Pronto, depois de escrever no máximo 2 parágrafos por dia eu terminei!
Meu cérebro não funciona direito nas férias e eu andava muito ocupado aproveitando a folga, que acaba na próxima segunda.
Sinto informar, irei continuar com SdC mas os capítulos chegarão em espaços de tempo desconhecidos porque com o retorno das aulas eu terei que estar no colegio das 7 da manhã as 7 da noite, sem contar as atividades extra-escolares.
Mas não vou parar, vou ir postando e espero que meus leitores entendam. Transformei essa história no meu lazer e terei que escreve-la quando tiver tempo. Esse capítulo pode ter vindo com uma qualidade um pouco abaixo da minha média, isso vocês terão de julgar e criticar, mas é... Ahhh, o verão!
Espero que gostem, obrigado por todos os que fizeram de SdC a melhor história deste trimestre que passou. Obrigado!
Capítulo 26 – Charles, o duque de Batalha.
Jeanette foi ficando cada vez mais nervosa à medida que se aproximava da belíssima casa cercada por uma muralha, mas ela se convencera de que Charles de Batalha iria aceitá-la como dependente assim que conhecesse seu filho, que recebera o nome em homenagem a ele, e o marido de Jeanette sempre dissera que o duque iria gostar de Jeanette se ao menos pudesse conhecê-la melhor. Era verdade que o duque tinha sido frio no passado, mas as cartas dela deviam tê-lo convencido de sua fidelidade e, quando nada, ela estava certa de que ele teria o cavalheirismo de cuidar de uma mulher em apuros.
Para sua surpresa, foi mais fácil adentrar pelas muralhas do que tinha sido passar pelos portões de Kazordoon. As sentinelas acenaram para que ela passasse pela ponte levadiça, embaixo do arco e, assim, entrasse num grande pátio cercado de estábulos, cavalariças e armazéns. Vinte soldados treinavam com suas espadas que, na penumbra do final da tarde, geravam faíscas brilhantes. Mais faíscas saíam de uma ferraria, onde um cavalo estava sendo ferrado, e Jeanette sentiu um cheiro de pata queimando misturado ao fedor de um monte de esterco e de um corpo em decomposição, que se achava pendurado com correntes no alto do muro do pátio. Um cartaz em carliniano e com um erro ortográfico declarava que o homem tinha sido um ladrão.
Um camareiro guiou-a por um segundo arco e, com isso, para dentro de uma grande câmara fria, onde uns vinte peticionários aguardavam para falar com o duque. Um funcionário anotou o nome dela, erguendo uma sobrancelha em silenciosa surpresa quando ela se anunciou.
- Sua graça será informado de sua presença – disse o homem com um tom de enfado na voz, e depois liberou Jeanette para um banco de pedra que corria ao longo de uma das paredes altas do salão.
Pierre arriou a armadura no chão e agachou-se ao lado dela enquanto Jeanette ficava sentada. Alguns dos peticionários andavam de um lado para o outro, segurando pergaminhos e formando com a boca, em silêncio, as palavras que iriam usar quando falassem com o duque, enquanto outros reclamavam com os criados que já estavam esperando há três, quatro ou mesmo cinco dias. Quanto tempo mais iria demorar? Um cachorro ergueu a pata contra um pilar, e depois dois meninos, de seis ou sete anos de idade, entraram correndo no salão com espadas de madeira, de brinquedo. Olharam para o peticionários por um instante, e depois subiram correndo uma escada vigiada por soldados. Seriam os filhos do duque?, perguntou Jeanette, e imaginou Charles fazendo amizade com os meninos.
- Você vai ser feliz aqui – disse ela a ele.
- Estou com fome, mamãe.
- Daqui a pouco nós vamos comer.
Ela esperou. Pela galeria no topo da escada e usando vestidos claros feitos de linho caro, passaram duas mulheres que pareciam flutuar enquanto andavam, e de repente Jeanette sentiu-se maltrapilha no seu amassado veludo vermelho.
- Você tem que ser delicado com o duque – disse ela a Charles, que estava ficando agitado de fome. – Você se ajoelha para ele. Sabe fazer isso? Me mostre como é que você se ajoelha.
- Eu quero ir para casa – disse Charles.
- Só para a mamãe, mostre como você se ajoelha. Isso!
