequenas poças de água que produziam um som que ecoava pela caverna a cada passo que dávamos.
Plac...Plac...plac... Aquele som monótono me fazia pensar. Aquilo que estávamos fazendo era loucura, era do conhecimento de todos as histórias e lendas contadas pelos sábios sobre aquela caverna. Aquele local guardava muitos perigos e aventuras, poucos eram os que voltavam vivos dela e mesmo assim aqueles que o faziam não viviam por muito tempo. Infelizmente todos enlouqueciam, passavam dias e dias contando histórias nas quais não podiamos acreditar. Diziam que demônios habtavam as profundezas desta caverna e aqueles que o enfrentavam tinha suas almas levadas para o inferno. A única alternativa que nos restava então era levá-los para o calabouço, separando-os da sociedade. Lá eles seriam esquecidos pelo tempo.
Estávamos a serviço do Rei Mandrakus, do reino Oriental. Após relatos de nossos espiões de que uma expedição de mercenários estava a procura de um relíquia sagrada ,uma relíqua que continha grandes poderes do quais segundo os espiões poderiam dar uma grande vantagem ao nosso reino em relação ao reino dos francos. Mas eles não foram capazes de dar mais detalhes e afirmar se aquela história era realmente verdadeira. Mesmo assim o Rei Mandrakus organizara imediatamente uma expedição composta pelos melhores guerreiros e operários do reino. E eu fora designado para ser o líder, eu tinha que liderar mais de setenta homens para a morte no fundo de uma caverna onde não teriamos a oportunidade de ter um enterro digno perante um padre. Passaríamos a eternidade vagando pela terra. Nao subiríamos ao céu pois não seríamos purificados.
Nosso rei não queria perder essa oportunidade de forma alguma, ele tinha medo, medo de perder essa guerra. A guerra da qual fora iniciada por um capricho de um demônio que tinhamos que chamar agora de rei. Tentara invadir Thais apenas para demonstrar seu poder para o mundo, nosso exército matou cegamente inocentes, incendiou aldeias e atacou Thais a cidade mais forte do continente, a fortaleza mais difícil de ser citiada. Nesta tentativa frustada perdi meu irmão, foi apenas mais um de vários que perderam suas vida em vão, morrera do meu lado com uma flecha encravada em seu peito.
Oh! Dia amaldiçoado no qual juramos obediência e respeito perante o Papa Karlus V. Nossas almas estavam presas eternamente ao nosso juramento, a desobediência significaria que nossos corpos arderiam no fogo enquanto nossas almas no inferno. Não havia nada que podíamos fazer.
O enviado de Deus estava realmente cumprindo seu papel? Perdas, destruíção, angústias e dores, essa era a real mensagem de Deus?
Não tínhamos respostas para tais perguntas. Porém nossas almas foram instruídas com a melhor educação espiritual do reino do Oreinte, éramos fortes espiritualmente e fisicamente. Nossa fé era inabalável, alguns momentos até demais. Todos os apirantes ao exército passavam anos na planície de Havock, onde conviviam dia e noite com os perigos ali existentes, as criaturas mais detestáveis deste mundo viviam sobre o chão torrado pelo sol ou dentro das cavernas que eram como armadilhas escondidas pelas poucas árvores existentes na planície.Só aqueles que demonstravam seus dons eram escolhidos pelos sábios para continuárem seus estudos nos templos e posteriormente recebiam os cargos mais importantes do exército. Os mais fracos eram deixados na planície, a mercê da sorte e de suas habilidade como guerreiros. Somente aqueles que regressavam para a cidade poderiam então entrar para o exército como meros soldados. A vida era dura, e a disciplina a melhor maneira de aliviar sua dureza.
Plac....Plac...Plac....
- Senhor Deragon! Chamou Ergus
Eu ainda estava preso em meus pensamentos, não havia percebido que Ergus me chamara.
- Senhor Deragon! Desta vez Ergus elevara a entonação de sua voz.
- Me desculpe Ergus, estava distraído com os meus pensamentos.
- Eu que lhe peço desculpas senhor, não deveria ter incomodado! Disse Ergus.
Ergus e eu eramos amigos desde infância, porém a hieraquia não permitia informalidades. Ergus era apenas um comandante e eu um general.
- Me diga o que há de tão importante Ergus! Disse eu em um tom de supresa.
- O senhor deveria ver isto senhor! Disse Ergus em um tom normal.
Ergus não passava quase nenhuma emoção pela sua face, sempre fora assim, desde criança mesmo quando se machucava brincando comigo nas pedras das passarelas de Venore, Ergus nunca mudava aquela expressão em sua cara e acredito que mesmo hoje em dia se fosse torturado, ele faria o mesmo.Era um bravo guerreiro!
Estávamos à frente de um arco de pedra que subia ate o teto da caverna. Aquela construção indicava que ali houvera um imenso portão. Acredito que deveria ser de madeira como os das fortalezas, realmente devia ser grande e resistente. Quem a construiu com certeza estava querendo esconder alguma coisa. Ao passar pelo arco de pedra entramos em mais uma galeria da caverna, porém essa era enorme, do chão ao teto era possível colocar uma torre do castelo de Venore, ou até uma e meia, seu formato era irregular.Aparentemente não havia mais saída, a única saída seria o lugar pelo qual entramos.
“ Poderíamos colocar a população inteira de Venore aqui e ainda sobrava espaço para os loucos!” Pensei comigo.
Ao olhar mais a frente um arrepio percorreu meu corpo. À minha frente havia uma cena que presenciara em minha vida poucas vezes. Uma carnificina, no chão haviam restos mortais, mais a frente corpos inteiramente carbonizados e com armaduras ainda presas aos restos. Com certeza mais de cem homens encontraram o fim naquela caverna.
- Quero saber de que reino esse nobres cavaleiros pertenciam . E se esses forem os mercenários que procurávamos, quero que cuspam na cara de cada um desses infelizes! E que Deus os tenha punidos da maneira que mereciam ao lutarem contra os dragões! Gritei em um tom sério e duro como nunca antes.
Minha mente estava mais um vez confusa, não fazia idéia de qual criatura poderia causar tamanha destruição. Havia mentido para todos afim de que a tranquilidade se mantivesse, porém com experiência que tinha, sabia que os dragões não habitavam cavernas tão profundas e mesmo assim não eram capazes de tanta destruição.
- Quero que todas descobertas sejam entregues a mim, se eu constatar que não há valor nenhum para o rei elas se tornarão suas! Disse eu a todos.
Poucos sabiam a real razão do porque estávamos ali. Para a grande maioria estavámos apenas perseguindo alguns mercenários. Mas um grupo escolhido a dedo pelo Rei Mandrakus estava entre os operários, sua função era apenas de achar a tal relíquia sagrada a qualquer custo.
Naquele momento notei que Ergus reaparecera no meu campo de visão, estava vindo na minha direção. Por um instante fiquei feliz ao vê-lo, gostaria de debater a situação com um guerreiro experiente. Mas ao observar Ergus notei em seus olhos o medo.Alguma coisa estava errada. Então ele se aproximou de mim.
- Um deles ainda esta vivo senhor, porém muito ferido e inconsciente. Também há mais uma coisa que gostaria que o senhor olhasse. Me contou Ergus aos susurros!