A título de elogio, Jeanette agitou os cabelos do filho e depois imediatamente, tenteou recolocá-los no lugar. Do andar de cima veio o som de uma doce harpa e de uma flauta sussurrante, e Jeanette pensou, ansiosa, na vida que desejava. Uma vida à altura de uma condessa, cercada de música e homens bonitos, elegância e poder. Ela reconstruiria as fazendas de seu falecido marido, apesar de não saber com o quê, mas aumentaria o tamanho da torre do castelo e teria uma escada como a daquele salão. Uma hora se passou, e depois outra. Já estava escuro, e o salão era fracamente iluminado por dois archotes que mandavam fumaça para o ornato de teto alto que funcionava como ventilador. Charles ia ficando cada vez mais petulante, e Jeanette pegou-o no colo, e tentou balançá-lo para dormir. Dois padres, de braços dados, desceram lentamente as escadas, rindo, e depois um criado usando o emblema do duque desceu correndo e todos os peticionários empertigaram-se e olharam para o homem, esperançoso. Ele atravessou o salão até a mesa do escrevente, falou por um instante, e depois voltou-se e fez uma mesura para Jeanette.
Ela ficou de pé.
- Vocês esperem aqui – disse ela aos dois criados.
Os outros peticionários olharam para ela, ressentidos. Ela fora a última a entrar no salão, e no entanto era a primeira a ser chamada. Charles arrastou os pés e Jeanette deu-lhe um tapinha na cabeça para lembrá-lo do comportamento. O criado caminhou em silêncio ao lado dela.
- Sua alteza está bem de saúde? – perguntou Jeanette, nervosa.
O criado não respondeu, mas apenas conduziu-a escada acima, depois virou à direita, seguindo pela galeria onde a chuva penetrava por janelas abertas. Eles passaram sob um arco e subiram mais um lance de escada, cujo topo o criado abriu uma porta alta.
- O conde de Batalha – anunciou ele – e sua mãe.
O aposento se achava evidentemente, em uma das torres mais alta da subterrânea Kazordoon e era, possivelmente, uma das únicas que tinham contato com a chuva que salpicava os vidros do local e também era um aposento circular. Uma grande lareira estava embutida em um dos lados, enquanto frestas em formato de cruz abriam-se para a cinzenta escuridão úmida do outro lado dos muros. O aposento circular estava brilhantemente iluminado por quarenta ou cinqüenta velas que lançavam sua luz sobre tapeçarias penduradas, uma grande mesa polida, uma cadeira, um genuflexório esculpido com cenas da guerra dos deuses e um sofá coberto de peles. O piso era macio devido às peles de veado. Dois escreventes trabalhavam a uma mesa menor, enquanto o duque, deslumbrante num robe azul ornado de arminho e com um gorro no mesmo padrão, sentava-se à mesa grande. Um padre de meia-idade, magro, de cabelos brancos e rosto fino, estava de pé ao lado do genuflexório e observava Jeanette com uma expressão de desagrado.
Jeanette fez uma mesura para o duque e cutucou Charles.
- Ajoelhe – sussurrou ela.
Charles começou a chorar e escondeu o rosto nas saias da mãe.
O duque se encolheu diante do barulho feito pela criança, mas não disse nada. Ele ainda era jovem, embora estivesse mais próximo dos trinta do que dos vinte, e tinha um rosto pálido, alerta. Era magro, tinha barba e bigodes claros, e longas e ossudas mãos que estavam entrelaçadas diante de sua boca voltada para baixo. Sua reputação era de um homem culto e piedoso, mas havia uma petulância em sua expressão que deixou Jeanette atenta. Ela gostaria que ele falasse, mas todos os quatro homens que se achavam no aposento limitavam-se a observá-la em silêncio.
- Eu tenho a honra de apresentar o sobrinho-neto de vossa alteza – disse Jeanette, empurrando para frente o filho que chorava -, o futuro conde de Batalha.
O duque olhou para o menino. Sua fisionomia nada revelou.
- Ele se chama Charles – disse Jeanette, mas se tivesse ficado calada teria dado no mesmo, porque o duque continuou sem dizer palavra alguma. O silêncio era quebrado apenas pelo choramingar da criança e pelo estalar das chamas na grande lareira. – Eu espero que vossa alteza tenha recebido minhas cartas – disse Jeanette, nervosa.
O padre falou de repente, fazendo Jeanette dar um pulo de surpresa.
- A senhora chegou aqui – disse ele, num agudo de voz – com um criado carregando um volume. O que há dentro dele?
Jeanette percebeu que eles deveriam ter pensado que ela havia levado um presente para o duque, e ruborizou-se porque não tinha pensado nisso. Até mesmo uma pequena lembrança teria sido um gesto diplomático, mas ela simplesmente não se lembrara daquele tipo de cortesia.
- Ele contém a armadura e a espada de meu falecido marido – disse ela – que eu recuperei dos thaisenses que, caso contrário, não teriam me deixado com coisa alguma. Nada. Eu estou guardando a armadura e a espada para o meu filho, para que um dia ele possa usá-los para lutar pelo seu senhor feudal. – Ela curvou a cabeça para o duque.
- Sua alteza gostaria de ver a armadura – anunciou o padre, embora o duque não tivesse demonstrado sinal de querer alguma coisa. O padre estalou os dedos e um dos escreventes deixou a sala. O segundo escrevente, armado com uma pequena tesoura, rodeou o grande aposento cortando os pavios de muitas velas que se achavam em seus altos castiçais de ferro. O duque e o padre o ignoraram.
- A senhora disse – tornou a falar o padre – que escreveu cartas a sua alteza. Qual era o assunto.
- Eu escrevi sobre as nossas defesas em La Roche-Ogre, padre, e avisei sua alteza do ataque de Thais ao porto ao noroeste de Carlin.
- É o que a senhora diz – disse o padre –, é o que a senhora diz.
Charles ainda estava chorando e Jeanette sacudiu a mão dele com força, na esperança de fazê-lo parar, mas ele apenas chorou mais. O escrevente, a cabeça voltada de modo a não olhar para o duque, ia de vela em vela. As tesouras cortavam, uma baforada de fumaça se retorcia por um instante e depois a chama brilhava e firmava. Charles começou a chorar mais alto.
- Sua alteza não gosta de crianças choronas – disse o padre.
- Ele está com fome, padre – explicou Jeanette, nervosa.
- A senhora veio com dois criados?
- Vim, padre – disse Jeanette.
- Eles podem comer com o menino nas cozinhas – disse o padre, e estalou os dedos para o escrevente que, abandonando a tesoura sobre um tapete, pegou o amedrontado Charles pela mão. O menino não queria afastar-se da mãe, mas foi levado arrastado e Jeanette encolheu-se enquanto o som do choro dele se afastava escada abaixo.
O duque, a não ser o estalar dos dedos, não se mexera. Limitava-se a observar Jeanette com uma expressão indecifrável.
- A senhora está dizendo – o padre retomou o interrogatório – que os thaisenses a deixaram sem nada?
- Eles roubaram tudo o que eu tinha!
O padre encolheu-se diante da paixão que havia na voz dela.
- Se eles a deixaram na miséria, madame, por que não veio pedir a nossa ajuda antes?
- Eu não queria ser um peso morto, padre.
- Mas agora a senhora quer ser um peso morto?
Jeanette franziu o cenho.
- Eu trouxe o sobrinho de sua alteza. Ou será que o senhor preferiria que ele crescesse entre os thaisenses?
- Não seja impertinente, menina – disse o padre, sereno.
O primeiro escrevente tornou a entrar na sala carregando o saco, que esvaziou sobre as peles de veado em frente à mesa do duque. O duque olhou para a armadura durante alguns segundos, e depois recostou-se na cadeira esculpida, de espaldar alto.
- Ela é muito bonita – declarou o padre.
- É de grande estimação – concordou Jeanette.
O duque tornou a olhar para a armadura. Nenhum músculo de seu rosto se mexeu.
- Sua alteza aprova – disse o padre, e depois fez um gesto com uma longa mão branca para o escrevente, que pareceu compreender o que se queria sem palavras, pegou a espada e a armadura e levou-as para fora da sala.
- Que bom vossa alteza aprovar – disse Jeanette, e fez outra mesura. Ela estava com a idéia confusa de que o duque, apesar do que ela dissera antes, presumira que a armadura e a espada eram um presente, mas Jeanette não queria apurar. Tudo aquilo poderia ser esclarecido mais tarde. Uma lufada de vento frio entrou pelas frestas e levou pontos de chuva e fez tremeluzirem as velas em violentos arrepios.
- E então – perguntou o padre – o que a senhora quer de nós?
- Meu filho precisa de abrigo, padre – disse Jeanette, nervosa. – Precisa de uma casa, um lugar onde crescer e aprender a ser um guerreiro.
- Sua alteza tem o prazer de atender a esse pedido – disse o padre.
Jeanette sentiu uma grande onda de alívio. A atmosfera na sala era tão inamistosa que ela temera ser atirada para fora, tão miserável quanto chegara, mas as palavras do padre, embora ditas com frieza, disseram-lhe que ela não precisava ter se preocupado. O duque estava assumindo a sua responsabilidade e ela fez uma mesura pela terceira vez.
- Eu fico grata a vossa alteza.
O padre estava prestes a responder, mas, para surpresa de Jeanette, o duque ergueu uma comprida mão branca e o padre curvou-se.
- O prazer é nosso – disse o duque numa voz estranhamente esganiçada – porque seu filho nos é caro e é nosso desejo que ele cresça para tornar-se um guerreiro, como o pai.
Ele se voltou para o padre e inclinou a cabeça, e o padre fez outra mesura cerimoniosa e se retirou da sala.
O duque se levantou e caminhou até a lareira, onde manteve as mãos perto das pequenas chamas.
- Chegou ao nosso conhecimento – disse ele, distante – que as rendas das vossas fazendas não foram pagas nos últimos doze trimestres.
- Os thaisenses estão de posse da propriedade, alteza.
- E a senhora está me devendo dinheiro – disse o duque, franzindo o cenho para as chamas.
- Se vossa alteza proteger meu filho, serei sua devedora para sempre – disse Jeanette, com humildade.
O duque tirou o chapéu e passou a mão nos cabelos lo0uros. Jeanette achou que ele parecia mais jovem e mais delicado sem o chapéu, mas as palavras que se seguiram a deixaram gelada.
- Eu não queria que Barto se casasse com a senhora. – Ele parou abruptamente.
Por um segundo, Jeanette ficou pasma pela franqueza dele.
- Meu marido lamentava a desaprovação de vossa alteza – disse ela, afinal, com voz fraca.
O duque ignorou as palavras de Jeanette.
- Ele devia ter casado com a Lisette de Darashia. Ela possuía dinheiro, terras, arrendatários. Teria trazido à nossa família uma grande fortuna. Em época de dificuldades, a riqueza é um... – ele fez uma pausa, tentando encontrar a palavra certa – é um amortecedor. A senhora, madame, não tem amortecedor.
- Só a bondade de vossa alteza – disse Jeanette.
- O seu filho está sob a minha proteção – disse o duque. – Ele será criado na minha casa e treinado nas artes da guerra e da civilização, como convém à classe dele.
- Eu estou agradecida.
Jeanette estava cansada de humilhar-se. Queria algum sinal de afeto por parte do duque, mas desde o momento em que caminhara até a lareira ele não a encarara.
Agora, de repente, ele se voltou para ela.
- Existe um advogado chamado Belas, um La Roche-Ogre?
- Existe, alteza.
- Ele me disse que sua mãe era de Thais. – Ele cuspiu a última palavra.
Jeanette olhou para ele boquiaberta. Durante alguns segundos, ela não conseguiu falar. Sua mente ficou tonta com a descrença de que Belas dissesse uma coisa daquelas, mas pelo menos conseguiu abanar a cabeça.
- Não era! – protestou ela.
- Ele também nos disse – continuou o duque – que a senhora requereu a Tibianus, de Thais, as rendas das vossas fazendas?
- Que escolha eu tinha?
- E que seu filho foi nomeado pupilo de Tibianus? – perguntou o duque, de propósito.
Jeanette abriu e fechou a boca. As acusações estavam sendo feitas em tanta abundância, que ela não sabia como se defender. Era verdade que seu filho tinha sido nomeado pupilo do rei Tibianus, mas a iniciativa não partira de Jeanette; na verdade, ela nem mesmo estivera presente quando o mago de Edron tomara aquela decisão, mas antes que ela pudesse protestar ou explicar, o duque tornou a falar.
- Belas no disse – disse ele – que muita gente, na cidade de La Roche-Ogre, tem expressado satisfação com os ocupantes de Thais.
- Algumas pessoas, sim – admitiu Jeanette.
- E que a senhora, madame, tem soldados thaisenses em sua casa, protegendo-a.
- Eles entraram em minha casa à força! – disse ela, indignada. – Vossa alteza tem que acreditar em mim! Eu não os queria lá!
O duque abanou a cabeça.
- Parece-nos, madame, que a senhora recebeu nossos inimigos de bom grado. Seu pai era um negociante de vinhos, não era?
Jeanette estava perplexa demais para dizer alguma coisa. Aos poucos, ia percebendo que Belas cometera uma traição completa para com ela, mas mesmo assim ela se agarrou à esperança de que o duque fosse convencido de usa inocência.
- Eu não dei boas vindas a eles – insistiu ela. – Eu lutei contra eles!
- Os comerciantes – disse o duque – não têm fidelidade outra que não ao dinheiro. Eles não têm honra. A honra não se aprende, madame. Ela é adquirida mediante treinamento. Assim como se cria um cavalo para atos de bravura ou velocidade, ou um cão de cação para que tenha agilidade e ferocidade, treina-se um nobre para a honra. Não se pode transformar um cavalo de arado num cavalo de combate, nem um comerciante em cavalheiro. Isso é contra a natureza e as leis de Tibia. – Ele fez um sinal de tocar o peito e apontar ao teto da sala. – Seu filho é o futuro conde de Batalha, e nós iremos criá-lo na honra, mas a senhora, madame, é filha de um comerciante e de uma thaisense.
- Não é verdade! – protestou Jeanette.
- Não grite comigo, madame – disse o duque, com frieza – A senhora representa um fardo para mim. Tem a ousadia de vir até aqui, enfeitada com pele de tigre, esperando que eu lhe dê abrigo? E o que mais? Dinheiro? Eu darei ao seu filho um lar, mas à senhora, madame, eu darei um marido. – Ele caminhou para ela, os pés silenciosos nos tapetes de pele. – A senhora não tem condições de ser mãe do futuro conde de Batalha. A senhora ofereceu conforto ao inimigo, a senhora não tem honra.
- Eu... – Jeanette começou a protestar outra vez, mas o duque esbofeteou-a com força.
- A senhora fique calada, madame – ordenou ele –, calada!
Ele puxou os laços do corpinho dela e, quando ela ousou resistir, tornou a esbofeteá-la.
- A senhora é uma puta, madame – disse o duque, e então perdeu a paciência com os complicados laços, apanhou a tesoura que tinha sido atirada sobre o tapete e usou-a para cortar laços a fim de expor os seios de Jeanette. Ela ficou tão perplexa, confusa e horrorizada, que fez tentativa alguma de se proteger. Aquele não era Sir Simon Skeat, mas o seu senhor, sobrinho da rainha e tio de seu marido.
- A senhora é uma puta bonita, madame – disse o duque com expressão de desprezo. – Como foi que encantou o Barto? Foi feitiçaria de Thais?
- Não – solução Jeanette –, por favor, não!
O duque desprendeu o robe, e Jeanette viu que ele estava nu por baixo dele.
- Não – tornou ela a dizer –, por favor, não.
O duque empurro-a com tanta força, que ela caiu sobre a cama. O rosto dele não mostrava emoção alguma – nade de luxúria, nada de prazer, nada de raiva. Ele ergueu as sais dela, ajoelhou-se na cama e estuprou-a sem sinal algum de prazer. Se aparentava alguma cosia, era raiva, e depois que acabou despencou sobre ela, e estremeceu. Jeanette soluçava. Ele se enxugou na saia de veludo dela.
- Vou aceitar essa experiência – disse ele – como pagamento das rendas das vossas fazendas que faltam.
Ele saiu de cima dela de quatro, ficou de pé e amarrou as beiras de arminho do robe.
- A senhora será colocada num quarto aqui, madame, e amanhã eu a darei em matrimônio a um dos meus soldados. Seu filho vai ficar aqui, mas a senhora irá para onde quer que seu marido seja mandado.
Jeanette choramingava na cama. O duque fez uma careta de desgosto, atravessou o aposento e ajoelhou-se no genuflexório.
- Ajeite o seu vestido, madame – disse ele, com frieza –, e componha-se.
Jeanette recuperou um número suficiente de laços cortados para amarrar o corpete no lugar e depois olhou para o duque através das chamas das velas.
- O senhor não tem honra – disse ela, entre dentes. – O senhor não tem honra.
O duque a ignorou. Tocou uma pequena sineta e depois entrelaçou as mãos e fechou os olhos, em oração. Ainda rezava quando o padre e um criado entraram e, sem uma só palavra, pegaram Jeanette pelos braços e levaram-na para um pequeno quarto no piso que ficava abaixo do quarto do duque. Empurraram-na para dentro, fecharam a porta e ela ouviu um fecho deslizar para encaixar-se do outro lado. Na cela improvisada havia um colchão forrado de palha e uma pilha de vassouras, mas nenhum outro móvel.
Ela permaneceu deitada no colchão e soluçou até que seu coração partido ficou em carne viva.
O vento uivava na janela e a chuva batia no telhado da torre. E Jeanette desejou estar morta.
Sem mais;
Asha Thrazi!![]()







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